Fogo Demoníaco escrita por Fallen Angel


Capítulo 6
Capítulo VI


Notas iniciais do capítulo

domingo é dia de novo capitulo ;)



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Ela estava em casa. Não na casa atual, mas sim, na sua verdadeira casa. Aquela na qual havia crescido, vivido, e passado ótimos momentos com seus pais e melhores amigos. Ela estava deitada na sua cama, e em mãos, o seu livro favorito “A Culpa é das Estrelas”. Estava exatamente na parte mais triste do livro, quando alguém bate à de casa. Foram precisas três batidas que se repetiram, já que Leah demorou para descer as escadas e abrir a porta. Ela se levantou e ainda descalça desceu as escadas – com uma velocidade maior do que achava possível para ela, ou necessário. Mas para sua surpresa não havia ninguém na frente da casa. Ela fecha a porta, e ao se virar lá estava Rick chamando por ela: Leah! Leah!

–Leah!!! Vamos, acorde!!!

Era Rick. Estava chamando por ela. Mas aquilo era um sonho? Ela não sabia mais. O que estava acontecendo? Leah fez a única coisa que conseguiu: gemer. De dor, ou simplesmente para dizer que estava viva e ouvindo.

Ela já não estava mais nos braços de Rick, mas sobre alguma coisa dura. O chão da loja talvez. Ela conseguiu ver, com os olhos semicerrados, que havia alguém ao seu lado. Queria abrir os olhos, mas quando o fez sentiu uma tontura terrível e fechou-os novamente. Ouviu uma voz, e apesar de saber que ela vinha das pessoas que estavam perto dela, Leah ouviu-a distante.

–...envenenada só os Anjos podem usar. E aquela coisa não podia ser um Anjo. Como passou por mim sem eu sentir?

Leah, ainda meio zonza conseguiu ouvir passos vindo para perto.

–Ele era um Arcanjo. Por isso você não o sentiu. Arcanjos têm ótimos truques na manga.

–Quem é você? – disse Rick para o estranho – não é em todo lugar que se arranja uma lâmina daquela. Onde a conseguiu? Espantou o Arcanjo?

–Muitas perguntas hein, amigo. Vamos com calma, que ninguém aqui está correndo perigo de vida... Ah, está sim... – O estranho fez uma careta com a língua para fora. Rick olhou bem sério para ele, sabia que não era hora para brincadeiras. Quando o estranho estava para voltar a falar, Leah grunhiu, e se mexeu.

–Rick... – gemeu Leah, ela estava abrindo os olhos – Rick, o que aconteceu comigo?

–Leah, fique quieta, paradinha aí. Aquele cara que estava lá fora era um Arcanjo, de acordo com o nosso coleguinha. O que ele usou para te machucar ou matar, sei lá, foi uma lâmina envenenada. Já vou dar um jeito de te ajudar Leah, só fique quieta.

Leah ficou parada ali onde estava, até por que ela não conseguia se mexer com tamanha dor que estava sentindo por causa do ferimento.

O estranho se encostou no batente da porta cruzando os braços.

–Josh. Josh Carter. Consegui a Lâmina no mesmo lugar que qualquer Anjo conseguiria. Sim, “espantei” o Arcanjo. Dizendo que iria matar a menina pessoalmente – disse o estranho.

Josh, aliás, era um rapaz de não mais que 16 anos, tinha belíssimos olhos castanhos que encantavam, cabelos compridos – acima dos ombros e abaixo das orelhas – num estilo meio Rebelde Sem Causa, castanhos e lisos. E que sorriso metálico era aquele?! Usa aparelho, mas aquilo só dava mais um charme especial àquele jovem tão alto e esguio. Lábios infantis, de um jeito fofo, bochechas rechonchudas, mas mesmo assim sem deixar de ter um rosto meio adulto com um cavanhaque recém-aparado e um rosto de badboy, sem esquecer dos alargadores. Josh era o tipo de pessoa que poderia se falar o dia todo. Descrevê-lo era como tentar imaginar como é o paraíso (se é que ele existe): uma imensidão de palavras bonitas que nunca chegarão a explicar como ele é realmente.

