Wings, Um Anjo Em Minha Vida escrita por Nynna Days


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Estamos chegando á reta final de Wings e estou ficando triste :(

Mas, talvez não estejamos tão no final assim....

Sem suspense. Aproveitem o capítulo.



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“Jeremy, eu tenho que...”, tentei novamente.

Mas ele estava irredutível.

“Você tem que ser menos afobada e esperar.”, seus olhos me encararam com tanta intensidade que eu quase recuei. “Você não ficará para sempre para defender Sarah.”, ele voltou a encarar a cena a sua frente. “Ela tem que aprender a se defender sozinha.”, ele deu um meio sorriso. “E vamos ser sinceros. Ela está indo bem”

Sarah. Jeremy havia chamado a ruiva pelo nome. E, me dando por vencida, eu sabia que ele tinha razão. Eu realmente não iria ficar ali para sempre para cuidar dela. Mas vê-la ali era de partir o coração. Cruzei minhas mãos nas costas e respirei fundo. Se as coisas saíssem do controle, eu iria interferir. Com ou sem a ajuda de Jeremy.

Mordi meu lábio inferior e passei as palmas de minhas mãos suadas por meu vestido, sem me preocupar que manchasse. Laisa deu um passo a frente, ficando cara a cara com Sarah e mostrando que era cinco centímetros mais alta. Mas isso não fez a ruiva recuar. Sarah tinha os olhos verdes acesos e confiantes, de um jeito que eu nunca tinha visto antes.

“Ninguém precisou me dar permissão, Laisa.”, Sarah disse erguendo o queixo. O silêncio dominava o salão. “Jason me convidou. E eu não sou idiota ao ponto de dispensá-lo só por ele namorar uma vaca como você.”

“Valeu, ruiva.”, Jeremy riu ao meu lado.

Meus olhos escuros se arregalaram. E minha reação refletiu a reação da metade das pessoas que prestavam atenção naquele pequeno conflito. O rosto de Laisa tinha um tom de vermelho que quase rivalizava com os cabelos de Sarah. Jason se posicionou entre as duas, pronto para interferir. Mas, nos surpreendendo novamente, Sarah levantou a mão, o impedindo.

“Quem você chamou de vaca, sua...”, Laisa olhou ao seu redor, percebendo que estava sozinha. Seus olhos mel se estreitaram e ela levantou a mão. “Sua piranha.”

Antes que a mão de Laisa chegasse ao rosto de Sarah, a ruiva segurou seu pulso. Tentei dar um passo na direção delas, mas o braço de Jeremy me impediu mais uma vez. Algo dentro de mim se agitou. Tive vontade de gritar para que ele me soltasse e empurrá-lo. Muita vontade mesmo. Mas me segurei e isso me causou um tipo de queimação no peito.

Jason se moveu, para separá-las e isso deixou meu coração mais leve. Só que já era tarde. Antes que eu pudesse piscar, Laisa estava no chão com a mão no rosto e Sarah estava com a mão levantada, olhando-a como se não a reconhecesse. Meu coração pareceu ter parado, fazendo o fluxo sanguíneo até meu cérebro cessasse.

Murmúrios ao nosso redor se tornaram gritos de espanto. Demorei alguns segundos para perceber que os braços de Jeremy estavam ao meu redor, me impedindo de ir até Sarah. Violência. Dor de cabeça. Era como se garras se arrastassem por minha pele. Ainda bem que não tinha nada em meus estômago para sair.

“Aliel, você está bem?”, Jeremy me segurou pelos ombros para que eu olhasse em suas safiras. Mas minha atenção estava na cena que terminava de se desenrolar a minha frente.

Antes que eu pudesse responder, vi Laisa se levantando lentamente, ainda com a mão em seu rosto. Jéssica e Melissa tentaram ampará-la, mas ela apenas as afastou e olhou para Jason com os grandes olhos chorosos. Suas cabelos loiros estavam um pouco desarrumados, pela força que Sarah bateu nela.

“Jay, você viu o que essa garota fez comigo?”, Laisa disse e fez um bico.

Sarah balançou a cabeça e de um passo para trás, franzindo o cenho. Mordi o lábio novamente, me segurando para não seguir os meus instintos e empurrar Jeremy. Senti que minhas pernas já estavam firmes o suficiente para ficar de pé sem que os braços dele me sustentassem. Mas ele não me soltou.

