Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 54
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

E tem mais combo e tensão! Pra quem achou que ia parar por ali, ainda não viu nada.
Mas aqui dei uma maneirada, pra não terminar de matar todo mundo.

Btw, lembram da música que comentei no último combo? Pois então, uma música que marcou muito foi a Euphoria, da Loreen (pra mim já é a cara do shipper Dani & Bruno) ~ http://www.youtube.com/watch?v=bcnWysA9gxo ~ me ajudou bastante para a construção desse capítulo. Vamos finalmente descobrir o que rolou naquela pista de dança que deu a maior confusão entre esses dois teimosos.

Enjoy!



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O ar me falta mais umas três vezes na mesma noite (ou devia dizer madrugada?). Estava certa em acreditar que seria longa. Mesmo já na minha cama, de banho tomado, prestes a dormir, não me sentia bem. E tinha que declarar totalmente o contrário para os dois homens de minha vida.

– Vocês não contaram isso pra mamãe, né? Nem pra Djane?

Vinícius foi quem me respondeu:

– Não, queríamos ter certeza primeiro antes de deixarmos elas alarmadas. Não sabíamos se era com o transporte de vocês. E quando você não atendeu de primeira... é, a gente suou um pouco frio aqui.

Meu irmão logo o remendou:

– Um pouco? Eu já tava ligando alucinado pro Gui e pra Flávia. Dava só fora de área. E se fossem vocês? A gente não sabia. E se aquele cara tivesse atirado lá dentro?

Acontece que éramos nós. Quer dizer, era nosso transporte, eu não estava lá no momento da invasão do bandido. Mas claro que deixei meu namorado e meu irmão acreditarem que eu estava sim, pois mencionar o contrário geraria mais perguntas e preocupações, das quais eu não queria me ater no momento.

Pelo que as meninas me contaram, Flávia acordou um pouco antes de chegar na parada do micro-ônibus e foi me perguntar algo, me chamou, eu não respondi. Me chamou de novo, mais alto e Bruno se virou na poltrona. Percebeu que eu não estava lá. Nisso o veículo já estacionava na praça, o point lá do passeio.

Começou o desespero lá dentro assim que deram por conta da falta minha e de Sávio. Uma moça disse que me viu indo para o banheiro do posto, e assim deduziram que eu havia ficado para trás, provavelmente com Sávio. Pense na zona que ficou, o povo acordando no susto, gritando pro motorista voltar e quando o bendito homem abre a porta do transporte e volta pra saber qual era da gritaria, eis que um cara entra armado. Do nada.

Ouviu-se a polícia do lado de fora, monitorando. Lá dentro, todo mundo se calou ao ver a arma em punho do cara. Quem tava bêbado, ficou sóbrio. Quem tava dormindo, acordou na hora. O bandido procurava uma maneira de fugir, não de roubar quem tava lá dentro. Assim rendeu o motorista pra voltar ao volante e foi aí que os garotos reagiram.

Foi tudo muito arriscado. Yuri alcançou um vaso de cerâmica que estava perto dele, de uma turista que havia comprado, e devagar trocou olhares com outros, Gui e Bruno inclusos. O bandido estava muito apreensivo, o que foi seu ponto fraco, isso o distraiu muito. Quando passou por Yuri que estava na primeira poltrona com Dani, ele deu o primeiro golpe, que jogou o sujeito no chão do transporte e a arma deslizou para longe. Aí os meninos avançaram no cara para imobilizá-lo.

Se o caso não fosse tão sério eu poderia brincar que não era a única mais a ter quebrado o vaso na cabeça de alguém. No entanto, Yuri não contava muito por ele não ter feito parte de nosso jogo. Eu também não tava muito pra essas graças.

– Amor, só o susto de imaginar vocês lá... e que estivessem machucados...

– Mas vocês disseram pra elas?

– Não.

Disseram uníssono.

– Pois não digam não. Elas já tiveram muitos sustos.

– Mas você tá bem? Mesmo? Mi, pode me dizer... eu só quero saber se... olha, eu não vou brigar contigo não.

Ouvir isso de meu irmão me partia o coração. Enxuguei discretamente uma lágrima que me teimou descer. Ainda bem que Flávia ajudava Dani no banho, ela acabou tendo que ficar de bota ortopédica pela torção. Demos uma passada rápida no hospital depois que a policia nos liberou, pois o posto de atendimento em que fomos na praia não tinha material disponível para o seu problema.