Josh estava usando um blazer preto sem camiseta por baixo e uma calça de jeans escuro, que faziam uma combinação ótima com seus coturnos. E, Leah percebeu, Rick estava com uma roupa diferente, um pouco parecida com a de Josh, mas ao contrário dele estava com uma camiseta azul clara por baixo do blazer, e suas roupas ao invés de pretas eram tons claros que ornavam entre si.

Rick olhou diretamente para Josh. Leah conseguiu se mover, e se apoiou no braço direito. Seu cabelo estava solto e suado, colado um pouco no rosto.

–E você acha que eu vou deixar você mata-la? – disse Rick, pondo-se entre Leah e Josh.

–Não vou fazê-lo. Disse isso, obviamente, para o Arcanjo só para manda-lo embora – falou calmamente Josh. Fez-se silêncio por um instante.

Rick ficou desconfiado de Josh. Ele tinha um ar misterioso, que dava vontade de desvendar seus segredos; deixando Rick incomodado.

Josh limpou um líquido que tinha na lâmina que ele usou para lutar com o Arcanjo; um líquido vermelho escuro, espesso demais para ser sangue.

–Então você também gosta de lâminas envenenadas? – perguntou Rick, reconhecendo o líquido.

Josh olhou de soslaio para Rick e depois para Leah; porém não disse nada. Então Rick voltou a falar:

–Já que você trabalha com veneno, deve saber o antídoto também, certo? Você poderia salvar a Leah, ela não tem muito tempo.

Josh parou de alisar a lâmina e se aproximou de Leah pondo um joelho no chão ao lado dela.

–O veneno que Anjos e Arcanjos usam em suas lâminas é geralmente feito de sangue do próprio. Usamos isso porque na maioria das vezes nossos inimigos são fracos e não suportam o contato com o nosso sangue – fez uma pausa e passou as costas da mão no na bochecha de Leah, em seguida retomou – em menos de duas horas o atingido pelo nosso sangue morre. Se for sangue de Arcanjo morre em menos de uma hora e de forma bem mais dolorosa. Se, sequer, fosse um ferimento feito com um espinho de rosa; se houver uma gota de sangue de um ser celestial, é fatal.

–Não é hora para explicações, anjinho. Vai salvá-la ou ficar enrolando até ela morrer? – Rick perdeu a paciência, e elevou o tom de voz a um tom ameaçador.

–Escuta aqui, fadinho, eu não vim aqui para escutar sua voz O.K.? Por favor, cale a boca. Eu sei o que estou fazendo.

–Olha só, um Anjo que não sabe nem a diferença entre elfo e fada – Rick retrucou, soltando uma gargalhada irônica.

–Parem! Agora! – Leah já estava pálida e com os lábios ressecados, mas conseguiu dizer duas palavras.

Josh se levantou e foi até outro cômodo, num andar suave, parecia que não estava andando e sim flutuando. Voltou com um copo de água, jogou um pó que fez a água ficar azul por um instante de em segundos voltou ao normal.

–Beba – o tom de voz dele agora era suave como uma melodia. E em dois ou três goles ela bebeu tudo – Agora durma.

Suavemente ela foi fechando os olhos. Com aqueles dois rapazes altos e lindos olhando para ela. Cada um segurando uma de suas mãos... Acho que já estou sonhando.

***

Assim que Leah abriu os olhos percebeu que estava em uma cama, no quarto de alguém. Pôsteres em todas as paredes; bandas, jogos, garotas, jogos de bandas de garotas etc.. As luzes estavam neutras, acesas o suficiente apenas para ver parte do quarto. Tinha um criado-mudo ao lado da cama com um relógio que marcava 04h52min da manhã. No chão havia roupas masculinas espalhadas para todos os lados – inclusive cuecas. E prestando mais atenção tinha um ursinho deitado junto com ela na cama.

Levantando-se da cama, sentiu uma enorme dor ao lado de seu corpo, levantou a blusa e viu que havia uma faixa envolta um pouco acima de sua cintura. Encostou a mão e sentiu o ferimento arder e latejar. Piscou algumas vezes para impedir as lagrimas de caírem, e notou que no teto havia mais pôsteres de bandas de Rock. O dono desse quarto realmente tem um ótimo gosto, pensou ela.

