Ponto de Vista - Meiko

Meu chinelo de madeira fazia barulho enquanto minha mãe me levava para longe daquela igreja, aquele povo é doentio, só pode ser. Minha mãe murmurou alguma coisa, devia ser algum xingamento, mas eu estava tão assustada que nem ouvi direito.

-Fique aqui e não chegue perto daquele lugar, Meiko, eu vou comprar alguma coisa para o jantar. - ela disse.

Um pouco atrás do celeiro, havia uma garota ruiva, baixinha, com olhos castanhos e uma aparência tipicamente abatida. Ela estava me encarando de uma forma gentil, mas que estava me assustando um pouco. Ela veio correndo até mim alguns minutos depois.

-Olá. - ela disse.

Eu acenei com a mão esquerda (a que não estava segurando a sombrinha) e sorri timidamente.

-Eu nunca vi você por aqui, você é nova? Como você se chama? - ela falou empolgada.

-Sim, sou. Meu nome é Meiko Kiyumi Watanabe. E você?

-Eu vivo aqui já faz tempo, nasci aqui, não vou para fora porque dizem que o mundo é perigoso, que existem seres da escuridão que vão nos fazer mal. Além disso, se você usar o colar e tentar sair, você é considerado um traidor e caso tente voltar será torturado e morto, tirando as regras eu gosto daqui, mas sou um tanto rejeitada porque não frequento mais a igreja, depois do que aconteceu com a minha irmã. Meu nome é Elizabeth White.

Eu fiquei surpresa com a quantidade de coisas que ela me falou a partir de uma simples pergunta.

-Quantos anos você tem? - ela prosseguiu.

Eu suspirei.

-Catorze, e você? - eu respondi.

-Catorze também. Eu não frequento mais a escola, quem abandona a igreja não pode mais estudar.

Naquele momento, minha mãe chegou. O céu que estava um pouco mais azul naquele dia começou a ficar cinzento e fomos correndo até a nossa casa tentando escapar da chuva que viria, eu esqueci de me despedir daquela garota, ela parecia ser gentil, mas estes costumes estranhos destas pessoas já estão fazendo parte dos meus pesadelos. Fui até o meu quarto e lavei o rosto para tirar o pó de arroz da face. Minha mãe me chamou da cozinha e eu segui sua voz, me deparando com dois pratos de sopa de legumes. Sopa é uma das poucas coisas que estas pessoas podem comer, e nada pode ter tempero demais, pois eles acreditam que sal em excesso ou pimenta fazem com que a comida se torne excessivamente boa, corrompendo a pessoa. Aliás, aqui ninguém pode engordar, pois isto significa que a pessoa está comendo demais. O limite de refeições são três por dia, e a lista de alimentos permitidos é muito pequena, felizmente minha casa fica longe daquele lugar e eu e minha mãe podemos seguir nossas próprias regras e comermos o suficiente. Na escola, eu ouvi algumas garotas falando que uma mulher engordou e foi assim na igreja, cortaram a barriga dela até ela morrer, tenho medo do que pode acontecer comigo se eu não cumprir as regras, este lugar é sombrio e transmite medo a todos que aqui estão.