Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 39
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Se a Milena já é misteriosa, imagina o Sávio... Mas quem balança as estruturas nesse capítulo é o André (e não é de uma boa maneira u.u)

Enjoy ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/419715/chapter/39

A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena”.

Não sou a melhor pessoa do mundo para pra dar lição de moral, se sou dona de fazer muita besteira. Assumo que faço e, muitas das vezes, poderia fazer de novo e de novo e de novo, para provar algum ponto, para me divertir, pra sacanear ou algo assim. Mas sei medir consequências. Pelo menos parte...

Sim, eu penso se vou prejudicar as pessoas. Tenho a consciência (ou diria decência?) de me preocupar com isso, se não afetará mais gente do que devo ou planejo. Como ter alguma perspectiva de meu objetivo, saber onde tô pisando, que limites existem. Só que nem todas as pessoas fazem isso, infelizmente. E nem tudo é que é premeditado é necessariamente uma brincadeira.

André, por exemplo, passou dos limites.

Quero tanto matá-lo que múltiplas maneiras se passam aos meus olhos só esperando ser uma delas a escolhida, como num jogo, para então executar. Mas primeiro tenho que desfazer a desgraçada que ele aprontou pra cima de mim.

Como tudo aconteceu?

Era pra ser apenas mais um dia no estágio, ontem. Como o meu chefe havia saído para uma reunião fora da empresa, acompanhado de outros diretores dos setores adjacentes ao nosso, os estagiários interpretaram isso como uma folga. Por mim estava indo até bem, pude descansar um pouco. Incrivelmente eu me cansei mais em casa que fora dela, por causa dos cuidados que tinha com meu irmão em suas condições de “dodói”. Faltei apenas um dia pra não atrapalhar em nada no serviço – e também pra dar um tempo de Murilo, que só resmungava o dia inteiro sobre sua “debilitação”. Ficar em casa estava fora de cogitação.

Conversava com um grupinho de estagiários e funcionários e tal quando ouvimos umas risadas um pouco altas, vindo da sala onde geralmente fica todo mundo, que é perto da sala de reuniões. Imaginei quem era logo de cara, rolei os olhos, porque André adorava uma atenção besta dessa. Um tempo depois seu grupinho de marmanjos saiu de lá para ir à lanchonete, como os ouvi falar, e eu levantei para pegar um item de maquiagem que Nina, uma das funcionárias com quem eu conversava, me pediu.

Nisso, André entrou no meu caminho, seus amiguinhos com palhaçadas vindo logo atrás. No momento que bati o olho no cafajeste, soube que dali vinha merda. E veio:

– Então, Milena, amor... Você tem namorado?

Uma sobrancelha minha subiu, questionando qual era a pegadinha da pergunta idiota dele. Ele sabia que sim. Uma pulga se fincou atrás de minha orelha pra descobrir o que o maldito pretendia.

– Tenho. Por quê? Ele não tá interessado em jogar nesse teu time.

Uns silvos de zoação vieram logo em seguida, vindo dos idiotas. Senti que o ambiente em peso nos observava, pois de repente percebi a diminuição dos ruídos de conversa. Ao longe, Gui se levantou, notei, parecia de prontidão para intervir. Ou partir pra cima.

A minha resposta debochada não afetou em nada o André, que só aumentou aquele sorrisinho idiota dele. Na calada da minha mente queria saber o que aconteceria se eu desse um soco nele no ambiente de trabalho. Infelizmente não valia a pena, então só esperei que fosse embora.

André continuou sua abordagem, me barrando de passar:

– Você me acha bonito?

O que ele queria com isso, afinal? Foi o que eu quis responder. Mas já que era um jogo idiota, eu preferi jogar também, e montar minhas próprias estratégias. Cada bola de merda que jogasse, eu rebateria.

– Embalagem é apenas plástico descartável.

Na mesma hora aquele sorrisinho dele se apagou, quase pude ver uma veia saltar no seu rosto e foi minha vez de rir, pois havia dado uma bela rebatida. Seus seguidores também acharam, já que se acabavam em risos, bagunçavam com André, que constatei estar zangado.

– Sua... Hey!

Gui, atento à nossa conversa, se meteu no meio, o empurrou antes que André pudesse completar o que iria dizer. Antes que começasse alguma confusão, puxei meu amigo para longe dali, eu que não daria esse gostinho para André por ter nos deixado zangados.

