Segui para a faculdade tensa. Ainda me arrepiava inteira ao lembrar o ser do espelho sussurrando o aviso misterioso. Além disso, ainda havia o aviso de Helena, o que era mais intrigante. Será que o "incidente" à noite estaria diretamente ligado ao seu aviso?

Ao ver Steve, Claire e Sara parados no corredor, presumi que já soubessem do ocorrido.

– Quer dizer que já tem outro fantasma? - Claire foi sucinta; direto ao ponto.

– Valerie tem uma marca no pulso. - contou Steve. - E provavelmente significa algo importante.

– Agora que Natasha e Annie se foram, não sei quem mais poderia ser. - disse, sincera. É como se meu cérebro não tivesse processado muito bem os acontecimentos, ou tudo simplesmente tinha sumido da minha memória quando saí de Scarabas.

– Talvez é porque você morreu. - Sara falou um pouco alto demais, o que fez algumas pessoas olharem pra nós. Então ela sussurrou - Você alterou a ordem natural das coisas, Valerie. Vai ver é uma centelha do que ficou pra trás.

O sinal tocou, fazendo com que o corredor se inundasse de pessoas. Era difícil pensar que éramos os únicos ali com um segredo sobrenatural.

–Bem...vamos para a aula. - Claire suspirou e se despediu, e seguiu para a sua aula; assim como Steve, que me deu um beijo rápido e seguiu junto dela.

Segui para a aula de História da Arte ao lado de Sara. Vários cartazes estavam pregados pelos armários anunciando alguma festa. Sentei com Sara bem ao lado de Vivian, que me cumprimentou educadamente. Em seguida, me deu um panfleto da tal festa.

– Se quiser, pode ir - disse ela, sorridente. - É uma festa antes do Halloween oficial, daqui a duas semanas. Para receber os calouros. É hoje à noite.

– Ah...obrigada. Eu vou ver. - respondi.

Ela deu risinhos com a colega do lado. Nisso, Sara tomou o panfleto das minhas mãos.

– É impressão minha, ou Vivian Tolds está tentando ser sua amiga? - disse ela.

– Não sei se vamos nessa festa - falei. - Ela pode estar aprontando alguma.

– "Pré-festa de Halloween" - ela leu o panfleto. - "Para recepção dos calouros." - e bufou. - Pra quê isso?

– Quer saber? - eu tomei o panfleto. - Acho que vamos.

– Por quê? - ela quis saber.

– Porque é uma boa hora para um fantasma aparecer.

Quando me virei pra guardar o panfleto na bolsa, me deparei com um par de olhos verdes me olhando. Ele percebeu e sorriu. Era um rapaz de cabelos castanho-claros desgrenhados.

– Quem é ele? - perguntei à Sara, que se virou e sorriu.

– Mark Damys. - respondeu ela. - Ele tá de olho em você desde que chegou aqui.

– Ele parece... - murmurei, fazendo muxoxo. Quando fui olhá-lo novamente, senti uma pontada na cabeça de repente. - Ai! - gemi.

– O que foi? - Sara se preocupou.

Minha visão embaçava e eu me senti tonta. Involuntariamente, me levantei da cadeira e o sinal tocou. Enquanto todos saíam, avistei uma figura se destacar entre os outros.

Era uma garota vestida totalmente de preto. Ela me olhava fixamente; e tive medo desse olhar. A dor de cabeça aumentou até que tive que fechar os olhos.

Vou fazê-la pagar! Vou tirar tudo de você!

Quando abri os olhos, ela não estava mais lá.

– Alice Blake! - eu falei alto.

– Você está bem? - disse o rapaz ao meu lado, Mark Damys. Ele arqueou uma sobrancelha. - Quem é Alice?

– Obrigada. - agradeci quando ele me ajudou, mas ignorei a pergunta.

– Hmm. - ele fez muxoxo. - Você tá pálida. Deveria ir na enfermaria.

– Ah, não. - respondi. - Foi só um mal estar.

– Tudo bem - ele deu um sorriso amarelo. - Sou Mark Damys. E você deve ser a Valerie, certo? Vai à festa hoje à noite?

– Talvez sim. - respondi rápido.

– Então, acho que a gente se vê lá. - ele se despediu e seguiu pelo corredor.

Sara apareceu boquiaberta.

– Alguém pode me dizer o que foi isso?

– Não sei dizer, mas eu vi algo, Sara - disse. - Acho que me lembrei de quem estávamos esquecendo e da qual deveríamos ter medo.

Alice Blake.

...[...]...

– Não é possível! Ela morreu!

– É, mas ninguém garante que ficou por lá.

– Meninas, vamos logo! - berrou Steve, batendo na porta.

Estávamos terminando de nos arrumar para a festa. Dando uns retoques finais, me despedi de Lila, que ficaria no apartamento.

Não era complicado entender que Alice Blake estava de volta. Ela era uma caça-fantasma que havia aparecido misteriosamente em Scarabas quando já estava perto de desmascarar a Vingativa. Foi aí que tudo se complicou. Ela odiava fantasmas e queria acabar com todos eles. Mas, numa tentativa estúpida de me vencer, ela morreu.

E, é claro, parece que não seguiu em frente.

E se tornou o que mais odiava.

E viria atrás de mim.

– O que acha que ela quer? - Claire quis saber.

– Me destruir, é claro. - respondi.

– Vamos esperar um sinal. - propôs Steve, dirigindo até a festa.

A universidade já estava repleta de carros quando chegamos. Várias luzes piscavam, e a música agitada era contagiante.

