Crônicas Do Olimpo - O Último Olimpiano escrita por Laís Bohrer


Capítulo 28
A Batalha pelo Olimpo


Notas iniciais do capítulo

O Nyah voltou e nós autores com ele.

Bom, primeiramente, já estamos na reta final e enquanto o Nyah estava migrando eu não fiquei parada, no momento estou trabalhando no capítulo 30 que está bem complicado, o capítulo 29 não foi diferente já que foi um ponto de vista inteiramente do Jake, tipo um especial já que no 29 saberemos mais sobre o passado de Jake Turner - e sua maldição que eu quase esqueci.
Mas agora, vamos colegas?



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O trono de Poseidon estava logo à direita de Zeus, mas não era tão grande. O assento de couro preto moldado estava anexado a um pedestal giratório, com um par de argolas de ferro na lateral para fixação de uma vara de pescar (ou um tridente). Basicamente parecia uma cadeira em um barco em alto mar, que você se senta se quiser caçar tubarões, marlins ou monstros marinhos.

Deuses em seu estado natural têm cerca de vinte pés de altura, de modo que eu poderia apenas alcançar à borda do assento se eu esticasse os braços.

Respirei fundo.

– Vamos, me ajudem a subir! – pedi.

– O que? – exclamou Jake – Você não... Você enlouqueceu.

– Provavelmente – eu admiti.

– Megan – disse Hansel – os deuses realmente não apreciam pessoas sentadas em seus tronos. Quero dizer, você será transformada em uma montanha de cinzas!

– Eu preciso chamar a atenção do meu pai – eu disse. – É o único jeito.

Eles trocaram olhares inquietos.

– Bem... – hesitou Jake – Com certeza vai chamar a atenção dele.

Eles juntaram seus braços para fazer um degrau, então me impulsionei para o trono. Senti-me como um bebê balançando os pés tão distantes do chão. Olhei em volta, e todos os tronos estavam vazios e sombrios. Fiquei imaginando como seria estar sentado no Conselho Olimpiano – tanto poder, mas também tantas opiniões diferentes, onze outros deuses querendo apenas seguir seu caminho. Seria fácil ficar paranoico e olhar só para os próprios interesses, especialmente se eu fosse Poseidon. Sentada em seu trono, eu senti como se tivesse todo o mar ao meu comando – quilômetros e quilômetros de oceano se agitando com poder e mistério. Por que Poseidon deveria ouvir alguém? Por que ele não deveria ser o maior dos doze?

Então sacudi minha cabeça. Concentrei-me.

O trono tremeu. Uma onda vigorosa de raiva atingiu minha mente:

QUEM OUSA...

A voz parou abruptamente. A raiva cedeu, o que foi ótimo, porque só essas duas palavras quase fritaram minha mente.

Megan? A voz do meu pai ainda estava raivosa, mas controlada. O que Hades você está fazendo sentada no meu trono?

– Eu sinto muito, pai – eu disse – Eu precisava chamar sua atenção.

Fez uma coisa muito perigosa. Mesmo sendo você. Se eu não tivesse olhado antes de fulminá-lo, você seria agora um pudim de água do mar.

– Me desculpe – eu disse de novo. – Ouça, as coisas estão barra-pesada por aqui.

Eu contei o que estava acontecendo. Então falei sobre o meu plano.

Sua voz ficou em silêncio por um longo tempo.

Megan, o que você está pedindo... O palácio... É impossível.

Pai, me escute, Cronos mandou um exército para você de propósito. Ele quer separá-lo dos outros deuses, porque ele sabe que você pode fazer a diferença.

Seja como for, ele está atacando o meu lar.

– Eu estou no seu lar – eu disse. – O Olimpo.

O chão tremeu. Uma onda de indignação tomou conta de minha mente. Eu pensei que tinha ido longe demais, mas depois o tremor abrandou. No fundo da minha ligação mental, ouvi explosões subaquáticas e sons de gritos de guerra: Bramidos de Ciclopes, grito de tritões.

– E Tyler está bem? – Eu perguntei.

A questão parecia ter pegado meu pai de surpresa.

Ele está bem. Fazendo muito melhor do que eu esperava. Embora "manteiga de amendoim” seja um grito de guerra bem estranho.

– Você o deixou lutar?

Não mude de assunto! Está ciente do que está me pedindo para fazer? O meu palácio será destruído.

– E o Olimpo poderá ser salvo.

