Wings, Um Anjo Em Minha Vida escrita por Nynna Days


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Amores, segurem as lágrimas, mas esse é o último capítulo.

Dessa História, pois tem a continuação, kkkkk. Sei que prometi postar domingo, mas me enrolei toda e esqueci de programar a postagem, mas aqui está.

Então, antes de começarem a ler, quero agradecer as recomendações que recebi. Sorry Sweet e Tchica, muiiiiiiito obrigada. Adorei as recomendações e fiquei muito feliz que estejam ansiosas para a continuação.

E, enquanto ela não chega, espero que me acompanhem em Sociedade Renegada. Quero adiantá-la bastante para poder postar Light com calma. E essa continuação, promete. E sim, nosso querido casal Jeremy e Aliel aparecerão algumas vezes. Afinal, nossa querida anjinha ainda guarda alguns segredos que foi obrigada a prometer não contar.

Mas, deixando de enrolar. O último capítlo.

Aproveitem.



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“Anjo menor que se auto nomeia Aliel Sky, como você se declara diante do júri?”

Olhei ao meu redor, com o desespero tocando a minha pele com o mais doce dos venenos. Anjos, com todas as suas multicoloridas me encaravam com os olhares sem emoção. Mordi o lábio, e notei a ausência do bater descompassado do meu coração. Era óbvio que eu perderia minhas sensações humanas quando pisasse ali.

Engoli em seco, e passei as mãos suadas por meu vestido branco. Estava em um julgamento angelical. O último lugar que qualquer anjo gostaria de estar. Era semelhante ao humano, sendo que nesse, éramos obrigados a dizer a verdade. A mentira no céu era cem vezes mais dolorosas do que na Terra. Era como colocar um membro no fogo e assistí-lo pegar fogo. Eu só não sabia se estava disposta a colocar minha mão no fogo por um humano.

Captei o olhar impassível de Rafael no canto. Tinha os braços cruzados e a boca pressionada em uma linha reta. Me senti envergonha. Estava sendo julgada na frente de meu supervisor. E por outro Arcanjo, Miguel. Sentado no júri, tinham os sub Arcanjos. Entre eles, Caliel. Mas, diferente dos outros, ela tinha desespero em seus olhos azuis. Assim que nossos olhares se cruzaram, ela balançou a cabeça e tentou dizer algo, mas foi cortada pelo pigarro de Miguel.

“Estamos esperando, cupido.”, ele disse.

Encarei-o. Tinha os cabelos negros como a noite, e os olhos verdes brilhantes como as estrelas. A pele era de um pálido cremoso, como marfim. Sua roupas eram brancas como suas asas. Não que tivesse aberto-as. Seria deslumbrante demais. Mas, era como eu as imaginava. Brancas como as nuvens que nos rondavam. Mas seu olhar duro acabava com qualquer beleza, e causava temor em mim. Afinal, ele que tinha expulsado Lúcifer do céu.

“Não sei o que me declarar, senão souber meu crime, Arcanjo.”, respondi com um fio de voz. Tudo ao meu redor era silêncio, além do lamento que saía dos lábios de Caliel. Não vi um sinal sequer de Adriel. “Por favor, poderia dizê-lo, Arcanjo.”

Miguel fez uma careta e por um segundo, prendi a respiração esperando que ele próprio me declarasse culpada. Mas, ao contrário, pegou um pergaminho que estava acima de sua mesa de madeira polida e prateada e o abriu, lendo-o em voz alta. Senti meus pêlos se arrepiando ao som de sua poderosa voz soando ao nosso redor, sem esforço.

“Aliel Sky, anjo menor, que tem como função principal juntar casais que foram destinados a permanecer unidos e foram desviados do caminho, tem como crimes:”, me surpreendi pelo fato de ser mais de um crime. “Quase tentação e se mostrar para um humano que não interferia de fato em sua missão.”, ele levantou os olhos verdes para mim. “Agora que sabe seus crimes, como se declara, cupido?”

