Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 57
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Úuuuuuuuuuuuuuuultimo da temporada. Ai Meu Deus, que eu posso dizer? Nem eu acredito que mais uma temporada se finaliza. Já não disse uma vez que MoE devia ter tido apenas 20 páginas? Seria uma one-shot e... que nada, parece uma história sem fim de tão long-fic que foi hahaha Mas tem fim sim, eu já vi *-* Estou quase terminando de escrever esse fim.
MoE foi pra mim uma trama abraçada, já fez 2 anos (TBM TÔ ASSUSTADA) que tô trabalhando nela e se pudesse esmiuçar o que já aprendi, ia começar a chorar, mas mais por estar tão próximo do fim. E QUE FIM, ouso dizer.

Anyway, vou jajá abrir a temporada final NOUTRA página. Fiquem atentos para a prévia que vou postar pra dar uma aguçada o/

OBRIGADA POR ACOMPANHAREM.

Vcs tbm, fantasminhas.

Emoções fortes, é o que tem pra hoje.
~e certas revelações~

Enjoy!



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O sábado e o domingo passaram por mim como se o relógio do mundo tivesse empacado. Aquela animação toda do começo da semana tinha se esvaído de mim, que ficava muito quieta para qualquer passeio ou voto de opinião. Saí com a galera para não dar bandeira, acompanhava-os praticamente, pois hora e outra escapulia para meus pensamentos e viajava quilômetros sem um destino certo. Vou-me embora para Paságarda, diria meu avô, lá sou amigo do rei. Lá tenho a mulher que eu quero. Na cama que escolherei.

Minha avó tacava-lhe logo um tapa nos ouvidos aos resmungos dele, ralhava com graça e fazia momentânea greve. Eu que não perguntava que tipo de greve era. Ainda era criança para entender o que o poema queria dizer (ou mesmo a greve). E só fui descobrir que era poema depois de muito tempo mais. Como aquele E agora, José?. Não sacava qual era da minha avó de chamar meu vô de José se o nome dele é Luiz. Num era nem próximo!

Mas se meu lugar estava longe, Pasárgada mais ainda. Então não tinha o que fazer senão me deixar levar pelas próximas horas a fio até findar a semana.

Correspondia à agitação dos amigos, no entanto. Mesmo com toda aquela situação que envolveu Bruno e Daniela, eles se mantinham ao nosso grupo sem alvoroços de casal iniciante. Quer dizer, afora uns momentos lá e cá que eram meigos e tudo mais. A primeira vez que “ficaram” na frente de todo mundo, logo após o café-da-manhã no sábado, antes de sairmos, a galera fez toda uma comoção para parabenizá-los. Rendeu palmas, assobios e até um “finalmente” não sei por quem gritado. Ali descobri outros que também torciam por eles nas entocadas. Yuri era um, o que fez Bruno se impressionar um pouco. Eu também, na realidade. Mas foi por ver que Bruno dessa vez foi gentil com o colega de turma de Dani, coisa que não era e não adiantava o quanto eu às vezes lhe apontava.

Gui e Flávia também tinham seus instantes amorosos, isso quando ele não me perturbava. Ele não parava quieto quase nunca, não consegue ficar sem implicar comigo por muito tempo. Saudavelmente, claro. O que não adiantava muita coisa, já que deixávamos Flávia doida. Ele era realmente o primo maluco que nunca tive para brincar. Seu carinho era tão grande que as pessoas o viam como meu irmão quase, nunca como caso amoroso. Talvez pela cara de anjo da coisa, mas que de anjo só mesmo essa cara e os cachos aloirados.

Infelizmente só nos aproximamos mesmo na faculdade. Na escola éramos conhecidos de vista. Ele era tão sério! Nem em mil anos cogitaria essa alma brincalhona que detém, que se atiça ainda pelo sino do sorveteiro ao longe. Revirei os olhos quando me perguntou sugestivamente com suas expressões faciais se eu queria. Dispensei, ele foi atrás. O dia estava quente, mas, em meu íntimo, sabia que aquele doce na minha boca provavelmente se tornaria amargo.

Estávamos num parque arbóreo. Flávia tinha sumido atrás do guia que tinha visto na entrada e os outros estavam espalhados. Caminhando à livre, sentei num banquinho próximo de uma ponte, onde um pintor realizava um trabalho com seu pincel. Eu o observava, compenetrada, a reproduzir a natureza com traços impressionistas. Sabia que eram impressionistas por ter tido muita dificuldade com a matéria de artes plásticas na escola e Eric foi quem me salvara nos estudos.

