Crônicas Do Olimpo - O Último Olimpiano escrita por Laís Bohrer


Capítulo 29
Jake - Crônicas do Cabeça de Javali


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo vamos conhecer mais a história do Cabeça de Javali, e até mesmo o nome verdadeiro da Meg.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/420096/chapter/29

A névoa estava mais fria e expressa, eu não conseguia enxergar nada além do brilho do meu sabre de bronze celestial. Eu sempre achei que dar nomes a armas fosse algo estúpido, mas prometi a mim mesmo que se saísse vivo dessa vez, eu nomearia aquela lâmina que vem me acompanhando desde sempre em minhas desventuras.

Não ver nada e atacar as cegas no meio daquela névoa me deixava extremamente irritado, às vezes eu pensava ouvir uma risadinha, como se o inimigo estivesse rindo de mim, como se ele estivesse se divertindo as minhas custas e isso não ajudava muito, só me fazia querer arrancar a cabeça desse ser. O problema é que eu não sabia nem mesmo onde eu estava, eu não sabia se quem eu ia atacar era Cronos, ou o cara do tapa olho ou Silena, podia mesmo ser Megan procurando por mim... Não, tenho certeza de que Cronos a manteria ocupada demais para isso.

Enquanto isso eu já podia ter certeza de que aquela cortina de névoa não era muito diferente da névoa comum, mas o modo como aquela se tornava tão fria e visível, poderia ser fatal. A névoa pode afetar tanto meio-sangues quanto mortais e qualquer um enlouqueceria ali, eu sabia disso porque eu estava enlouquecendo.

Uma hora pensando que havia alguém atrás, na frente, do lado, perto de mim... Ou uma voz ou outra, elas sempre me eram familiares, mas eu não me lembrava diretamente delas. Elas chamavam meu nome ou diziam coisas sem sentido, como lembranças desmontadas... Demorei um pouco para perceber que era isso o que elas eram realmente.

Devagar...

– Eu tentei te ajudar... Eu tentei...

– Você nem parece um filho de Ares.

– Qual o seu nome? Eu sou...

–... Morra!

– Não entende.

– MANTEIGA DE AMENDOIM!

Percebi que estava de olhos fechados, enquanto ataca freneticamente em todas as direções, procurando desesperado por um alvo a ser acertado. Eu não usava ensinamentos de batalha que Quiron me ensinou, eu atacava simplesmente, com minhas mãos tremulas ameaçando a deixar o sabre cair, eu era novamente um garotinho de oito anos que acabara de fugir de casa sendo perseguido por monstros, um garotinho assustado.

Cai-lhe sobre você minha maldição, Jake Turner...

Eu ataquei, ataquei e ataquei... Eu suava frio, a névoa fazia meus olhos arderem, sombras humanas ou não humanas apareciam atrás da cortina de névoa, elas nunca eram reais e agora você me pergunta: Se você sabe que não era real porque simplesmente não para de atacar?

Simples, eu não sabia que não era real. A névoa faz nós pensarmos em coisas que não são o que parecem e nos torna poucos cientes disso, acredite em mim, não saber a diferença entre fantasia e realidade pode ser realmente problemático principalmente quando você sabe que não pode diferenciar. O que é o meu caso.

Eu continuei atacando, até o momento em que fui obrigado a parar, minha respiração pesava, como se aquela névoa estivesse sugando toda a minha força.

– Já se cansou? – disse uma voz feminina e sem emoção em algum lugar... Qualquer lugar. – Não imaginei que você fosse parar tão cedo.

Eu ataquei as cegas mais uma vez, eu soube que tinha atingido uma lâmina logo atrás de mim, uma foice que brilhava em safiras azuis.

– Olá, Jake. – disse Silena, eu podia ver um leve deslumbre de seu rosto oval e pálido, como se a névoa se abrisse para a imagem dela aparecer. – Quanto tempo, eu não esperava ter que lutar com você.