Olhei para Caliel. O desespero a rondava e deixava seus olhos escuros. Eu sabia que estava em situação semelhante a que ela sofreu á 150 anos. Fechei os olhos por um segundo. Depois de tudo o que tinha acontecido, o que eu era de fato? Inocente? Culpada? Eu tinha tentado escapar daquilo tudo por tanto tempo, mas tinha tomado decisões erradas. E agora estava enfrentando as minhas consequências.

Mas, deixando minha mente divagar por tudo o que havia se passado naquela semana, eu não me arrepia de nada. Os olhos de Jeremy voltava á minha memória, fazendo o que interior – que deveria estar temporariamente desligado – arder. Meu estômago se agitou. Mordi meus lábios novamente, pensando no que acontecia caso me declarasse inocente.

Queimação e castigo. Se eu fosse, de fato, inocente, não estaria sentada naquela cadeira prateada diante de quase 20 anjos e de meu supervisor. Talvez estivesse rindo e me divertindo com Sarah. Talvez resolvendo alguma discussão entre Jason e Laisa. Ou talvez fugindo da tentação que era Jeremy.

E se me declarasse culpada? Apenas o castigo seria destinado a mim. Mas, eu nunca havia sido castigada. Me lembrei de Caliel. Somente com um pequeno pensamento sobre desistir de suas asas, tinha matado seu amado. Seu castigo era carregar essa culpa pelo tempo de sua existência. Não sabia se seria capaz de carregar a dor pela perda de Jeremy.

Não. Eu tinha certeza que morreria junto.

Abri meus olhos, determinada a aceitar a queimação de braços abertos, caso isso salvasse a alma de Jeremy. Talvez condenando a minha. Mas, fui interrompida por um barulho de passos apressados na minha direção. Caliel parou ao meu lado, respirando com força. Onde estava Adriel?

“Esperem”, ela disse e pegou em minha mão. Encarei-a, confusa. Seus cabelos loiros estavam presos e ela estava agitada. “Sei que pensam que ela é culpada, mas querendo ou não, ela não tem culpa. É um anjo menor. Tem sentimentos. Lembro-me perfeitamente que algo semelhante aconteceu comigo. Você me puniram por eu querer largar minhas asas, mas Aliel nunca pensou nessa possibilidade, certo?”, ela me olhou.

Assenti.

Nenhuma queimação.

“Estão vendo.”, Caliel continuou. “Ela sempre colocou seu lado angelical acima de qualquer coisa, independente de ser tentada ou não. Ao contrário de mim”, ela abaixou a voz, até ser apenas um sussurro. “Ela manteve o foco.”

“Isso não pode sair impune, Sub Arcanjo Caliel”, Miguel disse, sério. Engoli em seco, mas a anja continuou firme ao meu lado. Queria saber de onde saiu tanta determinação. “Caso contrário, todos os nossos anjos menores serão tentados e teremos mais baixas do que normalmente.”

Era óbvio que no céu tínhamos baixas. Daniel tinha deixado isso bem claro para mim. Eu sabia coisas demais para ser abandonada pelos céus. Então tinha certeza que eles me castigariam com coisa pior do que perder minhas asas. Talvez perder minhas emoções humanas. Talvez perder Jeremy. De qualquer jeito, impune eu não sairia. Mesmo com Caliel tentando bastante.

“Ela é imperfeita, Arcanjo Miguel. Eu sou imperfeita.”, ela defendeu. Então estreitou os olhos azuis para ele. “Se não se lembra, meu supervisor pode dizê-lo sobre meu pecado. Luxúria, inveja, avareza. Fui mais humana do que qualquer anjo.”, ela balançou a cabeça e suspirou. “Quer castigá-la, ok?”, deu um passo a frente, soltando minha mão. “Dê-a o que ela mais quer, mas sem, de fato, deixá-la possuir.”

Miguel olhou-a como se fosse louca, então me encarou. Eu estava com meus olhos negros arregalados. Estava confusa com as palavras de Caliel. O que eu queria que não poderia possuir? Muitas coisas, mas nada de encaixava naquele contexto. Talvez a loucura tivesse, de fato, alcançado a anja. Ela pegou minhas mãos novamente, me encarando com os olhos azuis esperançosos. Eu forcei um sorriso e apertei sua mão levemente, encarando o Arcanjo.