A tela estava quase finalizada, mas, por mim, olhava através dela como se tivesse num transe. Ouvia novamente a voz de Eric, quem me explicava como era o tipo de pintura, lá nas velhas memórias. As pinceladas, a ideia, a impressão e a expressão. Esses dois últimos eram minhas maiores dúvidas, não conseguia compreender como captar uma luz pudesse ser intrínseco, não extrínseco.

Mas aí que está, a luz que bate em uma superfície revela uma parte de um ser, uma beleza de dentro para fora em determinado encontro de luminosidade, enquanto que não se podia fazer isso com a imagem interior de uma pessoa ou ser. Quer dizer, não há uma luz que vá bater na alma, mas há formas de trazer, à luz do mundo, coisas que guardamos cá conosco. Isso já seria expressionismo.

É confuso mesmo.

Na escola somos forçados a memorizar muita coisa, porém, pelo tempo que nos afastamos dela, pouco nos lembramos do que foi estudado. Eu por exemplo não sei mais nada de plantas ou fotossíntese, coisa que eu penava pra decorar. Ou explicar diferença de comportamentos entre mesopotâmios e... egípcios. Sei nem mais se viveram na mesma época!

Entendo que os educadores querem que tenhamos o máximo de informação base possível, aprender um pouco de cada coisa, só que pegando de pouco em pouco, nossa cabeça se enche fácil. E depois uns bons 70% e provavelmente mais disso tudo se perdem nos nossos arquivos mentais.

A mente é outra que, misteriosamente, guarda coisas ao aleatório parece, pois consigo ainda me lembrar desses detalhes de arte. Inegavelmente isso é impressionante para o ser humano. Mas o que me enternecia mesmo era como estava me sentindo somente por ver através desse pintor e a memória estava no ponto para trazer-me coisas de um passado distante... ou não tão distante. Tudo tornava o quadro mais belo e nostálgico que quase sorria em paz comigo mesma. Só não tinha paz mesmo por uma conhecida voz longínqua constatar que...

Sempre haverá coisas acontecendo.

Ao meu redor então não deixava de acontecer. Não falo das plantas, do farfalhar das árvores, do vento, do lago, dos animais pequenos que fugiam das pessoas, dos turistas que se misturavam à população nativa, nem da natureza respirando. Notei por visão periférica que não mais estava sozinha, Sávio, ali próximo, o velho Sávio acanhado e sem jeito. Que titubeia em se manter presente.

Nada eu falei, permaneci na minha, concentrada, esperando que ele se manifestasse, pois eu não iria dar-lhe atenção se não se aproximasse por si só. Um tempo depois tomou coragem:

– Posso?

Referiu-se a sentar no banco onde eu estava.

– Pode.

E ficamos assim num silêncio, este apenas quebrado pela própria natureza do parque. Não estava incomodada por ele estar ali. Havia muito mais na minha cabeça para me importar com sua simples presença. Mas me surpreendeu um pouco quando começou a falar. Calmo e saudoso.

– Treinei tiro quando entrei no exército. Eu era muito bom...

Me veio à mente que ele era bem mais velho que eu. Uns cinco anos se não me engano. Teve muito tempo para ficar no exército e treinar enquanto eu ainda amadurecia na adolescência, enquanto eu ainda discutia lições de báskara e decorava química inorgânica. Esse homem feito, contudo, nunca me fez sentir criança, me tratava por igual. Chegou ao ponto de beijar-me até, então não me considerava imatura. Principalmente por todas as coisas que disse depois disso.

Mas ser madura não quer dizer ser sensata, e o que me faltava ultimamente era isso. Trocaria meus velhos conhecimentos de arte por mais uns poucos de mundo e senso para enfrentar o que estava logo à minha frente. E aí então pensava que minha complicada vida poderia me resumir numa fórmula matemática, daquelas que tem um longo processo até apresentar uma base final, e todo esse longo percurso ficava oculto, porque realmente ninguém queria saber como se chegava àquela fórmula, só se queria a fórmula, por ser mais fácil de lidar.

Embora minha mente corresse solta com essas reflexões, eu tinha certa atenção em Sávio, entendi que o que comentava sozinho era sobre uma história, que dissera um diria iria me contar, de onde tinha treinado tiros e alvos. No primeiro dia da viagem, tanto no parque de diversões quanto no hotel, enquanto conversávamos, ele sempre deixava o assunto em suspenso. Agora deslizava de si sem qualquer estímulo meu que preferi permanecer quieta.