Você tem alguma ideia de quanto tempo eu trabalhei na reforma deste palácio? A sala de jogos levou seiscentos anos.

– Pai – eu chamei – Se o Olimpo for destruído, não haverá sentido em proteger seu palácio.

Sua voz hesitou.

Muito bem! Será feito como me pede. Mas, reze para isto funcionar.

–Eu estou falando com você, certo?

Ah... Sim. Bem pensado. Anfitrite... Estou indo!

O som de uma grande explosão destroçou nossa conexão.

Eu escorreguei para baixo aos pés do trono.

Hansel me olhava nervosamente.

– Megan! – ele chamou – Você está bem? Você estava ficando pálida e... começou a soltar fumaça.

– Sem chance! – eu olhei para meus braços procurando algum rastro de fogo. Vapor estava saindo pelas mangas de minha camisa. – Ah, cara...

– Se você ficasse lá por mais tempo... – Jake disse – teria se consumido em combustão espontânea. Espero que a conversa tenha valido pena.

Muu, disse o Ofiotauro em sua esfera de água.

– Nós vamos descobrir isso – eu disse.

Só então as portas da sala do trono se abriram.

Thalia marchou para dentro. Seu arco estava partido em dois e sua aljava estava vazia.

– Você tem que vir agora – disse ela – O inimigo está avançando. E Cronos está liderando.

Quando descemos o elevador e chegamos a rua já era tarde.

Campistas e Caçadoras estavam caídos feridos no chão. Clarisse deve ter perdido uma luta com um gigante hiperbóreo, porque ela e sua carruagem estavam congeladas num bloco de gelo. Os centauros não estavam em nenhum lugar à vista. Ou eles entraram em pânico e fugiram ou tinham sido desintegrados. O exército Titã rodeou o prédio, ficando a talvez seis metros das portas. A vanguarda de Cronos estava liderando: Ethan Nakamura, a rainha dracaena em sua armadura verde, e dois hiperbóreos. Eu não vi Prometeu. Aquela doninha pegajosa estava provavelmente se escondendo no quartel general deles. Mas Cronos em pessoa estava em pé bem na frente, com sua foice na mão e Silena seguia logo atrás. A única coisa no caminho deles era...

– Quíron – eu disse com a voz tremula.

Se Quiron havia me escutado, ele não demonstrou. Ele tinha uma flecha preparada, mirando bem no rosto do senhor do tempo. Quando Cronos me viu, seus olhos dourados chamejaram e raiva e ansiedade. Todos os músculos do meu corpo congelaram. Então o Senhor Titã virou sua atenção de volta para Quíron.

– Saia do caminho, meu filho, meus assuntos não são com você.

Era realmente estranho ouvir Luke chamar Quiron de filho, mas Cronos pôs desprezo em sua voz, como se filho fosse a pior coisa em que ele pudesse pensar.

– Sinto lhe dizer, mas não posso fazer isso – respondeu Quiron com sua voz calma, do jeito que ele ficava quando estava irado (sim, estranho).

Foi quando eu vi os olhos de Silena, e como sempre, eu não podia dizer o que eles demonstravam, porque eu não sabia. Eu tentei me mover, mas era como se meus pés estivessem presos no concreto. Thalia, Jake tentavam com o mesmo esforço e Hansel... que no caso seriam cascos... Também parecia ter o mesmo problema.

– Quíron! – disse Jake. – Cuidado!

A rainha dracaenae ficou impaciente e investiu em Quiron. A flecha do centauro voou atingido diretamente o ponto entre os olhos dela, e então ela evaporou, sua armadura caiu vazia no asfalto fazendo um terrível barulho. Quiron buscou por outra flecha, mas sua aljava estava esgotada. Ele jogou o arco fora e sacou a espada. Eu sabia que ele odiava lutar com uma espada. Nunca foi sua arma favorita. Cronos segurou um sorriso. Ele avançou um passo, e a metade cavalo de Quíron escorregou nervosamente. Seu rabo se agitou para frente e para trás.

– Você é um professor – Cronos zombou. – Não um herói.

– Luke era um herói – disse Quíron. – Ele era um dos bons, até que você o corrompeu.

TOLO! – a voz de Cronos chacoalhou a cidade. – Você encheu a cabeça dele com promessas vazias. Você disse que os deuses se importavam comigo!

– Comigo – notou Quíron. – Você disse comigo?

