Quero morrer, será que eu já posso?

Nunca, em momento algum pense que sua vida não pode piorar porque ela vai dar um jeito de provar que pode sim.

O relacionamento entre minha mãe e eu ficou um pouco tenso desde que ela me tirou da escola, empacotou minha vida, e a jogou atrás de um caminhão de mudança. Agora eu terei que recomeçar minha vida toda em uma nova e pacata cidade chamada Konoha.

– Gostou do seu quarto novo, Sakura? - minha mãe estava escorada no marco da porta com um sorriso estampado em seu rosto, o que me deixava muito irritada. Eu estava sentada no chão no meio das inúmeras caixas de papelão, onde estavam todas as minhas coisas.

Queria poder ter trazido dentro das caixas o meu namorado e meus amigos, que inclusive eu nem tive tempo de me despedir. Sasori havia prometido que me visitaria todos os finais de semana o que não fez eu me sentir melhor considerando que antes eu o via todos os dias.

– Eu mal tenho espaço para respirar aqui - eu me levantei pronta para começar mais uma discussão.

– Não se preocupe, vamos achar espaço para colocar todas as suas coisas.

– Claro, podemos colocar minha escrivaninha em cima da cama - eu dei um sorriso irônico.

– Sakura, você poderia colaborar um pouco? Você deveria estar feliz por mim, e além do mais o Fugaku é bem legal.

É claro que eu posso, mas não vou. Quero meu namorado de volta, minha amiga de volta, e até mesmo os meus vizinhos insuportáveis do meu antigo prédio.

– Eu acho que o Fugaku ser legal não compensa os dois filhos irritantes - eu mal havia terminado de falar quando uma música muito alta começou a tocar no quarto do lado - E BARULHENTOS!

Eu saí do meu quarto furiosa, aquele seria a oportunidade perfeita de descontar a minha raiva. Parei na frente da porto do garoto mais novo, ele se chamava Sasuke, e era incrivelmente mimado e egocêntrico. Na porta havia uma placa que dizia "Caia fora", quantos anos esse garoto tem? 10?

– DA PRA VOCÊ ABAIXAR ESSA MÚSICA POR FAVOR - eu comecei a socar a porta com força. Ele a abriu com um sorriso no rosto, colocou as mãos nos bolsos e fez a cara mais debochada possível.

– Desculpa, quem é você? - ele disse ainda com tom de deboche.

– Sou a irmã que você sempre quis ter - eu falei no mesmo tom que ele.

– É sério? Por que você parece mais com aquelas irmãs feias da branca de neve - ele cruzou os braços sobre o peito.

– É da cinderela, seu retardado! Agora será que dá pra você abaixar a música?

– Claro, por que você não disse antes? - ele pegou o controle do rádio e apertou o botão que o desligava - Ninguém reclamava do barulho quando aquele quarto estava vazio, antes de vocês virem morar aqui.

Agora ela havia conseguido me deixar com muita raiva. Até parece que eu tinha tido a ideia fantástica de vir morar nesse lugar. Eu virei as costas e saí pisando firme, com os olhos apertados e as unhas cravadas na palma da mão. Ele veio atrás de mim e entrou no meu quarto.

– É meio apertado você não acha? - ele pegou uma calça minha na mão - talvez você devesse se desfazer de alguns lixos.

– Sai daqui! - Eu joguei uma caixa vazia nele.

– Isso é jeito de tratar seu novo irmão? - ele riu mais uma vez e saiu do meu quarto.

Meu novo irmão...

Fala sério!

(...)

Na manhã seguinte, acordei com um susto de um som não familiar. Sem caminhões de lixo, sem táxis, sem alarmes de carro? Silêncio.

Seria meu primeiro dia na escola nova, e por mais que eu não quisesse admitir, eu estava muito nervosa. Eu estudo na mesma escola desde... Sempre! Eu já conhecia todos na minha antiga escola, eu tinha popularidade, amigos e um namorado, agora eu não tenho nada.

