Fogo Demoníaco escrita por Fallen Angel


Capítulo 7
Capítulo VII




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Já eram 5:48 da madrugada, aqueles três adolescentes na cozinha de uma casa de família seria algo tão comum, se não fosse pelo assunto tão estranho que estavam conversando. Eles se entreolharam, e logo em seguida Rick pegou a mão de Leah. Ela parecia entorpecida, e não sentiu o seu toque, muito menos ouviu o que ele disse. Josh se aproximou dela, e chamou seu nome, então ela disse:

–Vocês não têm a menor ideia do que eu seja?

–A gente imagina que você seja filha de Anja com humano – disse Rick soltando a mão dela –, pois losts têm poderesinimagináveis, e se até agora você não demonstrou nenhum poder então, só pode ser filha de um humano.

Losts? – Leah olhou para Rick.

–Filhos de Anjos com Demônios. São chamados de losts – Rick se levantou da cadeira e foi em direção a pia, pegou um copo e bebeu da água da torneira.

–“Perdidos”; aqueles que não têm salvação devem ser mortos pelas mãos dos Celestiais. – disse Josh como se estivesse recitando algo que havia decorado.

–Agora nós precisamos ir. Não ficaremos seguros na minha casa para sempre. – disse Rick.

Mal disse isso, e alguém arrombou a porta. Entrou uma mulher altíssima, e com um corpo escultural. Curvas nos lugares certos. Ela usava uma jaqueta de couro branco com uma regata também branca por baixo, que só marcava mais o seu corpo. Uma calça que parecia de lycra, mas que dava para perceber que era de uma material mais resistente, e um salto de no mínimo 16 incríveis centímetros. Além de seu belo cabelo ruivo natural, ela tinha heterocromia; um olho era azul e o outro era castanho escuro. Segurava uma lâmina que brilhava tanto que cegava. E com um andar sensual veio em direção dos três jovens.

Rick pegou a mão de Leah e puxou-a para se levantar e vir para perto dele.

–Vai ter que pagar por uma porta nova moça. Minha mãe não vai gostar nadinha disso. – Caçoou Rick com um sorrisinho torto charmoso.

–Quieto Elfo! – a voz era tão potente que vibrou o chão e as paredes. – Vim aqui por causa da sua nova amiguinha, Josh. Essa daí que você se encarregou de matar, e agora está batendo um papo e até salvou a vida dela.

–O que você quer Angélica? Diga logo e vá embora. Você não tem nada haver com isso. – disse Josh.

–Josh, você sabe que deve mata-la. O chefe não vai gostar nada disso, mate-a e vamos embora. – a voz da Anja agora tinha um tom de súplica e não mais fazia o chão tremer.

–Então mande ele pessoalmente vir atrás de mim e da garota. Eu não vou embora. Vou ajuda-la nem que pra isso tenha que dar a minha vida.

–Você que sabe... – a Anja havia ficado decepcionada, então deu alguns passos e se aproximou de Josh. Deu-lhe um abraço e em seguida beijou-o. Não um beijinho simples na bochecha; beijou os lábios dele por longos segundos. Leah olhou para Rick que não tirou os olhos dos dois a sua frente, e depois abaixou a cabeça e fechou os olhos; sem saber por que aquele beijo a incomodou. Angélica passou os dedos pelos cabelos de Josh e em seguida o beijo acabou. Josh ainda estava sério, porém a Anja estava triste. Ela segurou sua mão e foi soltando levemente enquanto foi andando em direção à saída.

–Pensei que viria comigo – continuou ela –, mas preferiu à humana. – Finalizou, e como por magia, simplesmente sumiu.

–Ei, e a porta? Poderia ter se “teletransportado” para entrar também, né! – disse Rick, fazendo cara de bravo.

Leah sorriu olhando para ele, mas depois reparou que Josh havia se sentado. Estava com um rosto tão triste, mas mesmo assim olhou para Leah abriu um sorriso torto.

–Sabe o quanto é difícil – disse ele – você abandonar a sua família, amigos e amores por alguém que você mau conhece?

–Por que você fez isso? Não precisava ter feito isso, vá com ela. – disse Leah.

–Você pode mudar o mundo Leah! Apenas ainda não sabe disso. Agora vamos. Se Angélica sabe onde estamos, os Arcanjos não devem estar longe. – Josh acabou com a conversa. Ele sabia que para Angélica era fácil acha-lo, conseguia senti-lo, pois os dois tinham uma ligação, mesmo que para ela essa ligação fosse mais forte, Angélica nunca desistia de conquistar Josh.

Ele não a amava como ela o amava.

Eles saíram da casa de Rick e caminharam por algumas ruas às 6:23 da manhã. O sol já estava nascendo, e aquele amanhecer estava diferente para Leah. Ela olhava para aquele pequeno fio de claridade distante, e via que algo mudara. Seja lá para onde eles estavam indo Leah temia pelo que poderia acontecer no caminho. Sua vida nunca mais seria a mesma. Aquele sábado que poderia ter sido um encontro normal com o garoto mais popular da escola, algo que toda menina sonharia, se tornou um dia assustador.

