Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 43
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Lembram qnd eu disse que o Murilo tava um pouco sentido comigo por eu ter lascado com ele nessa temporada? E que muitos capítulos são meus preferidos? Bom, se dei susto em vcs com dona Marília, preparem os coraçõeszinhos aí que vem bagaça!

Enjoy :)



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Fiz uma promessa a Vini.

E a Murilo, Djane, Gui, Flávia, Dani, Bruno, Sávio, Iara e até meus chefes, Thiago e Filipe. Eu não iria aprontar mais nada essa semana, pelo meu próprio bem, pela viagem e pela boa convivência. No meu estágio fui liberada para a viagem, assim como a Gui e André, por ser um evento acadêmico de importância e por nosso trabalho nem ser remunerado. Ainda bem que essa dispensa foi combinada faz um tempo atrás, pois depois daquela confusão que deu, meu supervisor ora e outra fica meio suspeito de alguma coisa. Terminamos apenas com uma advertência no nosso prontuário.

E Filipe? Esse foi o mais engraçado de todos – ninguém acreditaria se eu contasse. Como havia fugido dele, me pediu “caridosamente” para eu me cuidar, que vários corações dependiam do batimento do meu. Brincando, perguntei se ele tinha virado poeta ou algo do tipo. Escapou dele que “se para amar é preciso ser poeta”, então para ele só precisava começar a escrever. Quando soube da minha façanha, a qual arranquei de Gui, de que fugi dele pra ir para aula e terminei dormindo no carro, ele me abraçou.

Voluntariamente. Do nada. Vendo que eu tinha estranhado, fez uma piadinha qualquer, que ficou mais estranho ainda – eu não conhecia esse seu lado, qualé – e desatou a discutir sobre a conversa com o detetive que contratou. Ainda bem que não estávamos a público nos corredores da empresa, no saguão ou menos ainda na sala dos estagiários. Não, fui chamada na sala dele para conversar sobre Viviane. Alguns tiveram suas suspeitas, eu nada falei a respeito.

Quanto à investigação sobre Viviane, provavelmente as respostas surgiriam enquanto eu estivesse fora. O detetive gostou do material que Filipe conseguiu, havia uma cópia da carteira de identidade dela, algumas poucas fotos e umas cartas. Filipe não quis entrar em detalhes sobre como conseguiu uma cópia de documento dela, tampouco perguntei. Só friso que havia um belo sorriso no rosto desse homem. Um sorriso que me sensibilizou.

Não é que eu não o condene pelas burradas que fez ou tenha amores por ele... É só que fica difícil não ver como ele tem se esforçado. Poxa, e como tem. Se não fosse pelas ignorâncias de como o conheci, nem diria que este é Filipe. Penso às vezes que pode ter sido esse lado dele que Vini conheceu e amou. Não sente falta, será? Vinícius não gosta de falar no assunto.

Também é impossível não comparar Filipe a Murilo, que também tá na luta pela redenção, pelo perdão. Às maneiras deles, estão ganhando atenção. Pelo menos a minha, digo, porque Vinícius não tem ciência de nada de seu pai, do que anda rolando. Ainda. Espero realmente que esse dossiê sobre Viviane dê algum resultado, mais que positivo, sobre esse coração ferido. Só temo que ele não receba esse gesto bem.

Anyway, por enquanto estava tudo muito beleza. Jurei jurado que não faria nada demais, que não mais deixaria ninguém preocupado, chateado ou mesmo irritado. Aí quem vira o jogo? Murilo, essa peste que não para quieta.

Daria um murro nele se não fosse tão sério. Implorava para não ser sério, daquele tipo de corroer um coraçãozinho, já que o meu tava apertadindo, apertadinho... pois não consigo vê-lo desse jeito, rodeado de enfermeiros e um médico o estudando. O medo que senti ainda não passara. Ai dele se apagar daquele jeito novamente, ai dele.

Djane me dá forças ao meu lado, Sávio me segura, quer me acalmar. Como podem sequer pensar que vou me acalmar? Com meu mano nesse estado? Foi ele quem quebrou o acordo, é ele quem tem me assustado. E nem posso dar de cascudo na criatura por isso, não no momento.

~;~

– Eu limpo seu quarto por um mês, tá?

Murilo me olhou da poltrona como que não entendendo porque eu fazia promessas de acordos. Até que ele viu o suporte para o braço, onde geralmente se faz o exame, que sua ficha cai. Encolheu o braço na mesma hora.