Sim, ela esperava lutar com a Megan, eu sabia disso, era o que Megan queria. Eu sabia que Silena provavelmente iria atrás de Megan depois de acabar comigo, ou pelo menos tentaria, mas eu não vou subestimá-la, Silena era a causadora daquela névoa, ela podia usar muito mais que apenas ilusões, eu sabia disso. Eu sabia também que Megan não podia lutar com ela, porque Megan por mais que diga que ela é capaz, ela não é, ela pode ser forte e até a melhor sobrevivente que eu conheça, mas Silena é o ponto fraco dela, Silena fora sua amiga e Megan até hoje não consegue aceitar a realidade, seria difícil atacar Silena para Megan. Mas eu não tenho esse problema.

Eu recuei, ainda podendo ver Silena, só Silena. Ataquei novamente, ela cortou facilmente meu golpe, sem nenhum esforço. Seus olhos ilegíveis me encaravam e ela me deu um meio sorriso, não um sorriso do tipo estou-me-divertindo-mas-terei-que-matar-você, estava mais para eu-sou-uma-moça-gentil-e-não-precisa-ter-medo-de-mim e isso era mil vezes mais assustador do que a primeira alternativa.

– Você não tem problemas em me matar – disse ela.

– Eu não sou a Megan – eu forcei tentando investir uma estocada, mas Silena bloqueava.

Eu dei um pulo para trás, recuando, sem abaixar em nenhum momento a minha lâmina. Mas Silena não parecia preocupada, ela abaixou sua foice simplesmente.

– Megan é realmente especial para você, não é? – ela perguntou. – Sabe... Eu sou bem grata a ela.

– Grata? – eu rosnei – Vem tentando mata-la todos esses anos e em nenhum momento ela ficou com raiva, Megan nunca deixou de acreditar em você e você retribui do pior modo possível, chama isso de gratidão?

Silena sacudiu a cabeça.

– Megan é tola – disse ela me encarando com seus grandes olhos azuis – Ela é bem teimosa... E eu não sou diferente.

Eu arregalei os olhos... Aquelas palavras.

Eu estava lá, eu tinha oito anos, faziam menos de uma semana que eu havia fugido da minha casa em Lockport, deixando para trás, uma mãe bêbada e um padrasto miserável. Na verdade eu não fugi, eu fui chutado para fora por Gabe – padrasto miserável cujo qual eu gosto de chamar de “Gabe cheiroso” que além de ser um viciado em jogos de pôquer e cerveja. É gordo e careca, está sempre cheirando a cigarros – com apenas uma faca de cortar carne na mão e um casaco de capuz sobre a cabeça.

Eu não sabia onde eu estava, apenas me vi perdido no meio de um bosque, eu não podia dizer que estava melhor assim, mas era melhor do que suportar “Gabe Cheiroso” e uma mãe que me trata como um monstro desde que quando a mãe de Gabe visitou a nossa casa, eu acidentalmente – não pergunte como – arranquei a peruca da velha desde então ela passou a me odiar. Minha mãe nunca soube que eu era um meio-sangue, e ela me odiava também porque eu sempre trazia perigo para eles, como se todos os monstros que invadissem nossa casa fossem minha culpa – o que na verdade era – sem contar o numero de escola que eu já fui expulso, e as brigas que eu arrumava – sempre foram muitas – não a deixavam feliz.

Minha mãe passava o tempo todo fora, não sabia o que ela fazia e tinha até medo de saber. Então de segunda a sexta ela me deixava com Gabe e suas desagradáveis companhias, enquanto eu me escondia debaixo da cama, fugindo de Gabe, eu posso ser filhos do deus da guerra, mas eu não sabia disso naquele tempo e além do mais, eu tinha oito anos e eu estava sozinho.

Eu não comentei isso com a Megan quando ela me acusava de não compreende-la... A verdade é que eu entendia perfeitamente, só que nunca tive amigos que me traíram ou tentavam me matar – Luke nem assim tão meu amigo – então não posso entendê-la...

Mas a partir daquela noite naquele bosque, eu nunca mais me senti sozinho.

Eu me assustei quando ouvi passos enquanto tentava me esconder entre os arbustos, faminto. Preparei minha faca, temendo ser mais um monstro, eu tremia sem parar, tive medo de que isso fizesse as folhas dos arbustos tremerem e revelarem minha localização.