Ao chegar perto da porta do quarto percebeu pela pequena fresta debaixo da porta que as luzes de fora estavam acesas. Cogitou abrir a porta e sair para procurar alguém, mas então ouviu vozes vindas do outro lado. Encostou o ouvido na porta e esperou para ver se ouvia alguma parte da conversa, e por um momento quase se arrependeu do que estava fazendo, mas resolveu não ligar para isso naquele momento.

–Ela tem que saber de tudo. Assim que ela acordar nós vamos contar. – Era Josh, sua voz estava um pouco alterada.

–Não podemos ainda. Temos que dar um jeito de mantê-la aqui e encontrar a mãe dela. – Agora era Rick falando.

–Para mim, ela deveria saber. Pense sobre o assunto, enquanto isso vou ver como ela está. – Josh estava vindo, então ela resolveu sair do quarto. Abrindo a porta, deu de cara com ele, estava com um braço levantado, como quem iria bater na porta, e olhando para ela com olhos cor de cacau.

–Ah, hã... Oi. Cadê o Rick? – Meio sem jeito por ele estar com apenas aquele blazer escuro e sem camisa por baixo, ela conseguiu dizer apenas isso.

–Elfo! Ela quer falar com você! – Josh revirou os olhos e saiu. Rick veio na direção de Leah que nem saiu do lugar, com um sorriso amarelo no rosto. Ele continuava radiante, e aqueles olhos de esmeralda não deixavam Leah desviar o olhar.

–Bela Adormecida! Finalmente acordou! Como se sente?

–Digamos apenas que eu não estou como se fosse um simples cortezinho de faca – Leah começou tentando descontrair um pouco e logo retomou –, mas e você? Como está?

–Estou bem. Escuta... Nós temos que conversar. Nós três. – Rick parecia meio chateado agora. Leah olhou para o lado que Josh tinha ido e o viu sentado numa cadeira apoiada em apenas duas pernas, e ele com os pés em cima de uma mesa.

–Primeiro: onde estamos? – ela não fazia ideia de nada, então a primeira coisa que deveria saber era pelo menos onde eles estavam.

–Estamos na minha casa. Não ficava muito longe da loja que conveniências que paramos. E... Josh se ofereceu para leva-la depois de desacordada. – o tom enojado que Rick utilizou para dizer o nome do garoto a surpreendeu.

–Ah... – ela mordeu um lábio inferior, assim como sempre fazia quando estava nervosa ou envergonhada. Ou os dois. – Então tudo bem. Vamos conversar. Até porque você tem que me responder algumas coisas.

Seguiram em direção ao que parecia ser a copa da casa. As paredes estavam todas na cor grená, e o teto totalmente branco com acabamentos nos encontros com a parede. Havia um balcão com quatro banquinhos ao lado que dividia a copa da parte da cozinha. Aliás, era a típica cozinha para aqueles que gostam mesmo de cozinhar. Parecia ter utensílios para todos os usos. Cortar, moer, fatiar, mexer, limpar, ralar, etc.. Havia também uma plaquinha de madeira que nela estava entalhado em letra de mão “cantinho da Família Smith”.

–Então; vamos começar pela pergunta mais simples: quem é você? Ou melhor, o que é você. – começou ela, se referindo a Josh.

–Pensei que havia escutado quando eu estava falando com o seu amiguinho. Josh Carter – Josh estendeu o a mão para apertar a dela. Leah apenas a apertou por educação. – Sou um Anjo. Mas estou com notas tão baixas na matéria “seguir ordens” que já estou quase sendo rebaixado a um Querubim de 3ª classe. Mais conhecido pelos humanos como cupido.

–Você não quer me matar como aquele seu colega que me esfaqueou? – ela fez uma careta.

–Não – Josh sorriu, mas logo voltou a ficar sério – vim aqui te proteger deles. Leah, todas as classes de Anjos estão atrás de você. Querem te matar porque você é fruto de um pecado.

