Crônicas Do Olimpo - O Último Olimpiano escrita por Laís Bohrer


Capítulo 15
A Batalha na Ponte: O Sacrifício de um Aliado




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Estacionamos do lado de fora do Battery Park, na parte mais baixa de Manhattan onde os rios Hudson e East se juntam e deságuam na baía.

Eu desci da biz e disse a Jake:

– Me espere aqui, certo? Eu volto...

Antes que eu terminasse de falar ele agarrou meu pulso.

– Megan, sério, você não deveria ir sozinha.

Eu suspirei derrotada.

– Ok, a menos que você não tenha problemas com a pressão e o fato de respirar debaixo da água. - eu disse.

Ele me encarou.

– Você sabia que é muito irritante quando tem razão.

Eu dei de ombros e sorri.

– Ei, eu tenho a maldição de aquiles agora, tem muita coisa pior pela frente. Pode acreditar.

– Acho que isso era para me tranquilizar... - resmungou ele não me parecendo muito convencido.

– Apenas acredite em mim. - eu pedi.

Ele assentiu e eu me virei na direção do oceano, eu podia sentir na brisa fresca um forte odor de lixo. Era bem obvio Sr. East e o Sr. Hudson precisavam de uma empregada doméstica marinha.

– Ei! - ouvi Jake gritar atrás de mim em uma distância considerável. - Não vai nem aceitar o beijo de "Boa sorte"...

Eu ri.

– Já é tradição, não é? - ele gritou.

– Se eu voltar viva! - gritei de volta.

Ele havia respondido alguma coisa, mas eu já estava na margem, então afundei.

Para você aí que não tem nenhum parentesco com os deuses da água: não saiam nadando pelo Porto de Nova York. Acredite em mim, acho que se eu não tivesse a maldição de Aquiles poderia ter nascido um olho novo em mim, ou quem sabe eu tivesse pequenos Legados mutantes quando crescer...

Eu mergulhei na escuridão, nadando para o fundo. Eu tentei achar o ponto em que as duas correntes dos rios pareciam iguais – onde eles se tocavam para formar a baía. Eu imaginei que essa era o melhor lugar para se conseguir a informação.

– Ei! -gritei em minha melhor voz subaquática. O som ecoou na escuridão. – Eu ouvi dizer que vocês são tão poluídos que têm vergonha de mostrar suas caras. É verdade?

Uma corrente fria chegou pela baía, trazendo lixo e lodo.

– Eu ouvi que o Rio East é o mais tóxico – continuei – mas o Hudson cheira pior. Ou é ao contrário?

A água brilhou. Alguma coisa poderosa e irritada estava me observando agora. Eu podia sentir sua presença... Ou talvezduaspresenças.

Temi ter exagerado nos insultos. E se eles simplesmente acabassem comigo sem se mostrar? Mas aqueles eram os deuses dos rios de Nova York. Calculei que seu instinto seria me confrontar.

De fato, duas formas gigantes apareceram na minha frente. De primeira eles eram como colunas de lodo de um marrom escuro, mais densa do que a água ao seu redor. Então apareceram pernas, braços e rostos de expressão colérica.

A criatura da esquerda parecia assustadoramente um telquine. Suas feições eram lupinas. Seu corpo lembrava vagamente um foca – pele lisa preta, com pés e mãos de nadadeiras. Seus olhos brilhavam com um verde radiante.

O cara na direita era mais humano. Ele estava vestido com trapos e alas marinhas, com um casaco feito de garrafas com tampinhas e velhos plásticos de engradados. Seu rosto estava manchado com algas, e sua barba enorme. Seus olhos azuis profundos queimavam em raiva.

A foca, que tinha que ser o deus do Rio East, disse:

– Você por acaso cansou de viver, criança? Ou é apenas muito idiota?

Acho que eu deveria ter ficado calada, mas disse:

– Acho que tá mais para a segunda opção...

O espírito barbudo do Hudson debochou.

– Cale a boca, East.Você é o especialista em estupidez.

– Cuidado, Hudson. – East grunhiu. – Fique do seu lado da ilha e se preocupe com seus negócios.

– Ou o quê? Você vai jogar outro balde de lixo em cima de mim?