Laisa tocou o ombro de Jason, mas ele recuou.

“Estou cansado, Laisa.”, ele disse estreitando os olhos verdes. “Cansado de você sempre tentando me manipular. Eu cometi o maior erro da minha vida ao namorar com você e me misturar em um mundo que eu sabia que não me pertencia. E estou dando um fora dele.”, sua voz se elevou para quem quisesse escutar. “Que se dane se eu não for popular.”

“Jay...”

“Cale a boca, Laisa.”, ele gritou. “Eu disse para você que na próxima que aprontasse com Sarah, seria o nosso fim.”, ele cruzou os braços. Os olhos de Laisa estavam quase saindo de seu rosto. “Este é o nosso fim. Estou cansado dessa brincadeira de Barbie e Ken. Eu sou tão imperfeito quanto a maioria das pessoas aqui presentes e não quero mais fingir que comigo seja diferente.”, ele se virou para Sarah e pegou as mãos dela. “Eu quero ser imperfeito com a garota que eu gosto, que foi minha melhor amiga e que sempre me apoiou, mesmo quando eu fui um idiota.”

Ninguém respirava. Nem mesmo eu lembrava que eu tinha pulmões e que precisava usá-los. Os braços de Jeremy se frouxaram a minha volta, mas eu não tinha mais motivos para me soltar. Tudo estava se resolvendo sem a minha interferência. Sarah sorriu, enquanto Laisa saía apressada de lá com as mãos no rosto e os ombros tremendo.

Observei os olhares maldosos na direção de Laisa e sem que eu pudesse me impedir, comecei a sentir pena dela. Aos poucos, a multidão começou a se dispersar e o DJ voltou á colocar a música que impedia qualquer tipo de comunicação, que não fosse gesticulada ou gritada. Todos voltaram a dançar ou fazer o que estava fazendo antes. Algo em meu estômago se agitou, mas eu ignorei vendo a cena á minha frente.

Jason e Sarah estavam parados frente a frente, inertes ao que acontecia ao seu redor. Ele tinha as mãos no rosto dela, enquanto a ruiva dava um sorriso sem graça e seu rosto assumia um tom de vermelho semelhante ao de seu cabelo. Ele também sorriu e aproximou seu rosto do dela, pausando apenas para sussurrar alguma coisa. Então, a beijou.

Desviei meus olhos daquela cena, me sentindo um pouco intrusa. Senti minha pele se esquentando e meu coração se acalmando com a sensação de dever cumprido. Olhei para Jeremy que não observava a cena com a mesma apreciação que eu. Seus lábios estavam franzidos e tinha alguma coisa sombria em seus olhos.

“Jeremy”, o chamei. Seus olhos demoraram alguns segundos para se focar em mim. “Ele vai continuar sendo seu melhor amigo, mas você tem que deixar seu preconceito de lado e aceitar que ele vai ser feliz com Sarah.”

Senti meus olhos se suavizando e ficando com um tom de mel. Toquei no ombro dele e não desviei os nossos olhares. Ele piscou algumas vezes. Tombei minha cabeça, ainda séria. Era incrível o quanto ele estava resistindo a minha influência angelical. Os humanos não demoravam nem dois segundos e suas almas ficavam mais suaves.

Mas eu estava vendo nos olhos de Jeremy que ele estava resistindo. Não podia admitir que estava com as mãos em seus ombros, por minhas pernas estarem tremendo feito gelatina. Sem que eu pudesse me impedir, comecei a estudar seu rosto, tão próximo do meu.

A barba por fazer lhe dava um ar másculo, junto com o rosto quadrado e os lábios cheios e chamativos. Ele era o que qualquer garota desejaria. Ombros largos e seguros, que poderia pegar uma garota e carregar sem hesitar. Maçãs do rosto predominantes e levemente coradas. Seus cabelos negros estavam escondidos por baixo do chapéu de pirata. E os grandes olhos azuis que me encaravam com interesse e suspeita.

Pisquei, desistindo ao perceber que ele era realmente imune. Olhei por cima do ombro de Jeremy, vendo Jay e Sarah indo para um canto afastado da festa. Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios. Mas quando voltei a encarar Jeremy, percebi que estava tudo acabado. Nada mais poderia me segurar naquela missão depois que Jeremy aceitasse a situação e desse razão as minhas palavras. Era ele quem estava me prendendo a Nova Jersey, mesmo sem perceber.