– Mas... mas...

Passei a mão por seu rosto, carinhosa, como uma mãe zelosa faz por seu menino, dei beijinho na testa, segurei sua mão firme e forte. Para aqueles que dizem que não cuido dele, estão muito enganados. Murilo ainda assim não curtiu a ideia, não deixava que eu pegasse no seu braço e resistia, queria levantar.

– Mano, é preciso, você sabe.

O bichinho tava confuso, mas tava entendendo que ia fazer exame de sangue. Nem se eu quisesse eu arredava o pé dali, com meu mano precisando assim de mim. Se ele tivesse me ouvido mais essa semana, se eu tivesse cuidado mais dele... que posso dizer agora?

Eu avisei que ficar sem se alimentar direito dá nisso, fraqueza. Mas antes fosse apenas fraqueza que fez meu irmão apagar. Não entendo como tudo aconteceu, pensei ser apenas um resfriado qualquer... Murilo sentia a garganta e ficou febril. Comigo brigando, ele ainda saiu pra trabalhar. Não adiantava dizer o quanto esse projeto tava acabando com ele se não me ouvia.

E então veio o desastre nessa tarde. Eu não fui trabalhar porque na empresa era dia do funcionário, um projeto social do R.H. que preferi não ir porque arrumar umas coisas da viagem valia mais a pena. Murilo saiu cedo, voltou depois do almoço. Quando chegou, só bateu na minha porta, foi direto para seu quarto. Checando algumas coisas da programação do evento, só lhe respondi um Oi e fiquei na minha por um tempo.

Baixei um documento para imprimir, me toquei que Murilo havia mandado a impressora para manutenção, quis saber quando ela retornaria, então fui bater no seu quarto.

Meu mano nessa hora saía do seu banheiro, de banho tomado, vestido em camisa e bermuda, uma toalha aos ombros. Por um momento vi que estava pálido, fiquei na dúvida de reclamar, ele já havia me “ignorado com o Batman” (é um modo de expressar “fale com minha mão”, só que na versão Batman, que se levanta o dedo indicador e o mindinho enquanto o polegar abraça os outros), se achava na razão.

– Mu, você sabe da impress... cara, você tá legal?

Tentei, juro, tentei não falar nada, mas seu aspecto não estava nada bem. Foi andando da porta do banheiro para perto de sua cama e não pareceu lá essas coisas de jeito nenhum. Até vacilou, se segurou no criado-mudo do lado.

– Acho que... ai, tô tonto.

– Senta aqui.

Ele cambaleou um pouco e... não chegou a se sentar. Seus olhos se fecharam de vez, o corpo ficou inerte, tombou à própria cama ao meu grito, desesperado.

– MURILO! MURILO, FALA COMIGO. MANO?

Sacudi diversas vezes, virei seu corpo, dei palmadinhas ao rosto, ele permanecia inconsciente, mole. Fiquei lá a gritar sozinha, temendo o pior, que era um fundo desconhecido. Quando caiu a ficha de pedir ajuda, alcancei seu celular jogado perto do travesseiro, liguei para Vini, que dava fora de área. Transloucada, liguei mais umas três vezes, nada, dava em nada, não suportava ver meu mano desacordado daquela maneira. Mudei então a ligação para Djane, enquanto meu sistema nervoso entrava em pane, o choro angustiante vinha à tona.

A esperança veio com os toques sucessivos, chamava ao menos.

Procurei sentar-me, fazia carinho ao cabelo dele, que depois se tornou um ato desesperado de fazê-lo acordar, dei um puxão com minha mão dentre seus fios crescidos e recém-molhados, e, aflita, vi que mais uma vez em nada resultou.

– Alô?

– D-djane? Me ajuda, o Murilo desmaiou aqui, do nada. Tô c-com medo, não sei o que... o que fazer, ele não acorda.

Não sei se foi ajuda do universo, eu que não iria dispensar, só sei que Djane estava num bairro próximo, Sávio estava no carro junto dela, fiquei com os dois na linha até que estacionassem. Djane chamou um vizinho para nos ajudar a carregar meu irmão, pois ele ainda se encontrava apagado, seria ruim para só nós carregá-lo, que é grande e pesado. Sávio até insistiu que conseguiria, que tem o tamanho quase de meu mano, eu que não quis arriscar.

