Essa era uma das poucas noites em que eu tinha dormido tranquilamente bem, levanto-me e olho para o despertador, eram seis horas em ponto, eu tinha me acostumado tanto de levantar cedo que eu acordava antes mesmo do despertador tocar.

Vou ao banheiro, escovo os dentes, coloco a mesma roupa de sempre, uma calça jeans escura, o meu tênis, o uniforme é claro, e a minha blusa de frio cinza que eu sempre dobrava até a altura do cotovelo, aquilo já era uma mania.

Coloco a minha mochila nas costas, não esquecendo o fone de ouvido, e vou em direção a cozinha, hoje seria um dia e tanto.

Sinto cheiro de panquecas de chocolate, há quanto tempo eu não comia isso mesmo? Uns cem anos?

_ Bom dia meu filho. – Diz minha mãe vindo em minha direção e me dando um beijo na bochecha, como ela era um pouco baixa e eu muito alto, tive que me encurvar para recebê-lo. Não posso negar que fiquei surpreso, pois eu realmente tinha pensado que tudo aquilo que tinha acontecido ontem, não tinha passado de um mero sonho. – Acho que você vai gostar do que eu fiz para o café da manhã. – Fala ela dando um sorriso, eu sabia que ela estava se esforçando o máximo para tentar remendar tudo, e posso dizer que estava tendo uma grande evolução.

Olho para a mesa e vejo o meu pai sentado com um jornal na mão. Tenho uma sensação de dejá vu, como se tudo aquilo tivesse acontecido, e realmente tinha só que eu ainda era muito pequeno, e os meus pais ainda não me odiavam tanto.

_ Bom dia Christopher. – Diz o meu pai ainda lendo o seu jornal, ele estava tentando ainda resistir, mas eu sei que ele estava muito melhor do que antes, nisso eu tinha certeza.

_ Bom dia. – Sussurro de volta.

Sento-me na mesa, eu ainda não estava acostumado com tudo isso, uma família normal e feliz, poder tomar café junto com eles, tudo isso era muito novo para mim, então Lara vem em minha mente, dou um leve sorriso, estava morrendo de saudades dela.

Tomo o meu café da manhã, que por sinal estava uma delícia, aceno para os meus pais e vou para a escola.

Como eu estava bastante adiantado, resolvo ir devagar para pensar um pouco na vida, então eu começo a me lembrar da primeira garota que eu tinha começado a gostar, desde pequeno eu não era muito ligado a essas coisas, já que eu era bastante sozinho.

Eu freqüentava a igreja com os meus pais, até que eu vejo uma garota muito bonita, com a pele clara, um pouco baixinha, os cabelos ondulados pretos, os olhos escuros, era uma garota muito bonita, com muito esforço e coragem eu tinha começado a conversar com ela, tínhamos virados amigos de igreja, eu sempre pensava em um dia poder namorar com ela, mas eu sabia que o que eu sentia por ela não era recíproco, pois ela me via apenas como mais um coleguinha da igreja, a partir daí eu parei de pensar em garotas e comecei a tomar conta da minha própria vida, até conhecer Lara, que para minha total felicidade, também gostava de mim.

Quando vejo já estou em frente à escola, vou em direção a minha sala, ela era a primeira, ou seja, ficava praticamente de frente para o portão da escola, sendo assim, a gente era os primeiros a sair, em outras épocas eu acharia isso ótimo, mas agora.

Sento-me em minha carteira e começo a ouvir as minhas músicas, infelizmente sou interrompido com uma cutucada no ombro, olho para trás e vejo que é o Arthur, mesmo não conversando muito com ele, ele poderia ser considerado o meu único amigo na escola, era um pouco popular na sala, mas era bem legal comigo, ficávamos conversando sobre vídeo-game, mangás, que a propósito ele desenhava muito bem e também sobre coisas da aula.

_ Ei Christopher, olha só o que eu desenhei!

Tiro o fone, como a aula ainda não tinha começado, ficamos conversando sobre coisas de meninos até a aula começar, até então eu não tinha pensado no que eu poderia falar com Lara no intervalo, bem no fundo eu estava com um pouco de vergonha.

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Como eu poderia começar uma conversa com o Christopher, perguntando se a gente estava namorando ou não? Com certeza a minha mãe iria me matar, já que eu tinha prometido a ela que só começaria a namorar com 21 anos, e felizmente não tinha dado certo, eu teria que conversar com ela sobre isso.

Eu sei que isso poderia estar parecendo idiota, mas eu realmente queria ouvir da boca dele, pois desde pequena eu sempre sonhei em um pedido de namoro romântico, tenho que admitir que eu tenho um lado água com açúcar de ser, desculpem-me aqueles que odeiam isso.

Tinha acordado cedo hoje, pois esse seria o dia em que tudo iria mudar, eu queria no mínimo ficar apresentável, mas o meu típico apresentável é simplesmente horrível.

Coloco o meu all star já surrado de tanto usar, eu realmente não me lembrava à última vez que eu o tinha lavado, coloco a minha calça preta, o uniforme, solto o meu cabelo, sinceramente, o meu cabelo era a única coisa que chamava atenção em mim, ficava na altura da minha cintura, loiro escuro, mas com as pontas douradas, naturalmente é claro, e todo encaracolado, eu devia agradecer a minha mãe por isso, já que o meu pai tinha o cabelo oleoso de tão liso que era.

Como não tinha nada para fazer, e eu não estava com a mínima vontade de chegar cedo à escola, resolvo folhear o meu diário e começo a ler frases e textos que eu tinha escrito de Christopher.

“É possível eu me apaixonar por uma pessoa que nunca reparou em mim, que nem ao menos sabe que existo? Pois é assim que me sinto todas as vezes que tento ao máximo ficar próxima dele no intervalo, para que ele possa me ver ao menos saber que eu existo que estou ali na sua frente, que ele saiba que eu sou completamente apaixonada por ele. Desde a primeira vez que eu o vi, eu me encantei por ele, como sempre faz no intervalo ele estava sentado no cantinho do pátio da escola, ouvindo música, sozinho. O garoto mais lindo que eu já vi, agora será que pelo menos uma vez na vida ele também estaria gostando de mim? Mas pensando que eu não gosto dele, eu nunca irei saber se não for falar com ele, o que isso nunca irá acontecer, já que eu morro de vergonha, ou até mesmo ele nem saiba que eu existo e se me viu deve me achar horrível, nunca irei saber?”

“Ouvindo vozes, sentado no chão, fones no ouvido, óculos no rosto, e uma garota apaixonada em um lado, tentando chamar a sua atenção, pintando um simples desenho, uma simples garota, será que um dia ele a irá enxergar? Dúvida cruel.”

Olha como tudo realmente tinha mudado, e hoje eu descubro que desde o começo ele também gostava de mim.

Levanto-me feliz e chamo minha mãe para irmos à escola. De uma coisa eu tinha plena certeza, o que nós dois tínhamos era mais do que um simples namoro de adolescência.