Música: Glad You Came - The Wanted

Alguns casais já se pegavam ali mesmo, enquanto outros bebiam e dançavam e conversavam. Logo vi a figura de Vivian, em um vestido justo cor de vinho. O ginásio estava todo decorado e chamativo.

– Hey, vocês vieram! - Vivian apareceu animada. Animada demais, até. Talvez fosse o efeito da vodca que ela segurava. - Oi, Steve! - ela acenou alegremente pra ele e saiu em seguida.

Franzi o cenho e olhei para Steve, que levantou as mãos.

– Vamos curtir! - Claire tomou a mão de Sara, e as duas se misturaram.

– Vou pegar uma bebida. - Steve se dirigiu às mesas, me deixando por um momento.

– Você está bonita.

Mark estava atrás de mim e segurava um copo na mão.

– Não sabia que bebidas eram liberadas aqui. - falei.

– Ah, sabe como é. - disse ele, e sorriu. - Não se preocupe comigo; é só coquetel. Seus amigos te abandonaram?

– Ela está comigo. - Steve apareceu segurando dois copos, e parecia querer esmagá-los.

Mark olhou dele pra mim.

– Não sabia que tinha companhia.

– Eu sou o namorado dela. - Steve enfatizou. - E quem é você?

– Steve! - eu o repreendi.

Mark pareceu ter se ofendido.

– Valerie e eu somos colegas. - ele cerrou os olhos e a tensão no ambiente cresceu.

– Acho que...a Claire tá chamando a gente, Steve. Vamos? - comecei a puxá-lo pelo braço e diminuir a distância entre os dois.

Olhei para trás novamente, e vi que Mark continuava a nos olhar fixamente. De repente, o copo que segurava se quebrou.

– O que foi aquilo? Vocês iam mesmo brigar? - eu disse.

– Ele estava dando em cima de você. - justificou ele.

– Mas eu não estava correspondendo. - aleguei.

Steve balançou a cabeça.

– Não confio naquele cara, ok? - ele suspirou. - Vou dar uma volta.

– Steve! - eu o chamei, mas ele não voltou.

– Homens...tão incompreensíveis. - disse Vivian, parada ao meu lado.

Quando não disse nada, ela continuou:

– Ele parece tão apaixonado por você...queria que um homem gostasse de mim assim - ela olhou para Steve do outro lado conversando com colegas, com um pouco de luxúria nos olhos. - Sabe, devia cuidar dele, Valerie. Um homem desses eu pegaria assim. - e estalou os dedos.

Olhei pra ela sem acreditar.

– O que está insinuando com isso? Está dizendo que quer roubar meu namorado?

Ela me olhou e riu.

– É melhor se cuidar, Valerie. Soube de certas coisas que fez nas férias... - ela fez muxoxo.

Eu peguei no braço dela; séria.

– Do que está falando?

– Você é esquisita. - disse ela. - Eu sei que é. E vou desmascarar você pra todo mundo. - e saiu em seguida.

Eu não queria acreditar. Mal havia iniciado a universidade e já ganhara uma inimiga. Como ela havia descoberto isso? O quanto deveria saber? Quem teria lhe contado?

– Claire. - eu me aproximei dela na pista. - Tem alguma coisa errada. Vivian me ameaçou dizendo que sabe sobre o que aconteceu em Scarabas.

Ela me olhou incrédula.

– E você acreditou nela? Valerie, ela só quer te intimidar.

– Não sei não - continuei. - Ela pareceu muito segura. Eu...vou atrás dela. Ela vai ter que me dizer quem contou.

Assenti e fui atrás da víbora. Por um segundo, queria que Natasha estivesse ali. Ela saberia me ajudar e me dizer o que fazer. Ninguém poderia saber sobre o acontecimento na terra da Vingativa.

– Vivian! - eu a chamei, indo na direção dos banheiros. Os corredores ali formavam uma espécie de labirinto e parei. Se eu fosse adiante, poderia acabar me perdendo. Então, decidi voltar.

De repente, todas as luzes se apagaram e a música parou. Fiquei no completo escuro e sem nenhum senso de direção. Procurei tatear algum apoio enquanto escutava o murmúrio da festa.

– Me desculpe! - sibilei quando topei em alguém alto e forte. - Steve? - deduzi.

– Valerie? - era a voz de Mark.

– Mark! - me senti aliviada. Ele me ajudaria a sair. - O que aconteceu?

– Parece que a energia faltou. - explicou ele. - Anda, vem.

Pelas vozes das pessoas, devíamos estar no meio da pista depois de caminhar um pouco. Devia encontrar uma maneira de encontrar os outros.

– Valerie! - escutei a voz de Steve me chamar.

– Aqui! - respondi, desajeitadamente indo até ele.

– Onde estava? - ele quis saber, me segurando pelos ombros. - E como veio até aqui no escuro?

– Mark me encontrou no banheiro. - respondi.

– Foi sorte eu estar lá. - Mark disse, e pude sentir a ironia na sua voz.

Nesse momento, ouviu-se um forte grito vindo dos fundos. Algumas pessoas se guiaram pelas luzes de seus celulares e os seguimos. Todos estavam apreensivos e com medo. E se fosse algum tipo de ladrão ou psicopata?

Uma garota veio correndo do banheiro chorando aos prantos.

– Rápido! - berrou ela. - É a Vivian! Ela foi atacada!

Arquejamos, e corremos na direção indicada para achar Vivian jogada no chão com ferimentos e arranhões, além de tremer e estar totalmente descabelada.

– Quem fez isso com você? - alguém perguntou.

Através das poucas luzes que a iluminavam, Vivian apontou com um dedo trêmulo.

– Foi...a Valerie.

Não!