Eles flutuavam rodeando-os, prontos para lutar.

– A ê! - eu chamei - Eu ainda estou aqui, galera!

– A menina tem razão... -East ganiu. – Vamos mata-la primeiro, depois eu quebro sua cara.

– Há! - debochou Hudson. - Você não vai nem tocar em mim, East... Mas acho que você finalmente disse algo inteligente.

– Ah, cale-se seu...

– De novo! Euaindaestou aqui... - eu gritei.

– Cala a Boca! - gritaram os dois rios.

Antes que eu pudesse protestar, milhares de pedaços de lixo surgiram do fundo e vieram direto a mim de ambas as direções: vidros quebrados, pedras, latas, pneus.

Eu esperava por isso mesmo. A água em minha frente se espessou, formando um grande escudo. O lixo batia nele, inofensivamente. Só um pedaço entrou: um grande pedaço de vidro que atingiu meu peito e provavelmente teria me matado, mas ele se despedaçou em minha pele.

Os deuses do rio me encararam.

– Filha de Poseidon? - perguntou East

Eu assenti:

– Uhum.

– Mergulhou no Estige? - perguntou Hudson.

– Sim.

Ambos fizeram sons de desgosto.

– Perfeito! -East disse. –Agoracomo a matamos?

– Podíamos eletrocuta-la! - os olhos do Hudson brilhavam de ansiedade. - E frita-la! Se ao menos tivéssemos um cabos...

– Escutem-me! – Eu disse. – O exército de Cronos está invadindo Manhattan!

– E você acha que não sabemos disso, meio-sangue? - disse Hudson com uma pontada de ironia. -Eu posso sentir seus barcos agora mesmo. Eles estão quase terminando a travessia.

– Sim – Hudson concordou. – Tem uns monstros esquisitos cruzando as minhas águas também.

– Então... Os parem! - eu gritei. - Façam algo!Afunde seus barcos ou algo assim...

– Por que deveríamos? – Hudson grunhiu. – Eles que invadam o Olimpo. Por que nos importaríamos?

– E se eu pagar pelo serviço? - sugeri,eu peguei o dólar de areia que meu pai tinha me dado de aniversário.

Os olhos dos deuses arregalaram-se.

– É meu! – East disse. – Dê isso pra mim, criança, e eu prometo que nenhuma das escórias de Cronos atravessará o meu rio.

– Sem chance– Hudson disse. – O dólar de areia é meu, ao menos que você queira que eu deixe todos esses navios atravessarem o meu rio.

– Pessoal, podemos entrar em um acordo. - eu parti o dólar de areia no meio. -Uma onda de água limpa saiu do dólar, como se toda poluição tivesse se dissolvido. – Cada um fica com a metade – disse eu – em troca, vocês mantém todas as tropas de Cronos longe de Manhattan.

– Ah cara – Hudson choramingou, tentando pegar o dólar de areia. – Faz tanto tempo desde a última vez em que eu estive limpo.

– O poder de Poseidon – murmurou o Rio East – ele é um idiota, mas sabe como varrer a poluição.

Eles olharam um pro outro e depois falaram juntos:

– Negócio fechado!

Eu dei para cada um a metade do dólar, o qual eles seguraram reverenciosamente.

– Hã... os invasores? – lembrei.

East fez um gesto rápido com a mão.

– Acabaram de afundar.

Hudson estalou seus dedos.

– Um bando de cães infernais acaba de dar um mergulho.

Eu sorri agradecida.

– Obrigada! - eu disse. - Ah... Fiquem limpos.

Enquanto eu subia para superfície, East gritou:

– Ei pirralha, sempre que você tiver um dólar de areia pra gastar, volte. Se você estiver viva.

– Ah... Vou me lembrar disso! - gritei para ele.

– Maldição de Aquiles – bufou Hudson – eles sempre acham que isso vai salvá-los, não é?

– Se ela soubesse... – East concordou.

Os dois riram, dissolvendo-se na água.

Eu tenho que admitir que já estava cheia desse papo da maldição de Aquiles, como se eu quisesse isso, porém como disse Nico: Era hora das ideias loucas!

Quando voltei a superfície, Jake estava no telefone, mas o desligou assim que me viu.