– Só não pude ficar no quartel por terem dispensado boa parte dos internatos, o governo não tava podendo cobrir tantas despensas na época que me despacharam. Me empenhei em trabalhar e estudar, assim passei num concurso, o que ajudou muito quanto ao... ao tratamento de meu pai. Ele morreu ano passado.

Naquele banco éramos como dois estranhos, apesar do discurso denso dele. Não havia contato visual e estávamos cada um a um extremo. Por empatia talvez, quando menciona a morte do pai é a primeira vez em que viro para ele, mas essa atitude não é recíproca. O que acaba sendo melhor. Enquanto eu estava de pernas cruzadas em forma de meditação ao banco, grudada ao espaldar, ele se mantinha longe deste, curvado sobre si, apoiando os braços sobre as pernas.

– Ficou apenas eu e meu tio praticamente. Foi uma boa terem me transferido de cidade. Não sei o que teria feito se ficasse preso às memórias de lá. Ou o que teria feito da vida se me encontrasse sozinho...

Dessa vez eu respondi.

– Você não é do tipo que fica sozinho por muito tempo.

Muitas turistas passavam próximas nos olhando. Olhando Sávio mais precisamente. E um passarinho ainda calhou de pousar ao lado dele. Até a natureza “parecia” o corresponder. Ele ri sem muito gosto.

– Você sabe o que penso sobre isso.

Retruco sem pensar. E ele se envergonha, sinto.

– Até demais.

– Não foi realmente minha intenção.... Milena.

– Imagine se tivesse sido... Sorry, escapou.

Que porra era essa que eu dizia? Como que não tinha controle sobre o que eu mesma falava? Não sei, era como se o humor negro fosse minha maneira de responder àquilo que ele relatava para que não adentrasse nessa parte da vida dele. Não havia entendido ainda porque ele contava agora, e logo essa história. Eu tinha o respeito ainda, felizmente, de não ser invasiva, ao contrário dele.

– Tudo bem.

– Sinto muito por seu pai.

– Obrigado.

– Não vou te abraçar, você sabe.

– Sei.

Pensei por um momento que ele mencionaria aquele caso, aquele que ficava em suspenso também desde o começo do ano, que envolvia André. Sinto que existe algo ali, que nunca pôde me contar. Seria sério? Ele sabe muito bem que tenho noção dessa existência por mais que me desse umas desculpas. Era essa a enganação que citei naquela nossa conversa definitiva.

Ao perceber que haveria mais silêncio se prolongando, vi que a enganação não teria seu espaço de esclarecimento agora. Não seria nesse capítulo de conversa e não seria eu quem iria atrás de folhear essas páginas para descobrir. Pois se assim queria deixar as coisas, eu também não faria nada a respeito.

No fundo, no fundo, queria eu que também ninguém se desse conta de fazer algo a respeito sobre o que realmente aconteceu, o que houve entre mim e Denise. Não que tivesse tido alguma testemunha além de André, mas, sentindo um pouco a falta de Sávio, tratei de continuar a conversa. Picotando uma folha amarelada que voou para meu colo, optei pelo banal, em decorrência do assunto que ele mesmo havia levantado.

– Aprendi no paintball. Sem drama.

– Parece divertido.

– Você devia tentar algum dia. Sua mira continua boa.

– A sua também. Quem sabe.

Me remexi mais ajeitando minha bolsa ao colo. Lá vi um chaveiro que me piscou certa ironia. Era um chaveiro que Dani havia me presenteado no ano passado, que continha um canivete, para o caso de alguém me ameaçar e eu ter uma defesa de pronta ação. Se eu não pude sequer levantar a mão para um soco ou tabefe, como poderia sacar um canivete? Ele acabou por se tornar apenas um adorno e nada mais mesmo.

Se bem que se eu tivesse o puxado para Sávio, ainda naquela sala de aula que conversamos, isso dimensionaria mais minha decepção. E de camadas dela eu já estava cheia. Sem falar das evidências.

Enquanto mexia no canivete ao meu mundo particular, o outro se fez ouvido mais uma vez. Soava triste e impotente.

Pois não havia nada que pudesse fazer para melhorar.

– Não vamos mais ser os mesmos, não é?

Foi o que havia dito para ele. Só que talvez só agora tenha lhe caído a ficha.

Mas me chuto mentalmente por sentir falta sua também.

– Não, não seremos.

Suspirou, cansado.

– Valeu a tentativa.