Afastados, Gui me contou do que se tratavam aquelas perguntas todas. Havia um vídeo viral percorrendo a net, de um cara que conquistava garotas com apenas três perguntas, era esse que os caras estavam assistindo uns tempos atrás. O cara do vídeo abordava qualquer mulher que ele achasse bonita, perguntava se ela tinha namorado, se achavam ele bonito. As imagens mostravam as mulheres respondendo sim. A pergunta final era algo como “o que falta para você me beijar agora?” e então o cara se jogava pra cima das mulheres, tomando seus lábios num impulso.

Ainda bem que Gui interrompeu o plano de André. Eu, sinceramente, não sabia o que eu poderia fazer a respeito se ouvisse uma coisa dessas vindo dessa desgraça de ser... Nenhum tapa, nenhuma joelhada aos seus soldadinhos de reprodução seriam suficientes – apesar de que com isso eu salvaria o mundo dessa praga.

No fim do expediente, André fez questão de esbarrar em mim. Ouvi quando disse baixo que teria “volta”. Nem me preocupei, o André só late, late, late, no fim das contas não faz nada, ele não tem uma cabeça para algo substancial.

E continuo não achando que tenha cabeça após ter descoberto vários papeis documentais da empresa Muniz dentre meu material. De primeira nada fez sentido, fui passando as páginas, sem ver a procedência, como haviam parado na minha pasta da faculdade. Verificando melhor o conteúdo, percebi que eram os papéis que meu chefe Thiago procurava nessa tarde, antes de nos liberar mais cedo.

A empresa de energia da cidade havia passado um comunicado avisando que desligariam a energia daquela área a partir das 16h, então muitos funcionários não poderiam trabalhar. Outros ficaram mais por questão de não atrasar alguns procedimentos, que poderiam ser feitos manualmente. Até encontrar esse conjunto de papéis no meu material eu estava alegre, essas folgas não acontecem regularmente, achei de deveria aproveitar para um tempinho livre.

Cheguei à faculdade com Gui cedo demais, assim ficamos conversando na área da lanchonete. Um tempo depois, quando me pediu para ver uns cálculos que ele não conseguira copiar de uma aula, que eu vi esses documentos como seres estranhos na pasta.

– Lena, o que foi?

– Esses papéis...

Foi aí que levantei o olhar deles, e ao longe eles captaram uma pessoa se vangloriando, estava à espera desse momento. Soube então que era armação de André, a “volta” que havia prometido no dia anterior. Foram meros segundos que nos encontramos num olhar para eu ter minha confirmação de vingancinha por parte dele. Uma fúria me subiu.

– Lena?

Gui, como sempre, por fora do que acontecia.

Bruscamente fiquei de pé, indignada, sustentando o olhar com o desgraçado do outro lado do pátio, perto das escadas. O aspecto dele era de relaxado, divertido, vingado encostado ao corrimão, observando tudo na maior calmaria, enquanto conversava com um dos patetas que o segue. Esperava pelo momento que eu perdesse a cabeça, aposto.

Gui mais uma vez me chamou a atenção. Só assim pude falar algo, começava a ficar cega de raiva.

– Esse desgraçado... eu vou... eu vou... Argh. Sabe aqueles papéis que Thiago tava procurando no nosso setor, que nem maluco hoje? Que pediu pra todo mundo procurar? Eles estão aqui, Gui, AQUI! Foi o André, olha a cara dele.

Meu amigo olhou para onde apontei, onde o idiota se portava.

– Tem certeza?

– Droga, eu tenho que devolver isso. E rápido. Nem sei o que vou dizer pro Thiago...

Comecei a juntar tudo sob a preocupação de Gui, que olhava algumas folhas, ele viu que eram aqueles papéis mesmo que meu chefe procurava. Olhei no celular as horas, eram 17h15, tinha que chegar lá até 18h. Nem daria tempo de pensar no que dizer, como explicar.

– Diz a verdade, oras. Vamo, eu te levo.

No caminho para o estacionamento da frente, onde o carro de Gui estava, Sávio apareceu. Às quintas-feiras ele faz monitoria com Djane pela tarde, devia estar lá desde cedo. Claramente percebeu meu estado, mas não pude parar para explicações, a pressa, o tempo passando, chegar a tempo, era tudo o que me vinha na cabeça. Nem poderia ligar para Iara, comunicar o acontecido, se ela nem na cidade estava.

André ainda ousou nos acompanhar, ria divertido o desespero que havia causado. Quão tapada pode ser uma pessoa dessas? Que não vê quantas pessoas está prejudicando por uma coisa tão besta?