– Estou, de verdade. Entrei em pânico só, mas já passou. Foi tudo ligeiro, a policia já tava lá. Pode dormir tranquilo, mano.

Conversei um pouco mais com eles até dizer que iria dormir, era quase meia-noite, porém não foi isso que fiz ao desligar. Saí do quarto para tomar um ar. Fui até a sacada do nosso andar, de pijama mesmo, e agradeci por ninguém estar perambulando àquela hora. Me sentia... nem sei descrever como.

Após ter afastado Sávio de mim naquele bar, não conseguia me manifestar nem para tirá-lo do meu pé. Apenas me saí dele, senti uma tontura, e dei o fora dali aos tropeços. Mal passei pela porta de saída, topei com o carinha da loja de conveniência, enfim aparecera um transporte que seguiria para nosso ponto, e após ter convencido o moço de nos encaixar, o atendente foi nos chamar. Ele também notou o clima estranho.

– Vocês deram sorte, o motorista disse que tem duas vagas e... Espera, esse cara tá te incomodando, moça?

De soslaio chequei que Sávio permanecia logo atrás, tratei de embromar qualquer coisa. Mostrar meu abalo seria uma derrota afinal.

– Hã? Er... não. A gente estuda junto. Eu só... quero voltar.

O carinha deu uma boa olhada em Sávio, desconfiado, e nos escoltou para o novo transporte. Quase abracei o moço e o motorista, quando este me disse que as vagas eram em poltronas não juntas, pois eu não conseguia encarar meu amigo. Se é que posso ainda me referir a ele assim.

Me sentia traída. Burra. Ingênua.

Confiei nele como me pedira. Sempre confiava nele, me sentia segura com ele. Agora mal podia olhá-lo. Sequer fiz algo senão me afastar. Não houve tapa, não houve soco, nem gritaria, nem... E em pensar nas vezes que duvidei de Vinícius, que achei que não tinha nada, que era coisa de sua imaginação e principalmente no havia me dito no aeroporto... A vergonha me cobria.

“Apesar de ‘ele’ estar nessa viagem, confio em você. Que me ama, e sabe dar um certeiro golpe se avançarem o sinal, certo?”

Fui cega, enganada novamente. E ainda dei trela, ou algum espécime dela. Remoí por todo o resto do caminho isso, sozinha, na minha, no escuro do novo micro-ônibus. Mal o motorista abriu a porta na praça, saí em disparada, para procurar a galera. E o que encontro? O local encoberto por policiais!

Foi Marcinha quem gritara meu nome no meio da bagunça de gente, Flávia saiu correndo do seu depoimento com um policial para me abraçar apertado. Chorava ainda, de susto e preocupação por todas aquelas odisseias.

– Meu Deus, você tá bem?

Diante daquilo tudo me permiti apenas a emoção fluir, tomando como desculpa aquela agitação toda e o susto que tiveram. Foi quando pude chorar e apertar minha melhor amiga, as explicações ficaram para depois. De lá, ainda tivemos que seguir para o hospital, Daniela precisava de melhor assistência para seu pé.

Quando estávamos no saguão de espera a aguardando terminar de ser atendida, Gui me puxou para um canto. Sério, me tremi na base. Ele me questionou:

– Aconteceu algo?

– O que quer dizer?

– Se aconteceu algo enquanto vocês... estiveram lá.

– P-por que acha que rolou algo?

– Só me certificando. Você parece bem chateada.

E foi minha primeira mentira.

– Não. Só discutimos o fato de termos ficado presos lá.

– Ok.

Aí meu celular, recuperado, começou a tocar. Como sempre, sinal de telefonia em hospital é uma droga, então para Murilo e Vinícius ligando direto para a gente e nada de haver conexão, passaram por um susto também. Aline quem havia avisado meu irmão, pois sabia do meu passeio e, assim que ouviu de uma caçada policial pela área onde eu poderia estar, por um amigo ter comentado com ela por alto, tratou de alertar. Ela também tentou me ligar. No fim, já estava tudo bem.

Em aparências, claro.

Suspirei cansada, tomei o rumo de volta pra o quarto. Na porta encontrei Flávia mexendo no celular. Ao me ver, também ainda abalada, só aponta para dentro:

– Eles estão se resolvendo.