“Eu me declaro inocente.”, disse com convicção.

**********************************

Suspirei, colocando as últimas peças de roupa dentro de minha mala. Botei as mãos em minha cintura e encarei o quarto pequeno que me rondava. Sorri. Em tão pouco tempo, aquele lugar tinha me conquistado. Olhei para a cama de solteiro e lembrei-me da minha frustração quando peguei aquela missão e revisava as fichas de Sarah e Jason.

Passei as mãos por meus cabelos cacheados e encarei a poltrona, deixando a memória de Adriel sentado ali, me dizendo que estava ali para me ajudar, tomar minha mente. Eu sorri trêmulo tomou meus lábios enquanto fitava a porta e lembrava de Caliel entrando no quarto com a mesma mala que estava a minha frente.

Era incrível o quanto eu havia vivido em apenas uma semana. E estava tudo escapando por meus dedos. Aproximei-me da janela e a abri, deixando que os barulhos noturnos e as luzes dos anúncios e da luz refletissem em minha pele escura. Fechei os olhos, sentindo-os arder. Minha garganta secou. Eu sabia que esse dia chegaria, só não sabia que seria tão doloroso.

Miguel havia dito que daria a sua decisão em pouco tempo. Mas o tempo no céu e na Terra era relativamente diferente. O que para os humanos eram meses, para os anjos eram horas. Tinham se passado uma semana na terra desde o julgamento. Mas para meu corpo angelical, tinha demorado apenas uma hora ou menos.

Adriel apareceu logo em seguida a minha declaração de inocência – e a ausência de queimação – alegando que estava terminando de resolver uma missão. Acreditei nele. Não que eu tivesse outra opção. Algo em seus olhos verdes, dizia que ele estava dizendo a verdade. Sua preocupação quando me abraçou era algo palpável.

Caliel me garantiu que ficaria em cima de Miguel para que ele dissesse rapidamente sua decisão. Mas, mesmo com a insistência da Sub Arcanjo, eu sabia que a decisão poderia ser boa ou ruim. E que poderia demorar muito mais tempo do que eu gostaria. Mais tempo do que, de fato, tinha. Eu já estava pronta para o pior. Fechei a janela.

Voltei para onde a mala estava e terminei de arrumá-la. Meu olhar captou algo debaixo da cama e me abaixei. Um sorriso involuntário se espalhou por meus lábios quando peguei as fichas de Sarah e Jason. Me sentei na cama, cruzando as pernas e voltando a lê-las como se fosse a primeira vez. Encarei a foto dos dois e sorri. Era incrível o quanto eu tinha feito por eles. E o quanto eles tinham feito por eles mesmos.

O nome de Jeremy veio em destaque para os meus olhos, e meu coração se acelerou. Tinha uma parte de mim que quase me fazia voar até a sua janela. Mas a minha parte racional estava no comando. Eu não poderia vê-lo e arrastá-lo cada vez mais fundo no poço de pecados que eu estava enterrada. Tinha que saber que isso não iria dar certo. Fechei os olhos, abraçando as fichas e deixando que a lembrança dos olhos azuis escuros queimasse em minha mente.

Não vou deixar você cair.

“Aliel”

Abri meus olhos rapidamente, encarando Caliel. Ela estava do lado de fora da minha janela, voando com Adriel ao seu lado. Me aproximei e a abri, deixando-os entrar. Eles estavam sérios, mas tinha algo nos olhos de Caliel que me deixou alerta. Voltei a me sentar na cama e abracei minhas pernas contra o peito, tentando proteger meu coração das dores que as próximas palavras causariam.

Adriel foi o primeiro a fechar as suas asas e se sentar na poltrona. Não pude impedir o sorriso de aparecer em meu rosto. Aquele hábito já havia se tornado tão rotineiro para nós. Caliel encolheu as suas asas e se sentou na ponta de minha cama, encarando a minha mala com estranheza.

“Você desisti muito fácil, sabe”, Adriel disse também olhando para a mala. Levantei uma sobrancelha e ele deu um belo sorriso. “Caliel movendo céus e terras, literalmente, e você apenas jogando a toalha.”