Cronos pareceu confuso, e naquele momento, Quíron atacou. Foi uma boa manobra – uma finta seguida por um golpe no rosto. Eu mesmo não poderia ter feito melhor, mas Cronos era rápido. Ele tinha todas as habilidades de combate de Luke, o que era bastante. Ele bateu a espada de Quíron para o lado e gritou:

PARA TRÁS!

Uma luz branca ofuscante explodiu entre o Titã e o centauro. Quíron voou no lado do prédio com tanta força que a parede se desfez e desabou em cima dele.

– Quiron! – eu berrei.

O feitiço da imobilização se quebrou. Nós corremos na direção de nosso professor, mas não havia sinal dele. Thalia e eu cavamos desamparados entre os tijolos enquanto uma séria de risadas horríveis correu pelo exército do Titã.

– VOCÊ! – gritou Jake apontando o dedo para o titã – Seu maldito titã...

Ele sacou seu sabre.

– Jake, pare! – eu gritei tentando segurar seu braço e impedi-lo, mas era de se esperar que isso não aconteceria assim.

Ele atacou Cronos, e o sorriso presunçoso dele sumiu. Jake mergulhou seu sabre entre as tiras da armadura dele, bem na clavícula. A lâmina devia ter mergulhado até o peito dele. Ao invés disso ele ricocheteou. Jake se contorceu, apertando seu braço contra o estômago. O solavanco deve ter sido suficiente para deslocar o ombro ruim dele.

– Jake!

Puxei-o para trás quando Cronos brandiu a foice, fatiando o ar onde ele estava.

Ele tentava se desvencilhar de mim e gritava:

– Eu ODEIO você! Por que não podia simplesmente ficar quieto no Tártaro? – ele berrou.

Eu não sabia ao certo com quem ele estava falando – comigo ou Luke ou Cronos.

Cronos gargalhou.

– Tanta coragem. Incrível Ares ser tão estúpido a ponto não lhe reconhecer, meio-sangue, típico dele.

– Não preciso dos seus elogios. – murmurou Jake.

O titã ergueu sua foice. Eu me preparei para defender, mas antes que Cronos pudesse golpear, eu vi Silena arregalar os olhos e o uivo de um cachorro atravessou o ar de algum lugar atrás do exército do Titã.

“Auuuuuuuuuuuu!”

Era muito para se esperar, mas eu chamei:

– Sra. O’ Leary?

Forças inimigas se inquietaram. Então aconteceu. Eles começaram a se afastar, liberando uma passagem através da rua como se alguma coisa atrás deles os estivesse forçando a isso. Logo havia um corredor livre no centro da Quinta Avenida. De pé no fim do quarteirão estava meu cão gigante e uma pequena figura numa armadura negra.

– Nico? – eu chamei.

“ROLF!”

Sra. O’Leary saltou em minha direção, ignorando o rosnado dos monstros de ambos os lados. Nico caminhou em frente. O exército inimigo recuava perante ele como se ele irradiasse morte, ah, ele realmente dava essa impressão aos outros.

Através da viseira de seu capacete em forma de caveira, ele sorriu.

– Hey, Megan! – ele gritou para mim – Recebi sua mensagem, ainda é tarde para me juntar a festa?

– Filho de Hades – Cronos cuspiu no chão. – Você ama tanto a morte que quer experimentá-la?

– A sua morte – disse Nico – seria ótima para mim.

– Eu sou imortal, seu tolo! Escapei do Tártaro. Você não tem nenhum nada aqui, e nenhuma chance de viver.

Nico sacou sua espada – um metro de ferro demoníaco cruel e afiado, negro como um pesadelo.

– Isso é o que você diz.

O solo tremeu. Rachaduras apareceram na estrada, nas calçadas e nas laterais dos prédios. Mãos esqueléticas agarravam o ar enquanto os mortos arranhavam seu caminho dentro do mundo dos vivos. Havia milhares deles, e enquanto eles emergiam, os monstros do Titã se assustaram e começaram a recuar.

MANTENHAM SUA POSIÇÃO! – exigiu Cronos. – Os mortos não são ameaças para nós.

O céu ficou escuro e frio. As sombras se espessaram. Uma estridente corneta de guerra soou, e enquanto os soldados mortos formavam fileiras com suas armas e espadas e lanças, uma enorme carruagem troava descendo a Quinta Avenida. Ela parou ao lado de Nico. Os cavalos eram sombras vivas, moldadas da escuridão. A carruagem era incrustada com obsidiana e ouro, decorada com cenas de mortes dolorosas. Segurando as rédeas estava o próprio Hades, Senhor dos Mortos, com Deméter e Perséfone montadas atrás dele.

