Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 56
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

"E mesmo com toda minha aversão momentânea para com ele, me veria sem outra saída senão aceitá-la."

É chato postar um capítulo desses bem entre Natal e Ano Novo se tem nuvens pesadas fechando o tempo para a galera de MoE u.u Esse é o último combo da temporada, penúltimo e complicado capítulo.
Trilha da Alexz Johnson pra acompanhar.

Enjoy.



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– Como você está?

Quando a desgraça vem, infelizmente não é pouca, afirmo pra mim quando me sinto gelada e altamente observada por aqueles de quem mais queria distância. Só que na hora que passei mal, não tive muitas chances de me afastar se fui deixada num auditório enquanto colegas procuravam meus companheiros naquele coquetel. E lá Sávio havia permanecido, e outro não demorou muito a aparecer.

Estava tudo nas ordens no final do evento acadêmico, fomos bem sucedidos, pegamos certificados após umas filas de entrega, conversamos mais com alguns professores que lá encontramos, galera se dispersou por um momento, depois nos reencontramos e decidimos que ficaríamos para o coquetel aberto aos alunos. Era uma festa do departamento, com célebres convidados, num salão de atividades que havia no prédio, perto dos auditórios, um pouco pomposo até.

Entremeados aos alunos, tanto da casa quanto os de fora, esses convidados, além dos professores e gente do departamento de Administração, pareciam mais dispersos em suas rodinhas de conversa. Apesar da citada pompa, as pessoas todas se integravam de uma maneira boa, sem preconceitos – cá entre nós, essas festividades sempre são fechadas, então me surpreendeu muito.

Muitos de nós, alunos, estávamos cansados, mas ficamos por lá por ser tão inédito esse episódio. Quer dizer, quando veríamos isso de novo? Até os monitores descansavam! Eu não tive esse privilégio todo no último evento acadêmico que participei, sugaram nossas vidas e isso porque não chegou a ser algo de tamanho porte. Eles tinham patrocinadores grandes, afinal. Com direito a comes e bebes, além de música ambiente.

E minto em dizer que isso era uma boa economia? Num minto, porque já havíamos gastado muito nessa viagem. Praticamente pra piscar a gente até pagava, isso sem falar dos passeios e presentes – sim, eu lembrei de comprar algo pra peste do meu irmão, senão ia ser um falatório sem fim.

Por falar em peste, ele e Vinícius estavam muito calados após me mandarem mensagem sobre o jantar com professor Carvalho. Só me disseram que Renato havia chegado, nada mais depois. Respondi que estava na festa de encerramento.

Mas por agora eu queria estar debaixo da asa de um deles. Ou dos dois.

Trilha indicada: Alexz Johnson – How I Feel

[00:36]

Did you just waste your breath?

Asking me how I feel today

Or do you really want to know?

Você desperdiçou mesmo sua fôlego?

Me perguntando como me sinto hoje

Ou você realmente queria saber?

Tento puxar o ar novamente conforme Sávio se aproxima demais de mim. Sentados nas cadeiras da primeira fileira de um auditório qualquer que me enfiaram, ele luta por me acalmar. Infelizmente, não há como se todo o meu corpo parece tremer.

I'm completely unconnected

Constantly rejected

Like everything I've ever loved is coming down

I'm drowning in emotion

In the middle of the ocean

Never knowing when it's over and I'm going down

That's how I feel

Estou completamente desconectada

Constantemente rejeitada

Como se tudo que já amei estivesse caindo

Estou me afogando na emoção

Bem no meio do oceano

Nunca sabendo quando vai acabar e me afundo

É assim que me sinto

Como eu me sinto?

Fraca. Desorientada. Afundada em velhas questões.

Jogada ao relento, como a sobrevivente da batalha que foi deixada para trás, de olhos duros, sem força, pensando demais, se esforçando de menos. E só há chão debaixo de mim.

Não há nada a minha frente senão meus velhos pensamentos de encontro aos novos. Aquilo que nunca cedi, o peso que nunca larguei e por isso caiu por cima de mim. Desgastada, mal respirava, já que não havia forças suficientes para mover aquilo de cima. Então só ficava lá, me barrando.

E eu vulnerável a qualquer observador, exposta.

É como me sinto.

I know I signed up for this game

When everybody knows my name

Now they own a little piece of me

My happiness fell off the track

And I'd do anything to get it back

Give this all, I'd give this all away

Did you just waste your breath?

Asking me how I feel today

Is that a place you wanna go?

