A Tragédia De Meiko Watanabe escrita por Mika


Capítulo 4
Escola II




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Ponto de Vista - Meiko

Fiquei surpresa pela quantidade de meninas que havia naquela sala. Haviam meninos, realmente, porém eram poucos. Aquela sala de aula era tão sem graça quanto o resto daquela vila: a tinta velha das paredes estava descascando, e o piso de madeira fazia barulhos quando caminhavam por ele, as mesas eram de uma madeira velha cinzenta e a cadeira também. O mais estranho foi quando a professora chegou, ela era uma velha tão abatida quanto as outras e usava um vestido marrom todo coberto com um avental branco, seus cabelos grisalhos estavam presos num coque e ela tinha óculos que caíam em seu nariz. Ela me fez ir até a frente da sala e dizer meu nome, apenas. Eu me sentei e então começou a ficar estranho, ao invés dela ensinar matemática, ou geografia, ela nem disse que matéria ela lecionava e só ficou falando sobre a religião assustadoramente antiquada que esse povo acredita, a tal Meredith Hill passou lá depois de ouvirmos um bom sermão e completou a lavagem cerebral nas pobres crianças, o sinal tocou para o intervalo e todos saíram da sala cabisbaixos. Eu me sentei em uma mesa pequena e ninguém falou comigo, até que uma garota típica daquele lugar (olhos fundos, abatida, magra e sem graça) veio se sentar comigo. Ela era bonitinha, tinha olhos castanhos e cabelos loiros, era bem pálida. O que me assustou era como ela era magra, as outras meninas também eram assim, mas aquela garota estava com um uniforme largo e ela parecia ter o peso de uma criança.

-Oi... - eu sussurrei.

Ela me olhou e voltou a comer seu pequeno pãozinho.

-Oi... - ela sussurrou mais baixo ainda. - Meu nome é Nancy Willber, você é Meiko, certo?

-Sim, Meiko Watanabe. 

Ela tinha um colar com o símbolo que eu e minha mãe vimos na igreja, eu olhei atentamente, era um símbolo único.

-Parece que você ainda não tem o seu... - ela falou espantada.

-O que? - eu respondi.

-Este colar, você precisa de um e a sua família também, senão vocês serão taxadas de traidoras.

-Onde eu consigo um? - eu respondi com medo de ser chamada de traidora.

-A Senhora precisa dar um para você e outro para sua mãe, você deve pedir a ela.

Aquela mulher, Meredith Hill, era chamada de "A Senhora" por todos aqui, ela que criou as leis deste lugar e não permitiu que eles soubessem como é o mundo afora. Meredith tinha uma sala na escola, e por sorte ela estava aqui no momento. Terminei de comer e fui até a sala dela. Bati na porta e esperei ela me convidar, entrei e fechei a porta e a cumprimentei.

-Senhorita Kiyumi? - ela disse.

Meu nome do meio é Kiyumi, meu nome completo é Meiko Kiyumi Watanabe. 

-Sim, senhora Meredith... - eu fui interrompida por ela.

-Me chame de Senhora, apenas Senhora.

Eu assenti e continuei:

-Uma aluna me contou sobre a lei do colar, A Senhora podia me dar dois colares, um para mim e outro para minha mãe?

A mulher me olhou séria, e falou num tom de voz frio:

-Se você quiser que eu te entregue aqueles colares, você e sua mãe devem vir ao meu escritório na igreja, uma vez que você coloca estes objetos em volta do pescoço, você está dizendo que se compromete com esta vila, que não vai deixar este lugar e seus costumes morrerem, preservar as leis e conviver pacificamente com os habitantes, se você retirar o colar, o acordo com o vilarejo é rompido e você está traindo a todos nós, a punição será severa. Se você e sua mãe pretendem deixar este lugar, é melhor que não peguem os colares, mas se ficarem aqui por muito tempo e não quiserem o objeto, irão despertar desconfiança nos habitantes e terão problemas, está me entendendo?

Eu fiquei um pouco assustada com o que ela disse e apenas concordei com a cabeça. Agradeci e saí da sala dela, Nancy e eu comemos mais um pouco e então voltamos para as últimas aulas. Desta vez, era outro professor, era o tal Todd que havia me ajudado mais cedo.

Ele me chamou na frente da sala e pediu a todos os alunos que fossem gentis comigo, ele era tão bom para mim, e nem me conhecia... Desta vez, ele ensinou um pouco de matemática, mas só o básico, não era o tipo de aula que alunos de catorze anos têm, e sim uma aula dada para crianças na quinta série. Depois, tivemos mais uma aula religiosa com aquela professora de antes, e por último Todd novamente nos deu uma aula sobre as leis daquele lugar. O mais impressionante era que os alunos acreditavam não existir mundo afora e que aquele minúsculo vilarejo era o único abrigo e local seguro.


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