Hades vestia uma armadura preta e uma capa da cor de sangue fresco. No topo de sua cabeça pálida estava o elmo da escuridão: uma coroa que irradiava puro terror. Ela mudava de forma enquanto eu olhava – de cabeça de dragão para um círculo de chamas negras para uma guirlanda de ossos humanos. Mas essa não era a parte mais assustadora. O elmo alcançou a minha mente e despertou meus piores pesadelos, meus medos mais secretos. Eu quis rastejar para um buraco e me esconder, e eu podia dizer que o exército inimigo se sentia do mesmo jeito. Somente o poder e a autoridade de Cronos impediam a fuga de seus soldados.

Hades sorriu friamente.

– Olá, pai. Você parece... Jovem.

Hades – rugiu Cronos. – Espero que você e as senhoras tenham vindo para jurar sua obediência.

– Temo que não. – Hades suspirou. – Meu filho aqui me convenceu que talvez eu deva estabelecer prioridades em minha lista de inimigos. – Ele olhou de relance para mim com desgosto. – Mesmo que eu não goste de certos semideuses ascendentes...

– Eu também te adoro, tio suquinho – eu murmurei.

–... Isso não compensaria a queda do Olimpo. Eu sentiria falta de brigar com meus irmãos. E se há alguma coisa em que nós concordamos, é que você foi um PÉSSIMO pai.

– Verdade – murmurou Deméter. – Sem valorização da agricultura.

– Mãe! – reclamou Perséfone.

Hades sacou sua espada, uma lâmina estígia de dois gumes esculpida com prata.

– Agora lute comigo! Pois hoje a Casa de Hades vai ser chamada de salvadores do Olimpo!

– Eu não tenho tempo para isso – rosnou Cronos.

Ele golpeou o solo com sua foice. Uma rachadura se estendeu em ambas as direções, rodeando o Empire State Building. Um muro de força cintilou ao longo da linha da fenda, separando a vanguarda de Cronos, meus amigos e eu da massa dos dois exércitos.

– O que ele está fazendo? – murmurei.

– Nos trancando aqui dentro – disse Thalia. – Ele está derrubando as barreiras mágicas ao redor de Manhattan... isolando somente o prédio... E nós.

Bem claramente, fora da barreira, motores de carros voltaram à vida. Pedestres acordavam e encaravam incompreensivos os monstros e zumbis em volta deles. Não sei falar o que eles viram através da Névoa, mas tenho certeza que era bem assustador. Portas de carro se abriram.

Hades causou uma distração. Ele investiu contra o muro de força, mas a carruagem dele bateu de frente e capotou. Ele se levantou, xingando, e atingiu o muro com energia negra. A barreira segurou.

ATAQUEM! – ele rugiu.

Os exércitos dos mortos colidiram com os monstros do Titã. A Quinta Avenida explodiu num caos absoluto. Mortais gritavam e corriam para se proteger. Deméter balançou sua mão e uma coluna inteira de gigantes se transformou num campo de trigo. Perséfone transformou as lanças das dracaenae em girassóis. Nico cortava e retalhava seu caminho pelo meio do inimigo, tentando proteger os pedestres da melhor maneira que podia.

– Nakamura, Beauregard – disse Cronos. – Acompanhem-me. Gigantes, cuidem deles!

Ele apontou para meus amigos e eu.

Então ele se esgueirou para dentro do saguão. Por um segundo eu estava paralisado. Estive esperando uma briga, mas Cronos me ignorou completamente como se eu não fosse digno de preocupação. Isso me deixou furiosa, mas já não tinha certeza se era apenas eu.

Eu odeio Cronos tanto quanto você. Disse a voz do monstro Kinitrus. Apenas peça, acabaremos com ele juntos... Você não pode fazer tudo sozinha.

Eu não pude responder e pela primeira vez eu me dei conta do quanto tamanho poder aquela coisa tinha. “Chegara o dia em que você terá que domar esse monstro, ou ele domará você” Héstia havia me dito algo do tipo, agora eu entendia aquelas palavras, ou não completamente.