– Como foi? - peguntou ansioso.

– Tudo certo - eu disse. - Você parece preocupado, algo errado?

– Bom, primeiro tem uma alga marinha no seu cabelo e segundoMichael Yew acabou de ligar. O chalé de Apolo está pedindo reforços. Outra tropa inimiga esta marchando pela ponte de Williamsburg.

Eu estava ocupada demais tentando tirar a alga do meu cabelo, mas as palavras "tropa" e "inimiga" mexeram comigo.

– Bom... Então vamos ajudá-los. - eu disse simplesmente.

– Ah, Megan, mais uma coisa...

– Sim?

– O monstro que está liderando a tropa... É o Minotauro.

Felizmente, meu amigo BlackJackestava de serviço.

Dei o meu melhor assovio de chamar táxi, e passados alguns minutos duas formas circulavam pelo céu. Elas se pareciam com falcões na primeira vista,mas a medida que iam descendo eu pude ver as pernas de pégasos galopando.

Opa, chefinha.Blackjack aterrissou a trote, seu amigoPorkpie logo atrás dele.Cara, pensava que esses ventos dos deuses iam nos levar a Pensilvânia até que eu disse que estava com você!

Eu dei uma risada curta.

– Imagino a cena...Obrigada por virem de qualquer modo. - Agradeci -Ei, por falar nisso, por que ospégasos galopam enquanto voam?

Blackjack relinchou.

Por que os humanos balançam os braços enquanto caminham? Sei lá, chefe. Fazemos isso naturalmente. Para onde vamos?

– Temos que ir para a PonteWilliamsburg – falei.

Blackjack abaixou seu pescoço.

Você está certíssima, chefinha. Nós voamos por ela no caminho até aqui e a situação não parecia nada boa. Vamos nessa!

– Ah, mais uma coisa.

Sim?

–Nãome chame de "chefinha".

BlackJack deu uma relinchada que pareceu mais uma risada tosca, então ele deu uma guinada para o ar.

"Pessoal, esperem por mim" eu pensei enquanto um nó se formou na boca do meu estômago. O Minotauro foi um dos primeiros monstros que eu havia derrotado. Quatro anos atrás ele quase matou a mim e aos meus amigos na colina meio-sangue. Eu ainda tinha pesadelos com isso. Eu estava esperando que ele ficasse morto por alguns séculos, mas como eu deveria saber, minha sorte não iria manter.

Vimos a batalha antes de estar perto o suficiente para identificar os lutadores. Era mais de meia noite agora, mas a claridade da ponte era intensa. Carros queimando. Arcos de fogo se desenhavam em ambas as direções à medida que espadas e flechas chamejantes cruzavam o ar.

De vez em quando, cães infernais saltavam para a linha de frente. A maioria era destruída por flechas, mas um pegou um campista de Apolo e o levou embora. Eu não pude ver o que aconteceu com ele depois. Eu não queria saber.

– Ali! - apontou Jake montado em seu pégaso.

Com certeza, no meio da legião invasora estava o velho Chifrudo.

A última vez que eu vi o Minotauro, ele estava vestindo nada mais que suas cuecas apertadas. Eu não sabia por quê. Talvez tivesse sido levantado da sua cama para me perseguir. Dessa vez ele estava preparado para a batalha.

Da cintura para baixo, ele usava um equipamento grego de batalha padrão – um avental de couro e retalhos de metal, e torresmos de bronze cobrindo as suas pernas, sandálias acondicionadas de couro. A parte de cima era de touro – cabelo e couro e músculo, que levavam a uma cabeça tão grande que deveria ter caído apenas com o peso dos chifres. Ele parecia maior desde a última vez que eu o vi – três metros a mais, pelo menos. Um machado de lâmina dupla estava agarrado em suas costas, ele estava impaciente para usá-lo. Por um instante pensei que havia me visto circundando a sua cabeça (ou me cheirado, seria mais apropriado, a sua visão era ruim), ele gritou e pegou uma limusine branca.

– BlackJack, Mergulhe! - eu gritei.

O quê?O pégaso perguntou.Não tem como ele... Pelos bobes do Quiron!

