Crônicas Do Olimpo - O Último Olimpiano escrita por Laís Bohrer


Capítulo 14
Aquecimento pré-guerra! Jake rouba uma Honda!




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Sra. O' Leary era a única que conseguia ficar feliz com o desastre que Morfeu havia causado na cidade.

Nós a encontramos farejando uma carrocinha de cachorro quente, enquanto o dono estava deitado na calçada, chupando seu dedo.

Argos estava nos esperando com suas centenas de olhos bem abertos. Ele não disse nada. Ele nunca dizia. Acho que é porque ele tem, segundo se supõe, um globo ocular na língua. Mas seu rosto deixava claro que ele estava surtando.

Eu lhe contei o que soubéramos no Olimpo, e que os deuses não viriam para nos auxiliar. Argos rolou seus olhos com desgosto, o que pareceu muito tosco, uma vez que todo seu corpo rolou.

- O melhor que é você volte o acampamento, proteja-o da melhor forma o possível, entendeu? - eu disse.

Ele apontou para mim e ergueu as sobrancelhas, inquirindor.

– Eu vou ficar bem – eu disse.

Argos concordou, como se essa resposta o satisfizesse. Ele olhou para Jake.

- Ah, sim, acho que vamos precisar... - disse ele.

- Precisar de que? - eu perguntei.

Argos vasculhou a traseira de sua van. Ele tirou um escudo de bronze o entregou a Jake. Ele parecia um escudo normal – daqueles que usamos para a captura da bandeira. Mas quando Jake o colocou no chão, o reflexo no metal polido mudou do céu e dos edifícios para a Estátua da Liberdade – que não estava nem um pouco perto de nós.

- Uau, um escudo vídeo. - eu disse.

Uma das ideias de Dédalo. - disse alguém atrás de mim, era Malcolm,  o filho de Atena - Jake achou que fosse ser útil... 

– Benjamin havia pedido a Beckendorf antes de... - ele pareceu lembrar que Annie Summers ainda estava ali. - Bem, eu acho que fez um ótimo trabalho.

Ele olhou para o filho de Hefesto.

- Mas como se mexe nessa coisa? - perguntou Jake.

- Ah... - Beckendorf se aproximou do escudo. - Bem, o escudo muda de acordo com a luz do dia ou a luz da lua de qualquer lugar do mundo para criar um reflexo. Você pode ver qualquer alvo tanto sobre o sol ou a lua, contanto que uma luz natural esteja o tocando. Olhe, vou mostrar.

Nós nos aproximamos quando Beckendorf se concentrava. De primeiro as imagens mexiam-se, então eu fiquei um pouco enjoada só de ver. Estávamos no zoológico do Central Park, em seguida correndo pela Rua 60 Leste, passando pela Bloomingdale’s, dobrando então na Terceira Avenida.

- Nossa! - exclamou Connor. - Olhe ali! Volte. Dê um zoom bem ali.

– O quê? – Jake disse nervosamente. – Você viu invasores?

– Não, bem ali, no Dylan’s Candy Bar. – Connor sorriu para seu irmão. – Cara, está aberta. E todos estão dormindo. Você está pensando no que eu estou pensando?

- Connor! - Katie Gardner o repreendeu. Ela pareceu sua mãe, Deméter. – Isso é sério. Você não vai assaltar uma loja de doces no meio de uma guerra!

– Desculpa – Connor murmurou, mas não parecia muito envergonhado.

Beckendorf não segurou uma risada curta. Ele passou sua mão na frente do escudo, e outra cena apareceu: FDR Drive, dando vista para o outro lado do rio, o Lighthouse Park.

– Isso nos mostrará a cidade inteira. - disse o filho de Hefesto se erguendo.

- É, isso deve dar... - murmurou Jake. - Obrigado Argos. Espero poder te ver novamente no acampamento... Algum dia.

Argos grunhiu. Ele me deu uma olhada que obviamente significava Boa sorte, pois precisará dela, então ele entrou na van. Ele e as duas harpias motoristas deram a volta, costurando entre grupos de carros que enchiam a rua.

Eu assoviei para Senhora O’Leary, e ela veio pulando.

– Ei, garota! – Eu disse. – Você se lembra do Hansel? O sátiro que nos achou no parque?

“WOOF!”

Esperei que isso significasse Claro que lembro! E não,Você tem mais cachorros quentes?

– Eu preciso de você para encontrá-lo – eu disse. – Certifique-se que ainda estará acordado. Vamos precisar da ajuda dele. Entendeu? Encontre Hansel!