I'm completely unconnected

Constantly rejected

Like everything I've ever loved is coming down

I'm drowning in emotion

In the middle of the ocean

Never knowing when it's over and I'm going down

Sei que me inscrevi pra esse jogo

quando todos me conheciam pelo nome

agora eles têm um pedaço de mim

Minha felicidade caiu do caminhão

E eu faria qualquer coisa pra consegui-la de volta

Dar meu tudo, daria tudo

Você desperdiçou mesmo sua fôlego?

Me perguntando como me sinto hoje

É onde você quer mesmo chegar?

Pois estou completamente desconectada

Constantemente rejeitada

Como se tudo que já amei estivesse caindo

Estou me afogando na emoção

Bem no meio do oceano

Nunca sabendo quando vai acabar e me afundo

– Lena, você tá gelada.

Não, minha alma tá gelada.

Tão fria que nem sobre o toque de Sávio em minhas mãos eu o rejeito como deveria, já que não estamos sob os olhos dos outros. Me sinto presa em mim mesma sem chance de saída, e essa mão na minha pra mim repercutiu mais ainda, por eu ter de aceitá-la ante ao desastre. Não queria estar tão assim se nem nele eu podia confiar mais ou buscar alguma proteção.

Proteção.

Pudesse eu me afundar nos braços de Murilo ou mesmo nos de Vinícius, sem o pesar de dar-lhes conhecimento sobre o que era tudo aquilo, até poder voltar ao normal. Fungo um pouco, pisco para dispersar as lágrimas, curvo em mim mesma, sentada, não encaro nada senão minha própria situação.

Meu próprio buraco. Mesmo após anos, lá estava eu estatelada, perdida, guardando toda a dor. Fracassei novamente. Não fui forte o bastante.

Estava sozinha nessa.

Me disperso noutro paralelo, as coisas continuando a passear pela minha mente. Imagens. Lembranças. Coisas que meu consciente tratou de esconder até mesmo de mim, cenas que mal tinha certeza se era comigo ou se meu imaginário arquitetara para contribuir naquele sofrimento.

Como quero respirar, um ar limpo que refresque e sopre tudo isso de volta. Empurre essas cenas para onde estiveram esse tempo todo e lá fiquem. Por minha segurança, mental e emocional.

Then you see me

You say you don't even know me

Couldn't pick me out of the line now

The girl you know is so far-gone

And I'm in hiding

Living life undercover

Smiling face for the camera

And i'm not long for this world

Oh

I'm completely unconnected

Constantly rejected

Like everything I've ever loved is coming down

I'm drowning in emotion

In the middle of the ocean

Never knowing when it's over and I'm going down

That’s how I feel

Then you see me

Say you don't even know me

Então você me vê

Você diz que mal me conhece

Que não pôde colher nenhuma linha de mim

Aquela garota que você conhecia está longe, se foi

E estou me escondendo

Vivendo uma vida sob disfarce

Sorriso na face para a câmera

E não estou longe para o mundo

Oh

Estou completamente desconectada

Constantemente rejeitada

Como se tudo que já amei estivesse caindo

Estou me afogando na emoção

Bem no meio do oceano

Nunca sabendo quando vai acabar e me afundo

É assim que me sinto

Então você me vê

Você diz que mal me reconhece

Mas de nada adiantava, o cérebro de alguma forma queria me forçar a rever tudo, como pane no sistema, era algo que se repetia.

Pelas mil vezes que imaginei esse reencontro, superar o passado, nunca sabia o final. E dessa vez houve um, um não muito agradável, pois novamente Denise provou que havia ganhado.... E em pensar que Murilo havia me pedido tanto para não vir. Por que não o escutei? Por que tinha de me provar? Por que tínhamos que chegar a esse ponto?

Por que eu tinha que esconder?

As coisas se misturavam na minha cabeça, várias perguntas, várias justificativas... desculpas. As vozes eram tantas que mal as distinguia, por sondarem pelo mesmo propósito quase. Vozes de Eric, de Murilo, de Vinícius.

Fora meu orgulho quem me jogara de volta. Me chutara, quer dizer. Fui assim, golpeada, um soco forte no estômago, pois me faltava ar.

Foi assim que me encontraram. Não sei quem foi. Ia cair em algum corredor quando me senti sustentada e então, quando me vi, já estavam me encaminhando para o auditório, não sei como encontraram Sávio de primeira, sabiam que ele era de meu “círculo de amizades” e cá estávamos nós.