Sua cabeça estava cheia de tudo o que havia acontecido desde então: os Anjos atrás dela, os cortes que havia no seu lado esquerdo e que deixariam cicatrizes horríveis, sua mãe desaparecida, a descoberta de que ela não era totalmente humana, e até o beijo de Josh a estava incomodando.

–Você era namorado da Angélica? – perguntou Leah para Josh, para quebrar o silêncio.

–Não, mas ela sempre me amou. Eu que nunca fui de gostar de ninguém além de eu mesmo. – respondeu.

–Você tem uma amiga e tanto, hein... Mas você pareceu bem triste por ter de deixa-la.

–E eu estava... Estou triste. Mas porque ela sempre foi muito especial para mim.

–Porque você não me matou?

–Porque eu acho que é errado matar alguém só por causa da mistura de raças. Afinal você é só filha de uma Anja com um indivíduo desconhecido. É como a miscigenação de raças entre os humanos: branco, negro, japoneses, etc... Não faz sentido todo esse alarde.

–De qualquer forma, obrigado. – Leah enrolou uma mecha de cabelo no dedo indicador e rosou de vergonha.

–O que é isso! É um prazer ajudar uma garota tão linda. – Ele riu e piscou para ela, o que só a fez ficar mais envergonhada e vermelha.

–Então gente, sei que tá rolando um clima aí e tal... MAS EU AINDA ESTOU AQUI! – berrou Rick.

–Não está rolando clima nenhum. E... – começou Leah, mas logo foi interrompida por Josh.

–Esquece isso Leah. Relaxa, Elfo. Não estou dando em cima da sua garota.

–Eu não sou garota dele Josh!

–Não me chame de Elfo. É Rick! E ela não é minha garota!

–Nossa, até parecem que não sabem brincar. – Josh esbugalhou os olhos como se estivesse inconformado – Vamos andando e chega de discussão.

Andaram por uns vinte minutos, passando por avenidas e estradas não muito movimentadas. Ficou um silêncio constrangedor, mas que nenhum deles cogitou quebrar.

Chegaram a um posto de gasolina integrado a uma lojinha, e então entraram. Rick se encarregou de comprar algo para todos comerem e Josh foi falar com um “amigo” que, disse ele, trabalhava naquele posto. Enquanto isso, Leah ficou apenas imaginando se Anjos se alimentavam de hambúrguer e fritas assim como os humanos. Rick voltou mais rápido que Josh. Tinha em mãos duas latas de refrigerante, bolinhos e um pacote de salgadinho. Leah pensou em fazer um comentário como “que alimentação nutritiva!”, mas estava com tanta fome que resolveu não questionar.

Se alimentando de salgadinho e refrigerante, Leah pensou em sua mãe. Será que ela estaria bem ou, pelo menos, viva? Foi aí que uma onda de preocupação a invadiu por completo. Decidiu que não iria abandonar sua mãe independente do que poderia acontecer consigo mesma. Madeleine fez de tudo para protegê-la, e agora estava na hora de Leah fazer o mesmo por ela. Tomou um gole do refrigerante; estava quente. Fez um careta.

Rick olhou para ela, e tirou uma mecha de cabelo que havia caído em seus olhos. Leah colocou a mão dentro do bolso do jeans e tirou um celular e um pompom. Deixou o celular no colo e usou o pompom para amarrar o cabelo num rabo-de-cavalo desajeitado, que destacou seus olhos. Pegou mais um pouco de salgadinho e colocou na boca. Ouviu Rick sussurrar algo parecido com “você é linda”, mas não teve certeza disso, e não quis saber se foi realmente isso que ele disse. Mais uma vez corou.

Josh apareceu segurando um refrigerante em uma mão e na outra uma chave. Parecia ser a chave de um carro.

–Alguém aí sabe dirigir e é maior de idade? – disse Josh, exibindo a chave e balançando-a.

–Brincadeira que você conseguiu um carro? – exclamou Rick super animado.

–Bom – começou Josh –, Não é AQUEEEELE carro – ele fez questão de dar bastante ênfase no “aquele” –, é um Corsa 1.4 Premium. Não corre como uma Ferrari, mas vai servir para nós.

Rick abriu um sorriso, levantou e pegou a chave da mão de Josh.

–2008? –Rick perguntou, já sabendo a resposta.

–Sim. Você é maior de idade? – Josh disse. Com um aceno de cabeça Rick afirmou, e foi andando em direção ao estacionamento ao lado do posto de gasolina. – É aquele carro ali. – disse Josh apontando para o Corsa prata.

