Ponto de Vista - Meiko

Eu e minha mãe fomos acompanhando a mulher até uma salinha atrás do altar, ela morava na igreja, provavelmente. Subimos uma escada e chegamos a um escritório bem simples, havia uma mesa, uma cadeira e uma janela, apenas. A pintura das paredes era a única coisa com um pouco de cor, tinha um azul cinzento, e todos os móveis eram de uma madeira velha. A mulher se sentou na cadeira e eu e minha mãe ficamos em pé mesmo.

-Eu sou Meredith Hill, mais conhecida como a salvadora deste povo. Nós somos pessoas boas, senhora, porém nossa exigência é que respeitem os nossos costumes. Aqui dentro, existem regras que devem ser respeitadas, e quem não as cumprir será punido. Isto é para o nosso bem, a senhora entende?

Minha mãe assentiu. A mulher ficou nos contando uma série de regras peculiares e diferentes, tais como não falar do que vimos fora desta vila. Este povo é isolado ao extremo, e agora eu entendo o porquê: ninguém nunca teve a oportunidade de contar para eles sobre o mundo afora. A mulher pediu algumas informações e depois nos liberou, amanhã eu tenho escola, vou ter que me adaptar ao jeito antiquado dessas meninas. Eu vivia em uma cidade pequena do Japão, mesmo sendo um lugar pequeno havia bastante tecnologia, e todos achavam que ter um celular era o mais importante, agora eu vou ter que conviver com meninas que nem sabem direito o que é um rádio. A mulher também me entregou o uniforme, era um vestido azul cinzento assim como as paredes do escritório, o vestido era fechado no pescoço e cobria todo o braço, possuía um capuz e sua saia larga ia até os calcanhares. Não era um vestido muito bonito, mas a última coisa que eu queria era chamar a atenção no primeiro dia de aula, portanto eu até fiquei feliz de saber que usaríamos uniformes. Apesar do atraso deste lugar, eles já descobriram a máquina de escrever (tudo bem que isso já deixou de vender há um bom tempo) e a minha mãe conseguiu um emprego datilografando para os documentos da tal Meredith Hill, que é bastante idolatrada neste lugar. Eu vou me concentrar nos estudos por enquanto, depois eu vejo se ajudo minha mãe trabalhando. Nós voltamos para casa e eu fui imediatamente para o meu quarto, a cama baixa com estampas florais me parecia tão aconchegante que eu literalmente me joguei nela. Caí no sono alguns instantes depois e tive uma noite agradável. Acordei com minha mãe me chamando, eu fiz minha higiene matinal e comi um pouco, coloquei o uniforme e prendi os cabelos em um coque, para adornar eu coloquei uma flor de seda. Peguei as frutas vermelhas que eu usava para dar cor aos lábios e passei deixando-os com uma cor avermelhada natural que contrastava com a minha pele, eu estava pronta. Peguei também a minha bolsa antiga e fui a caminho da escola (a mulher me mostrou o local na nossa conversa), algumas garotas ficaram me encarando e eu estava bem tímida, até que um homem de aparentemente vinte e oito anos me parou.

-Olá, você deve ser a Meiko, eu sou Todd, muito prazer.

Eu me curvei para cumprimentá-lo, ele não entendeu direito o que aquilo significava e apenas sorriu.

-Você quer que eu te ajude a ir para a escola? - ele falou.

Eu fiquei tímida, eu sabia que não se pode confiar em estranhos, mas essas pessoas são tão religiosas que eu acho difícil alguma pensar em fazer algo atrevido, portanto eu concordei. Ele foi me guiando até uma construção antiga onde várias pessoas entravam, aquela devia ser a tal escola. No caminho, o homem me fez várias perguntas, ele era bem simpático. Eu me despedi dele e entrei na escola, eu não conhecia ninguém... Fui caminhando até que uma mulher ruiva que aparentava ter uns quarenta anos me parou.

-Olá, você deve ser a garota nova, por favor, deixe-me levá-la até a sala da professora Hildred.

Todos estavam sendo gentis comigo, talvez as coisas melhorassem. Eu concordei e fui sendo guiada por ela até uma sala de aula onde haviam apenas algumas meninas e um menino, os outros alunos ainda chegariam. As meninas conversavam entre si e o menino estava sozinho lendo o livro de regras locais.

-Repetitivo... - ele sussurrou.

Eu olhei para ele, ele me olhou também.

-Eu... Eu sinto muito, senhorita... - ele falou, olhando para baixo.

Eu sorri e olhei para ele.

-Não há motivo para se desculpar, eu sou Meiko Watanabe.

Ele olhou ainda mais baixo e se desculpou novamente, então pegou seus materiais e foi se sentar no fundo da sala. As garotas que estavam conversando pararam sua conversa e vieram até mim, seu olhar as fazia parecer realmente superiores, eu abaixei a cabeça.

-Então você é a garota nova? - uma delas disse.

-Vamos nos apresentar. - a outra falou.

-Eu sou Riley, e essas são Stephanie e Abigail. - a terceira concluiu.

-Muito prazer, eu sou Meiko Watanabe. - eu respondi sorrindo, neste momento os outros alunos entraram e eu me sentei numa mesa ao lado da parede.

Ponto de Vista - Narradora

Meiko não sabia que ela conheceria aqueles que a julgariam e a condenariam.