Acho que por um momento ele pensa que eu o ignorava ou me afastava dele. Só que do modo que me sinto, ou eu agarro sua mão e me deixo ser puxada de volta ou eu me perco mais no limbo que se encontra minha mente. E estando onde estou, num lugar distante de familiares e minha própria cama, a primeira opção me parece mais viável. Preciso me restabelecer, me maquiar.

Mentir.

Por mais que me doa.

Fungo mais profundo para buscar o ar necessário, aperto a mão do outro na minha, eu pelo menos tinha uma história para vender. A mesma, felizmente, que havia vendido esta manhã mesmo.

– F-foi só... uma queda de pressão, só isso. Eu não... não me alimentei bem.

– Vou buscar algo pra você.

– Não precisa, tô melhorando.

– Mas... precisa de alguma coisa aí. Você tá tão fraca que tá me aceitando e isso me assusta. Lena, você não tá bem, admita.

– Sávio... só tô enjoada.

– Vou ver o que acho, não quero esperar até alguém aparecer. Só não me dê mais sustos, ok?

Meu mano diria algo do tipo.

Por isso instantaneamente fechei os olhos. Senti que uma lágrima desceu, o que prontamente Sávio, em sua funcionalidade de amigo zeloso, ali ao meu lado, fez desaparecer assim que a viu, com um toque leve e carinhoso ao meu rosto.

Doía novamente. Por ser ele quem me assistia e por ter que aceitar sua ajuda. Era como correr, correr, correr e no final sempre ter alguém ali te assistindo querendo fugir, além de descobrir que aquela fuga toda se deu numa esteira.

– Ok.

Então ele apertou minhas mãos e saiu. Mas não demorara muito para vir outra desgraça chutar cachorro quase morto e eu não tinha muitas reservas para me defender. André não via o quão sério era a situação?

Via. E curtia ainda mais por isso mesmo.

~;~

Até um tempo atrás me gabaria do fato de ser boa atriz e fazer direito meu papel. Isso, além de enganar as pessoas – principalmente as mais queridas – significa também eu esconder parte de mim. Que necessita de alguém pra me entender e me falar o certo. Mas quando tenho a chance de rumar isso, travo. Simplesmente travo. E recorro à velha desculpa que me encobria.

Dani foi a primeira a chegar, com Bruno.

– Céus, Mi, te disse pra comer direito!

A hora que levantei a cabeça para vê-la “correr” para mim com sua bota ortopédica, minha mente só ruminava o quão hipócrita eu era, de reclamar sobre as pessoas que me enganavam se eu as enganava também, sabe-se lá se na mesma proporção.

A minha queda de pressão não era por comida ou falta dela. E não era bem uma queda de pressão. Só compactuava com a ideia porque era a melhor opção que tinha. Confirmo ao ralhar de Daniela, sobre estar fraca da TPM. Isso podia ser verdade. Quem iria questionar, afinal?

Flávia.

Tenho que tomar cuidado com Flávia. Embora muitas vezes inocente, ela consegue captar umas coisas de bem longe e, ainda sendo essa “boa atriz”, acho que decaí um pouco desde minhas últimas performances. Desde o caso do professor Bartolomeu ela tem sido mais cuidadosa comigo. Na verdade, todos, mas apenas ela e Gui estavam comigo nessa viagem. E Gui também não fica muito atrás quando ligava o estado de desconfiado.

– É que eu tava um pouco enjoada, preferi não com...

– O que tá sentindo, hein?

Dani, sentada ao meu lado, faz carinho no meu rosto e isso... me conforta. Um pouquinho apenas. Então a culpa se sobrepõe e fico tensa por apenas ter sido sincera com quem menos imaginava. Eu estava tão exposta que acho que não batia bem da cabeça, só podia ser. Pois André me provocara e ele sabia que havia algo muito errado. Eu não neguei.

Após Sávio sair, a porta bateu novamente. Podia ser qualquer pessoa, e quis que fosse quando vi André à minha frente. Ele riu sacana e se sentou. Exatamente na poltrona em que Dani agora está.

– Se sentindo pior, amor?

– Com você aqui, provavelmente.

– Que bom que pude contribuir.

– Você poderia sair?

– Não... Aqui tá bom.

– Você não tem uma mínima decência.

– Nunca disse que tinha alguma. E nem disse provavelmente que... vi tudo. A discussão lá fora, digo. Você já foi melhor, viu, amor. Isso só me prova uma coisa... É algo que te afeta. Não sei o que é, e nem pretendo ir atrás – não que você vá acreditar muito em mim mesmo – só digo uma coisa: você merece. Se eu não pude te prejudicar, que ao menos eu possa dar meus parabéns por alguém fazer isso por mim.

