Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 44
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Olha o cooooombo!
Não tinha dito que não tinha terminado a bagaça? Pois tem um paralelo pra emendar, e sério o caso.
Tem um pouco de shipper pra shippar e... bom, um pouco que merda no ventilador ¯_(ツ)_/¯

P.S.: A música citada de Pink é So What

Enjoy.



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Já não se pode dar muito crédito ao universo que logo ele prepara outra merda para te atingir. Quer dizer, qual é o problema dele comigo? Que preferência toda é essa? Parece egocêntrico à primeira vista, mas se recebesse tanta notícia como recebo, com a frequência que recebo, é difícil não pensar nisso.

Mas isso são questões mínimas perto do quadro real. A grande questão da coisa toda é: como eu vou dizer isso para Vinícius? Ele não gosta muito do cara.

Explico melhor.

Foi um alívio muito, muito, muito grande quando Vinícius chegou. Irrompi meu estado inerte para me jogar aos seus braços, onde o conforto era maior, era quentinho.

– Amor, minha mãe ligou. Desculpa, meu celular descarregou, só conseguiu falar comigo pelo celular de Anderson e...

Como que eu não pensei nisso antes? Não era garantia, no entanto.

Apertada a seu corpo, Vini beijou-me a testa, fazia leves movimento às minhas costas. Fiquei tão assim com ele, me alimentando desse alívio, que esqueci do meu amigo. Acho que ficara desconfortável, pois passou por nós, para nos dar privacidade, imagino, sem nada dizer. Assim que o vi, chamei sua atenção, me desvencilhei de Vini.

– Sávio, espera.

– Não, tudo bem. Eu... hã... melhor eu ir... Vou ver se a professora precisa de alguma coisa.

Mal ele sumiu, Vini tomou minha atenção. Beijou-me os lábios, mesmo eu confusa por tudo, o que importava era que estava comigo.

– Você o viu?

– Sim. Está dormindo. O médico ainda não voltou com os resultados. Minha mãe me falou melhor quando cheguei, vim correndo. Como você está?

– Bem, agora.

– Vocês tão tendo uma semaninha e tanto, hein.

Ele limpou os resquícios de meus olhos molhados, manteve as mãos nas maçãs de meu rosto, com o seu tão rente ao meu, que eu sentia sua respiração. Seu humor era quase divertido, se não fosse a situação. Aparentemente assimilei isso dele.

– Imagine se eu não tivesse prometido que não faria mais besteiras. Prometi pra todo mundo, deveria ter exigido que fosse recíproco.

– Por mim é recíproco, eu garanto.

Mais um beijo suave aos meus lábios ele selou. E a realidade me abateu, de novo, sem querer.

– Tive tanto medo... um medo que...

– Shhh, passou, ok? Passou. Logo ele estará em casa, rindo, vocês implicando um com o outro, juro. Falou com seus pais?

– Só com papai. Mamãe vai pirar.

– É, ela vai.

Voltamos para a enfermaria onde Murilo descansava. Djane se levantou assim que me viu, teria que ligar para o departamento, avisar que não poderia ir à faculdade hoje. Isso por mais que eu dissesse que ela não precisava faltar trabalho.

– Vocês são meus filhos também. Acha que posso trabalhar enquanto um de vocês está no hospital? Tá decidido, não vou. Só tenho de alcançar Sávio, que foi pegar suas coisas no meu carro. Ele vai pra casa.

Tomei seu lugar enquanto estava fora, fiz carinho no meio irmão que estava além de nós, num sono de cansaço. Em todos esses anos, arranjou de ter catapora na casa dos 28.

– Vini, fica um pouco aqui com ele. Tenho que ligar para o Gui, avisar que não vou poder ir pra faculdade. E... você já teve catapora, né?

Pra garantir!

– Tive, com uns 4, 5 anos, não lembro direito. Já avisou no departamento dele?

– Xiii, ainda não. Vou ligar para o Armando também, e Aline, se ela me atender.

De tanto que essa garota sumiu esses tempos, me atender seria milagre. Considerando tudo o que vem acontecendo, tem tanto chance de isso acontecer, como de não acontecer.

