NÃO HAVIA movimento algum na rua e não estava mais tão frio. Nuvens carregadas se arrastavam ao longe e relâmpagos cruzavam o céu bem ao longe. 

Névoa (não A Névoa, só névoa comum mesmo) cobria quase toda a rua. Poças de água estavam acumuladas pela calçada. 

Groover havia ligado para um taxista, que chegara naquele exato momento. 

Entramos, os três no banco traseiro. O motorista deu partida logo depois que Groover disse o endereço. O motorista era gordo, com os cabelos escuros desgrenhados e a barba mal-feita, como se tivesse acabado de acordar e não se importara nem em lavar o rosto. A expressão mau humorada e os olhos fundos deixavam isso ainda mais claro. 

O cara ligou o rádio em uma estação que não parecia nem um pouco noturna. Ele tamborilhava os dedos no volante.Nós três estávamos todos quietos. Groover estava mordendo uma alça de sua mochila, mas nem parecia perceber isso. Annabeth e eu estávamos de mãos dadas, ela com a cabeça descansada em meu ombros. 

Eu olhava para fora da janela, nada surpreendido com os carros que já começavam a andar pelas ruas da cidade. O motorista olhava para nós pelo retrovisor de vez em quando. Decidi que não gostava do jeito dele, principalmente quando ficava me encarando como se fosse um animal selvagem pronto para atacar (acredite que fiquei com um pouco de medo, achando que fosse um monstro. Mas Groover não havia demonstrado nada, então concluí que o cara estava somente muito irritado por três jovens o terem acordado tão cedo).

Dei um beijo na testa de Annabeth e depois ergui sua mão, ainda segurando a minha, e também lhe dei um beijo. 

O motorista resmungou qualquer coisa e aumentou o volume do rádio. Mas depois pareceu mudar de ideia e abaixou. 

Após mais algum tempo, o táxi parou na frente de um conjunto de pequenas casas todas iguais, com um pedaço de quintal cercado. 

-Podem descer - o motorista disse com uma voz áspera e irritada. Depois que pegou o dinheiro, saiu a milhão com o carro. 

-Por aqui - Groover fez sinal para que o seguissemos. O céu já estava mais claro, e as nuvens cinzentas e pesadas pareciam ter vontade de se afastar daquela cidade de uma vez. 

Paramos na frente de uma casa da qual não vi o número. A porta estava aberta e as janelas escancaradas. Uma menininha escrevia qualquer coisa em um caderno bem na frente da porta. 

Suspirei e logo depois murmurei:

-Parece que somos só nós três de novo.