Nem é preciso descrever algo mais, eles eram Daniela e Bruno. Logo Gui despontou no corredor, se encaminhou para nosso lado e Flávia o abraçou apertado. Como eu queria meu Vini ali para buscar um conforto desses, pensei comigo, calada. Para não ter que me retirar novamente, declarando-me vela, puxei papo com os dois sobre o que seria o dia seguinte:

– Como vamos fazer com Dani pela manhã? Ela tomou uns remédios pra dor e vai tá meio lerda.

Flávia me deu uma pequena solução, que casava bem com o que eu planejava em mente:

– Vai ficar no quarto mesmo, amanhã ela nem precisa ir. Talvez só à tarde.

– Posso fazer companhia a ela. Quem sabe precise de algum auxílio? Não tenho mais apresentações mesmo, consegui bastantes assinaturas, volto no fim da tarde com ela só pra pegar os certificados.

– Tem certeza?

Notei que Gui me sondou um pouco logo que a namorada pareceu incerta.

– Absoluta. Vocês podem ir, qualquer coisa ligo.

– Ok.

Mesmo depois de ter visto um sorriso brilhante na face de meu amigo Bruno – e de ter me dado um abraço de urso esfuziante no meio corredor após sair de meu quarto – ainda remoía os últimos acontecimentos em silêncio. No escuro, as meninas dormindo, eu virava de um lado para o outro na minha cama e por muito tempo me senti novamente presa àquele momento. Àquela música que eu mal conhecia. Àquele beijo que nunca poderia ter rolado. Mas que acontecera.

E que mudou tanto minha ideia sobre as coisas.

~;~

Após uns anos de prática, mentir não é apenas conveniente; é também a saída mais fácil e instintiva. Acima de tudo, é jogar uma “verdade” que você gostaria de poder acreditar. Ou se faz acreditar.

Acostumei-me a mentir faz muito tempo, foi de uns tempos para cá que optei por deixar de alimentar esse “exercício”. Como quando você começa a pedalar ao contrário e suas pernas sentem a diferença, a minha mente sentiu também. Falar a verdade, na realidade, impede até de a língua embolar. Mas lá estava eu, cedendo, pedalando para o caminho das mentiras, a mente me gritando, a língua embolando. Um fracasso total.

Tenho consciência, uma muito julgadora.

Isso porque era apenas uma desculpa comum. A velha história de usar o recurso de ser mulher e ter para sempre a desculpa perfeita para se sair de certas situações. Em meu íntimo reconhecia minha fraqueza; no entanto, em meu exterior, compactuava com meu disfarce.

– Você parece péssima.

Flávia havia saído faz um tempinho, eu não dormi muita coisa, Dani tava meio lenta. Mas não o bastante para não perceber minhas olheiras ou meu torpor. Levantei da cama e gemi em teatro, em busca desesperadora de algum remédio para dor na minha nécessaire.

– Me sinto péssima. As cólicas nem esperaram eu chegar em casa.

– Vish. Então ainda bem que você não foi mesmo.

Tomei o remédio – de verdade (acho que não faz mal, faz?) – com um gole de água que havia no frigobar, fui aos tropeços para o banheiro e só lá pude me encarar. O sol que batia pela janela não me iluminava em muita coisa se minha própria aura estava incerta. Com um banho ligeiro, lá se foi mais uma tentativa de esquecer o fato. Minha mente se acostumara a ter escrúpulos e bondade demais no coração para carregar mais uma mentira.

Poderia me preservar se se tratasse apenas de mim mesma. Como aquela velha história de que “o que acontece em tal viagem, fica na viagem”, passaria por cima e deixaria mais uma vez para trás. O status, porém, não é mais este. Eu tenho alguém com que me importo de verdade, que me ama, e que confia em mim. Como poderia encarar Vinícius depois disso? Me recriminaria, claro, por essa falta de verdade. E então seria este mais um pesar na minha vida? Eu quero é me livrar de tudo, não ficar colecionando!

Isso o machucaria. Mas não o machucaria mais se eu guardasse de novo para mim? Já guardo tanto... Não deveria mostrar que ele tinha a razão e, acima de tudo, que aquilo não significava nada? Quer dizer, nada senão a perda de um amigo? Porque era isso, Sávio derrubou toda a nossa amizade com aquele passo em falso. E que passo!