Fui pelos corredores novamente atrás de sinal. No local onde eu estava anteriormente não pegava mais, fui andando mais até conseguir pelo menos uma barrinha que desse pra fazer uma ligação.

– Gui?

– Hey Lena... não veio trabalhar, né?

– É, te falei ontem, lembra?

– Aham. E ainda bem que não veio... cara, aqui tá muito sem noção.

– Como assim?

– Tá preparada?

Não, definitivamente não.

– Tô.

– Assaltaram o estacionamento. E quebraram o Filipe todinho no processo... ele tava lá. Eram uns três, quatro caras, sei lá. Iara quase teve um treco.

– Ai, Deus. E como ficou isso?

– Só sei que o levaram para um hospital.

– Valeu, Gui... vou tentar falar com Iara para saber e... errr... eu não vou para a aula hoje tá? Quer dizer, provavelmente nem terá, não sei ainda. Djane disse que não iria, não detalhou se era para o departamento ou para aula... eu não sei, tá tudo muito confuso agora.

– Aconteceu alguma coisa?

– Sim. Meu irmão passou mal, foi uma loucura, tivemos que trazê-lo na Emergência.

– Pera, o sinal tá ruim. O quê, seu irmão o quê?

– Passou mal. Tamo na Emergência.

– E é sério? Quer dizer, não é nada com a tal conjuntivite não, né?

– Não, é outra coisa. Acredita que tá com suspeita de catapora?

– Catapora? Seu irmão nunca teve?

– Pelo jeito não. Bom, te mantenho informado se Djane me disser algo mais.

– Ok, melhoras para seu irmão.

Em seguida, falei com Armando e, pelo milagre mesmo, Aline atendeu o celular. Mesmo com sinal ruim, tive que subir um pavimento, seguindo uma rampa que encontrei, para conseguir umas barrinhas de sinal, senão nada. Informei o hospital e a suspeita de catapora, ficou sugestivo que ela não poderia vê-lo, por conta de ninguém saber se ela realmente estava grávida. Teria de lembrar de perguntar ao médico sobre isso, se tem restrições de visita, se isso pode prejudicar de alguma forma. Ela pareceu bem aflita, mencionou algo sobre o quadro de funcionários e problemas, não sei; de qualquer forma, iria avisar o departamento dele por mim.

Andando novamente, pela procura de um sinal decente, fui ligando para Iara. Mas nem precisou. Sabe quando você liga para uma pessoa e logo ouve seu toque, como se estivesse bem ao lado? O de Iara senti próximo de mim, porque fui quem colocara aquele toque de brincadeira, uma musiquinha agitada da Pink. Achei muita coincidência, claro, assim fui seguindo o som abafado para confirmar. Cheguei a uma sala de espera, onde Iara, sentada, chorava, sem se importar com o celular vibrando ao lado. Estávamos no mesmo hospital no fim das contas.

Agachei-me ao seu lado.

– Iara?

– Milena?

Ao perceber que era eu mesma, ela se jogou em cima de mim e... era eu quem dava consolo a ela, quem precisava mais do que eu no momento.

~;~

– Você demorou.

Vini fez questão de mencionar quando entrei na enfermaria. Sentado numa cadeira de plástico ao lado de meu irmão, levantou para me receber. Me pego meio que desviando dele para não dar muito alarde de meu estado. Fui para o lado de meu irmão, tão quieto em seu descanso. O abatimento nele ainda permanecia, mesmo ao ressonar.

– O sinal aqui é péssimo. Aline atendeu, acho que vem mais tarde... Alguma novidade? E o médico?

Vini não se deu conta de que me afastava dele, fez foi ficar atrás de mim, segurou-me pelos ombros, para me dar força. Só pensava que não teria cara para... enfim, isso me bateu um nervoso.

– Apareceu aqui faz uns minutos. Confirmou a catapora. Murilo vai só passar a noite, ficar na observação, para todo caso, pode ser tratado em casa. Tem tido um pouco de febre, está sob controle.

– Hum... pelo menos agora a gente sabe o que é.

Disfarço, sem o olhar. Me aproximo mais de meu irmão, faço carinho no seu rosto, no seu cabelo, ajeito devagar sua posição, o braço, o pescoço. Não vai gostar de passar a noite em um leito, principalmente se tem uma agulha enfiada em si lhe passando soro.