Não dirigi a palavra a ele momento algum, isso só iria lhe divertir mais. Mas fui obrigada a gritar com o maldito, quando vimos que o carro de Gui estava barrado pelo carro dele, sem chance de sair. Minha fúria se triplicou, sem saber como proceder, com tantos documentos importantes à mão, sem poder me mover se André se recusava a tirar o carro.

– Seu desgraçado, você fez tudo isso de propósito.

Avançaria nele se Sávio não tivesse me barrado. Seria uma coisa muito estúpida de fazer, mas não ligava para isso no momento. Gui também fez sua tentativa, só que André ficava rondando o carro, eu não tinha tempo para suas brincadeiras.

Precisava de um plano urgentemente.

– O que foi, gente? O que ele fez?

Sávio era o outro perdido da história, que insistia em intervir. A calmaria de sua voz dessa vez não me acalmou em nada, ia sendo tomada de pânico a cada segundo de imaginar o que aquilo poderia implicar para mim no estágio. Como iria pegar super mal, mesmo depois de todos os meus cuidados. Tinha de consertar o estrago primeiro antes de pensar em como matar o André.

Diante das circunstâncias, só me sobrou uma opção:

– Sávio, preciso que me leve de moto num lugar urgentemente. Estou lutando contra o tempo. Pode fazer isso por mim?

Ele olhou para nós três, a confusão na porta da faculdade, viu que André não iria ceder, e assentiu. Sacou a chave de sua moto do bolso, eu apenas entreguei minha bolsa a Gui e já me vi sentando no banco, puxando o capacete, explicando para onde deveria seguir.

~;~

Cedi à raiva.

E André bem que mereceu.

Já o diretor da faculdade não achava isso. Nem minha mão que latejava um pouco pelo soco que dei no maldito, Sávio não percebeu a tempo para me parar. Na hora me pareceu ótimo, agora nem tanto...

Sob o olhar irritado do diretor Fabiano, permaneci na minha, calada, de braços cruzados, assim como a André, nós dois sentados perante a mesa da direção. Me pegaram num momento de agressividade – que nem passou ainda, na verdade – brigando com ele. Não devia ter me rebaixado a tal ponto, mas como lidar uma vez que ele provocou a onça com vara curta?

– Vocês não vão falar?

Fabiano não nos suspenderia, nem poderia exigir nada, nenhuma explicação sobre o que aconteceu no corredor. O máximo que receberíamos seria uma advertência por perturbar a ordem da instituição e por responder com violência ao problema que tínhamos.

– Ok, estão sob advertência. É a sua segunda só hoje, senhor Hermani. Algo a dizer sobre isso?

– Não, obrigado, senhor.

– Uma terceira e será suspenso. Fui claro?

Poderia imaginar porque era a segunda dele, teria que perguntar a Gui depois. Por um segundo nem me liguei disso, só bufei de raiva por sentir a decepção na voz no diretor, muito desapontado por meu comportamento. Ele nos deu uma bronca sobre brigas na faculdade, como isso era uma falta de respeito e, apesar de aquilo condizer com o perfil de André metido em intrigas, não condizia comigo. Quanto a isso não tirava sua razão. Contudo, quando se chega a determinado ponto da raiva, é ela quem nos controla, e eu cheguei a atingir tal ponto. Quer dizer, André me induziu.

Logo que pisamos eu e Sávio na faculdade, vi que o maldito nos esperava, sentado numa mesa do pátio da lanchonete como se estivesse num camarote, assistindo a toda a desgraça que jogou para cima de mim. Mais uma vez a raiva me subiu, controlei, a aula já havia começado faz um tempo. Decidir entrar desse jeito mesmo, atrasada, na classe para o horário de Djane. André nos seguiu, afinal, tudo o que ele queria havia conseguido.

Eu, por outro lado, estava por um fio. Não esperava, no entanto, qualquer coisa para desencadear e extravasar toda a raiva que sentia por dentro. E foi o que veio, André logo atrás de mim resmungou um deboche. Sávio até ficou entre nós pra evitar que eu revidasse. Só não foi rápido o bastante.

– André, para, cara ou eu...

– Ou o quê, Sávio? Essa palhaça mereceu.

Palhaça? PALHAÇA? Algo me subiu repentinamente, vi tudo vermelho, desviei de Sávio e dei um soco nas fuças de André. Posso ter sentido uma dor aguda nos dedos na mesma hora, mas me satisfiz com meu feito. Sávio na mesma hora me puxou, me segurou pela cintura, nem me dei conta que tava xingando. Só quando Fabiano surgiu do nada, vinha do banheiro masculino perto de onde estávamos, que viu a briga, segurou André de revidar. E nos trouxe para a direção.