“Me desculpem.”, disse, relaxando os ombros. “Apenas estava me preparando para o pior.”, balancei a cabeça. Olhei para Caliel, que me encarava determinada. “Alguma notícia?”

Ela se levantou.

“Na verdade, sim.”, ela suspirou, fazendo com que suas penas se agitassem um pouco. “Gabriel me passou a decisão de Miguel, e me pediu para te comunicar.”

Engoli em seco e mordi o lábio, esperando o pior. Sem que eu pudesse me controlar, minhas asas apareceram e me envolveram em um abraço macio. Balancei a cabeça com força. Não poderia dizer adeus assim. Aquilo – aquela realidade – era tudo o que eu de fato conhecia. Não me imaginava largada no mundo humano.

“Diga.”, eu sussurrei. Então abri os olhos e respirei fundo. “Seja o que o Criador quiser.”

*****************************

Os corredores da St. Loise estavam agitados. Tivemos um jogo no dia anterior e tínhamos ganho. Todos estavam comentando a ótima atuação de Jason no time. Alguns questionavam a ausência de Jeremy em um jogo tão importante. Eu estava questionando a ausência de Jeremy. Encontrei com Laisa no corredor, mas ela não era a mesma.

Vestia um moletom que poderia caber duas dela. Seus cabelos loiros pareciam desbotados e ela estava usando óculos. Ela levantou os olhos castanhos escuros, ao invés dos habituais mel e os estreitou para mim. Por um segundo me perguntei se aquele era o efeito da falta da popularidade. Então era assim que ela tinha conhecido Jeremy?

Caminhou com passos decididos até mim e me olhou de cima a baixo. Pensei que diria algum insulto. Eu estava preparada para escutar insultos. Mas suas palavras pareceram ficar presas em sua garganta quando encarou a visão de Jason e Sarah passando abraçados no corredor. Um pequeno sorriso apareceu em meus lábios, mas logo se apagou quando vi uma lágrima solitária descendo pela bochecha de Laisa.

Ela correu para longe daquela visão, atraindo a atenção de algumas pessoas no corredor, incluindo do casal. Sarah arregalou os olhos verdes e venho me abraçar, trazendo Jason com seus dedos entrelaçados. Meu olhar ficou em Laisa por mais alguns segundos, vendo como Jéssica e Melissa se afastavam e a encaravam como se fosse uma estranha.

Franzi o cenho e transferi minha atenção para Sarah. Ela tinha um grande sorriso nos lábios, deixando seu aparelho com borrachinhas azuis aparentes. Seus cachos vermelhos estavam um pouco mais organizados, assim como sua roupa estava alinhada. Dei um sorriso com o pensamento de que ela havia acordado bem mais cedo do que o habitual, apenas para se arrumar.

“Aliel, onde você se meteu essa semana?”, ela perguntou e me abraçou. Então voltou a entrelaçar seus dedos aos de Jason. “Perdeu o jogo ontem.”, seus olhos brilharam. “Foi emocionante.”

“Pena que Jerry não estava lá.”, Jason disse. Franzi o cenho. Jerry? Demorei dois segundos para entender que ele estava falando de Jeremy. Nunca havia o visto chamando-o pelo apelido. “Na verdade, ele andou estranho a semana inteira, desde que você sumiu. Perguntava por você direto. Pensei até que você tinha ido embora.”

“Eu também.”, Sarah disse e suspirou aliviada.

Balancei a cabeça, saindo dos pensamentos sobre Jeremy estar me procurando. Afinal, a culpa era minha. Tinha mostrado minhas asas e simplesmente sumido. Era normal que ele quisesse uma explicação mais consistente do que um simples: sou um cupido e estou aqui para juntar seu melhor amigo e a garota menos popular do colégio.

“Tive uns assuntos pessoais para resolver.”, fiz uma careta, querendo evitar o assunto. Então meu olhar se desviou para as mãos do casal, e vi o rosto de Sarah ficando cor de rosa. Sorri. “Então vocês estão juntos?”