Suspirei, ainda preocupada. Vinícius notou pelo meu porte, me abraçou por trás e me senti pior. Isso poderia ser considerado como traição? Pois quebrei nosso acordo. Não só estive próxima de Filipe, como também mantive certo relacionamento com ele. Quer dizer, começou pela conveniência, ele é meu chefe, e teve a história de Viviane e... quando será que haverá um bom momento para comunicar sobre o pai?

Djane se compadeceu de mim. Desnorteada ela me encontrou no corredor do hospital, enquanto voltava para a enfermaria.

– Milena, os resultad...?

– Não, ainda não vi.

– Então por que tá assim?

– Assim como?

– Pálida.

Me sentia um pouco nauseada mesmo, confusa. E como algumas coisas não dão pra esconder, não da maneira que queremos, abri logo a real, antes que me arrependesse. Se isso fosse fácil de dizer de alguma maneira, assim eu o diria.

– Filipe. Ele... tá aqui no hospital.

– E ele fez alguma coisa? Está atrás de Vinícius de novo?

– Não, você não entendeu... ele tá internado.

Djane não tem o coração ruim, ela entendeu que o negócio era sério. Ainda assim achava que eu não deveria voltar, para vê-lo, como eu pretendia. E foi aí que ambas vimos que eu tinha trilhado um caminho sem volta.

– Desculpa, Djane, mas eu não conseguiria. Ele te fez muito mal, entendo sua aversão... mas ele é o pai de Vinícius, Filipe não vai sumir. Ele tentou, tem tentado... e nem por isso quer dizer que ele deixou tudo para trás. Eu o vejo no trabalho, conversamos às vezes... e, goste ou não, e-eu... eu me importo. Vinícius pode não me perdoar, mas é isso que sinto. Tenho certo carinho por ele e agora me preocupo por ele, que está muito mal.

– Milena, como você pode acreditar naquele homem?

– Poderia ser qualquer homem, professora, eu me sentiria mal por saber que fora espancado num assalto violento. Foi isso que aconteceu com ele. A espécie de amizade que erguemos me faz me importar muito mais por ser Filipe. Não importa o quanto você não concorde, não importa o quanto Vini ficará com raiva de mim, nada vai mudar o que sinto.

– Ô, querida, se é assim que v... que eu posso dizer? Não quero discutir, sabe como me sinto em relação a ele. Quer que eu ligue para seu Júlio?

Nem havia me tocado de ligar para seu Júlio, tudo tem acontecido tão de repente. Quando que o relógio tinha ficado rápido assim e ninguém me avisara? Djane seguiu à procura de sinal, eu fui para a enfermaria.

– Ele ficará bem.

Vinícius me faz retornar ao meu corpo.

– Eu sei.

Murilo se remexeu na cama, segurei seu braço, que por instinto, ele quis puxar o fio do soro sem nem saber o que fazia. Abriu os olhos devagar, se situou que era tudo verdade, não gostou nadinha pela cara que fez. Quase ri. Abalada com tudo, me desvencilhei de Vini, me joguei em cima dele, quem estranhou de primeira, pois comecei com um abraço.

– Maninha?

Ele não entendeu quando o primeiro tapa foi direto no seu ombro. Me descontrolo. Vinícius me puxa para trás, pois, aparentemente eu tava brigando já com meu irmão, bati no braço dele, no que tava sem soro, que se retraiu confuso daquilo.

– Lena! Eu disse implicando, não brigando!

Vini queria dispersar a tensão, sem sucesso, infelizmente. Murilo olhava de mim para ele, sem sinal de enfermeiros por ali pelo menos. Os outros pacientes estavam por trás de cortinas para se darem conta de nós.

– Quê que eu fiz?

– Nunca mais me dê um susto desse, tá me ouvindo?

Tampouco eu entendi minha reação, só sei que tava ali, na adrenalina, apontando o dedo na cara do meu irmão, sendo segurada pelo namorado, querendo matar os dois por me deixar pilhada daquele jeito.

– Entendeu ou tá difícil?