E por um momento, eu não sabia se realmente queria que ele aceitasse.

***********************************

“Aliel”

Sarah me abraçou com força, me surpreendendo. Eu sorri, sendo envolvida pela sua felicidade. Seus braços magros me circularam e me apertaram por alguns segundos. Eu hesitei, surpresa, mas correspondi. Ela se afastou, ainda sorrindo e com o rosto corado. Segurei-a pelos ombros, a estudando de cima a baixo.

Seus cabelos vermelhos estavam totalmente lisos, deixando seu rosto mais redondo e destacando seus olhos verdes claros. O vestido vermelho tinha as alças finas, que se cruzavam nas costas e seguia colado em seu corpo, deixando visível os atributos que poucos notavam na escola. Mas, a julgar pelos olhares de alguns jogadores, Sarah estava sendo vista com outros olhos.

“E o que você achou?”, ela se afastou e deu uma volta.

Seu vestido mal tocava seus joelhos, deixando suas coxas expostas. Precisava prestar bastante atenção para diferenciar os chifres se seus cabelos, por serem da mesma cor. Eu sabia que ela estava falando sobre o que eu tinha achado, mas eu não queria falar sobre isso. Meus olhos se estreitaram e seu sorriso diminuiu um pouco.

“O que aconteceu ali, Sarah?”, perguntei.

Ela balançou a cabeça e me pegou pelo braço, me afastando dos olhares questionadores de Jeremy e Jason que estavam conversando a poucos metros de nós. Laisa não tinha voltado. E eu franzi os lábios para o copo com um líquido suspeito na mão de Jeremy. Pudia ver suas pupilas se dilatando levemente.

Fomos para o lado de fora da casa e paramos em frente a piscina. O som estava baixo, mas eu conseguia ver alguns casais fazendo coisas obscenas pelos cantos. Desviei meu olhar de lá, sentindo meu estômago se agitar e a dor de cabeça surgir lentamente. Nos sentamos nas cadeiras na beira da piscina e esticamos nossas pernas.

Sarah ainda estava tensa, seus olhos estavam presos em suas mãos. Agradeci mentalmente que ela não estivesse bebendo. Entrelacei minhas mãos e as pousei em cima de minhas pernas, esperando. Já sabia que parte da minha missão estava resolvida. Jason tinha terminado com Laisa. De um jeito horrível, mas terminou.

“Eu juro que não tinha a intensão de bater em Laisa.”, Sarah disse com a voz baixa, como se só naquele momento se desse conta do que tinha feito. “Mas, essa raiva já estava contida dentro de mim por tempo demais. E eu estava cansada de ser sempre a que apanha. Eu não fiz aquilo só por mim, fiz por todos que já foram humilhados por Laisa Fernandez.”

“Sabe que violência não é a resposta para tudo”, eu disse pegando a mão dela.

“Eu sei.”, ela suspirou. “E no fundo, estou com um pouco de pena dela.”, ela balançou a cabeça, então deu um pequeno sorriso. “Jason me beijou.”, disse como se não acreditasse que isso realmente tivesse acontecido. “Quero dizer, ele disse que estava esperando por aquele momento por muito tempo.”, passou a mão pelos rosto corado. “Eu quero tanto que dê certo dessa vez.”, ela suspirou e me encarou com os olhos pedintes. “Eu vou lutar para que dê certo. Meu Deus, eu amo esse garoto desde pequena.”

Eu sorri.

“Acho que não é para mim que você deveria contar isso.”, eu disse apertando sua mão levemente. “Eu sei que dessa vez dará certo.”

“Obrigada, Aliel”, ela me olhou com cumplicidade. “Não sei o porque, mas eu sinto que se você não estivesse aqui, nesse exato momento, eu estaria deitada na cama, comendo chocolate e escutando minha mãe e Simon discutindo.”

Tentei não tremer ao escutar o nome de Simon e ter a lembrança da minha última conversa com Daniel. Eu teria que lidar com isso mais tarde. Minha missão estava se resolvendo bem diante dos meus olhos. Eu sorri para Sarah, no mesmo momento em que Jason chegou com dois copos de refrigerante. Eu peguei o meu, mesmo sem sede, apenas para ter o prazer de brindar com Sarah.