Senhora O’Leary me deu um beijo lambuzado. Ela correu para o norte.

- Cara... Isso foi desnecessário... - comentei. 

Pólux agachou-se perto de um oficial de polícia adormecido.

- Eu ainda não entendi porque só os mortais estão dormindo, nós não também deveríamos estar?

A pequena Ridley suspirou:

– Esse é um ataque muito grande – disse a filha de Afrodite. – Quanto maior for o ataque, mais fácil é de se resistir. Se você quiser fazer milhões de mortais dormirem, você tem que arremessar uma camada muito fina de mágica. Mas com os semideuses é bem mais difícil.

Eu olhei para ela.

– Quando que você aprendeu tanto de mágica?

Ela me deu um sorriso maroto.

- O que pensou, Megan Jackson? Que eu passo meu tempo inteiro retocando a maquiagem?

Drew revirou os olhos.

- Seria de muito mais sentido se você fosse filha de Hécate, querida, eu lhe disse para não perder tempo com essas bobagens.

- Eu não sou você, Drew. - disse a pequena.

– Megan... – Jake chamou. Ele ainda estava olhando para o escudo. – Seria bom você ver isso.

A imagem no bronze mostrava o Estreito de Long Island, perto de La Guardia. Uma frota de doze atravessava velozmente as águas escuras em direção à Manhattan. Cada barco lotado de semideuses em armaduras completas. Na popa do barco líder, uma bandeira púrpura adornada com uma foice negra se agitava ao vento noturno. Eu nunca tinha visto aquela bandeira antes, mas não era difícil deduzir: a bandeira de batalha de Cronos.

– Examine o perímetro da ilha – eu disse. – Rápido.

Jake mudou a cena para o porto ao sul. Uma barca de Staten Island sulcava as ondas perto de Ellis Island.

O convés estava cheio de dracaenaes e um bando de cães infernais. Nadando na frente do barco, havia um monte de mamíferos marinhos. De primeira, pensei que eles fossem golfinhos. Depois eu vi seus rostos de cachorro e espadas presas à suas cinturas, então percebi que eles eram telquines – demônios do mar.

A cena mudou de novo: o litoral de Jersey, bem na entrada do Túnel Lincoln. Centenas de monstros diferentes estavam marchando pelas ruas do tráfego parado: gigantes com seus bastões, ciclopes malfeitores, alguns dragões cuspidores de fogo, e para completar, um tanque Sherman da Segunda Guerra Mundial, empurrando os carros para fora do caminho à medida que ribombava entrando no túnel.

- E os mortais lá fora? - perguntei ansiosa. - O estado inteiro está dormindo?

Jake franziu a sobrancelha.

- Acho que não, mas ainda é esquisito... O máximo que posso dizer sobre essas imagens, é que Manhattan inteira está adormecida. E em um raio de oitenta quilômetros ao redor da ilha, o tempo está passando muito, muito devagar. Quanto mais você se aproxima de Manhattan, mas lento ele fica.

Ele me mostrou outra cena – uma estrada de New Jersey. Era sábado à noite, então o tráfego não estava tão ruim como ele costuma estar nos dias úteis. Os motoristas pareciam acordados, mas os veículos se moviam a menos de dois quilômetros por hora. Pássaros voavam acima deles em câmera lenta.

- O que acha disse, lider? - disse ele e eu o fuzilei com o olhar.

- É ele. - eu disse voltando meu olhar para o escudo. - Cronos está retardando o tempo...

– Hécate deve estar ajudando. – Katie Gardner disse. – Olhe como os carros estão se afastando das saídas, como se eles estivessem recebendo uma mensagem subliminar para retornar.

- Eu não sei... - murmurou Jake parecendo frustado. - Mas de algum jeito eles cercaram Manhattan com um véu mágico. O mundo lá fora nem deve imaginar que tem algo de errado. Qualquer mortal que viesse para Manhattan ia ficar tão devagar que eles não saberiam o que estaria acontecendo.

– Como moscas no âmbar –  murmurou Kim, do chalé de Hefesto.

- Exato. - concordou Jake. - Não deveríamos esperar nenhuma ajuda a caminho. 

Eu me virei para meus amigos. Eles pareciam petrificados e horrorizados, e eu não podia culpá-los. O escudo tinha nos mostrado pelo menos trezentos inimigos a caminho. E havia quarenta de nós. E estávamos sozinhos.