Não ficamos sozinhos por muito tempo, logo Flávia voltou, Gui reapareceu, Dani trotava de volta com sua bota ortopédica e Bruno resmungava qualquer besteira. Isso sem falar das turistas que tomavam gosto com Sávio, quem ficava até encabulado por algumas insinuações. Se fosse outro, como André, se gabaria com algo como “desculpe se sou gostoso” – e ele não era, só pra constar.

Mas Sávio não, apesar de uns erros seus, tinha traços de consciência muito fortes para ceder a qualquer uma. Aquele era o Sávio que eu conhecia. Dispensava sempre gentil, sem malícia. Por vê-lo dessa maneira senti mais falta dele, e então me recriminei por estar tão vulnerável. Era inevitável, no entanto.

Uma hora até o peguei ruminando sozinho, enquanto os outros falavam alto e conversavam sobre qualquer coisa. Nos encaramos breve e discretamente na roda da galera, por uma coincidência que resultou num encontro de olhares. Foi desconfortável, por reafirmar aquele acordo tácito que selamos naquela sala de aula, e por, como se eu tivesse o pegado num flagra, ele não queria que observasse através dele, como me apontou outras várias vezes de fazer isso. Com a cabeça cheia, já não ligava muito pra isso mesmo, apenas mantinha certa distância.

Ao final de tarde fomos andando mais com o guia que reapareceu e aproveitamos mais dos pontos turísticos. Felizmente com todos, como Murilo havia dito, eu podia contar e, claro, não ficava calada ou triste se a cada hora surgia uma besteira e algum deles me arrancava um sorriso.

No domingo foi quase o mesmo, noutro ponto turístico da cidade. Alguns colegas tinham se metido de ir em festa na noite passada; eu tava com pouco ânimo e os outros cansados pela pernada do dia. O passeio do domingo que foi limitado, pois à noite tínhamos o avião pra pegar.

Sem nada incomum em nenhum dos aeroportos, nada rendeu mais micos ou desastres. Quando olhei todos os familiares dos passageiros esperando ao portão de desembarque através do vidro, que procurei pela minha família à distância, senti um misto de sentimentos tão forte, mas tão forte que quase deixei minha mala na esteira para correr até eles. Alívio e tensão ao mesmo tempo. Acabava ali quem sabe.

Mas quando segui pelo corredor de saída puxando minha mala e a porta abriu a saída, a primeira coisa que pensei ao sorrir para eles foi “lar, doce, amado e seguro lar”.

Lá estavam Djane, minha mãe e Vinícius. Sorriam largamente.

Por um instante me decepcionei por Murilo não estar lá para me receber. Lembrei que ainda estava sob quarentena e que os últimos dias, dizem, eram os mais contagiáveis. Ele não podia mesmo sair de casa. Se estivesse lá seria o primeiro quem eu abraçaria. Então me joguei em mamãe. Grudei-me nela de maneira que a emocionei.

Mal podia a soltar. Ela tinha cheirinho de mãe e conforto. De carinho e proteção. Ainda em seu abraço vi ao longe os outros fazendo o mesmo com seus familiares se reencontrando. E aí Vinícius se colocou na minha linha de visão e meu coração bateu forte exigindo por seu toque e aperto. Exigências que não tardaram a serem obedecidos.

Fui abraçada por ele, por seu cheiro e seu amor. Como sentira falta, que também não queria largar. Logo me selou com um beijo de saudades, me segurou firme e apaixonado, afirmou novamente que não iria me soltar mais, como havia prometido.

– Já pode não querer te soltar mais?

– Só daqui a uma semana quando vier me buscar, aí pode.

Rimos quando Djane reclamou que era sua vez, chamou-nos atenção, que tínhamos muito tempo ainda e ela tava com saudades de mim também. Muitas. Quando bati o olho nela cutucando o ombro do filho, só pensei numa coisa: céus, passei uma semana fora e minha mãe já tinha transformado minha sogra?

Com muito custo foi que seu filho me libertou de seus braços.

Já no estacionamento ele me arrebatou com outro beijo e foi meio vergonhoso, se as nossas mães estavam assistindo, protestei um pouco antes de ceder. A verdade era que eu precisava daquele amor seu, ele me renovava. Me fazia respirar. Arejava o cérebro, bombeava o coração. Isso num simples toque ou mesmo olhar. Olhar pedinte irresistível.