****************************

“Você viu Jeremy?”

O jogador do time de Jeremy que eu questionei, estreitou os olhos para mim, talvez tentando focar em quem perguntava. Acho que o nome dele era Austin. Só o tinha visto umas duas vezes na escola. Senti o cheiro de álcool que exalava de sua pele e invadia meu nariz, me fazendo recuar.

“Acho que ele está no quarto, anjo.”, Austin disse um pouco embolado.

Ele deu um passo na minha direção, mas eu rapidamente me desvincilhei dele e fui em direção as escadas. Eu estava preocupada. Fiquei tanto tempo me sentindo confortável com Jason e Sarah enquanto eles se resolveram, que quase não notei a ausência de Jeremy. Mas algo dentro de mim parecia vazio, como se um buraco tivesse sido aberto e o vento batia nele, me lembrando de sua existência.

Subi os degraus de dois em dois, tentando ignorar os casais se beijando em torno do corredor e os gemidos que saíam de algumas portas. Hesitei por alguns segundos, tentando saber em que porta Jeremy estava. Rezei por alguns segundos que ele não estivesse tão embriagado quanto os seus convidados. Andei pelo corredor, observando as portas, até que parei na terceira á direita. Nela continha uma placa Não Perturbe.

Eu sorri e pus a mão na maçaneta, percebendo que estava aberta. Fechei os olhos por um momento antes de entrar. Tinha medo de ver Jeremy em alguma cena constrangedora com alguma de suas convidadas de fantasias ousadas. Mas, tudo o que eu encontrei foi Jeremy inclinado em sua janela, olhando para a rua com os olhos perdidos.

Ele não me notou. Deveria estar focado em alguma coisa. Ou alguém. Olhei seu quarto. Tudo estava tomado pela penumbra, já que a única luz que iluminava o ambiente, vinha de um abajur em seu criado mudo. Sua cama era grande, assim como o restante de seu quarto. Coberta por lenções tão ou mais azuis que seus olhos.

Tinha um grande closet com três portas, uma mesa com computador e notbook. Além de uma estante com inúmeros livros e outra com a televisão e o video game. Suas paredes também eram azuis escuros, o que deixava o quarto ainda mais macabro. Até o lugar onde dormia era totalmente diferente do meu. Só naquele momento eu entendi o olhar que ele deu ao meu quarto. Era estranhamento, por nunca ter ido á um lugar precário.

Jeremy tinha as mãos no batente da janela e suspirou. Andei com passos estudados até parar ao seu lado. Eu não sabia o que fazer. Ou o que dizer. Tudo o que tinha dito a Jason e Sarah era que eu iria me despedir de Jeremy, por já está ficando tarde e que Caliel e Adriel estavam ficando preocupados.

De fato, eu não menti. Eles realmente estavam preocupados desde o momento em que passei da porta na direção para a festa. Mas, pelo jeito que Jeremy parecia inerte a tudo o que estava acontecendo ao seu redor, era óbvio que eu não poderia voltar para casa. Parei ao seu lado, pondo minha mão em seu braço. Ele piscou e focou seus olhos em mim.

“Aliel?”, perguntou como se não tivesse certeza do que estava vendo.

“Jeremy, está tudo bem?”, me aproximei dele e toquei seu rosto. Ele virou-o, tentando se afastar. “Olhe para mim.”, eu ordenei.

“Aliel...”

“Jeremy, olhe para mim.”, minha voz soou mais firme.

Ele suspirou e voltou seu rosto na minha direção. Então abriu seus olhos. Demorei alguns segundos para perceber o que tinha de errado neles. Estava escuro e eu tive que prestar bastante atenção. Seus olhos além de bastante dilatados, estavam avermelhados e pareciam perdidos. Mesmo que eu estivesse parada bem a sua frente, Jeremy estava olhando para algo além.

Dei um passo para trás.

“Você está drogado?”, eu disse com um fio de voz. Jeremy voltou a encarar a janela. Cedendo a vontade que eu estava desde o começo da festa, segurei-o pelo ombro e o fiz me encarar. “Jeremy, você está drogado?”

“E se eu estiver?”, ele gritou.