– Tudo bem – eu disse. – Iremos proteger Manhattan.

- Hum, Megan... - chamou Haley - Manhattan é gigante.

- Não importa. - eu disse. - Podemos fazer isso, temos que protegê-la.

Jake assentiu.

- Megan tem razão. - disse ele. - Por mais incrível que pareça.

Eu lhe dei uma cotovelada, mas ele me ignorou.

- ... os deuses do vento devem manter as tropas de Cronos longe do Olimpo pelo ar, então ele tentará uma invasão por solo. Temos que cercar as entradas para a ilha.

– Eles têm barcos – Michael Yew lembrou.

Um formigamento elétrico passou por minhas costas. De repente eu me lembrei da mensagem de Poseidon: Lembre-se dos rios.

– Eu cuido dos barcos – eu disse.

Michael franziu as sobrancelhas.

– Como? 

- Apenas deixe isso comigo, certo? - eu disse. - Precisamos cercar as pontes e os túneis. Vamos supor que eles tentem invadir o centro primeiro, pelo menos como sua primeira tentativa. Seria o melhor caminho para o Edifício Empire State. Michael, leve o chalé de Apolo para a Ponte de Williamsburg. Katie, leve os do chalé de Deméter para o Túnel do Brooklyn-Battery. Plante arbustos de espinhos e envenene o túnel. Faça o que tiverem que fazer, mas os mantenham longe de lá. Connor, leve a metade do chalé de Hermes e proteja a Ponte do Brooklyn. E nem pensem em parar para roubar ou saquear qualquer coisa.

- Ahhhhhh! - o chalé de Hermes inteiro gemeu.

- Drew, leve o chalé de Afrodite para o Queens, o Metrô. - continuei.

– Ah meus deuses – uma das irmãs disse. – A Quinta Avenida está bem no nosso caminho, a loja da Givenchy! Poderíamos nos equipar e, bem, os monstros certamente detestam Givenchy.

- Sem distrações! - eu disse rigidamente, então eu parei - Mas... sobre o negócio do perfume, se vocês acham que vai funcionar realmente...

Ela pularam de animação umas com as outras, tipo aquelas garotas em shows de boybands, sabe?

- Ok, chega! - eu disse para ela. - O Túnel Holland... Beckendorf, leve o chalé de Hefesto pra lá. Use fogo grego, monte armadilhas. Tudo o que você puder.

O chalé inteiro grunhiu em aprovação.

– Ah, eu já ia esquecendo... A ponte da rua 59 – eu disse. – Clarisse...

Gaguejei. Clarisse não estava aqui. O chalé inteiro de Ares, malditos sejam, estava à toa no acampamento.

- Nós assumimos essa - disse Malcolm do chalé de Atena.

- Certo. - eu disse.

- Ah, ative o plano vinte e três no caminho, lembra? - lembrou Jake. - Mantenha posição.

- Sim, senhor. - concordou Malcolm.

- Então... - começou Jake. - Eu vou junto com a Megan...

- Dã...- murmurou Ridley.

Jake a ignorou, mas não pode evitar corar.

- ... Depois iremos onde precisarem de nós.

- Sem distrações os namoradinhos ai, hein. - disse Ridley para nós severamente.

Havia alguns risinhos, mas eu resolvi deixar essa passar.

- Pode deixar... - eu disse. - Mantenham-se com seus celulares.

- Não temos celulares. - lembrou Haley.

Eu me abaixei, peguei um BlackBerry e entreguei a Haley.

- Agora tem. - eu disse. - Todos vocês sabem o número de Jake, né? Se vocês precisarem de nós, peguem um celular e nos ligue. Use-o uma vez, jogue-os fora, e pegue um emprestado se for necessário. Isso deverá dificultar os monstros de pegar um de vocês.

Todos riram, como se essa ideia lhes agradasse.

Travis limpou sua garganta pousando seu braço ao redor dos meus ombros.

- Mas tipo, se por acaso nós acharmos um celular muito irado...

- Não, você não pode ficar com ele. - eu disse.

– Ah, cara.

- Megan... - chamou Kim. - Você esqueceu do Túnel Lincoln.

Eu soltei um palavrão. Ela estava certa. Um tanque Sherman e centenas de monstros estavam marchando por esse túnel neste exato momento, e eu concentrei nossa força toda em qualquer outro lugar.

Então a voz de uma garota chamou do outro lado da rua:

– Que tal deixar esse conosco?