Foi uma briga pra decidir quem iria onde dentro do carro. Mais precisamente por causa de mim, porque ninguém queria ficar distante e nessa hora foi que me senti cheia de amor mesmo, a cota que eu precisava. Terminou que Vinícius virou nosso motorista e fomos as três no banco de trás, costurando qualquer assunto que veio. Por todo caminho a ansiedade ainda me comia o estômago só de pensar em ver meu irmão. E enquanto não o visse, meu coração ainda não poderia respirar por completo.

Por isso, assim que Vini estacionou na garagem de sua casa, pulei do assento, ninguém me impediu de descer e sair em disparada atrás de Murilo. Ao pisar na sala já meio alucinada, chamei por ele que não estava lá. Mas despontou do corredor em suas pijamas, pintinhas e todo “empomadado”. Sem hesitação, me joguei nele numa felicidade inimaginável e fui recebida com tamanho fervor e animação por parte dele, de modo que fiquei pequenininha quando me cobriu por completo.

Te amo, te amo, te amo. Te amo demais.

O aperto era na realidade das duas partes. Mal tomando ar pelas vias respiratórias, o que me deu momentâneo sufocamento, não chego a reclamar. Necessitava disso faz dias e não queria o soltar mais enquanto meu coração não se desse por satisfeito.

Não faço mais isso com você.

Tão aninhada a ele, me assegurava em pensamento. Porém, terminei por chorar baixinho por finalmente estar debaixo de sua asa.

Jurei promessas silenciosamente enquanto mamãe se enfiava no nosso aperto com sonoros owns. Só que eu não via nada além de mim ou de meu irmão.

Eu iria ser forte. Eu ia vencer aquela dor.

Estava em casa. Estava protegida.

~;~

Mamãe ficou exultada por eu voltar a dormir com ela no quarto de Vinícius. Nesses últimos dias, ele não mais foi para o sofá, conseguira um colchão e alternava entre o quarto de Djane e o de hóspedes, onde Murilo estava. Meu irmão me contou que algumas vezes trocou de lugar com ele pra não abusar da hospedagem. Eles se entendiam a la jeito deles.

Essa noite Vinícius ficou no quarto de Djane, o que agradeci mentalmente. Com certa insônia, inquieta, migrei para o quarto onde estava meu mano sem que mamãe percebesse.

Quantas não foram as vezes que ele também escapulira de seu quarto para dar calmaria a si, tão alucinado? Mamãe era uma grande representação de amor maior, só que apenas quando me juntei à peste na cama que senti real alívio.


Trilha indicada: Keane – Everybody’s Changing

http://www.youtube.com/watch?v=5KiuXwYMqOI

You say you wander your own land
But when I think about it
I don't see how you can

Você diz que perambula pelas suas terras

Mas quando eu penso sobre isso

Não posso ver como você consegue

Como nas noites de trovão. O tempo estava o mais límpido possível nessa noite, mas em meu interior havia tempestades. Como sempre, nele eu buscava meu refúgio.

Só que dessa vez a noite de sua confissão voltara com força à mente. Nossos problemas. Picuinhas. Discussões. Brigas feias. Justificadas com a verdade. Crua.

You're aching, you're breaking
And I can see the pain in your eyes
Says, everybody's changing
And I don't know why

Você está dolorido, você está quebrado

E eu posso ver a dor nos seus olhos

Diz que todos estão mudando

E eu não sei por quê

Acontece que ali eram as verdades dele, não minhas. Compadeci-me delas. Apesar de ter as minhas ainda sob a pele, recentemente remexidas, eu as escondia tal qual uma cicatriz. Resquício de batalhas que perdi.

Toquei os fios de cabelo de Murilo de leve num carinho e lá estava eu fazendo promessas de novo. Refletindo sobre os avanços todos e eu me sentindo ficar no meio do caminho. Pois tudo que exigi ele estava fazendo. E eu? Ele apenas fez pedidos e eu continuava em resistir a atendê-los. Eu não conseguia mudar.

So little time, try to understand that I'm
Trying to make a move just to stay in the game
I try to stay awake and remember my name
But everybody's changing and I don't feel the same

Tão pouco tempo, para tentar entender que estou

Tentando dar um passo só pra dizer no jogo

Eu tento permanecer acordado e lembrar meu nome

Mas todos estão mudando e eu não sinto o mesmo

Por que não dar passos pra frente?

Por que não conseguia me desgarrar do passado?

Por que não me desfazia das mágoas?

Aquilo era, enfim, proteção? Um casulo?