Dei outro passo para trás, assustada. Seus olhos estavam duros como pedras, seus lábios pressionados em uma linha reta e a testa franzida. Conseguia escutar sua respiração saindo pelo nariz. Demorei alguns segundos para perceber que estava com a mesma expressão que ele. Nós estávamos com raiva. Algo dentro de mim parecia pronto para explodir a qualquer segundo.

“Se estiver, você é a pessoa mais burra do mundo”, eu gritei de volta. “Drogas são apenas para destruir vocês e mostrar um mundo totalmente diferente do que vivem.”, abri os braços gesticulando para o espaço ao seu redor. “Você tem uma boa vida e não dá valor.”, apontei o dedo para o seu rosto espantado. “Sua irmã logo estará aqui, Jeremy. Você quer esse tipo de vida para ela? Você quer que ela veja o quanto o seu irmão está se afogando em uma coisa que talvez não tenha volta? Isso está te destruindo por dentro e por fora...”

Fui interrompida subitamente com a aproximação de Jeremy. Seu braço envolveu minha cintura e me puxou com força em direção ao seu peito. Eu estava arfando, tanto por conta daquele toque quente , quanto pela enxurrada de palavras que saíram de meus lábios. Meu coração deu uma parada brusca e voltou a bater com toda a velocidade possível, quase atravessando os meus ossos.

Meus pulmões estavam perdidos por entre meus outros órgãos vitais. Jeremy mordeu o lábio inferior e passou a língua por ele, lentamente. Isso fez minhas pernas tremerem e eu agradeci que ele estivesse me segurando. Seus olhos se desviaram dos meus para ir até os meus lábios entreabertos. Eu estava tentando respirar sem fazer muito barulho, mas tudo o que eu conseguia escutar era meus arfares.

Senti a mão livre de Jeremy estava em meus cachos, mostrando que eu não tinha saída. Minhas mãos estavam em seu peito e eu conseguia sentir seu coração batendo em baixo da minha palma. Nossos olhos se encontraram mais um vez. E eu me senti sendo sugada por sua safiras. Sua testa se pressionou na minha e nossos olhos se fecharam.

“Aliel...”, ele sussurrou. Abri meus olhos lentamente, sentindo minhas pálpebras tremerem. “Meu Deus, por que parece tão errado te beijar? Você não sabe como eu tenho vontade de te jogar nessa cama e mostrar que você tem que ser minha e só minha.”, ele mordeu o lábio. Senti meu rosto se esquentando. “Mas, parece que vou cometer o maior pecado do mundo.”

Isso me fez perceber a situação com outros olhos. Me fez ver o que eu estava prestes a fazer. Eu iria beijar um humano. Um humano que era tão pecador quanto seus lábios estavam dispostos a admitir. Tinha parte de mim que estava ignorando isso. Mas, a parte que ainda conservava a ideia de ter asas, me fez usar as minhas mãos que estavam em seu peito para afastá-lo.

“Jeremy, eu não posso.”, eu disse. Isso o fez abrir os olhos. “Por favor, me solte.”

Demorou alguns segundos, até que Jeremy absorvesse minhas palavras. Ele ficou me encarando como se esperasse que eu retirasse o que disse. Mas mantive meu olhar firme. Ele deu um passo para trás e seus olhos ficaram frios feito gelo.

“Por que, Aliel?”, ele tirou o chapéu de pirata e o lenço, e passou as mãos pelos cabelos escuros, os deixando bagunçados. “Você parece que vai ceder, então recua. É por que você é virgem? Tudo bem, eu respeito isso. Mas nem um beijo?”, eu balancei a cabeça. “Sua religião é contra envolvimento com homens antes do casamento?”, balancei a cabeça novamente. Ele pareceu exasperado por um momento, então voltou a ficar frio. “Você parece um anjo. Qualquer coisa que faça, que seja carnal, parece um pecado.”

Pressionei os lábios juntos, tomada por suas palavras. Era incrível como ele tinha acertado tudo o que estava acontecendo, sem perceber. Passei as mãos em meus braços, tentando me aquecer naquele abismo que tinha se aberto entre nós dois. O vento que vinha pela janela me acertava em cheio no peito. Passei a língua nos lábios, desconfortável.

“Você acredita em anjo?”, perguntei.

Ele me encarou com os olhos sérios, nenhuma inflexão na voz.

“Não”

Dei um passo na sua direção e suspirei.