Por um instante, ela mal percebeu que havia prendido a respiração. Olhou para o nada, e desfocou a visão, sem pensar em nada e tentando absorver o que acabou de ouvir.

–Minha mãe. Ela era uma Anja, certo? – Conseguiu dizer apenas.

–Tecnicamente, sim – Dessa vez Rick respondeu, olhando para as palmas das próprias mãos.

–Sua mãe era de uma classe de anjos muito alta – continuou Josh, no lugar de Rick – Mais alta do que um Arcanjo ou algo do tipo. Mas ela era alguém muito boa e carinhosa, sempre foi generosa e muitos Anjos se apaixonavam por ela. Madeleine Tompson é o seu nome, se me lembro bem.

“Mas então, sua mãe apareceu grávida; de você, claro. E todos sabiam que não era um Anjo o pai da criança, pois quando havia algum romance entre um casal de Anjos todos os outros conseguiam sentir sua alegria quando passavam. Além de Madeleine estar sempre sozinha, vivia fazendo viagens demoradas na Terra e voltava com um sorriso no rosto. Meu pai a conhecia, e me contou algumas coisas. Nas leis do Céu, é terminantemente proibido relações entre Anjos e qualquer outra raça que fosse. Excepcionalmente humanos e... Bem, demônios. Mas a sua mãe não ligou para isso.

“Quando a barriga começou a ficar grande demais para poder esconder dos Arcanjos; que logo iriam tomar alguma providência, Madeleine desapareceu. Ela deve ter usado marcas angelicais para esconder o paradeiro dela e da criança, pois nem um único ser Celestial conseguiu achá-la.”

Fez-se um momento de silêncio. Leah estava completa e incrivelmente parada. Não tirava os olhos de Josh. Aquilo era demais para ela suportar. E sem mais nem menos, sem nem saber ao menos por quê, sentiu algo quente escorrer em seu rosto. Uma única lágrima, talvez, a que mais doeu nela em sua vida inteira. Mas ela sabia que deveria ser forte; com as costas da mão esquerda delicadamente secou sua bochecha fingindo que nada havia acontecido. Agora sem tirar os olhos do chão, mordeu o lábio inferior e pediu para Josh prosseguir. Ele olhou para ela preocupado, e por um instante pensou em por a mão em seu ombro para aconchega-la, mas com um gesto de mão pequeno, Leah o impediu de se aproximar dela, como se ela soubesse o que ele queria fazer.

–Então – Josh continuou, sentando-se em um dos bancos em frente ao balcão de granito cinza; mais escuro do que Leah achava bonito para uma copa tão delicada quanto aquela –, sua mãe criou você totalmente escondida dos Anjos, mas eles nunca pararam de procura-las. Queria muito dizer que sua mãe deve estar bem, mas provavelmente não está. Ainda bem que Richard te ajudou – Rick estava para corrigir o Anjo a não chama-lo de Richard, mas não o fez – você teria morrido.

–É – interrompeu a garota –, mas agora minha mãe está em perigo. Talvez se eu tivesse ficado em casa...

–Vocês duas estariam mortas agora – falou Rick, gesticulando extravagantemente – sua mãe pode... Sua mãe com certeza está sofrendo nas mãos dos Anjos e Arcanjos. Mas ela ainda está viva, sabe se virar, e tem como ser salva. Se você fosse pega eles teriam matado as duas.

–Está bem, está bem. Mas, afinal, porque é proibido seres celestiais terem relações amorosas com outros seres? – perguntou Leah, olhando para Rick.

–Somos “inferiores” a eles. – Rick respondeu sem rodeios.

–Ah. – Leah pensou e pensou, decidiu finalmente perguntar: - Eu sou filha de Anja com o que? Digo, minha mãe se apaixonou por qual ser?

Fez um silêncio que demorou mais do que Leah esperava. Rick e Josh trocaram olhares o tempo todo, como se comunicassem assim, e estivessem dizendo “quem conta para ela? Eu ou você?”. Ela sabia que havia algo errado. Foi quando Josh começou:

–Ninguém sabe.


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