Aqui? – disse uma voz.

Eu pressionei minha faca, mas não fiz nada heroico, porque sem perceber eu recuava lentamente em uma tentativa de fugir, então eu tropecei no que parecia ser uma pedra e cai batendo a cabeça em um troco exclamando um alto “Ai!”. Eu esfregava o lugar atingido, então quando me dei conta, quatro olhos verdes como o mar me encaravam meio... Confusos? Bem, não importava, eu sabia de algum modo que eles estavam atrás de mim.

Eu me levantei e ataquei um deles, um garoto muito, muito, muito mais velho que eu. Mas algo me interceptou. Uma adaga de bronze sendo portada por uma garota mais ou menos da minha idade ou menos que isso. O jeito que ela cortou meu golpe me deixava no chinelo, ela fez a faca de cozinha voar da minha mão e apontou sua lâmina para o meu pescoço, eu recuei até o tronco de volta.

– O que você é, ah? Um monstro? – perguntou ela e parecia bem brava.

Mas o garoto atrás dela apenas revirou os olhos.

– Relaxa maninha, é só um garotinho. – disse ele despreocupado, eu me senti ofendido mesmo sabendo que eu realmente não era ameaça.

– É isso o que ele quer que pensemos. – insistiu a garota me pressionando contra o tronco – O que você é, ah?

Eu não evitei e bufei.

– Um garoto, oras, você não ouviu? – perguntei, sabia que foi estúpido porque ela tinha a vantagem.

– Você acha... Que eu estou brincando? – ela disse ameaçadora, mas o garoto atrás dela apenas riu e a pegou no colo. – Ei! - ela protestou. – Me põe no chão agora, Josh!

O garoto revirou os olhos e a colocou no chão, a garota fez cara emburrada.

– Já disse pra não me chamar assim... – disse ele, então se voltou para mim como se de repente lembrasse que eu existia.

Eles poderiam ser gêmeos se não fosse pela idade, ambos com o mesmo cabelo preto e os olhos verdes como o mar. O garoto tinha um corte quase curado na bochecha, como se alguma coisa com garras o tivesse a atacado. A garota com a adaga tinha uma trança caindo-lhe pelo ombro direito. Ela me encarou de novo.

– Você realmente não é um monstro, não é? – ela perguntou.

– Claro que não! – exclamei irritado – E... E vocês?

A garota riu curto.

– Certo, ele é como nós – disse ela para o irmão que sorriu para mim.

O garoto se agachou para ficar na minha altura, ele ergueu o punho para mim, por um momento achei que ele fosse me socar até que se passaram alguns minutos e eu bati meu punho de leve no dele.

– Não precisa ter medo de nós – disse ele – Sabemos o que você deve estar passando, onde estão seus pais?

Eu hesitei, pensando se podia mesmo baixar a guarda, mas eu estava sem faca, não poderia lutar principalmente contra ele.

– Eu... Eu fugi de casa – eu disse – Eles não me querem lá.

O garoto assentiu, olhando para a lama enquanto formulava palavras mentalmente.

– Você pode ficar com a gente – disse ele – Eu e minha irmã estamos indo para um lugar seguro, o mais seguro para pessoas como nós.

– Pessoas... Como nós? – eu repeti – O que quer dizer com isso?

O garoto sorriu para mim.

– Você vai descobrir com o tempo – ele se ergueu. – Meu nome é Percy Jackson e essa tampinha aqui... – ele pousou a mão na cabeça da garota com a adaga – É minha irmã, Ariana Jackson, ela é bem teimosa... E eu não sou diferente.

Aria, me chame de Aria – disse ela corrigindo o irmão mais velho e andando na minha direção. – E você... Tem nome?

Ela me analisava, como se ainda duvidasse que eu fosse realmente como eles, seja lá o que isso quer dizer.

– Ah... Jake, Jake Turner – eu disse.

Ela se afastou.

– Bom, então vamos, Jake Turner... Vamos te dar algumas roupas novas. – ela pegou na minha mão e me puxou.

Percy riu.

– Só não nos culpe se algumas delas ficarem muito grandes... – disse ele.

–... Ou muito pequenas. – completou a garota chamada Aria.