– Droga... - eu resmunguei olhando para os meus colegas de acampamento, eles estavam tendo sérias dificuldades ali. - Espere... Até você sabe que ele usa bobes?

Há trinta metros do chão, BlackJack não teve tempo de me responder, pois a limusine veio novamente ao nosso encontro,girando no ar como um bumerangue de duas toneladas, Jake e Porkpie desviaram loucamente à esquerda, enquanto Blackjack dobrou suas asas e mergulhou. A limusine passou uns cinco centímetros acima da minha cabeça. Ela passou pelos cabos de suspensão da ponte e caiu no Rio East.

Monstros vaiavam e gritavam, o Minotauro pegou um outro carro.

– Deixe-nos atrás das linhas de Apolo – eu disse a Blackjack. – Mantenha-se atento e saia do perigo.

Não vou discutir, chefinha.

Blackjack pousou atrás de um ônibus caído, onde vários campistas estavam se escondendo. Jake e eu descemos pouco depois que os pégasos tocaram o chão. Então Blackjack e Porkpie sumiram no céu da noite.

Michael Yew e Annie Summers correram até nós com seus arcos na mão e aljavas nas costas. Michael tinha uma ferida no seu rosto.Ele era definitivamente o menor comandante que eu já havia visto.Sua cara de fuinha estava manchada e com fuligem, sua aljava estava quase vazia, mas sorria como se estivéssemos passando um grande momento.

Annie vinha logo atrás dele, então seu movimento seguinte me surpreendeu, ela apontou uma flecha para mim, antes que eu pudesse falar alguma coisa, a flecha passou zunindo por cima do meu ombro acertando no fim, o focinho de um lestrigão atrás de nós que só teve tempo de gritar:

– Ah?

Antes de virar cinzas.

Annie chegou até nós.

– Que bom que vieram. - disse ela. -Onde estão os outros reforços?

– Bem, por enquanto somos só nós. - eu disse.

– Então, já estamos mortos. - resmungou Michael.

– Você ainda tem sua biga voadora? – Perguntou Jake.

– Não – Michael respondeu. – Ficou no acampamento. Eu disse a Clarisse que ela poderia ficar com ela. De qualquer jeito, você sabe? Não vale mais a pena lutar, mas ela disse que era tarde demais.

– Nós insultamos a sua honra pela última vez ou alguma coisa estúpida dessas. - disse Annie.

– Vocês tentaram ao menos. - eu disse. - Eu agradeço.

Annie deu de ombros, ela não parecia abalada pela morte de Benjamin, porém eu sabia pela sombra no rosto dela que ela ainda permanecia de luto.

– Eu a chamei de alguns nomes quando ela disse que não ia lutar. - disse Michael. - Duvido que tenha ajudado. Lá vem eles!

Ele pegou uma flecha e a atirou no inimigo. A flecha deu um grito no voo. Quando aterrissou, fez uma explosão como um acorde em uma guitarra ampliada pelos maiores amplificadores do mundo. O carro mais próximo explodiu. Monstros deixaram suas armas caírem e levaram suas mãos aos seus ouvidos pela dor. Outros correram. Outros se desintegraram no ato.

– Essa foi minha última flecha sônica – disse Michael.

– Presente do seu pai? – Perguntei. – O deus da música?

Michael sorriu perverso.

– Música alta pode ser prejudicial.

– Infelizmente - acrescentou Annie. -Nem sempre mata.

Com certeza mais monstros se reagruparam, balançando confusos.

– Precisamos recuar... - sugeriu Michael. -Tenho Kayla e Austin colocando mais armadilhas embaixo da ponte.

– Não, esperem. - eu chamei. -Coloquem seus campistas em suas posições e espere meu sinal. Vamos mandar os inimigos de volta pro Brooklyn.

Annie riu.

– Como você vai fazer isso?

– Está me subestimando, Summers. - eu disse tirando Anaklusmos no bolso, a lâmina parecia vibrar de ansiedade... Ou na verdade, era eu. - Vou cuidar disso.

– Eu vou junto. - disse Jake.

– Não vai não - eu disse. - Eu preciso de você com o Michael para organizar as linhas de defesa.

– Não se preocupe, eu fico com ela. - disse Annie para Jake.