“Você deveria.”

Jeremy me deu um olhar confuso. Vi desconfiança naquelas safiras que tanto me faziam querer tenta. Tentei olhar para o outro lado, mas não conseguia. Estava presa naquele momento. Será que ele iria perceber que a verdade estava bem embaixo de seus olhos? Mas, ele virou o rosto e socou a parede, me fazendo recuar.

“Você está desviando o assunto.”, ele rosnou e voltou a me encarar. Engoli em seco. “Eu conheço o seu tipo de garota. Gosta de brincar dentro e fora da cama.”, meus olhos se arregalaram com suas palavras rudes. “Acham que se fazendo de difíceis, nós iremos ficar de quatro na primeira transa. Mas aprenda uma coisa, Aliel Sky. Quem fica de quatro aqui, é você.”

Minha boca pendeu aberta com tudo o que ele estava dizendo. Tentei pensar com clareza. Colocando a culpa na bebida e nas drogas. Mas tudo o que ele estava dizendo me feria. O buraco em meu peito parecia tomar conta de todo o meu corpo, engolindo meus órgãos e tudo o que me era necessário para viver. Meus olhos começaram a arder.

“Não adianta se fazer de difícil, e nem me lhe desse jeito assustado.”, ele continuou. Soltou um riso amargo. Todos os meus pêlos se arrepiaram e eu dei outro passo para trás. Queria pedir para que ele parasse, mas parecia que minha garganta tinha se fechado. “Quer saber de uma coisa? Eu nunca deveria ter dado trela para uma garota como você. Nunca gostei das santinhas.”, ele deu um meio sorriso. “E se não vai me dar o que eu quero, melhor sair daqui. Metade dessa festa estaria matando para ficar de joelhos para mim e...”

Eu saí correndo, antes que ele terminasse a frase. Passei por todos na festa, sem sequer parar para ver em quem eu trombava. Tinha garganta estava seca, meus olhos estavam ardendo e minha cabeça parecia que iria explodir. O buraco em meu peito estava exposto para quem quisesse tocar na ferida.

Quando cheguei na rua, pude ver as nuvens carregadas, prontas para deixar que as gotas de chuva caíssem. Não poderia nem abrir minhas asas. Se bem que no estado que eu estava, não seria uma boa ideia sair voando por aí. Quase como se meu corpo não seguisse mais os controles do meu cérebro, olhei para a janela dele.

Jeremy estava ali, como eu imaginava. Olhava para mim com os olhos estreitos e os lábios franzidos. Fiquei parada no meio da rua o olhando, até que ele se virou para trás e sorriu. Fiquei confusa, até que vi as mãos enluvadas da Branca de Neve tocando-lhe no peito. Ele olhou mais uma vez para mim, e enquanto ela beijava seu pescoço, ele olhou para mim e fechou a cortina.

A dor que me atingiu, me fez olhar para o peito e tate-alo, a procura de uma ferida física, ou sangue. Mas eu sabia que vinha de dentro. Pisquei, tentando aliviar a ardência em meus olhos e percebi que eles se encheram de água. E que essa água estava escorrendo por minhas bochechas. Toquei, sentindo a umidade em meus dedos. E movida pela curiosidade, coloquei-a na boca, sentindo o gosto salgado.

Antes que eu percebesse, estava soluçando e a água continuava a descer de meus olhos. Meu peito estava dolorido e minha garganta ficando cada vez mais seca. Então senti uma gota tocar em meus ombros. Então outra. E outra. Quando menos esperei, estava sendo totalmente molhada pela chuva.

Sem saber ao certo o que fazer, corri até as árvores no final da rua e me joelhei embaixo de uma, ficando sem forças nas pernas. Toquei no áspero tronco e solucei mais uma vez. Senti frio e me sentei, abraçando minhas pernas e colocando meu rosto nos joelhos. Criador, que dor era aquela? Nunca tinha sentido daquele tipo. A chuva continuou com toda a força. Até que uma caiu em meu lábio e foi quase impossível não sentir o gosto salgado.

Foi então que eu percebi que não estava chovendo por causas naturais.

Eu estava chorando.


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Notas finais do capítulo

Jeremy, sendo um idiota como sempre e fez a nossa anjinha chorar. E agora? Será que ela vai embora de vez?

Comentem, hem, amores