– De qualquer jeito, ninguém sobrevive sem uma família – disse Percy – Pelo menos não por muito tempo, acho que você não terá mais esse problema.

Eu parei.

– Por que não?

Percy virou-se para mim, me encarando com seus olhos verdes e um sorriso confiante.

– Porque somos sua família agora.

A partir daquele dia, eu pensei que nunca mais estaria sozinho. Os monstros não eram suficientes para derrubar aquele laço. Até aquilo acontecer... Quando Aria sumiu, só restou Megan, eu odiei Megan, odiei aquele nome por apagar minha amiga Aria para sempre. Eu era um garoto infantil e teimoso, demorei a perceber que Aria sempre esteve ali, naqueles mesmos olhos verdes, ela nunca foi embora... E mesmo que eu tivesse que matar Silena, eu não a deixaria ir embora de novo. Megan era Aria, Aria era Megan. Independente do nome ela seria sempre a mesma, a minha cabeça de alga.

Eu ataquei Silena, nem ao menos me perguntando o porque ela estava hesitando, eu estive com minha guarda baixa todo esse tempo, Silena cortou o ar e eu fui jogado para longe.

– Não seja apressado, Jake – disse ela lentamente – Você ainda vai poder me matar.

Eu me levantei.

– Por que... Você não luta a sério? – perguntei limpando o sangue que escorria do meu lábio.

– Todo vilão tem um passado obscuro – disse ela. – Luke tinha um motivo e eu...

Eu não a deixei falar, eu simplesmente a ataquei, ela desviou da lâmina e mergulhou na névoa. Oh-oh, isso era ruim.

– Eu vou deixar você me matar – disse a voz dela atrás de mim, eu ataquei, ela cortou. – Mas antes disso você vai me ouvir.

Eu ri.

– O que é isso Beauregard? – eu perguntei debochando. – Está arrependida de repente? Depois de quatro anos você está arrependida? Você não entende o que causou para Megan?

Silena não respondeu, eu ataquei e ela desviou.

– Entendo que esteja com raiva de mim porque eu fiz mal a Megan – disse ela lentamente enquanto nossas lâminas se cruzavam em um X. – Mas se me matar assim, Megan irá te odiar...

– Megan não é como você, ela vai me entender...

– Será? – ela ergueu a sobrancelha – E se você estiver errado, Jake?

Eu hesitei, a verdade era que eu tinha medo disso também, mas eu odeio admitir isso.

– Você se importa, por acaso? – perguntei. – Você não liga pra ninguém além de você mesma.

Ela suspirou.

– Meus irmãos tem essa má fama – disse a filha de Afrodite – Alguns pombos podem ser nojentos, outros são exceção.

– Você não se encaixa nessa exceção – disse eu.

Silena me deu um meio sorriso e eu fiquei com raiva, mas tentei me controlar.

– Você realmente não está me levando a sério, não é? – assim dito, Silena mergulhou na névoa e desapareceu de novo.

Estava frio ali, minha respiração saia em forma de fumaça. Eu estava nervoso, claro, quer dizer... Confuso. Silena tinha to9da a vantagem, ela podia sumir sem me ver, ela podia controlar aquela névoa toda, mas ela não investiu nenhuma vez em mim.

– Você não quer a verdade – disse ela – Mas eu vou lhe dizer... Eu me apaixonei por Luke por um tempo.

Hã? Eu pensei, mas sacudi a cabeça e continuei ouvindo. Quer dizer... Silena apaixonada por Luke? Nossa, tudo haver...

– Eu tinha pena dele, eu sempre fui muito ingênua – disse ela – Ele me disse que estava sendo controlado por alguma coisa, ele me disse que estava em perigo... Ele queria minha ajuda.

– Acha mesmo que... – eu investi, ela desviou. – vou acreditar nisso?

Ela negou com a cabeça.

– Acreditando ou não, a verdade não muda... – ela suspirou. – No começo Luke me usou, e como todos os semideuses, eu fui uma daqueles que passaram pela lavagem cerebral de Cronos, mas eu não sabia disso, eu... Eu realmente quis matar Megan, eu quis fazê-la desistir, eu não queria que ela sofresse por minha causa, mas Megan foi teimosa demais, ela sempre foi.

