Ponto de Vista - Meiko

Minha mãe voltou nervosa, com uma expressão de raiva.

-Mãe? - eu sussurrei, temendo o que ela diria.

Ela foi para o seu quarto, eu sabia que ela fazia aquilo porque não queria que eu a visse nervosa, minha mãe era uma mulher forte. Alguns minutos depois ela voltou meio cabisbaixa.

-Me desculpe, Meiko, eu só estou tentando fazer o melhor para você. - ela disse.

Eu a abracei forte e sorri.

-Venha, vamos comer um pouco. - ela respondeu.

Fomos até a cozinha e ela começou a preparar comidas típicas japonesas, eu estava com saudade da comida do meu país. Eu comi como se fosse a minha última refeição, minha mãe ficou surpresa com a rapidez que eu levei para comer, ouvi ela dar uma risada baixinha. Escovei os dentes e passei o dia em casa, tentando me distrair. Fui dormir quando anoiteceu, minha cabeça doía sempre que encostava no travesseiro, mas acabei adormecendo. Acordei desanimada, por sorte, minha mãe me deixou faltar hoje. Fiquei mais um tempo na cama, escrevendo poesia. Minha mãe veio ao meu quarto com uma roupa toda escura, uma blusa preta e uma calça azul quase cinza, e uma sapatilha da mesma cor da blusa.

-Que roupa é essa? - eu disse.

-Eu achei que assim eu ficaria mais elegante, Meiko. Você sabe que este povo é bem religioso, certo? - ela falou, calmamente.

-Sei.... - eu respondi, completamente desinteressada.

-Eu acho que seria bom e nós fossemos à igreja assistir alguns cultos, mesmo que não tenhamos a mesma religião que eles.

Eu me sentei na cama e assenti, apesar de eu estar sem vontade nenhuma de ir. Fiz minha higiene pessoal e peguei um kimono preto com flores cor-de-rosa, prendi meu cabelo em um coque e coloquei uma flor cor-de-rosa para adornar. Calcei meu chinelo tradicional e peguei minha sombrinha, eu e minha mãe fomos caminhando até a igreja. A porta estava fechada e havia um véu cobrindo toda a enorme entrada. Abrimos o véu e batemos algumas vezes na porta, ninguém atendeu. Abrimos e vimos todos abaixados em um círculo com as mãos dadas olhando para o chão, as mulheres vestiam vestidos pretos que cobriam todo o corpo e uma enorme capa da mesma cor com um capuz que cobria seus rostos, e a maioria delas estava com os cabelos cobrindo a face. Os homens vestiam uma blusa preta que cobria toda a parte superior do corpo e uma calça da mesma cor, além de uma túnica escura com aquela capa que as mulheres vestiam. A Senhora estava no centro do círculo, e diferente dos outros, seu vestido da mesma cor dos outros que também cobria todo o corpo era mais elegante e ela usava um véu escuro no rosto.

Assim que demos o primeiro passo dentro da igreja, todos começaram a nos encarar, A Senhora veio caminhando até nós duas e disse, num tom de desprezo.

-A roupa de vocês traz a escuridão para cá, saiam imediatamente senão serão obrigadas a ajoelharem na brasa. Saiam! - ela começou a gritar.

Eu e minha mãe fomos correndo para fora, assustadas. O lado de fora é melhor, bem melhor.