Enquanto me vestia, fui tomando mais disso para mim, era minha solução temporária. Deixei o quarto para ir em busca do café-da-manhã, meu e de Dani, quem só se revirou na cama e voltou a dormir. Que doces sonhos tivesse e que aquele brilho que vi em Bruno e que resplandeceu nela batesse de volta em mim também.

Minha primeira pequena alegria do dia foi essa, quando, enquanto assistíamos desenho animado, ela me relatava o seu desenrolar com Bruno. Ok que no começo me fez sentir muita ira, mas no fim das contas, como eles se resolveram, me tranquilizava.

Ela não sabe o quão eu a agradecia mentalmente por me fazer respirar, por me contagiar na sua exultante felicidade, tudo que mais desejei para ela quando pela primeira vez vi “ROMA” escrito em sua testa. Dani enfim era meu remédio particular, para as cólicas da vida, que ajudavam a mascarar o real problema por trás dos sintomas.

– O susto me fez esquecer tudo, Milena, ou quase tudo. O mínimo pensamento de que aquele plano de Yuri sobre o bandido pudesse dar errado... Céus, eu só queria o abraçar e não largar mais. Nessas horas não há chateação que se sobreponha. Ceder, nesse caso, não é ser fraca. E ele bem sabe que posso ser muito cabeça-dura, tanto quanto ele.

– E o que rolou naquela festa? Nunca te vi tão séria e zangada quanto a ele como eu vi naquele dia. Que ele fez?

– Ele... bom, você sabe que a gente tava bebendo. Teve uma hora que sei que dançava com a galera da turma, alguns meninos no meio, e num piscar de olhos, não havia ninguém mais senão ele. E aí veio de encontro a mim na dança, juntos dançamos ao ritmo alucinante da música. Fiquei lá na luta interna de aproveitar ou negar, mas esse meu coração não deixava me afastar. E...

Ela inspira, longe. Devia estar revivendo em sua mente. Ela abaixa o volume da Tv quando a instigo a se manter falando, se remexe na sua cama, onde também me enfiei, mesmo com pouco espaço.

– E...?

– Quando... quando senti o toque dele aos meus quadris para seguir a pausa lenta da música, f-fui literalmente à loucura. O álcool tava mexendo comigo também, era capaz de ceder-me por completo. E quase cedi... Ele tentou me beijar!

– Como assim tentou? Mas você não queria?

Como da outra vez que me contou sobre o beijo primeiro deles no ano novo, aquilo agitava e a confundia de um jeito que lhe trazia lágrimas aos olhos. Assim ela pisca, hesitante, em explicar essa parte da história:

– Não daquele jeito... Mesmo parecendo o momento perfeito, o pouco de consciência ou cérebro não afetado pelo álcool falou mais alto. Disse Não a ele. Não iria me prestar àquilo de novo, a gente se beijar e ficar aquela coisa estranha. Minha cabeça só pensava que era o álcool, ou a música... ou a dança. Seria apenas desejo, não sentimento.

Engulo em seco quando ouço essa última parte.

Seria apenas desejo, não sentimento.

Pensava que era o álcool, ou a música... ou a dança.

Batia certo em mim também. Daniela nem percebe meu estado, ela só olha para o controle de Tv ao colo, brinca com ele sem muita vontade. Por não ter replicado nada mais, ela continuou, fazendo suas pausas por se tratar de algo delicado. E foi quase fácil fugir de minha realidade de outrora se no lugar veio a raiva de Bruno, pois...

– Como qualquer gênio alterado que não teve o que queria, Bruno... Bruno quase me forçou. Me segurou pelo rosto, me puxou para ele e, muito firme, declarou que me queria. Ali, naquele momento. Que ele sabia que eu gostava dele. E que justamente por isso EU deveria beijá-lo. Como se... como se eu tivesse obrigação de correspondê-lo ali, sabe? Isso foi demais.

Foi demais mesmo! Ele tentou abusar dela!

DESGRAÇADO!

Me arrependo de tê-lo defendido ao ver o quanto ela se envergonha do que foi essa cena. Eu o defendia às escuras, claro, porque nada disso ele teve coragem de me dizer. Ah, infame! Me sinto tola novamente. E mais impotente conforme o relato se segue:

– Empurrei ele com força, mas ele era mais forte, claro. Então cuspi minha raiva. Não era uma qualquer que iria ficar com ele só quando ELE queria, quando LHE dava na telha, e por saber que gostava dele. Não era uma submissa, caramba! Ah vá!