O primeiro gigante hiperbóreo tentou me esmagar com seu porrete. Eu rolei entre suas pernas e apunhalei Anaklusmos no seu traseiro. Ele se despedaçou numa pilha de cacos de gelo.

O segundo gigante soprou granizo em Jake, que mal conseguia ficar em pé, mas Hansel o puxou para fora do caminho enquanto Thalia foi ao trabalho. Ela correu para cima das costas do gigante como uma gazela, fincou suas facas de caça através do monstruoso pescoço azul dele, e criou a maior escultura de gelo sem cabeça do mundo.

– Megan! – o grito de Nico me despertou - nós cuidaremos do exército. Você tem que pegar Cronos!

Eu assenti. Então eu olhei para a pilha de escombros ao lado do prédio. Meu coração revirou. Eu tinha me esquecido de Quíron. Como eu pude fazer isso?

– Sra. O’Leary – eu disse. – Por favor, Quíron está ali embaixo. Se alguém pode tirar ele de lá, é você. Encontre-o! Ajude-o!

Eu não tenho certeza do quanto ela entendeu, mas ela saltou para a pilha e começou a cavar. Foi então que Jake me puxou.

– Vamos, cabeça de alga, temos que castrar um certo Titã...

A ponte para o Olimpo estava dissolvendo. Nós saímos do elevador para o caminho de mármore, e imediatamente rachaduras apareceram em nossos pés.

– Pule! – eu gritei para Jake.

Mas Jake não parecia estar em condições de pular, foi quando ele tropeçou e gritou:

– Megan!

Eu agarrei sua mão e o pavimento caiu, ruindo até virar poeira. Por um momento pensei que eu e Jake iríamos cair. Os pés dele balançavam no ar. Sua mão começou a escorregar, até que eu o segurasse somente pelos dedos.

– Segure firme... – eu pedi.

– Eu to segurando! – reclamou ele.

Eu fechei os olhos e me concentrei, senti um frio na barriga então abri os olhos, um terceiro braço feito magicamente de água surgia do braço no qual eu segurava Jake, o braço de água o agarrou pelo capuz de seu casaco e o puxou até que nós estivéssemos salvos, pelo menos por um momento.

Nós nos deitamos tremendo no pavimento. Eu não tinha percebido que nós estávamos abraçados até que eu recuei.

– V-você está bem? – gaguejei.

– Aham – disse ele se sentando – Obrigado.

Eu assenti.

Corremos através da ponte no céu enquanto mais pedras se desintegravam e caíam na escuridão. Nós chegamos à beirada da montanha assim que o último trecho ruiu.

Jake olhou para trás até o elevador, que estava agora totalmente fora de alcance – um conjunto de portas de metal polido em suspensão no ar, atado ao nada, seiscentos andares acima de Manhattan.

– Nós estamos isolados – ele disse. – Por nossa própria conta.

– A conexão entre Olimpo e América está dissolvendo. Se falhar...

– Os deuses não vão estar se mudando para outro país dessa vez – ele disse. – Esse será o fim do Olimpo. O fim mesmo.

Eu olhei ao redor, procurando o Olimpo, mas eu não conseguia ver quase nada, uma forte e fria névoa cobria a casa dos deuses como um tipo de manto, como se escondesse algo. Mas eu podia ver rastros de mansões queimando, estátuas derrubadas. Árvores nos parques tinham sido destruídas até só sobrarem farpas. Parecia que alguém tinha atacado a cidade com um cortador de grama gigante.

– A foice de Cronos – eu disse.

Nós tentando seguir o caminho até o palácio dos deuses, o que não foi fácil. Eu não me lembrava de que a estrada fosse tão longa. Talvez Cronos estivesse fazendo tempo ir mais devagar, ou talvez fosse só aquela névoa que me retardava, algo me dizia que aquela névoa não era simplesmente uma névoa.

– Mágica – disse Jake – Talvez seja obra de Silena.

Eu pulei de susto quando Jake escorregou sua mão para a minha.

– Podemos nos perder fácil aqui.

Eu assenti e continuamos caminhando.

Todo o topo da montanha estava em ruínas – tantos prédios e jardins bonitos tinham desaparecido.

Alguns deuses menores e espíritos da natureza tinham tentado parar Cronos. O que sobrou deles estava espalhado ao longo da estrada: armaduras amassadas, roupas rasgadas, lanças e espadas quebradas ao meio.