“Sim.”, Jason respondeu e olhou para Sarah, que apenas assentiu. “Eu nunca deveria ter deixado essa garota escapar. Mas, não cometo o mesmo erro duas vezes.”, ele passou o braço ao redor dos ombros dela e a puxou contra si. “Sarah é minha melhor amiga e minha namorada. Não tem combinação melhor.”

“Jay, desse jeito Jeremy irá ficar com mais ciúmes e me odiar mais.”, Sarah reclamou.

Fiz outra careta, franzindo o cenho.

“Ele ainda não aceitou?”, questionei, lembrando-me de sua promessa.

Jason deu de ombros.

“Ele está mais razoável do que antes.”, levantou uma sobrancelha. “Pelo menos não chama mais Sarah de ruiva. A chama pelo nome.”, ele olhou para sua namorada e deu um pequeno sorriso. “Para Jeremy, isso é quase como dizer que gosta dela. E isso me deixa feliz. Jeremy é tão difícil em aceitar mudanças quanto Laisa.”

Ao pronunciar o nome de sua ex, fez uma careta e seu olhar parou no lugar exato por onde ela havia saído correndo. Então seus olhos verdes escuros se abaixaram e ele suspirou. Eu entendia-o. Estava se culpando. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa para confortá-lo, Sarah pôs uma mão em seu ombros e o fitou, séria.

“Laisa tomou as próprias decisões, Jay.”, ela disse, firme. Isso fez com eu e Jason arregalássemos os olhos. Não parecia a mesma garota de duas semanas atrás. “Tudo o que ela e tornou e que tentou fazer você se tornar, é errado e egoísta.”, ela encarou o lugar onde Laisa estava antes. “Agora irá provar de seu próprio remédio.”, então deu um pequeno sorriso e se aconchegou em seu namorado. “Temos a opção de ser felizes, certo?”

“Certo.”, eu respondi, mesmo a pergunta não sendo direcionada á mim. O casal se virou para mim, com um belo sorriso. Eu ainda estava séria, voltando a me focar no objetivo original de ter vindo até a St. Loise. “Jason, você poderia ligar para Jeremy e me dizer onde ele está? Preciso realmente falar com ele.”

Jason assentiu, puxando o celular de seu bolso e se afastando para um lugar mais tranquilo, enquanto falava no celular. Sarah entrelaçou seu braço magro e pálido nos meus e começou a contar sobre a sua última semana com Jay. Me forcei a focar no que a ruiva dizia, mesmo que em parte eu não tivesse mais nada a ver. Mas ficava feliz que tivesse completado essa missão antes de...

“Então, você vai embora?”, Sarah perguntou me tirando dos pensamentos. A encarei, confusa e ela levantou uma sobrancelha, enquanto mexia os pés, inquieta. “Sabe, você disse que tinha ido resolver uns assuntos pessoais. Pensei que era algo com seus pais e a sua mudança.”

“Ah”, eu assenti. “Aconteceu umas mudanças sim...”

Antes que eu terminasse a frase, Jason voltou ao nosso lado. Estranhei sua expressão. Tinha os lábios pressionados em uma linha fina e o cenho franzido. Estava dividida entre a frustração e a preocupação. Era tão difícil decifrar algumas emoções humanas. Sarah também reparou isso, e pôs uma mão no ombro dele. Jay fixou os olhos em mim enquanto voltava a guardar o celular no bolso.

“Jeremy está em casa.”, ele disse. Assenti, me soltando dos braços de Sarah e pronta para ir até lá. Mas a mão de Jason em meu ante braço me parou. “Aliel, não acho uma boa ideia você ir lá agora.”, ele fez uma careta, como se não quisesse dizer as próximas palavras. “Acho que ele está bêbado. Não estava dizendo coisa com coisa.”

Me soltei de Jason e dei um passo para longe de seu aperto.

“Você não entende.”, eu disse em voz baixa e suspirei. Jeremy não poderia estar fazendo isso. Ainda mais hoje. Balancei a cabeça e encarei o casal. “Por isso que eu tenho que ir. Jeremy precisa de mim.”

Jason assentiu.

“Ok.”, ele respirou fundo e deu um meio sorriso. “Cuide de meu amigo.”

Sorri.

“É o meu trabalho.”, respondi antes de sair correndo.