– Tá, tá. Credo, Lena, você que agora me assustou, caramba. Poxa.

Arrependo-me ao vê-lo desse jeito, como que acuado, aceitando qualquer coisa. Vinícius me segurou quando eu quis me mexer, me aproximar de meu irmão. Ia pedir desculpas, aquilo foi... só um impulso do susto.

– Tô bem, Vini, pode me soltar.

– Tem certeza?

Aos poucos, ele abrandou seu aperto a minha cintura. Murilo detinha um aspecto daqueles seus de suspeito, sem saber se permitia ou não que eu me aproximasse novamente, temendo um novo ataque. Tranquilizei-o.

– Desculpa, mano, é que... você realmente me deu medo hoje. Nunca mais quero ver ou passar por isso, ok?

– O... kay.

Meu irmão hesita, desconfiado. Como aquele que não sabe se deve pisar num chão em risco. Mas logo vê que sou sincera, ao passo que vou me reaproximando dele, faço carinho, ele vai me aceitando aos poucos.

– O médico confirmou, é catapora. Vai ter que passar a noite aqui.

– Awn.

– Vai ser rápido, garanto. Agora vou ligar para Armando, avisar para ele. E Aline. Ela me atendeu dessa vez. Espero que atenda mais essa...

E espero que eles pensem que é só isso. Porque vou desviar o caminho para saber mais sobre o caso de Filipe. Djane adentra a enfermaria, cumprimenta a todos, comenta sobre seu Júlio. Pisca para mim, aperta minhas mãos, que entendo que seu Júlio encararia aquilo como um segredo, um breve segredo.

– Volto jajá.

~;~

Dei uma checada bem rápida com Iara sobre o estado de Filipe. Havia quebrado o nariz e contundiu feio outras regiões. Foram golpes fortes o que levou dos caras. Pelo que ela me relatou, Filipe foi para o estacionamento pegar uns papéis que esqueceu no carro, Iara foi logo depois para perguntar algo mais sobre os tais, e aí que já o encontrou na mira de uma arma de um ladrão, enquanto mais dois batiam nele com golpes pesados.

Logo que ela começou a gritar, os homens pararam, quase a fizeram de refém e vítima também. Como o estacionamento fica atrás do prédio da empresa, os seguranças demoraram a chegar, então Iara presenciou quase tudo. Antes de os caras fugirem, ainda deram uma coronhada final na cabeça de Filipe, que ficou lá, estendido ao chão. Com a ajuda dos guardas e de Thiago, meu supervisor, colocaram Filipe num carro, sem esperar por uma ambulância. Conhecendo um clínico de atendimento do hospital em que nos encontramos, esse foi a escolha de Iara para vir para Emergência.

– Ele está em observação agora, tomou um sedativo. Levou uns pontos na ferida perto da nuca, tá imobilizado. Só deixam Iara entrar.

Foi um alívio, pelo menos. Conversava com Thiago no corredor perto da enfermaria, ele foi caminhando comigo de volta. Nem tinha o visto num primeiro momento, ele também procurava por sinal de telefonia. Terminei por explicar também como havia parado ali, uma emergência com meu irmão.

– Difícil mesmo pegar catapora com tamanha idade. Sabe onde ele pegou?

– Me parece que foi no trabalho, num sei. Pegou conjuntivite e catapora de uma vez praticam...

– Milena?

Um frio me bate na espinha por ouvir a voz de Vinícius às minhas costas. Por isso, assim que viro para trás e Thiago segue pela interrupção, cochicho para ele, para que não mencionasse Filipe de jeito maneira. Por um segundo ele estranhou, até porque reconheceu Vinícius, perguntou-me se era mesmo o filho de Filipe, havia o visto algumas vezes, os funcionários comentavam vez e outra. Apenas acenei, pedi novamente aos sussurros antes que Vini nos alcançasse.

– Onde você tava?

– Errr... encontrei meu chefe aqui. Ele veio visitar um... parente, ficamos conversando. Vini, esse é meu supervisor, Thiago. Thiago, meu namorado, Vinícius.