Rick apertou o botão de alarme na chave, e abriu a porta do carro. Leah estava apenas seguindo os dois com o salgadinho e os refrigerantes. Rick entrou se sentando no banco do motorista. Leah sentou atrás e Josh no banco do carona. O motorista colocou a chave na ignição do carro e girou, fazendo o motor roncar. Rick perguntou “vamos embora?” e Josh e Leah responderam em uníssono um “sim”.

***

Pegaram a estrada. Leah já havia terminado o salgadinho e o refrigerante, agora estava olhando para fora da janela do carro. Havia muitas árvores agora onde eles estavam e era uma paisagem linda para se admirar.

Rick ligou o rádio e foi mudando de estação tão rápido que Leah nem podia descobrir que músicas estavam tocando, deduziu que ele estava procurando uma rádio ou uma música em particular. Parou assim que ouviu uma voz dizendo “will you stay?”, e já cantou junto. Leah demorou um pouco pra reconhecer que música era, mas assim que começou o refrão ela soube. “How do I live without the ones I love?” dizia a música. Leah logo se entregou a cantar junto. Josh aumentou o volume e cantou também. “I have so much to say, but you’re so far away”… Todos cantaram juntos até o fim da música. Depois que eles desligaram o rádio Leah encostou a cabeça no vidro do carro, e dormiu.

Dessa vez o sonho não se repetiu, mas sim, continuou da onde tinha parado.

Rick estava lá, parado olhando para ela. Sem dizer uma palavra ela sentiu o que ele queria falar. “Descubra quem você é, haja o que houver” era uma voz na mente dela. Então, ela viu sua mãe... Tentava chamar pelo seu nome, mas nenhum som saía de sua boca. Foi tudo muito rápido. Sua mãe veio até ela e em um toque leve passou a mão em sua bochecha. “Confie no Josh” ela dizia mentalmente “eu o mandei para cuidar de você”. Mãe... Josh apareceu, só que agora ele estava com suas asas abertas. Cada asa parecia ter um metro e meio. Elas emanavam um calor aconchegante, e eram incrivelmente lindas, assim como ele, e suas penas estavam em chamas. Ele cobriu Leah com as asas, e apesar de ainda ouvir o crepitar das brasas ela não foi queimada, mas sim acolhida.

***

–Para onde nós vamos agora, Senhor Anjo? – sussurrou Rick, com medo de acordar Leah.

O que eu não faria para saber com o que ela está sonhando, pensou Josh.

–Eu também não sei. Estamos vagando apenas para impedir que os Anjos peguem-na, mas... – ele se interrompeu.

–Mas...? – incentivou o Elfo.

–Mas eu estava pensando e... Se os Anjos quisessem, já teriam pego ela. Aquele Anjo com quem eu lutei já deveria ter contado para alguém que havia me encontrado – Pausa – Acho que tem algo errado.

–Você acha? – Ele elevou o tom de voz se esquecendo de que Leah estava dormindo, e depois retomou – Para mim tudo isso está me cheirando mau. E por falar em ter algo errado, quem é que vai reconstruir a parte da minha casa que a sua amiguinha fez o favor de destruir?

–Cara, temos outras prioridades agora.

–O.K. Mas eu vou cobrar! – Pausa longa demais – Você tem uns amigos um tanto exóticos hein. Primeiro aquela gata que apareceu na minha casa destruiu tudo, inclusive seu coração – Josh se virou para ele com um olhar de repreensão, deu uma risadinha e voltou a olhar para frente – e agora esse cara que te deu o carro! Afinal, porque ele te deu o carro e o que ele é?

–O conheço desde que me entendo por Anjo. Ele é meu meio irmão por parte de pai. Meu pai nunca foi uma pessoa muito fiel, ele sempre teve um harém, muitas esposas e filhos. Eu sou o do meio até agora, mas os filhos não param de nascer. – ele riu e mordeu o lábio – Enfim, Erik é o meu meio irmão mais chegado. Ele veio para a Terra quando eu tinha apenas 14 anos.

–Então, vocês Anjos, moram no... Paraíso?

–Não necessariamente. Nós vivemos em um lugar muito bonito acimas das nuvens e abaixo do céu. Mas quando crescemos acabamos passando mais tempo aqui em baixo do que lá. Erik, por exemplo, acabou se adaptando a vida aqui.

–Vocês têm asas? Tipo, vocês têm asas igual nós imaginamos, penas e tal... – Rick revezava o olhar entre a estrada e Josh.

–Sim – ele riu – Nós temos asas com penas e tal. Mas quando estamos aqui na Terra, a menos que queiramos, elas não são visíveis para todos. Os humanos não sabem realmente da nossa existência; alguns acreditam, outros não. Mas querendo ou não sempre estamos aqui por perto. – ele suspirou e então: - Espera. Eu conheço esse lugar. Estamos perto...

–Perto do que? – indagou Rick.

–Vira a primeira esquerda e depois a segunda direita. Sei o lugar perfeito para irmos.


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