*****************************

Jeremy estava, de fato, bêbado.

Fechei minhas asas enquanto pousava no parapeito de sua janela. Nem pausei para colocar a jaqueta ou coisa parecida e já empurrei o vidro, entrando em seu quarto. Tinha voado com tanta pressa, que quase caí no quarto. Meus pés demoraram um pouco para se fixar no chão. Assim como minha visão demorou a se adaptar a escuridão que me rondava.

Eu estava rezando para que os pais de Jeremy não demorasse a voltar de sua viagem. Odiava a ideia de vê-lo nessa casa enorme sozinho. Escutei um lamento vindo da direção de sua cama e me aproximei. O espaço estava aparentemente vazio. Mas quando o lamentou voltou a se repetir, fui obrigada a me dar mais alguns passos a frente.

Jeremy tinha o corpo largado ao lado da cama, como se tivesse caído e não conseguisse mais levantar. Em suas mãos tinha uma garrafa de uma bebida transparente. Seu corpo exalava álcool e eu franzi o nariz pelo cheiro que invadiu-o. Os dele estavam fechados e sua camisa branca machada de suor. Seu cabelo negro estava mais despenteado que o normal e sua pele parecia quase fantasmagórica.

Me ajoelhei ao lado de seu corpo, temendo que o que tinha acontecido a uma semana se repetisse. Não me sentia segura perto dele quando ingeria esse tipo de bebida. Olhei ao meu redor, respirando aliviada quando não notei nenhum sinal de drogas. Mexi em alguns dos fios de cabelos que estavam grudados em sua testa e o escutei lamentar novamente. Tive que aproximar meu ouvido de seus lábios para prestar atenção do que ele dizia.

“Aliel... Volte...Aliel...Volte”

Fechei os olhos com força, me controlando para que as lágrimas não deslizassem por minhas bochechas. Eu tinha afetado tanto esse humano que me deixava ferida. Eu havia marcado sua alma, com a minha presença angelical. Pensei em me levantar e ir. Mas eu não conseguia. Eu não poderia. Balancei a cabeça e respirei fundo, tentando manter o controle. Toquei em seu braço, reparando na calça jeans escura e surrada com os joelhos rasgados.

“Jeremy.”, sussurrei.

Ele se remexeu, mas não abriu os olhos. Vi seus dedos se fechando em punhos e tive que ser rápida para evitar que ele quebrasse a garrafa que estava em sua mão. Meu movimento súbito finalmente o fez abrir seus olhos. Estava bastante dilatados, mas não muito avermelhados. Suspirei aliviada, por ele não ter usado nenhum tipo de droga.

Demorou alguns segundos para que ele focasse em mim, mas quando finalmente o fez, deu um pulo de onde estava e quase caiu. Rapidamente o segurei e o coloquei de pé encostado na parede. Ele quase não conseguia sustentar o seu corpo sozinho. Afastei a garrafa de seu alcance, usando os dedos dos pés e o encarei.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele me surpreendeu um com abraço. Pega de surpresa, não consegui me equilibrar – somando minha descoordenação com o peso do corpo embriagado de Jeremy – e caímos na cama. Jeremy rapidamente pôs as mãos no colchão para que não ficasse muito pesado. Mas suas mãos não estavam firme.

“É você, Aliel?”, ele perguntou com a voz arrastada. “Meu Deus, eu rezei tanto para que você voltasse.”, então pareceu lembrar-se do seu estado. “Me desculpe. Eu não queria que me visse desse jeito. Eu... me desesperei. Mas juro que nunca mais bebo em toda a minha vida e...”

“Jeremy”, o cortei. Ele se calou e me encarou. “Estou de volta.”

Sorri e recebi seu sorriso como presente. Então finalmente reparamos na situação em que nos encontrávamos. Meu corpo era só sensações. O calor que a pele de Jeremy emanava, parecia invadir meu interior até alcançar os meus ossos. Meu coração batia tão descompassado que eu perdi as contas de quantas vezes ele batia por minuto.