– Calma, Lena, vamos para a Emergência, lá eles v...

– Eu só quero que ele acorde, tá? Se você conseguir acordá-lo, eu paro de tremer.

Fui um pouco rude com Sávio, que só me ajudava e eu lá discutindo com o cidadão. Iria me desculpar depois.

Não precisou que carregassem meu mano, ele acordou bem na hora que iam levantá-lo. Havia pedido, baixinho, para Murilo, que abrisse os olhos, por favor, que apenas abrisse os olhos. E ele abriu. Nunca foi tão bom vê-lo com aquele troço no olho esquerdo, ainda um pouco inflamado.

Se remexeu na cama, não reconheceu onde estava ou o que fazia, eu vi confusão nele, que, maluco, quis se levantar com brusquidão. Desorientado, o persuadi a ficar parado, deitado, contei o que tinha acontecido, enxuguei minhas lágrimas. A palidez continuava ali, e a sua voz baixa, perdida. Ainda sim, mal esperamos ele se recuperar para o levarmos.

– Pra onde voc... onde tão me levando?

– Pro hospital. Eles vão ter que te examinar. E não discute!

Só que eu fiquei mais maluca por ele não ter dado um pio sobre isso. Quer dizer, é o Murilo, ele sempre vai reclamar, não importa para o que seja. Piscou umas vezes, mexeu a cabeça. Enquanto Sávio e meu vizinho o apoiavam para o carro, peguei os documentos dele, sua carteira, celular, e mais os do plano de saúde. Se Djane não tivesse me dado o toque de meu traje, eu apareceria no pronto-socorro de pijama.

Só que fui de pijama mesmo, só tirei a parte da blusa, coloquei uma camiseta mais decente, calcei umas chinelas, peguei minha bolsa, já os encontrei no carro, Murilo quase deitado ao bando de trás. Com cuidado, coloquei sua cabeça ao meu colo, observando qualquer movimento seu, vai que acontecia de novo?

Djane ao volante, Sávio no banco carona, falavam, eu não os entendia, era como se eu estivesse longe, enquanto permaneci a observar e cuidar daquela criaturinha indefesa, sua respiração regular, totalmente o contrário da minha. Piscava ainda lerdo, não tinha muita noção do que acontecia.

Abracei seu rosto com minhas mãos e puxei sua atenção para mim, que, para ele, estava de cabeça para baixo:

– Murilo?

– Hum?

– Foca em mim, ok? Não ouse fechar esses olhos de novo. Pode ser?

– Hã... ok. E... hum... Lena?

– Oi, mano do coração?

– Num chora não. Eu tô... hã... um pouco melhor, sei lá.

– O que tá sentindo?

– Minha cabeça tá doendo... tô meio tonto ainda.

Eu só queria mantê-lo falando, qualquer coisa, nem que eu fosse discutir o clima, como quem puxa assunto com estranhos para evitar o cri-cri do elevador. O irônico é que meu irmão trabalha com isso... e tem trabalhado tanto ultimamente que nem eu buzinando no ouvido dele deu jeito.

– Vamos levantar devagar, tá? O Sávio foi chamar ajuda.

Fui me posicionando assim que o carro de Djane chegou à portaria de Emergência, meu amigo saltou do carro, eu alternava olhar para a porta do hospital e meu irmão, que se esforçava para se erguer do banco. Um pouco antes de um carinha de branco aparecer com uma cadeira de rodas para buscar meu mano na porta do carro, Murilo me segurou na mão, ele ainda não tava bem.

Tentar segurar o choro é uma coisa, conseguir é outra.

– Lena?

– O-oi?

– Num me deixa não.

Funguei mais, passei uma mão aos olhos, com a outra apertei a dele.

– Tô aqui, maninho... tô aqui, não vou sair do seu lado, prometo.

– Mana, você tá tremendo.

– Vai passar tá, vamos sair agora.

Plantei os documentos no balcão de atendimento pela orientação do enfermeiro que empurrava a cadeira de meu irmão para a sala de triagem. Checados, deixei com Sávio, nem esperei por Djane que fora estacionar o carro, me meti na triagem junto, fui explicar para o médico o que aconteceu. Mediram a pressão, relativamente baixa, questionaram sobre medicamentos, sintomas e nos passaram direto para um consultório. Passamos na frente de outros pacientes, eles podiam esperar outra oportunidade, dar essa vez para meu mano que tava num caso mais sério.