Eu nunca fiquei tão feliz por ouvir alguém em toda minha vida. Um bando de garotas adolescentes cruzava a Quinta Avenida. Elas estavam vestindo camisas brancas, calças cinza camufladas, e botas de luta. Todas tinham espadas ao lado do corpo, e arcos nas costas, com flechas preparadas. Uma alcateia de lobos brancos rodeava seus pés, e muitas das garotas tinham falcões caçadores em seus braços.

A garota na liderança tinha cabelos espetados pretos e uma jaqueta de couro preta. Ela tinha um arco prateado na cabeça, como se fosse uma tiara de princesa, o que não combinou com seus brincos de caveira ou sua camisa Morte à Barbie mostrando uma pequena boneca da Barbie com uma flecha na sua cabeça.

- Thalia. - eu disse.

A filha de Zeus sorriu.

As caçadoras de Ártemis, as suas ordens! - disse ela - Vamos chefe Jackson? Estou pronta para eletrocutar alguns monstros.

Havia abraços e cumprimentos por todos os lados... Ou pelo menos Thalia era amigável. As outras caçadoras não gostavam de estar perto de campistas, especialmente os garotos, mas elas não atiraram em nenhum de nós, o que pra elas já era uma grande saudação de boas-vindas.

– Onde você estivera? - eu perguntei a Thalia. - Você parece duas vezes mais com as Caçadoras agora!

Ela riu.

- Bem, você cresceu também, está diferente...

- Longa história. - eu disse.

- Eu aposto que minhas aventuras foram mais perigosas do que as suas, Jackson.

- Duvido, Grace. - eu disse.

– Veremos – ela me garantiu. – Depois que isso acabar, você, Jake e eu, cheeseburgers e fritas no hotel na 57 Oeste.

- Le Parker Meridien, massacrar monstros sedentos de sangue sempre me deixa com fome. - eu comentei. - E Thalia, obrigada.

Ela deu de ombros.

– Esses monstros nem vão saber o que os atingiu. Caçadoras, andando!

Ela tocou no seu bracelete de prata e seu escudo Aegis abriu-se na forma completa. A cabeça da Medusa de ouro no centro era tão horrível, que todos os campistas se afastaram. As Caçadoras desceram a avenida, seguidas por seus lobos e falcões, e eu tinha a sensação que o Túnel Lincoln estava a salvo por enquanto.

- Bom, isso já é algo positivo. - comentou Jake. - Mas se não conseguirmos bloquear os rios destes barcos, os guardas das pontes e túneis serão inúteis.

- Você está certo - eu disse.

- Que novidade...

- Não se ache. - eu reclamei.

Olhei para os campistas, todos estavam sorrindo e determinados. Eu tentei não me sentir como se essa fosse a última vez que eu os fosse ver todos juntos.

– Vocês são os maiores heróis do milênio. – Eu disse a eles. – Não importa quantos monstros venham até você. Lutem bravamente, e venceremos.

Ergui Contracorrente e gritei: PELO OLIMPO!

Eles gritaram em resposta, e nossas quarenta vozes ecoaram pelos prédios do Centro. Por um momento soou como bravura, mas rapidamente sumiu no silêncio de dez milhões de pessoas em Nova York.

Jake e eu teríamos escolhido um carro, mas eles estavam todos presos, com os para-choques quase colados. Nenhum motor estava ligado, o que era estranho. Era como se os motoristas tivessem tido tempo de desligar a ignição antes de eles pegarem no sono. Ou talvez Morfeu tivesse o poder de pôr as ignições para dormir também. A maioria dos motoristas aparentemente havia tentado parar junto ao meio-fio ao sentir que estava apagando, mas, ainda assim, as ruas encontravam-se atravancadas demais para que um carro conseguisse passar por elas.

- O que fazemos agora? - perguntei.

- Você é a chefe aqui... - disse ele - Ah, já sei...

- Imaginei que soubesse... - resmunguei.

Jake me puxou através das ruas até uma calçada em frente ao Burguer King, um homem com uma jaqueta de couro cochilava sobre sua moto Honda Biz.

- Ah, não... Você não vai fazer isso. - eu disse, mas se ele me ouviu não demonstrou.

Nós o tiramos da biz e o colocamos na calçada.

- Ai! Foi mal... - disse Jake. 

Ele subiu na Biz e eu hesitei.

-  Quê? - perguntou ele.

- É que... Eu não tenho muito costume de subir em uma moto com doidos como você - eu disse.