– Ah... - eu comecei, aquilo não estava nos meus planos, mas o olhar de Annie era como o olhar de mãe. - Certo, nós iremos distrair os monstros.Você reagrupa aqui. Mova os mortais sonolentos fora do caminho. Você pode ir eliminando os monstros enquanto estão focados em mim. Se alguém é capaz de fazer isso, é você.

Michael bufou.

– Muito obrigado pela consideração.

Ouvi Annie dizer algo para seu irmão, mas não prestei atenção, eu continuava olhando para Jake.

Eleconcordou relutante.

– Tudo bem. Vá em frente.

– E, mais uma coisa... Eu voltei viva, e a tradição?

Ele revirou os olhos, mas sorriu no fim e me beijou na testa:

– Não morra, Cabeça de Alga.

– Idem, Cabeça de Javali.

Então saí de trás do ônibus escolar com Annie Summers logo ao meu lado.Caminhávamos pela ponte com a visão plana, em linha reta em direção ao inimigo.

– Vamos? - perguntei a Annie.

Ela engoliu seco, mas deu um sorriso divertido para mim:

– Tente não virar peixe frito.

– Quando isso acabar eu invento uma ironia para você também. - eu prometi.

Quando o Minotauro me viu, seus olhos arderam em ódio. Ele berrou – o som era algo parecido com um grito, ummuuu, e um realmente alto arroto.

– Vou estar logo atrás de você - disse Annie.

Eu assenti e dei um passo para frente, despreocupada, de certo modo.

– Ei! Chifrudo! Eu já não tinha te pulverizado antes? - gritei.

Ele bateu com o punho no teto de um Lexus, e o amassou como uma folha de alumínio. Algumas dracaenaes atiraram dardos ardentes. Bati-as para um lado. Eu ouvi um rosnado e um cão infernal saltou para arrancar a minha cabeça com seus dentinhos de aço, eu paralisei. Uma flecha com chamas de fogo grego na ponta passou zunindo perto de mim, acertando a testa do cão infernal dando impulso para fora da ponte, e com um gemido penoso ele se desfez em cinzas antes de ouvirmos o impacto na água.

Eu estremeci, mas sacudi a cabeça: Não era a Sra. O' Leary... Era um monstro que ia arrancar minha cabeça se não fosse por Annie.

Mais monstros vieram depois – cobras e gigantes e telquines – mas o Minotauro rugiu para eles, então recuaram.

– Mano a mano? - chamei. - Como nos velhos tempos?

As suas narinas tremeram. Ele precisava seriamente de um pacote de lencinhos de papel no bolso de sua armadura, pois seu nariz estava vermelho, molhado e bem nojento. Ele tirou seu machado e o girou.

Era uma arma bonita, do tipoeu-vou-te-destripar-como-um-peixe, ou algo do tipo. Cada uma das suas lâminas gêmeas foi moldada com um ômega Ω – a última letra do alfabeto grego. Talvez porque a lâmina fosse a última coisa que as suas vitimas viam em suas vidas. O cabo era quase do mesmo tamanho do Minotauro, bronze revestido com couro. Amarrados embaixo de cada lâmina havia muitos colares. Percebi que eram do acampamento Meio-Sangue, tirados de semideuses derrotados.

Eu estava tão ansiosa que imaginei meus olhos brilhando iguais aos do Minotauro. Eu levantei minha espada e vi um breve vislumbre de uma Megan com os olhos completamente castanhos e escuros, eu não tive tempo para pensar nisso como algo sério pois o exército de monstros deu vivas para o Minotauro, mas o som morreu assim que eu desviei seu golpe acompanhando um grito de Annie pelo meu nome, e cortei seu machado ao meio, bem no meio do cabo.

– Mu? – grunhiu ele.

Com o canto do olho vi que Annie permanecia ocupada de mais com outros monstrengos que tinham seu foco agora muito mais nela do que em mim. Deve ser porque o Minotauro queria vingança comigo, mas ele não deveria ter "mugido" nada sobre Annie.

– AAAH! – Eu me virei e o chutei no focinho. Ele cambaleou para trás, tentando recuperar o equilíbrio, depois abaixou a cabeça para vir à carga.