Eu recuei.

Silena Beauregard me encarou como quem pede permissão para continuar, quando não respondi, ela aceitou como um “sim”.

– Eu odiei minha mãe, achei que o amor era inútil em batalha, foi quando Luke me mostrou que eu poderia ser útil, eu tinha a palavra e os olhos de alguém que merecia ser ouvido e visto. Eu desonrei minha mãe, Jake. Eu matei semideuses, matei até meus irmãos... A sangue frio, usando somente o meu olhar e poder nas palavras... Foi quando eu comecei a perceber para quem eu estava fazendo tudo aquilo, não para o bem de ninguém além de Cronos, mas era tarde. Por isso – ela largou a foice, que fez um barulho alto e perturbador ao encontrar o chão. – Eu mereço morrer.

O amor inútil? Por que aquilo me parecia tão familiar?

Dois anos depois ao meu encontro com os irmãos Jackson, Percy fora chamado para uma missão de proteção, eu estava escondido próximo a Casa Grande, entre arbustos e árvores, observando através de uma fresta na janela.

– Por quê? – perguntou Percy para Quiron – Por que ela?

Quiron respirou fundo.

– Percy, nem mesmo o acampamento será seguro o suficiente, estamos falando a mãe-terra.

– Achei que o acampamento fosse o único lugar seguro para meio-sangues – insistiu Percy.

– Não o único – disse outra voz, um garoto de cabelos loiros e olhos azuis, ele tinha a idade de Percy e girava nos dedos uma moeda de ouro, ele permanecera tão quieto e silencioso no canto da sala que eu quase não o notei – Existe mais um lugar.

– Jason... – começou Quiron.

– Talvez... – Annabeth Chase, a filha de Atena, começou a argumentar. – Talvez Jason esteja certo, Aria é Mestiça, certo?

Mestiça? Eu repeti mentalmente.

– Nem pensar – protestou Percy – Aria é grega, eu sei disso.

– Parte dela é – disse Jason – Você sabe... Aquilo. Quando você ainda tinha você-sabe-o-que você foi exigido por Lupa, mas você veio para seu lugar de origem e perdeu aquela coisa.

Percy olhou para Jason com cara de paisagem, como quem não entendera uma piada.

Jason suspirou.

– Santo Jupiter... Percy! Escute-me, temos que mandar Aria para o Acampamento Jupiter.

Percy sacudiu a cabeça.

– Eu não vou me separar da minha Irmã, ela é minha única ligação com os Jackson, eu não posso simplesmente...

– Percy – Quiron elevou a voz – É necessário...

Eu sai dali o mais rápido o possível, eu queria contar para Aria, mas não havia entendido nada do que tinha ouvido, existia outro acampamento? Quem é Lupa? Como assim Aria é mestiça? O que isso quer dizer?

Foi então quando aconteceu, Percy, Annabeth, Grover, o tal do Jason e Aria saíram, mas ninguém lhe contou a verdade, apenas disseram que era uma missão importante e eu não contei para ela. Eu não sabia que eu era filho de Ares naquela época, eu apenas observei, mas não queria que minha amiga fosse embora.

Naquela mesma noite foi quando eu perdi minha nova família. Eu não sabia até onde Percy, Grover e Annabeth tinham chegado com Aria, mas não parecera muito distante, talvez o outro lado de Montauk. Estava chovendo e o céu estava rugindo, como um alerta. Tudo o que destruiu minha família foi um minotauro e a coragem de Percy. A partir daquele dia, eu passei a pensar que ter coragem era algo inútil. Que o amor era inútil...

– Inútil? – disse uma voz feminina atrás de mim.

Eu estava chorando de raiva perto do mar, todos se afastaram como se quisessem me dar espaço, até as Harpias me deixaram em paz. Eu me virei para a voz, e fiquei sem reação. Aquela mulher de novo...

– Afrodite... – eu disse. – O que quer dessa vez?

A deusa não respondeu apenas me deu um curto sorriso.

– Ela não está morta, pequeno herói, você sente, não é? Nenhum deles está morto...