- Megan, não é hora para frescuras, estamos no meio de uma guerra!

- Certo, mas...

- Fala!

- Promete não me deixar cair? - eu disse enquanto subia na carona atrás de Jake.

Ele riu.

- Ok, prometo, agora vamos logo. - ele apressou.

Ele dirigiu e eu fui atrás dele, abraçando-o até os ossos enquanto ele ria:

- UHUUUUUU!

E eu gritava:

- AHHHHHHHHHHHHHHH!

Nós ziguezagueamos pela Broadway com o motor zumbindo no silêncio sinistro. Os únicos sons eram os celulares tocando de vez enquanto – como se eles tivessem chamando um ao outro, como se Nova York fosse um viveiro eletrônico.

Nosso progresso estava devagar. Frequentemente passávamos por pedestres que tinham adormecido na frente de um veículo, e os removíamos por precaução. Uma vez nós paramos para apagar o cartaz de uma loja de rosquinhas que tinha pegado fogo. Poucos minutos depois, tivemos que resgatar um carrinho de bebê que estava descendo rua abaixo sem controle. Então vimos que não tinha nenhum bebê dentro – só o poodle de alguém. Vá entender. Nós o prendemos seguramente numa porta e continuamos a correr com a moto.

ELE parei no meio da 23 Leste e nós descemos ali. Jake pulou e correu para o parque. Quando eu o alcancei, ele estava olhando uma estátua de bronze em um pedestal de mármore vermelho. 

O cara estava sentado numa cadeira com suas pernas cruzadas. Ele vestia um terno antigo – Estilo de Abraham Lincoln – com uma gravata borboleta, um paletó e essas coisas. Um monte de livros estava entulhado embaixo de sua cadeira. Ele segurava uma pena de escrita em uma mão e uma chapa de metal com pergaminhos na outra.

- O que esse cara tem... – Eu apertei os olhos para ver o nome no pedestal. – William H. "Steprado"? 

– Seward – Jake corrigiu. – Ele foi um governador de Nova York. Um semideus insignificante: filho de Hebe, eu acho. Mas isso não é importante. A estátua que importa.

Ela subiu no banco do parque e examinou a base da estátua.

– Não me diga que é um autômato – eu disse.

Jake sorriu.

A maioria das estátuas da cidade são autômatos. Dédalo os plantou aqui, no caso dele precisar de um exército.

– Para atacar o Olimpo ou defendê-lo?

Jake franziu a sobrancelha.

- Os dois... Esse era o plano vinte e três. Ele poderia ativar uma estátua e todas as estátuas da cidade seriam ativadas, até formar-se um exército. Embora seja perigoso. Você sabe o quão imprevisíveis os autômatos são.

- Ah sei... Lembra daquele dragão de bronze? - eu perguntei,

Ele assentiu.

- Como esquecer...

– Você realmente está pensando em ativá-los? Esses Autômatos...

- Eu acho que posso... Ah, vamos lá.

Ela pressionou a ponta da bota de Seward e a estátua levantou-se, com a pena e o papel em punho.

– O que ele vai fazer? – Eu murmurei. – Um memorando?

- Shiu... - Jake me cutucou. - Ei, William!

- Bruce... - sugeri.

- Bruce.. Ah, cala boca. - Jake me disse.

A estátua inclinou sua cabeça, olhando para nós com olhos de metal azuis.

Jake limpou a garganta.

– Olá, hã, Governador Seward...

- Fala ê, Bruce! - eu cumprimentei.

- Quieta. - resmungou Jake para mim, então ele se voltou para a estátua. -  Sequencia de comando: Dédalo Vinte Três. Defender Manhattan. Começar ativação.

Seward pulou de seu pedestal. Ele caiu tão forte no chão, que seus sapatos racharam a calçada. Depois ele saiu correndo para o oeste.

– Ele provavelmente vai acordar Confúcio, imagino... – Jake supôs.

– O quê? – Eu disse.

– Outra estátua, na Division. O negócio é que eles continuarão acordando um ao outro até todos estiverem ativados.

– E depois?

– Eles sabem que nós não somos os inimigos?

– Eu acho que sim.

– Isso é bem animador. – Pensei em todas as estátuas de bronze nos parques, praças, e prédios de Nova York. Devia ter centenas, talvez milhares.

Então uma bola de um brilho verde explodiu no céu da noite. Fogo grego, em algum lugar no Rio East.

– Precisamos nos apressar – falei.

E corremos para a Honda.


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