Ele nunca teve chance. Minha espada moveu-se como um raio – cortou um chifre, depois o outro. Ele tentou me agarrar. Eu rolei para o lado, pegando metade do seu machado quebrado. Os outros monstros recuaram em um silêncio petrificado, fazendo um circulo ao nosso redor. O Minotauro gritou de raiva. Ele nunca foi muito esperto desde o início, mas a sua raiva o fez imprudente. Quando ele atacou, eu corri para a borda da ponte, na ruptura de uma linha de dracaenae.

Eu vi que Annie estava com problemas lá trás, ela estava horrível, seu cabelo estava parecendo com o meu depois de acordada, haviam vários arranhões em sua pele, e agora ela lutava com uma adaga, depois eu vi que sua aljava estava vazia e seu arco não tinha mais utilidade pendurado no seu ombros. Um momento ela levou uma patada na barriga de um lestrigão, e Annie voou até a beirada na ponte, ainda segurando firme na adaga.

– Annie! - eu gritei, mas eu tinha meus próprios problemas agora.

Eu me abaixei antes do minotauro passar zunindo por mim, eu rolei entre suas pernas desviando do ataque, porém, não adiantara muito.

O Minotauro só podia ir em uma única direção: Para frente e era lá que ele estava indo, ele podia ter mirado em mim, mas ele corria na direção de Annie, que parecia ter perdido um pouco do sentido das coisas.

– Annie! - eu berrei.

Ela não reagiu, eu corria na sua direção, mas eu não chegaria a tempo.

– Corra! - gritei e com esse grito, algo familiar aconteceu.

Eu não sabia o que tinha acontecido, mas sabia que tinha sido meio que... eu. Um punho gigante surgiu do mar agarrando Annie - não sei como a água não a atravessou - entre o polegar e o indicador, a filha de Apolo acordou finalmente, ordenei que a estranha forma de punho a deixasse atrás de mim.

Annie se forçou a levantar no instante em que seus pés tocaram no chão.

– Annie... - eu comecei.

– Eu vou lutar... Vai ser mais difícil você lutar e me proteger ao mesmo tempo. - disse ela engolindo gemidos de dor.

Não protestei, até porque ela tinha razão.

– Como derrotamos essa coisa? - perguntou ela.

Um bravo "MUUU!" roubou o momento do meu dialogo, eu e Annie recuamos, ela com sua adaga de bronze e eu com Anaklusmos. Um escudo de água envolvia as nossas costas.

– Um... - comecei a contar.

O Minotauro arrastou seu grande casco no chão.

– Megan! - gritou Jake de algum lugar ai.

– ... Dois - continuei sem deixar de encarar os cruéis olhos brilhantes do Minotauro, sedentos de sangue.

– Megan... O que fazemos agora? - perguntou Annie.

– Teremos que improvisar... - eu disse.

– MUUUUU! - grunhiu o Minotauro.

– TRÊS! - gritei.

Quando o Minotauro investiu em nós, legiões de monstros vibraram. O Minotauro nem sequer diminuiu a velocidade.

– Megan... - disse Annie com a voz nervosa.

– Espere o último segundo. - eu disse.

– Não podemos ficar fugindo! - disse ela.

Você espera o último segundo. - eu enfatizei.

– O que... Mas e você?

Não respondi, último segundo e eu tive que empurrar Annie do caminho, eu não consegui segurar o machado, então o larguei por ali. Dessa vez o Minotauro conseguiu parar, ele lentamente virou-se em nossa direção, Annie estava sentada no chão, e eu estava de pé com Anaklusmos de volta na mão.

O Minotauro tomou impulso e investiu novamente em mim, Annie estava de pé novamente, cambaleando prestes a cair de novo.

– Annie... Corra. - eu disse.

– Não... - ela murmurou enquanto corria para mais a frente de mim, então ela virou seu rosto para mim e sorriu radiante. - Não... vou fugir... Novamente.

Eu arregalei os olhos, mas não era por causa daquela frase, eu admirei mesmo a coragem com a qual ela disse aquilo. Mas meus olhos estavam arregalados para outra coisa.

– Annie... - eu murmurei. - ANNIE!

Mas era tarde demais, o Minotauro já havia dado um murro em Annie, acho que seu plano era desviar e atacar por trás, ou simplesmente se abaixar e atacar entre as pernas, mas ela não foi rápida o suficiente.