– E realmente fizeram.

Dali em diante tinha pra mim que este seria o único momento de verdade. André não me importunou muito, logo seu celular tocou e saiu dizendo que iria “pegar alguém”. Foi na verdade o choque de realidade de ter me exposto tanto para ele por nada. Mas o que ele poderia fazer, certo? Ele mesmo afirmou que não sabia do que se tratava, assim não representava um perigo a mais. Só um contratempo, talvez.

– Foi só uma tontura. Só queria poder deitar.

– Negativo. Vai se alimentar direito agora. De gente carregável já basta eu com essa bota, ainda que Sávio possa te aguentar.

Nem comento algo sobre Sávio.

– Ok, tomo qualquer coisa. Já podemos ir?

– Ain, você tá tão pálida.

Só me tira daqui, quis gritar.

Por mim essa viagem estava encerrada. Só que pelos outros...

Logo Flávia e Gui apareceram com Sávio. Sob a vista de todos, novamente pegava meu papel, e retomava meu teatro, pois não mais seguraria a mão de Sávio, apenas seguiria o próprio roteiro que tínhamos improvisado. Quer dizer, eu, quem tinha improvisado.

~;~

Nunca poderia imaginar que um dos meus maiores terrores seria de enfrentar minha melhor amiga. Sempre tive comigo que isso era com Murilo, por isso me espanto como isso mudou por esses tempos. Se me dissessem isso ano passado ou mesmo mês passado, teria uma crise de riso quase histérico pela improbabilidade. Já por agora...

Primeiro temi pela ligação que fiz a Murilo. Incrivelmente só me senti relaxar mais quando ouvi a voz do meu mano. E uma constatação sua que me deu um sorriso bobo no meio de tanta bagunça do meu coração:

– Você realmente é quem traz a sanidade pra esse cara.

– O que quer dizer? O jantar foi tão ruim assim?

– Hãaaa... Acho que Vinícius não tava muito preparado pra realidade. Djane tá muito chateada com ele. Acho que até eu tô.

Vish, o caso era sério.

– Como assim, acha? Conta isso direito.

– Não teve gritaria se é o que tá pensando. Vinícius passou o jantar todo calado. E não olhava bonito pro tal Renato. Eu que ficava chutando ele debaixo da mesa, quando não dava um jeito na conversa, porque ele simplesmente deixava quase todos no vácuo. Sério, Mi.

Acho que até eu fico chateada com ele, só preciso primeiro ir à fonte para me certificar que história foi essa. O que tanto tinha na cabeça de Vinícius. E por Murilo ser o apaziguador, aí que sinto o mundo estranho mesmo. Fui parar no país das Maravilhas ou atrás do espelho e ninguém me avisou, é isso. É assustador vê-lo com essas mudanças e é horrível pensar isso dele, não tenho culpa se é inevitável.

– Não acredito que ele fez isso.

– Foi bem péssimo da parte dele. Isso sem falar da hora em que ele simplesmente se retirou, do nada, sem pedir licença ou comunicar algo. Já dei uns toques nele, mas sabe como ele fica. Mamãe tá lá no quarto com ele, Djane se retirou pro dela. Acho que vou lá, checá-la.

– Faz isso. Me manda mensagem depois.

E aí meu irmão... sussurrou. Do modo mais estranho.

– E Mi... acho que tô com medo.

– De Djane?

– Não. De quando Vinícius... descobrir você-sabe-o-quê de Viviane. Sabe como ele fica quando se trata de Filipe. Olha, você tem que voltar logo. É da sanidade dele que tamo falando. E, claro, da minha também. Sinto sua falta. Excessivamente.

Sorri um pouco por ouvir que ele amenizara o tom quando me pediu para voltar. Era aquele sério que não era realmente sério, apesar de seu fundo de verdade. Quis pular todo o nosso espaço e abraçá-lo apertado.

– Logo estarei em casa. Puxando a orelha de vocês.

– Preciso puxar a tua?

– Talvez...

– Que tu já fez?

– Senti um mal-estar hoje por não ter me alimentado bem. Foi besteira. Só que todo mundo fez um alvoroço. Me empurraram tanta coisa que sinto que tô digerindo um boi.

– Bem feito, ninguém mandou ser descuidada. Felizmente você tem gente com quem possa contar. Mesmo de coração apertado por tudo, me conforto mais. E Mi...