Algum lugar a nossa frente, a voz de Cronos rosnou:

– Tijolo por tijolo! Essa foi minha promessa. Derrubar TIJOLO POR TIJOLO!

A névoa já era mais fraca ali, porém ainda mortal. Um templo com uma cúpula dourada de repente explodiu. A cúpula subiu como uma tampa de bule e destruiu-se em um bilhão de pedaços, fazendo chover entulho por toda a cidade.

Nós estávamos correndo debaixo do arco de mármore com estátuas gigantes de Zeus e Hera quando toda a montanha gemeu, balançando de lado exatamente como um barco numa tempestade.

– Cuidado! – gritou Jake.

O arco se desintegrou. Eu olhei para cima em tempo de ver uma carrancuda Hera de vinte toneladas vir para cima de nós. Eu teria sido esmagada, mas Jake havia me puxado a tempo.

– É Hera – Jake disse em ultraje. – Ela tem feito isso durante todo o ano. Aquela vaca...

– Jake, acho que não é hora para isso... – eu disse.

Eu podia ouvir Cronos rindo enquanto ele se aproximava do hall dos deuses. Mais prédios explodiram.

Uma bola de fogo irrompeu no lado da montanha, bem perto de onde os portões para o palácio ficavam.

– Vamos! – eu gritei para Jake.

Eu corri na direção do palácio, Jake logo atrás de mim, e em nenhum momento eu soltei sua mão.

As portas do palácio eram grandes o suficiente para deixarem um navio de cruzeiro cruzá-las, mas elas tinham sido tiradas de suas dobradiças e esmagadas como se não pesassem nada. Nós tivemos de escalar uma grande pilha de pedras quebradas e metais retorcidos para entrarmos.

Cronos estava no meio da sala do trono, seus braços abertos, olhando para o céu estrelado como se estivesse roubando-o. A risada dele ecoou ainda mais alto do que tinha sido no abismo do Tártaro.

– Finalmente! – ele berrou. – O Conselho Olimpiano, tão orgulhoso e poderoso. Qual assento de poder eu devo destruir primeiro?

Ethan Nakamura estava em um lado, tentando sair do caminho da foice de se mestre. Silena estava do outro lado, bem distante da realidade, imaginava que a sua distração estivesse causando a fraqueza da névoa. A lareira estava quase apagada, só algumas brasas brilhando profundamente nas cinzas. Héstia não estava em lugar nenhum para ser vista. Nem Daniel. Eu esperava que ele estivesse bem, mas eu vira tanta destruição que eu estava com medo de pensar sobre isso. O Ofiotauro nadou na sua esfera de água na esquina mais distante da sala, sabiamente não fazendo barulho, mas não demoraria muito até que Cronos o notasse.

Jake e eu demos um passo a frente à iluminação das tochas. Silena nos viu primeiro.

– Meu Senhor – ela avisou. – Temos visitas.

Cronos se virou e sorriu através do rosto de Luke. Exceto por seus olhos dourados, ele parecia exatamente como ele era quatro anos atrás quando me dera às boas-vindas ao Chalé de Hermes.

– Eu devo destruí-la primeiro, Jackson? – Cronos perguntou. – É essa escolha que você fará: lutar comigo e morrer ao invés de se curvar? Profecias nunca terminam bem, você sabe disso.

Jake apertou a minha mão, eu podia sentir sua raiva.

– Luke lutaria com uma espada – eu disse. – Mas eu acho que você não tem a habilidade que ele tinha.

Cronos fungou. Sua foice começou a mudar, até que ele segurava a velha espada de Luke, Mordecostas, que é metade aço, metade bronze celestial.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Cronos levantou sua espada.

– Não... Não vou deixar! – gritou Jake soltando minha mão e erguendo seu sabre estupidamente e investindo no titã.

Cronos vinha como um tornado, Jake parecia ser apenas um pequeno obstáculo para ele pois quando Cronos lhe deu o golpe, Jake voou para o outro lado da sala.

– Não! – eu gritei.

Meus instintos me dominaram. Eu me esquivei e cortei e ataquei, mas eu senti que era como lutar com uma centena de espadachins. Ethan se abaixou para um lado, tentando ficar atrás de Silena, mas a mesma entrou no caminho de Jake quando ele voltava para me ajudar. Eles começaram a lutar, mas eu não pude me concentrar em como ele estava se saindo.