– Mas é como se estivesse! – eu gritei.

A deusa suspirou. Um raio cortou o céu junto com um trovão.

– Não levante a voz para uma mulher, garoto – disse ela com sua voz de seda – Não é educado.

– Dane-se... – eu disse. – Porque você está aqui?

– Quando o amor acaba totalmente me sinto obrigada a aparecer, mesmo que indiretamente – disse ela – Detesto ver...

Eu me levantei, meu rosto suado e cheio de lagrimas.

– Amor? – eu perguntei – O que o amor fez por mim até agora? Não aja como se você se importasse comigo... As pessoas de quem amamos sempre vão embora!

– E se elas realmente amarem você também, elas irão voltar. – acrescentou a deusa. – Eu gosto de você garoto, mas se você perdeu sua fé, não me resta mais nada.

Eu a encarei.

– Hoje, Jake Turner, cai a você minha maldição – disse a deusa, mas não parecia com raiva. – Uma pessoa irá lhe mostrar que o amor não é tão inútil quanto pensa, uma pessoa vai lhe provar que você está errado, mas antes disso você passará por decisões difíceis em relação a essa pessoa, desafios que você irá se responsabilizar. Você verá que estará errado quando se apaixonar.

Eu ri debochado.

– Eu nunca vou me apaixonar, senhora – eu disse. – Sinto muito por ter te decepcionado ou magoado, mas isso não vai acontecer.

Então eu me virei, dando as costas para uma deusa.

E no final ela estava certa, eu estava errado.

Eu olhei para Silena, era estranho, mas eu tinha que admitir, ela realmente era bonita, porém era macabra, sua expressão sem vida lembrava uma boneca de porcelana, vazia por dentro.

– Eu tenho que morrer... – disse ela. – E apenas você pode me matar agora... Me mate, por favor.

De repente eu senti raiva, muita raiva mesmo. Eu não investi em Silena, apenas transbordei minha raiva em um meio sorriso.

– O que foi? – perguntou ela.

– Você está certa, Silena – eu disse – Você realmente merece morrer... Mas não é por causa das pessoas que matou ou pelo sofrimento que deu para Megan.

Eu ergui meu sabre.

– Eu conheci filhos de Afrodite que se mostraram mais dignos do que você... Você desistiu, Silena. E eu odeio pessoas que desistem.

Então eu exclamei em um grito de guerra e corri na direção de Silena com meu sabre para o alto, pronto para dar o golpe. Eu senti como se eu estivesse correndo em câmera lenta, Silena estava sem reação, parada, esperando pela morte, ela abaixou a cabeça e fechou os olhos, eu jurei ter visto uma lagrima escorregar pelo seu olho.

Eu estava perto dela, ela estava perto dá morte. Cinco centímetros, quatro centímetros...

Silena arregalou os olhos como se tivesse acabado de acordar de um sonho, eu vi seus olhos brilharem até ela gritar:

– Pare! – e magicamente eu parei. – Largue o sabre.

Eu o fiz, me perguntei o que estava acontecendo comigo... Uma hora eu estava prestes a mata-la e no outro, eu virei uma marionete.

O brilho em seus olhos sumiu e eu me senti muito cansado, eu não conseguia me mover, pensei ser mais uma das artimanhas de Silena. Ela pegou meu sabre do chão e o ergueu para o alto.

– Sinto muito Jake, não posso morrer ainda – disse ela. – Tem uma pessoa a quem eu ainda devo minha lealdade.

Maldita seja... Eu não pude completar meu pensamento. Senti algo duro bater em minha cabeça, havia sangue escorrendo da minha testa. Enquanto eu caia para o chão eu vi a imagem de Percy, e Megan abraçada a ele chorando. Eu sabia que estava vendo os últimos momentos de Percy Jackson, então a voz dele ecoou, como um pensamento:

Jake... Cuide da Megan.

Eu não sabia se eu estava morrendo, ou apenas desmaiando. Eu pensei algo como “Desculpe-me, Percy, eu fiz o que pude...” a seguir, apenas um nome ocupava meus pensamentos, apenas dois olhos verdes, apenas Megan.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!