Numa rápida avaliação, falei com o médico, reforcei os sintomas, contei sobre a conjuntivite, o medicamento que Murilo tomava, pois o seu caso precisou de antibiótico prescrito pelo oftalmologista, comentei sobre essa semana, que andava estressado e não se cuidando bem... enfim, detonei meu irmão para o doutor. Murilo parecia aéreo, o que me preocupava muito.

Fiquei besta mesmo foi quando o doutor pediu a meu irmão para levantar a camisa e... pontinhos estavam espalhados por seu corpo. Pontinhos vermelhinhos, como de alergia, não sei, que deixou a nós três bobos. Quer dizer, o médico tinha lá suas suspeitas, eu e Murilo que ficamos encarando.

No carro eu havia visto mesmo um pontinho no rosto dele, cogitei ser uma espinha. Uma espinha aos 28 anos? Sim, é normal, por isso não me atentei a isso.

– Mu, como você tomou banho sem ver... ISSO?

– Sei lá... eu só meti a cara no chuveiro. Até vi uma no meu braço, pensei ser picada de mosquito. Perto da casa de Armando tinha uns que ficavam enchendo o saco e... doutor, o que tenho?

– Só teremos uma confirmação depois de uns exames.

O médico foi ao computador na sua mesa, prescreveu umas coisas, imprimiu duas folhas, eram as requisições que eu teria de mostrar no balcão próximo dali.

– O que o senhor acha, doutor? É sério?

O médico escondeu um risinho, aposto que fingiu estar procurando algo no bolso de seu jaleco. Não sabia o que esperar, tampouco meu irmão, que ficou a se analisar para contar as pintinhas como uma criança que descobre algo novo. Só que ele fazia isso num modo mais desesperado e assustado por encontrar várias delas.

– Um pouco. Pelo que se mostra... bom, parece catapora.

– Catapora? Murilo, você nunca teve catapora?

Meu mano fez a cara mais “que porra é essa” de todas quando me virei pra ele, franziu a testa quase dando de encontro suas sobrancelhas, de tão absurdo que soou. Eu não devia estar muito diferente.

– Não que... não que me lembre...

Na ala de exames, Murilo ficou mais resistente quando o enfermeiro apareceu com o material para a coleta. Se ele já estava branco, ficou mais branco ainda, como se fosse vomitar... ou fugir. Mencionei ao enfermeiro da aversão de meu irmão, que tivesse calma e paciência. Mas o carinha quis debochar e...

– Tamanho marmanjo, e esse medo de agulha.

E eu virei bicho, assassina. Acabava de falar para ter paciência, que meu irmão precisava se manter calmo, e o cara queria bagunçar desse jeito? Ah, eu fiquei zangada. Mas me controlei. Lancei o deboche de volta.

– Tamanho enfermeiro, e esse comentário idiota.

O cara era até bonitinho, loirinho, boa peça, se não fosse esse comentário. Perdeu a beleza. Queria enfiar a agulha no olho dele para ver se ele não teria certa aversão depois. Isso, infelizmente, não passou de imagens na minha cabeça.

– Desculpe-me, senhorita, não foi minha intenção.

– Apenas comece...

Terminei só por abraçar meu maninho, que aceitou de bom grado. Havia entendido que de lá ele não sairia tão cedo, nem se desse na telha de dar uma carreira e fugir. Saímos de lá com meu mano já no soro para transferir para a enfermaria. Numa cama ele deitou.

– O que tá sentindo?

– Minha cabeça dói ainda... me sinto cansado.

– Então dorme, vai. Eu vou ficar por aqui.

– Ok...

Vê-lo dormir era diferente do que vê-lo apagado. Apesar de respirar normalmente em ambos os casos, era diferente no modo de encarar. Naquela hora meu espírito estava muito perturbado pelo inesperado, e, ainda que não estivesse totalmente tranquila, me acalmei um pouco. Só então lembrei dos outros na sala de espera.

Que meu irmão nunca mais me desse um susto desses.

Se não eu mesma o mataria.

~;~

– Pai, como que o Murilo NUNCA pegou catapora antes?

Liguei primeiro pra papai, senão mamãe ia ficar alucinada. Nesse quesito, meu irmão puxa mais para ela e eu para papai, que é o mais sensato. Mamãe e Murilo só nunca aceitam quando dizemos isso.