Preciso dizer que ele ficou surpreso? Bom, ele ficou antes de cumprimentar. Vini que não notou bem a olhada que recebi do chefe, era um segredo que eu mantinha na empresa, pra não espalharem que eu tinha privilégios de alguma forma, como rolou na faculdade.

– Bom, tenho de ir... estão... errr... me esperando. Tchau, Milena.

– Tchau.

Vinícius passou o braço por meus ombros, me puxou para ele num movimento já costumeiro. Notou que não fui muito recíproca dessa vez, sei que sim, e nem por isso comentou. Aí que fiquei angustiada mesmo, duvidosa se abria logo ou permanecia calada, se andava, se fincava, se respirava, se segurava a respiração.

Perto da porta da enfermaria fui buscar um copo d’água.

– Sou só eu ou você tá estranha?

Vai devagar, Milena, você consegue. Aproveita que tá na cara. Não mente.

– Bom, fique de pijamas e encontre seu chefe no corredor de um hospital. Aí me diga você se não é um pouco vergonhoso...

Ao meu lado ele também enche um copinho descartável. Concorda comigo com um breve risinho enquanto beberica sua água. Se ele soubesse que não tô pra brincadeira...

– Parece justo. Não quer passar em casa? Mudar de roupa, comer alguma coisa? É perto daqui.

– Nah, prefiro assim mesmo. Prometi ao Murilo que não sairia de perto.

– Então coma algo pelo menos, você está tão... pode enfraquecer desse jeito, sabia?

Ele estava sendo amoroso, repetia o conselho do qual sempre friso. Por que eu tava tão resistente a isso? É do Vinícius que estou falando, não qualquer pessoa. Posso confiar nele. Mas será que vai gostar de mim, me tratar bem depois que... ?

Ah, canso de ficar matutando “se” e “se” constantes.

Decidida, me viro para ele, vacilante.

– Vini, tenho uma coisa pra te dizer... é sobre seu pa... seu tio.

Ok, ele já tá na defensiva. Fica olhando para a água que resta em seu copo, só à espera que eu fale logo.

– O quê?

– Ele está aqui. Internado. Muito mal.

Então ele me olha e... não sei bem o que tem em seus olhos, na sua expressão. Fico na grande expectativa de ver algo e me frustro de não saber do que se trata isso que tenho em vista. Ele balança a cabeça como quem diz “agora faz sentido”, toma um grande fôlego, acho que é agora, ele vai dizer... algo importante...

– E?

Como assim “E”, caramba?

– E você não vai dizer nada mais que isso?

– O que quer que eu diga?

Fico inquieta, começo a andar de um lado pra o outro enquanto lanço minhas perguntas. Sou só eu ou tô começando a ficar paranoica? Saber que ele não ia se debulhar em lágrimas, sabia, mas... reagir dessa forma? Eu não sou tão insensível assim quando se trata de mim, sou?

– Não sei, que você se preocupa? Que se importa?

– Sabe como me sinto em relação a ele.

Como que ele tá tão... normal? Parece que só falei que amanhã não tem aula, que falta manteiga na geladeira, é só passar no mercado e pronto, uma coisa qualquer do dia-a-dia que tem efeito algum. Vinícius não demonstra interesse, é isso.

– E nem pergunta como aconteceu, Vini. Como pode ser tão frio?

– Como VOCÊ pode ser tão branda? Quer dizer, não é como se eu fosse correr para ele ou algo assim. Filipe até mesmo me deixou em paz, o que me parece de bom tamanho. Você não gosta quando falo essas coisas, mas é isso, Lena. Que motivo tem pra querer que eu responda algo diferente disso?

– Eu... e-eu... por que se importar é tão dificultoso? Digo, se importar como qualquer ser humano já seria o bastante.

Wow. Agora Vinícius deixa o porte de desinteressado pra começar a ficar zangado. Fica bem na cara pela careta que faz. Jogo meu copo no cesto ao lado, assim como ele, só que fico vacilante por ele ter amassado o copo antes de livrar-se dele. Lá estava os seus traços de raiva. Uma raiva contida.

– O que você quer dizer realmente? Por que tá me dizendo isso?

– Porque você é filho dele, caramba. Tô apelando pro seu senso, você deve ter algum aí dentro.