Levantei da cama e deslizei até a porta do quarto, eu havia dormido pouco naquela noite por conta do nervosismo, estava muito cansada. Caminhei pelo corredor e dei de cara com Itachi, o filho mais velho de Fugaku, ao contrário do Sasuke ele parecia ser bem sério, e era o único adolescente naquela casa que parecia estar aceitando bem a situação toda. Dei bom dia para ele, mais por educação mesmo não tava nem aí se o dia dele ia ser bom ou ruim.

Fui até o banheiro me arrumar para ir pra escola, quando entrei levei um susto, tinha um cachorro dentro da banheira. Na verdade, tinha o cachorro dentro da banheira. Dei um gritinho abafado, e bem na hora Sasuke entrou, ele vestia uma camiseta larga de basquete e uma calça de moletom. Quando eu terminei de observar a roupa que ele vestia lembrei que eu ainda estava de pijama, e que eu não estava mais em casa e agora eu divido a casa com mais três homens e não poderia sair por aí vestindo qualquer roupa.

– Espertinho em Kurama - ele chamou o cachorro para fora do banheiro e depois entrou novamente - Quer sair? - ele perguntou para mim com indiferença.

– Ah, não! Eu estava aqui primeiro - falei em um tom óbvio.

– Tudo bem, fica a vontade - ele foi em direção ao vaso sanitário, e eu saí de lá antes que ele abaixasse as calças na minha frente.

Terminei de me arrumar para a escola no meu quarto mesmo. O uniforme era composto por uma saia preta de pregas, que ia até a metade das coxas, uma camiseta social de botões branca e um lenço que deveria ser usado embaixo da gola da camiseta.

Fui até a cozinha tomar café e encontrei minha mãe, Fugaku e Itachi sentados na mesa.

– Mãe, será que eu posso falar com você sobre um assunto particular? - eu estava parada em pé na frente deles.

– E o assunto seria "Se separe do Fugaku"? - ela perguntou.

– É, sem querer ofender Fugaku.

– Não me ofendeu, como está indo lá em cima com os garotos? - ele perguntou sorridente.

– Bom, já que perguntou... Não tem lugar para colocar minha escrivaninha, o Sasuke é um idiota, de novo, sem ofensa - pela cara que a minha mãe estava fazendo ela deveria estar morrendo de vergonha, um ponto para mim.

– De novo, não ofendeu - eu poderia gostar desse cara.

– Sakura, por favor! Vamos resolver uma coisa de cada vez - Minha mãe tentava fracassadamente me deixar melhor.

– Faz assim, depois do café eu subo lá em cima para resolver o problema com a escrivaninha, mas o Sasuke, é mais um projeto a longo prazo - ele riu.

– Bom, eu fiz ovos mexidos para o café - minha mãe se levantou e foi até o fogão - você gostaria de um pouco Itachi?

– Não, valeu. Eu sou mais do tipo cereal - ele disse rindo.

Na verdade ele não parecia ser do tipo que come cereal coloridinho, mas nessa casa todo mundo parece ser meio anormal então eu simplesmente relevei. Minha mãe parece ter ficado um pouco decepcionado por ele ter recusado, então eu resolvi fazer minha boa ação do dia e aceitei comer os ovos mexidos dela.

– Olha, é melhor eu ir indo, tenho que pegar os horários ainda e um armário para mim antes que a aula comece - eu me levantei e joguei minha mochila sobre o ombro.

– Tenho um bom primeiro dia de aula, querida - minha mãe me abraçou.

– Ah, valeu - eu retribuí o abraço.

Eu estava quase saindo pela porta da cozinha quando Fugaku me interrompeu.

– Você não vai esperar o Sasuke? - perguntou ele.

– Ah, não! Eu acho que a gente tem horários diferentes - aquela desculpa foi péssima. - Tchau.

Saí antes que ele pudesse dizer outra coisa.

(...)

Ela tomava seu refrigerante pelo canudinho enquanto me observava. Isso mesmo, uma garota loira, das mais escandalosa estava parada bem na minha frente me observando dos pés a cabeça. Ela havia customizado todo seu uniforme, seu cabelo era incrivelmente longo e ela o prendia em um rabo de cavalo, apenas parte de sua franja ficava solta.