Annie voou como uma boneca de pano para a beirada da ponte, eu corri e segurei sua mão antes que ela despencasse e afundasse há metros abaixo de nós.

– Annie... - eu chamei. - Segure firme! Eu vou te tirar dai...

Havia um corte profundo em uma testa, sua longa franja loira cobria seu olho esquerdo, do direito eu via que ela estava a beira das lagrimas... (e da morte ^^).

– Segure firme... - eu comecei de novo.

– Então é isso... - ela resmungou.

A sua mão suada não ajudava, eu tinha que pensar rápido antes que nossas mãos se soltassem uma da outra... Pensar rápido...

– É isso que Benjamin sentiu antes de morrer? - perguntou ela mais para si mesma. - Ansiedade?

– O que? Pare de falar besteira, não é hora para drama, esquentadinha... - eu comecei impaciente.

Ela sorriu para mim.

– Ansiedade para ver de novo aqueles que pensaria ter visto pela última vez há tempos... - disse ela. - Vou...

– Annie... Não solte. - eu disse severamente.

– ... encontrar Benjamin.

Eu tentei.

Eu juro que tentei.

Foi nesse momento que a mão de Annie escorregou da minha, eu me inclinei para tentar agarra-la novamente, mas não dei certo, eu tentei criar uma onda para agarra-la, mas foi diferente dessa vez, acho que a coisa do punho fora realmente sorte pois eu pude ver o corpo semi-morto de Annie atravessar aquela onda indo há metros e metros abaixo de nós.

Eu me forcei, caçando cada vida no mar, eu não deveria já que isso sempre me esgota. Mas eu não pude evitar. Primeiro : eu quis acordar daquele pesadelo, outro pesadelo, no instante em que não encontrei a vida de Annie no mar.

Segundo, apenas uma coisa me dominava naquele momento depois do desapontamento: Raiva.

Com o rosto abaixado, me virei para o Minotauro, que parecera estar recuperando os sentidos depois de dar uma batida em um ônibus verde ali perto, no segundo seguinte, eu larguei Anaklusmos no chão e agarrei o pedaço do machado que eu tinha largado anteriormente, ele pesava muito para mim, mas agora eu já não sentia tanta diferença.

O Minotauro caçou meu cheiro novamente; Na beira da ponte, eu me virei e apoiei o machado contra na amurada para receber seu ataque. Ele correu na minha direção, eu estava vibrando junto com a sua legião, foi quando o vibrar dos monstros diminuiu naquele som:

CRUNCH!

O Minotauro olhou para baixo surpreso para ver o cabo do seu machado saindo da sua armadura.

– Talvez na próxima, chifrudo. - eu murmurei.

Levantei-o pelos seus pés e o atirei para um lado da ponte com toda a força. Enquanto ele caía, se desintegrava tornando-se areia, sua essência voltando para o Tártaro.

Virei-me contra o seu exército, havia algo diferente, realmente diferente em mim, eu já não me sentia a mesma e a imagem de Annie sendo engolida pelo mar só me dava mais raiva... Não, não era simples raiva, era sede de sangue... Ou de cinzas, como preferir.

Agora eram uns cento e noventa e nove monstros contra uma meio-sangue de quinze anos e faminta pelas cinzas de cada um deles.

Olhei para aqueles monstros e disse:

– Então... - eu tirei Anaklusmos do bolso e a destampei. - Quem é o próximo?

Então fiz a coisa mais natural: Fui contra eles.


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Notas finais do capítulo

U_U Matem suas deduções de que a Annie é a espiã u_u vocês não vão adivinhar u.u kkkk sera? Quem vocês acham que é? lembrem que pode ser homem também!

—____________________________

Eu me senti culpada e triste agora... Primeiro pensei "Legal, matei a Annie" e depois "Droga... Ele matou a Annie..."



É o Jake, a Megan e o Hansel (< seduzindo você)

http://2.bp.blogspot.com/-IYiQFvjcpK4/Ul76lsR7PEI/AAAAAAAAATs/Pjt3Cil7KgU/s640/Time+de+Tr%C3%AAs.JPG



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