Minha respiração se tornou algo difícil de se realizar. O olhar de Jeremy era um caleidoscópio multicolorido, naquela brindeira de azul e anil. Sua barba deixava-o com o rosto mais rústico e sério. E mais atraente. Engoli em seco enquanto seu olhar se desviava do meu e parava em meus lábios. Conseguia sentir seu coração batendo contra a minha barriga, quase como se disputasse corrida com o meu.

Sua língua se moveu por seu lábio lentamente, fazendo com que seu percing se tornasse visível para mim. Meus pêlos se arrepiaram e soltei um arfar. Parecia que tudo o que sentia estava sendo intensificado. Minhas mãos passearam por seus braços, sentindo como seus músculos eram firme e delineados, além de ter a pele macia. Os pêlos roçaram nas palmas de minhas mãos. Ele fechou os olhos e gemeu?

“Anjo, você me fez prometer que não te deixaria cair.”, ele disse com a voz áspera e rouca. “Não me faça quebrar essa promessa.”

“Desculpe.”, sussurrei.

Isso o fez abrir os olhos e me encarar por alguns segundos. Até que balançou a cabeça e se levantou de cima de mim, tentando se equilibrar em seus pés. Me levantei rapidamente e pus um de seus braços ao redor dos meus ombros, levando-o até a porta no final do seu quarto, que eu esperava que fosse o banheiro. Sentei-o na privada e liguei a torneira, observando a água encher a banheira.

“Onde você estava?”, ele perguntou.

Me vire, vendo-o com os olhos fechados e a cabeça encostada na parede ladrilhada.

Me ajoelhei a sua frente e toquei sua coxa.

“Eu tenho que seguir regras, Jeremy.”, sussurrei, fazendo-o abrir um dos olhos e me encarar. Desviei os olhos. “Quebrei algumas recentemente e fui julgada. Mas, felizmente, o céu tem um jeito distorcido de classificar a palavra castigo.”

“O que você quer dizer?”, ele perguntou confuso.

Me levantei, deixando-o alerta. Ele envolveu os braços em minha cintura, puxando-me contra seu corpo, possessivamente. Ao contrário do que eu esperava, ri. Pousei minhas mãos em seus ombros largos e dei um pequeno beijo em seus cabelos. Ele suspirou com isso, mas seu aberto não suavizou.

“Calma, querido.”, disse acariciando seus cabelos. Ele levantou a cabeça de minha barriga e me encarou com os olhos desesperados. Toquei sua bochecha, sentindo a barba por fazer roçando em minha palma. “Já disse que não vou a lugar nenhum. Está na minha vez de não te deixar cair. É o meu trabalho.”

Ele estreitou os olhos.

“Como assim?”

“Fui promovida, Jeremy.”, dei um pequeno sorriso ao vê-lo arregalar os olhos. “Sou sua anja da guarda.”

Jeremy, talvez ainda com o efeito da bebida alcoólica, gargalhou. Mas rapidamente se calou, ao sentir a tontura o atingindo. Eu o ajudei a tomar banho – de roupa – e o deitei em sua cama. Fiquei olhando-o, enquanto sua respiração se estabilizava e ele caía em um sono profundo. Quando Caliel me deu aquela notícia, na noite anterior, finalmente entendi o que ela tinha dito á Miguel.

Dê-a o que ela mais quer, mas sem, de fato, deixá-la possuir.


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Notas finais do capítulo

E o que acharam do final? Era o que você queriam/esperavam? Leitores fantasmas é a última chance de vocês apareceram, hem.

E para quem quer a continuação, me mande o e-mail por mensagem privada que eu aviso quando começar a postar ( ou podem me marcar como autora favorita, mas seria muita falta de humildade *---*) Ou podem me acompanhar em Sociedade
Renegada, que eu logo avisarei quando começar a postar Light.

Ah, muito obrigada a todos que recomendaram e que comentaram. Espero não tê-los decepcionado. Amei escrever essa história, assim como estou amando escrever Light. Talvez, de tão ansiosa que estou, poste Light antes do esperado. Mas isso é um talvez.

Beijos. Me acompanhem e digam o que acharam do final.

Continuação: http://fanfiction.com.br/historia/474431/Light_O_Amor_Nunca_Morre/