– Você é lésbica - ela me perguntou, indiferente. Como se estivesse me perguntando "você tem horas?"

– Está dizendo isso só porque eu não deixei meu uniforme parecido com a roupa de uma dançarina de pole dance? - eu perguntei rindo, meio sem graça.

– Esses sapatos são de lésbica.

Uma mulher baixinha chegou bem na hora interrompendo nossa agradável conversa, e eu agradeci mentalmente.

– Sakura, sou a Shizune, sua conselheira. Estou aqui para ajudá-la qualquer hora em que precisar – ela disse super animada. - E essa é Ino Yamanaka, sua "miga".

– Como? - eu não estava entendendo mais nada, e a animação dela me irritava. Nesses últimos dias tudo parecia me irritar.

– "Migos" são voluntários que mostram a escola aos novatos. - ela apontava para a garota loira e depois para mim.

– Fazemos isso por nota extra, "migos" não são amigos - Ino disse rapidamente.

– Não necessariamente, não - Shizune completou.

– Já pensou em chamá-los de outra coisa então?

O olhar que elas fizeram para mim dizia tudo "Bem vinda a Konoha"

(...)

Eu odiava Ino Yamanaka. Tinha uma personalidade tão lisa quanto seu cabelo.

Nós caminhávamos pelos corredores da escola enquanto ela mexia compulsivamente em seu celular e quando nós passávamos na frente de algo, como por exemplo, o refeitório, ela simplesmente dizia: "refeitório", e assim foi por todos os outro lugares ginásio, cafeteria, salas de aulas e etc.

Depois do meu tour pela escola, consegui escapar da Yamanaka. Fui até a secretária, havia uma mulher lá com uma cara um tanto quanto desanimada, acho que aquele não era o emprego dos sonhos dela.

– Oi, eu preciso de um armário - eu disse tentando ser simpática.

– Não ta sobrando armário, você vai ter que dividir um com alguém até desocupar algum - ela mal terminou de falar e ficou de costas para mim.

– Mas eu preciso muito do meu próprio armário e é meu primeiro dia.

– Por que não disse antes? - ela sorriu - É claro que vai ter seu próprio armário, e você já pegou sua cesta de boas vindas?

– Não, eu - me dei conta de que ela estava sendo irônica - não tem cesta de boas vindas, né?

– Não - ela disse da forma mais seca possível e logo depois fechou a cara me entregando o número e a senha de um dos armários que eu teria que dividir.

Peguei minhas coisas de lá e saí antes que ela me exterminasse com o olhar. Eu não conseguia me lembrar onde Ino havia dito que ficavam os armários, na verdade não lembro nem se ela disse onde ficavam.

Depois dar algumas voltas pelo colégio eu encontrei, achei também o armário que eu teria que dividir e ele era bem grande, dava perfeitamente para duas pessoas, se uma delas não fosse eu. Eu costumo ler bastante, então meus armários são sempre cheios de livros. Eu não teria tempo de organizar, pois o sinal já iria bater, comecei a enfiar os livros de qualquer maneira o que foi uma péssima ideia porque os outros começaram a cair no chão.

– Então você é a garota que vai dividir armário comigo - eu ouvi uma voz atrás de mim e virei rapidamente.

Tinha uma garota morena parada atrás de mim, ela tinha os olhos incrivelmente claros e era linda, não parecia tão arrogante quanto a Yamanaka.

– Ah, sim, eu sou a Sakura e sinto muito por isso - eu disse juntando os livros que haviam caído.

– Eu sou Hinata e não precisa se desculpar - ela riu timidamente - são só livros - ela se abaixou e me ajudou a juntá-los. - Está gostando da escola?

– Bom, quer que eu seja sincera? - não, eu não estava gostando.

– Você se acostuma, além do mais tem bastante garotos bonitos aqui, principalmente ele - a garota começou a assumir uma cor avermelhada e parecia que ia desmaiar bem ali na minha frente.

Eu me virei para ver para onde ela estava olhando e não acreditei no que vi, era o Sasuke vindo em nossa direção.