– O-oi?

Por que esse inspirar dele no telefone me deu um aperto... estranho? Me pareceu... dolorido. Pelo suspense que se deu dos segundos antes de sua resposta, minha mente folheou diferentes documentos da memória para adivinhar o que poderia ser. Não chegou a tempo de descobrir antes de ele mesmo soltar uma pergunta:

– Aconteceu algo mais?

– O que quer dizer?

– Só queria saber... eu... e-eu senti aquela sensação ruim de novo hoje. Fiquei na dúvida se devia te ligar, achei que você ia considerar isso algum tipo de marcação, então esperei apenas passar.

Engoli minha aflição e mantive a voz firme o máximo que pude, já piscando para que nenhuma lágrima se achasse no direito de descer.

– Passou?

– Acho que sim.

– Da próxima... me liga. Juro que não vou julgar, viu?

Vou reconsiderar essa sensação como aviso. Porque ele me deu todos e ainda assim passei por cima deles, achando que era outra coisa. Tapei-me até praticamente a respiração pra que ele não percebesse que algo havia mesmo acontecido.

– Hum. Ok. Tenho que ir... Beijo. Te amo, maninha.

Abaixei a cabeça, fechei os olhos. Sussurrei de volta.

– E eu te amo, Mu.

Um clique de finalização de ligação se fez, e outro mais de porta sendo fechada. Foi um alerta para outra presença, o que me fez abrir os olhos e sugar o ar não muito indiferente. Percebi que Flávia me sondava. Sua voz calma e suspeita resume uma cautela.

– Você nunca diz isso pro Murilo. Não desse jeito.

Me ajeitei na cama para deitar. Flávia sentou-se na sua dobrando suas roupas usadas para por na mala.

– O que quer dizer?

– Nada, só achei estranho. Na verdade, você tá estranha.

– Eu sou estranha, lembra?

Brinco, sem muito jeito. E então ela para seus movimentos, com a blusa estendida em suas mãos ainda, e soa duvidosa.

– Mais que o usual. Tem algo diferente... Só não sei dizer o que é.

– Tá vendo coisas, Flá.

– Espero que sim.

Ela volta aos seus afazeres de se preparar para dormir, mexe no celular calada, eu puxo meu lençol, achando que aquele seu momento de percepção tinha se esvaído. Me enganei pelo jeito, pois, ao que pareceu, ela levantou o assunto novamente como se estivesse o ruminando em silêncio e então o expressou em razoável tom preocupado.

– É que você só diz isso quando é sério.

Me fiz de desentendida.

– Hum?

– Num sei. Me parece que tem algo faltando, sabe?

– Tá dizendo que tá sentindo falta de algo de suas coisas? Tipo...

Ela termina de fechar a mala a seus pés e me lança um olhar impaciente para minha atitude além. Flávia não comprou minha atuação de sono ou de minha não sacada. O fato é que minha melhor amiga me conhece. Sabe demais. Meus problemas e questões, principalmente a respeito de Murilo, além de minhas próprias técnicas de defesa. Entendo que ela percebeu que eu usava uma dessas na conversa. O que eu realmente fazia. E invisto mais.

– Tá assistindo Gossip Girl demais, viu?

Fico na dúvida se ela “cai”, pois ao mesmo tempo em que parece que sim, parece que não, quando ela aviva um pouco os olhos para uma lembrança súbita. Ela podia muito bem estar me enganando como eu a enganava. Não dava pra saber.

– Isso me lembra que tô atrasada para alguns episódios...

– E eu que nem sei em que temporada parei com The Big Bang Theory?

Nisso ela desligou a luz pelo interruptor ao lado de sua cama, ligou o abajur na cômoda do outro lado e se embrulhou. Daniela foi a primeira a se preparar para deitar, porém, quando Bruno inventou de dar uma passada por aqui, ela acabou saindo com ele. Devem tá por aí pelo hotel se curtindo, o dia seguinte era livre. Ao menos estão felizes, o que me tranquiliza muito. Mas quando olho para Flávia afofando seu travesseiro, de costas para mim, já não sei o que pensar sobre tranquilidade.


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Notas finais do capítulo

Definitivamente ALGO muito muito muito muito muuuuuuuuito sério.
André deu muita dica aí, vcs já tão sacando do que se trata?
Hmmmmmmmmmmm
Mas se não bastasse essa hst de sanidade, saudade... Murilo ainda solta esse comentário sobre um suposto feeeeeeeling pra terminar de matar né?



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