– Acho que ele era muito resistente no seu sistema imunológico. De você ele só pegou gripes; as outras, como a catapora, rubéola e piolho, bom, não de ti ou de outros.

– Pai, piolho não é doença.

– Você entendeu, filha.

– Mas... humf, e ele nunca foi vacinado?

Por que eu ainda perguntava isso mesmo?

– Claro que foi... mas essas coisas vencem, sabe? E com esse probleminha de agulhas que ele tem, ficou por isso mesmo. Como ele está agora?

– Descansando, tomando soro. O médico disse que estava um pouco desidratado. Teve um pouco de febre depois que chegamos e... ai, pai, foi tão... horrível.

– Imagino, filha... fico maluco de pensar que vocês dois estavam sozinhos e... que pudesse acontecer algo. Como você está?

– Me acalmando aos poucos. E a vovó?

– Melhorando. Foi só um susto. Como com o seu irmão... Tenho que desligar, vou na calma para comunicar a sua mãe, sabe como ela é... Tchau, querida. Qualquer coisa, não hesite em me ligar. Deus te abençoe.

– Ao senhor também, pai.

– Me mantenha informado. Amo você, Milena. Beijos.

Me apoio, de costas, à parede do corredor do hospital, de onde vinha uma ventilação um pouco fria. Só então me arrependi de não ter pegado uma camisa mais quente na correria, catei a primeira que vi. Abraço-me, inspirando forte, gritando a mim mesma que estava tudo bem, o pior havia passado. As imagens que, merda, não queriam ir embora. Revivia a angústia de ver Murilo cair na sua cama, inconsciente.

Vini, onde você está?

Continuamente pensava nisso, queria que estivesse comigo. Infelizmente não conseguira contatá-lo, a ligação só dava uma mensagem eletrônica de fora de área. Lutei tanto para encontrar um sinal bom de sinal para não conseguir nada.

– Ele vai ficar bem, você sabe.

Só percebi que tinha os olhos fechados quando fui desperta. Sávio finca perante de mim. Subitamente me senti mal por ter sido grosseira com ele, estava num momento de descontrole, que me entenda.

– Espero que sim. Desculpe se fui áspera com você naquel...

– Tudo bem, era seu irmão caído, eu... eu entendo.

Ouvir “irmão caído” traz novamente os feels, os olhos se enchem, ele percebe.

– Eu... eu não quis dizer... errr...

– Eu sei, eu ssssei.

Mas aí eu já tava chorando de novo. E fingindo que não estava.

Sávio me aninhou em seus braços, onde pude descansar o peso das imagens que não queriam largar da minha cabeça. Fechava os olhos, tudo rolava de novo. A queda, a gritaria, a correria. O desespero.

Onde estava a vibe boa dele? Onde estava o bom feeling quando eu mais precisava? Não foi dessa vez que chegou a mim.

– Vem, vamos sair daqui.

Djane havia ficado com Murilo enquanto saí para ligar. Por que todo sinal de celular é péssimo dentro dos hospitais? Se estivesse no outro hospital, questionaria isso para o enfermeiro bonito. Só que pegamos a instituição mais próxima, não aquele onde Vini foi internado.

Internado. Meu irmão poderia ficar internado.

O médico disse que catapora é uma doença relativamente leve... quando criança. Quando adulto, o quadro da pessoa pode ser um pouco mais instável, principalmente se meu irmão está enfraquecido. Tudo leva a crer que sua imunidade está baixa.

– Como vocês acabaram juntos àquela hora, você e Djane?

Disparei de súbito assim que sentei à mesa de uma lanchonete. Como uma criança, ainda mais de pijamas, coloquei os pés na cadeira, as pernas dobradas, de forma que podia abraçá-las e encostar o queixo. Na cadeira da frente, meu amigo me observava.

– Ah, minha moto tá com meu tio. Tive que passar para ele numa emergência, aí fiquei sem transporte. Liguei para a professora, pra avisar que iria me atrasar para a aula de hoje, aí ela perguntou onde eu estava, que era perto de onde ela passava. Mal passou 10 minutos, você ligou... Por um segundo pensei que... fosse você quem precisasse ir para a Emergência.

Conforme foi relatando, me perdi em suas palavras. Não que eu não estivesse prestando atenção a elas; pelo contrário, me liguei bastante, porque... lembram de uma outra época. Se Sávio não tivesse suavizado sua expressão e pedir uma explicação do por que eu vagamente ria, não teria me tocado que estava divagando em outro espaço.