Felizmente ELA teve mais atitude que eu. Onde estava a minha, meu Deus?

Por que eu não consegui afastar Sávio a tempo? Por que me deixei paralisar daquela forma, me desarmar a ponto de...? Droga, nem mesmo tive força bruta para qualquer golpe ademais. Como pude deixar a decepção me desarmar tanto?

Pisquei de volta à descrição de minha amiga que então permanecia desabafando e eu incerta de me preocupar comigo ou com ela. Céus, isso não tava acontecendo.

– ...Aí a discussão se armou. Porque ele não dava sinal algum de que tava me entendendo, eu quase apelei de espalhar ali mesmo, no meio da pista, que ele me assediava na cara-de-pau. E o que não faltaria era brutamontes surgindo das entocadas pra dar na cara dele, você viu o quão tava cheio de marmanjo ali. Mas eu não quis procurar briga, estava cansada demais daquilo e fui me afundar no copo de falsa coca-cola...

E como faz sentido as imagens que retornam a minha mente sobre o momento que ela voltou para o bar. E passagens mais durante a viagem alternativa à praia. O quanto ela se distanciava, o quanto ela o menosprezava, e todos só entendiam que a briga havia sido feia. É tããão... absurdo... que mal consigo me fazer responder dessa vez. Se não fosse Daniela contando, talvez eu resistiria em acreditar que Bruno se prestou a tal papel.

– Eu... simplesmente não acredito que ele fez isso. Quer dizer, eu quero matar o Bruno! Por que não contou? Isso é bem sério, Dani...

– Eu sei. Mas eu não queria que a briga se alastrasse por nosso grupo, que ficasse ali naquela pista e só. Aquele não era meu Bruno, afinal. E isso poderia acabar com a vibe da galera.

Vibe? Como ela pode pens...?

Como eu posso pensar em julgá-la se me encontro na mesma situação?

Alguém dê um tapa em mim que eu mereço.

Apesar de que com ela ter acontecido às claras – ou “às escuras” da boate – e de toda uma galera ter percebido as farpas entre eles, além de todos se mantiverem quietos, aquilo nos deixava bem desconfortáveis. Quebrava realmente a vibe da galera unida. Não havia partidos, no entanto.

O que seria de nossa vibe se soubessem do ocorrido naquele bar?

Não que eu estivesse a fim de deixar escapar, mas... entende? Acho que terminaria por destruir nossa viagem. Gui pairava de vez em quando, Flá havia me alertado, Vinícius estava inseguro...

E... sou tão péssima amiga por toda hora voltar-me para esse caso enquanto ouço do desabafo de outra? Não quero ser egoísta assim.

– Entendo o que você quer dizer, ainda que não seja o certo.

– Não acho que é uma questão de certo ou errado, Mi. Aconteceu. O meu Bruno é aquele cara gentil, reclamão, mas prestativo. Que está ali para qualquer quebrada, como foi no começo de tudo. Como foi em momentos antes da festa, quando me cedera sua camisa numa emergência acadêmica. Eu o a-amo assim. Mas egoísta daquele jeito na festa... tive que o afastar bruscamente. E não falo no sentido de espaço em metros, mas de espaço em quilômetros. Anos-luz se possível. Forçaria isso ao meu coração. Foi o que disse a ele no posto de atendimento lá da praia. Que não gostava de gostar dele por me desgastar dessa maneira. Ele era então incerto demais sobre isso.

– Ele me contou por alto apenas, merecia o estado em que se encontrava... Me sinto meio idiota agora de ter sentido pena dele.

Uma mão minha vai à testa, desacreditada por tudo. Bruno e Sávio. Nossas situações complicadas e semelhantes de alguma forma torpe. Eles mereciam a condenação.

– Sei que não fez por mal, Mi. E você é uma das poucas pessoas que sabe realmente o que aconteceu entre a gente... E que ainda assim mexia seus pauzinhos pra nos dar tempo a sós que eu sei!