Merda, já tô falando besteira. O modo como agora me olha... ele tá me odiando. Merda, merda. Claro, ele não vai nem tomar conhecimento do resto. Sinto que cada coisa que digo mais é uma forma de ele sentir mais raiva e querer se afastar de mim. Por que ainda tento? Por que tento deixar as coisas piores?

– Não tô sacando onde você quer chegar com isso... Ele não tem a Iara? Que se sinta satisfeito. Posso ser filho de sangue, mas não porque quero. Eu tenho pai, tive. Gustavo e só. Filipe sempre vai ficar à margem, ok? Distância é o que me deixa bem, por que remexer nisso agora?

– Eu sei, sei da sua mágoa... e que não é nada pequena, Vini, mas...?

– Mas o quê?

Me encolho por sentir a vibração de raiva ali. Me encolho por saber que vai me odiar cada vez mais. Que quebrei seu pedido de me manter longe, que não me importo apenas como um instinto do ser humano de pensar no próximo.

Que fará quando souber que me estou muito ligada?

Um último recurso, eu tento.

– Ele foi espancado, num assalto. Nem isso te sensibiliza? Não significa nada?

– Significa que ele mereceu.

Vinícius dá de ombros.

Isso... me enfurece. Yeah, me enfurece mesmo. Porque é muito absurdo ele jogar uma coisa assim, que ele “mereceu”. Como se eu nem tivesse ideia de quem é esse Vinícius, amargurado, insensível. Não, eu não o conheço. Esse não é o Vini que amo. Porque ele não me magoaria dessa forma.

– Você... você não falou isso, eu não ouvi isso, tá.

– Milena, qualé? Quer que eu minta agora? Depois de tudo? Por que você se importa tanto com isso?

– Porque sim, oras. Mas quer saber, Vini? Se você quer ficar com essa mágoa pra sempre, fica. Fuja dele todas as vezes que for ver seu avô, fique irritado toda vez que o ver, machuque-o sem razão aparente...

Me interpela quando tento passar por ele, eu iria encerrar logo a discussão ali. Só que ele não. Me segura pelo braço, sem me machucar. Sua voz é branda, mas seu peso é carregado.

– Tenho razões o bastante. Isso não quer dizer que sou amargurado.

– Quer dizer sim, se não abre seu coração. Lembra quando achava Djane um monstro que te perseguia? Quando não sabia as reais intenções dela?

Vini me solta, há confusão nos seus movimentos. Nem ele sabe se explicar bem.

– É... d-diferente.

Respiro fundo. Uma última questão eu iria levantar.

– Você nunca vai perdoar seu pai?

– Você nunca vai perdoar seu irmão?

Ele realmente achava isso?

– Claro que vou. Um dia, sei que vou perdoá-lo. Sei que tá aprendendo e que valerá a pena toda a espera. Mas será que Filipe também não tá nesse caminho? Será que esse sacrifício todo não é por você?

– Então ele tá perdendo o tempo dele.

– Murilo não tá. Mas se é isso que acha...

Como ele pode comparar meu irmão e depois tirar time? Como que ele apoia tanto e então... argh! Melhor eu desistir mesmo, melhor não insistir. Ele não está preparado.

– É o que acho. Podemos jantar agora? Ou tem outra pedra pra me tacar?

Finjo que nem ouvi essa última.

Porque nem eu gostaria do que eu faria de cabeça quente desse jeito.

– Vá você, não quero nesse momento.

– Quero ficar onde quer que você esteja.

Ah, ele é amoroso agora?

– Bom, eu não quero que fique. Não agora, entende?

Tenta me segurar pela mão, tenta fazer algum carinho que dispenso.

– Mi...

– Eu vou checar Iara. Pode dizer isso para meu irmão? Thanks.

E tomo meu caminho pelo corredor, passando pela enfermaria sem olhar uma vez para trás. Iria ser muito difícil se olhasse e algo mais se quebrasse entre nós.


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Notas finais do capítulo

"Eu disse implicando, não brigando!" XDD

Algm pra se compadecer do Filipe tbm? Olha, o cara tá tentando...

Mas preciso dizer que... tbm ainda não acabou. O melhor vem no próximo :DDDD



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