– É só que... não sei bem, mas algo assim já aconteceu uma vez. É como se você fosse eu, e meu irmão fosse Vinícius. Só que é certeza que vocês não vão acabar juntos. Acredito que vocês não são desse time.

Cá estava eu, fazendo piada. Acho que a vibe boa que sempre fluíra de Sávio voltara a emanar dele, pois já me encontro sorrindo, como ele. Mesmo que sejam sorrisos no meio da dor.

– Oh, não, definitivamente não.

Pedimos apenas água quando o garçom nos interrompe. Preferiria me acalmar definitivamente antes de voltar para perto de meu irmão. Odiaria se me pegasse desse jeito, caída. Me prendo então à memória de como foi ver Vinícius pela primeira vez.

– Nunca te falei, mas eu conheci o Vini num hospital. Ele inconsciente... em coma.

Levantei os olhos para o rosto do meu amigo na mesma hora que suas sobrancelhas saltaram, totalmente surpresas.

– Nossa.

– É, pode-se dizer isso... fui sorteada para ser monitora de Djane num evento, iríamos pegar algo na casa dela quando no caminho ligaram do hospital. Demos a volta, eu tava lá de carona. Foi... muito estranho. Costumo dizer que o universo trabalha de um jeito bem maluco, como hoje, e essas coisas acontecem. Quer dizer... é como um encaixe bom do qual eu agradeço muito a Deus. E obrigada, Sávio.

Ele fica sem jeito, balança a cabeça, aceita sem dizer muita coisa. Apenas abre a garrafinha de água que o garçom trouxe, enche nossos copos. De alguma forma, isso me fazia bem.

– Então, como foi, ele acordou do nada?

– Mais ou menos isso. Quer dizer, nunca houve uma explicação para o que aconteceu. Às vezes se eu digo que foi o acaso, sorte ou que era hora de ele acordar, nem ele nem Djane querem aceitar a ideia. A teoria preferida segue o pensamento costumeiro sobre o universo. De que, por alguma força desconhecida, o enfermeiro pensou que eu era da família, me guiou para o quarto.

Sávio me ouve com atenção, bebericando de sua água, um pouco debruçado à mesa. Eu, por outro lado, mantenho minha posição quieta, abraçada a mim mesma, deixando que o ar vá encontrando sua entrada e sua saída naturalmente enquanto minha respiração começa a se regular. Falar de Vini me deixava assim, essa era a verdade talvez.

– E lá estava ele. Respirando, quieto, dormindo... até que, do nada, ele acordou.

– Mas... como?

Ri minimamente de seu interesse, concentrado às minhas palavras também. Poucas foram as vezes que contei essa história, não sabia que era tão gostosa de contar.

– Tô dizendo, ninguém nunca conseguiu explicar. Quando Djane recebeu uma ligação do hospital, comigo dentro do carro, parece que ele tivera uma mudança no seu quadro, só que fora tão mínimo que não constituiu uma mudança válida. Ainda assim, ela foi chamada. E eu só parei lá no quarto, observei ele “dormir” sereno, não sabia quem era...

Bebo um pouco de minha água quando a memória vem mais forte.

– Não fiz nadinha, mal me mexi... foi o que jurei ao segurança. Porque eles meio que... me expulsaram do quarto depois.

Fiz cara de sapeca.

– Você sempre se metendo em confusão...

– É que eu e Djane não éramos próximas e... tinha outras questões mais.

– Me parece uma boa história de amor.

– E é. Mas para as coisas acontecerem mesmo, demorou um pouco. Levou um tempo para percebemos que havia algo entre nós. Como eu dizia para a Flávia, éramos um paralelo de outra história.

– E não são mais, presumo. Você o ama, de verdade.

– Amo. Nossa história é bem mais complicada, mas no fim de cada dia podemos dizer que alguém lá em cima gosta da gente quando estamos juntos. É um sentimento muito bom, muito acolhedor.

E eu só queria que ele estivesse comig...

– LENA?

Vinícius chegou enfim.


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Notas finais do capítulo

Quem mandou não se cuidar, hein, Murilinho? A culpa não é minha.
Ele não quer dizer, mas esse cap. foi muito amor sim (apesar dos apesares).
See ya!

P.S.: A bagaça ainda não acabou hohoho



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