Foi a primeira vez que riu e foi bom ouvir sua risada ante minhas “cólicas”. Dali pra frente senti que viria algo bom. Eu só esperava que eu tivesse meu lucro também, ainda que não pudesse imaginar que lucro pudesse ser esse.

– Confesso. É que se vocês pudessem se ver a distância, o quanto vocês se conectavam... foi inevitável. Desculpa. De verdade.

– Ah, tudo bem... o pior já passou. Como eu disse, no susto, acabei esquecendo muita coisa.

– Então você o perdoou?

– Num sei. Lá na praia, por exemplo, quando machuquei o pé, e ele me perseguia, ou quando me vi encurralada a ser carregada por ele, ou mesmo quando ele ficou comigo no atendimento, não importava o quanto ele me dissesse os seus reais sentimentos... eu estava machucada. Me sinto machucada, na verdade. Só que... pelo que conversamos ontem, tanto no consultório, tanto aqui no quarto... pelo que me disse... houve um clic, sabe?

– Como assim?

– Que ambos estávamos sendo teimosos demais. Que quando ele cedia, eu era cabeça-dura e vice-versa. E nós nos gostamos, Lena. Muito. Com esses defeitos mesmo. Precisava ter ouvido o que ele confessou ontem à noite.

Quando fala meiga assim, queria mesmo ter ouvido. Isso me anima em curiosidade, que chego quase a quicar na cama.

– O que ele disse-o que ele disse-o que ele disse?

Que sorriso bobo o dela, devo frisar.

– Que gostava de gostar de mim. E que faria qualquer coisa para que eu voltasse a gostar de gostar dele. Que não merecia, mas que também não merecíamos essa situação. E que não estava propondo deixar tudo para trás, mas sim que houvesse uma chance de consertar. Que era tudo que ele pedia e nem mesmo precisava ser ali, quis me dar tempo pra pensar.

– Como assim quis? Ele não deu, o sacana?

– Deu. Só que eu já não tinha mais no que pensar... Apesar de ter afirmado que ele era apenas um bom amigo naquele dia da minha apresentação, eu não sentia que era apenas isso. Quer dizer, esse tempo todo, não era. E eu não ia deixar minha chance de ser feliz passar assim, por teimosia minha. Ou nossa.

– Então o quê? Mesmo que essa sua cara já diga tudo, ai, Dani, o que tu já fez?

Ela amassa um lábio no outro como que para esconder um sorrisinho, o que não adianta se ele escapa de qualquer jeito, ela termina é por confessar, revirando um pouco os olhos com graça:

– Dessa vez eu o beijei. Sem livre espontânea pressão.

– Isso explica o tamanho abraço que ele me deu lá f...

Seu celular toca na cômoda ao lado, música que identifico como “Animal” da Ellie Goulding. Ela trocara faz pouco tempo, pois até outro dia era uma da Selena Gomez, só não lembro momentaneamente qual. Tal como eu, gostava de toques personalizados. Dani se remexe, alcança o aparelho, observa o visor:

– Ih, é ele ligando de novo. Enquanto eu não aparecer naquela faculdade hoje, ele não vai parar, quer ver?

– Acostume-se. Já tô ouvindo o meu celular tocar também e por esse horário, deve ser uma das duas pestes.

– Pensei que só teu irmão fosse peste.

– Até Vinícius chegar na minha vida era, então eles resolveram ser amigos e sabe como são as manias, essas coisas pegam rápido.

Logo que vou saindo do quarto, já com o aparelho no ouvido e Vini resmungando algo sobre sua mãe e o jantar, eis que do outro lado do corredor, vejo Sávio despontar de seu quarto. Pelos 5 segundos com que nos entreolhamos me pergunto o que ele estaria fazendo no hotel e não no evento da faculdade. Termino por pegar outro caminho, saio de lá sem olhar para trás. Vinícius percebe um pouco de minha falta de atenção, ao que lhe respondo:

– Sorry, amor, a porta emperrou. Tô indo pegar o almoço, já que a Dani não pode descer. Tá de bota ortopédica, lembra?

Era mais uma tática de desviar o assunto.

Só queria parar de mentir, mas também não deixar ninguém preocupado. Pelo menos por telefone. Na verdade, eu só queria meu Vini e ninguém mais.


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Notas finais do capítulo

Agora deu WIN! Shippers shippando!

Mas essa do Gui... difícil contornar. Muito muito suspeito.



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