Cronos me encurralou no trono de Hefesto – uma imensa estrutura mecânica reclinável coberta por engrenagens de bronze e prata. Cronos investiu e eu saltei para o assento. O trono tremeu e começou a emitir sons, vindos dos mecanismos secretos. Modo de defesa o avisou. Modo de defesa.

Isso não podia ser bom. Pulei por sobre a cabeça de Cronos quando o trono disparou ondas elétricas em todas as direções. Uma acertou Cronos no rosto, fazendo-o arquear seu corpo e sua espada.

– ARGH! – Ele ficou sobre os joelhos e soltou Mordecostas.

Jake empurrou Silena e voltou, mas antes que isso acontecesse Silena gritou algo em grego antigo e a Névoa que antes era fraca, agora estava mais forte e expressa, eu não podia mais ver Jake em lugar nenhum.

– Jake! – eu chamei, mas ele não respondeu, notei também que Silena também havia desaparecido. Irônico, duas pessoas que eu gostaria de salvar lutando entre si, mas agora eu estava sozinha com Cronos e Ethan Nakamura.

Ethan se ergueu. Eu não poderia lutar com ele sem virar minhas costas para Cronos.

Deixe-me matá-los... Disse a voz do monstro dentro de mim, senti uma dor aguda naquela área acima do umbigo, familiar, uma lâmina fria correndo pelo meu corpo. Deixe-me... MATAR!

Então algo aconteceu, eu não sei exatamente o que, mas Kinitrus estava bem agitado e pela primeira vez eu tive consciência que não poderia aguentar segurá-lo por muito tempo.

Cronos sorriu.

– Então, era verdade... – ele olhou para mim, seus olhos dourados pareciam perfurar minha alma até aquela sala onde estava selada a coisa, o titã do tempo riu. – Kinitrus, então você ainda existe. Maldito seja Poseidon, deveria estar realmente desesperado ao selar você nessa criança...

Então soube que ele não estava falando comigo. O monstro, Kinitrus, rosnou.

Nakamura! – gritou Cronos. – Hora de se pôr a prova. Você conhece a fraqueza de Jackson. Mate-a, e você terá recompensas além do imaginado.

Os olhos de Ethan se dirigiram para a parte inferior do meu tronco, e eu tinha certeza de que ele sabia. Mesmo que ele não pudesse me matar, tudo o que ele tinha de fazer era contar a Cronos. Eu não poderia me defender para sempre.

– Olhe ao seu redor, Ethan! – eu disse. – O fim do mundo. É essa recompensa que você quer? Você realmente quer tudo destruído, o bem com o mal? Tudo?

O Poder de Kinitrus era imenso, até mais do que eu poderia aguentar, eu sentia vontade de vomitar.

– Não há um trono para Nêmesis – Ethan murmurou. – Sem trono para minha mãe.

– Isso é verdade! – Cronos tentou se levantar, mas cambaleou. – Derrube-os! Eles merecem sofrer.

– Você disse que sua mãe era a deusa do equilíbrio – lembrei-lhe. – Os deuses menores merecem algo melhor, Ethan, mas destruição total não é equilíbrio. Cronos não constrói. Ele só destrói.

Ethan olhou para o trono crepitante de Hefesto. E Ethan vacilou – o desejo de estar em qualquer lugar menos aqui. Seu olho bom piscou.

E então ele investiu... Mas não contra mim.

Enquanto Cronos ainda estava de joelhos, Ethan baixou sua espada contra o pescoço do Senhor Titã. Deveria tê-lo matado instantaneamente, mas a lâmina se despedaçou. Ethan caiu para trás, segurando seu estômago. Um fragmento de sua própria lâmina ricocheteou e perfurou sua armadura, Ethan tossiu vomitando o próprio sangue.

Cronos levantou-se instável, olhando para seu servo.

Traição – ele rosnou.

. Ethan olhou para mim, seu rosto tenso de dor.

– Merecem algo melhor – ele engasgou, conseguindo surpreendentemente sorrir – Se eles somente... Tivessem tronos...

Cronos pisou com força, e o chão se rompeu ao redor de Ethan Nakamura. O filho de Nêmesis caiu por uma fissura até o coração da montanha – direto a céu aberto.

– Ethan! – eu gritei, mas já era tarde.

– Foi demais para ele – Cronos pegou sua espada. – E agora o resto de vocês.

Então o titã abrangeu sua foice, e veio correndo em minha direção, eu fiz o que deveria fazer: Eu gritei e o ataquei.


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