A discussão com Denise me revolvia, me nauseava. Foi um encontro duro e inesperado. Foi um embate, praticamente. E eu estava despreparada...

Assim a deixamos ganhar, não vê? Denise continua ganhando da gente por todos esses anos, Eric insistiu na última vez que nos vimos. Ela terminou por me ganhar em meias palavras. Em cinco minutos. Em menos talvez.

[...]

Piano

Observo Murilo ao escuro com a pouca iluminação do abajur fraco. Na penumbra ele parecia dormir tranquilamente. Hoje. Noutras noite sou eu a responsável por suas preocupações. Pelo menos parte delas.

You're gone from here
Soon you will disappear
Fading into beautiful light
'Cause everybody's changing
And I don't feel right

Você está longe daqui

Logo você vai desaparecer

Sumir através de uma linda luz

Porque todos estão mudando

E eu não sinto o mesmo

Grito comigo mesma por isso. Eu não quero te perder, Mu. Me perdoe também.

Eu... eu te perdoo. Toda a mudança de mentalidade estava ali já, maturada. O que foi exigido dele. Assistido por mim. Tudo o que me dissera ao longo desses tempos e aos últimos dias mesmo pelo telefone. Como cuidava, respeitava. Se controlava. Ele mudara por mim. O que sempre quis e briguei por isso.

So little time, try to understand that I'm
Trying to make a move just to stay in the game
I try to stay awake and remember my name
But everybody's changing and I don't feel the same

Tão pouco tempo, para tentar entender que estou

Tentando dar um passo só pra dizer no jogo

Eu tento permanecer acordado e lembrar meu nome

Mas todos estão mudando e eu não sinto o mesmo

E em troca, o que lhe cedi? Mentiras. Omissões. Nada de concreto. Eu não mudava em proporção.

Sem querer fungo, o outro percebe. Se remexe, tremelica os olhos, os abre incertos, perdidos da realidade. Deitada de lado, de frente para ele, nota meu estado. Isso o assusta um pouco, e a mim própria que percebo também meu choro silencioso.

– Mi... O-o que foi?

– Eu te perdoo, Murilo.

Um peso a menos.

Sinto como se a corda à minha costa se livrasse duma carga, enquanto eu caía, arfando, por ser um a menos. Só que meu mano ainda fica assustado. E não haveria como explicar tudo ali. Só sentia que devia comunicá-lo, assim, à meia luz mesmo, à meia consciência, num inesperado despertar. A ansiedade alimentava minha insônia.

Intensifico meu carinho aos seus cabelos, para que corroborasse com o que eu declarava, alto e claro a ele.

– Te perdoo.

Um tanto boquiaberto, ele não acredita, o que me faz rir um pouco, em meio à tristeza.

So little time, try to understand that I'm
Trying to make a move just to stay in the game
I try to stay awake and remember my name
But everybody's changing and I don't feel the same

Tão pouco tempo, para tentar entender que estou

Tentando dar um passo só pra dizer no jogo

Eu tento permanecer acordado e lembrar meu nome

Mas todos estão mudando e eu não sinto o mesmo

– Mas... Por quê? Por que agora?

– Você merece.

– Por que chora?

– TPM.

Funciona sempre.

– Ô, mana.

Murilo me puxa para um abraço, assim, sem aviso, me dá mais espaço na cama e quero apenas isso. Que cuide de mim. Que ele seja o bastante, que sua asa ofereça o que sempre recusei. Proteção. Aquela que era excessiva mesmo. E por saber que ele havia mudado, ansiava que, pelo menos nessa madrugada, tivesse guardado uma última dose. A esperança por essa última dose descia de meus olhos em gordas lágrimas e soluços não mais silenciosos. Meu corpo tremia e reverberava no dele, que me cedia calor e abrigo nos seus braços fortes.

– Shhhh.

– Te perdoo, Mu. Te perdoo.

– N-não sabe o quanto isso pode ser libertador.

Provavelmente não tanto quanto ele, mas sentir que ele também se entregava a um choro emocionado, me fez querer cuidar dele também. E mais promessas de não mais machucá-lo virem à tona.

– O-obrigado.

Fungo ao ouvi-lo agradecer tão tomado pela emoção.

– Você merece, de verdade.

Eu, pelo contrário, não merecia.


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Notas finais do capítulo

Ui.
Foi um capítulo bem difícil de escrever esse. E uns bem maaaaaaaaaaais complicados e emocionantes vêm aí, pode ter certeza. Não deixem de ver/acompanhar Mantendo o Equilíbrio - Finale!



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