Infelizmente não arranquei sangue dele no meu golpe, nem o machuquei muito já que meu pulo foi um impulso tão grande que meio que passou de raspão, atingindo mais sua mandíbula. Por isso minha mão doía. Estralei os dedos pra ver se melhorava minha articulação, Fabiano me olhou sério. Engoli minha chateação, esperei por sua dispensa.

– Melhor que isso não venha a se repetir. Podem ir.

André vazou logo da sala. Preferi nem me mexer para evitar qualquer colisão de sair na porta, evitava também corresponder ao diretor, quem me observava, esperava que falasse algo. Vendo que já ia me retirar e não diria nada sobre o caso, ele tentou mais uma vez:

– Você é melhor que isso, senhorita Milena. O que quer tenha acontecido, não vale a pena sair disferindo socos dessa maneira. Contenha-se da próxima vez. Na verdade, vamos confiar que não haverá segunda vez.

Apenas assenti antes de me ver no pátio, já movimentado pelos alunos que o enchiam, era hora do intervalo. Perdi a aula de Djane por isso. Não valeu a pena, como Fabiano falara. Junto de meus amigos, Sávio, Flávia e Gui, que sabiam bem o que acontecia, permaneci na sala de aula depois de todos saírem. Gui me confirmou sua advertência, não chegou a dar um soco, apenas empurrões violentos contra André até que um professor interviu.

Apesar de falar abertamente com eles, eu precisava de um ar para lidar com tudo isso. Pedi licença, fui à biblioteca para entregar um livro, preferi ir sozinha. Ouvi uns cochichos por todo o caminho, além do próprio local, onde havia uma pequena fila de entrega de livros locados. Mais uma vez permaneci na minha, não iria dar trela para aquilo. Agradeci mentalmente pela fila ter andado rápido, de forma que logo me vi saindo de lá.

Dei de cara com André.

Respirei fundo, eu não cederia novamente. Mesmo que isso o fizesse ser suspenso – e eu receberia minha segunda advertência. Preferi outra abordagem.

– Por quê?

Um sorriso ruim veio dele.

– Me surpreende como às vezes você pode pensar pequeno, Mileninha. Se não se lembra de ontem, faço esse favor pra você: me humilhou na frente dos funcionários, te ferrei com eles. Disse que ia ter volta, não disse?

– Isso eu sei, seu idiota. Quero saber por que te falta cérebro. Sabe muito bem que isso prejudicaria mais gente do que somente a mim.

Ele dá de ombros.

– Não tenho culpa e não me importo com outros envolvidos. Contanto que você se ferre, por mim... tanto faz se outros se prejudicarão.

– Você tá muito confiante. Até parece que não podem te pegar.

– E não vão. Até onde me lembro, o professor Bart se aproveitou bastante de ti. Só se deixou ser pego. O que não vai acontecer comigo. Você não é do tipo que delata as pessoas...

– Não ache, seu verme, que me conhece, que pode me derrubar.

– Sabe, ele me deu a maior dica de todas. Te pegar pelo orgulho. Brilhante!

– Tempos passados, André, tempos passados. Já vai pensando com que cara vai aparecer amanhã no estágio, porque sim, te denunciei, com todas as letras possíveis, ao nosso supervisor. Pegou a dica errada, seu idiota.

Ele vacila:

– Você não...

– É o que veremos amanhã. A propósito, Thiago mandou que aparecêssemos 9h no escritório dele. Agora já sabe o porquê. Se eu caio, você vai junto.

~;~

Ver que pude desestabilizar a alta confiança de André foi um alívio, quase me senti vingada. Até porque isso mostrava que eu estava mais aberta, não guardando as coisas para mim como antes. Outra prova disso é que quando Djane me perguntou sobre o assunto, mais precisamente se contaria aos “nossos garotos” – sim, ela usou essa expressão – assenti, imaginando como e por onde começaria quando fosse falar. Não só isso, passei uma mensagem também pra Vini, como uma prévia do que viria pela frente. Que nem ele nem meu irmão ficassem insanos.

De imediato Vinícius respondeu a minha sms, perguntando sobre o que houve, se era muito sério. Disse a ele somente que o esperava, estava tudo bem, que ele prestasse atenção à aula dele. Talvez tenha mandado muito cedo. “Me meti em confusão, você não vai gostar” pode deixar uma pessoa sã matutando por muito tempo até saber do que se trata.

Deixo o celular sobre a mesa, suspiro, deito a cabeça no ombro de Dani. Ela ficou sem o último horário e assim que soube dos rumores da briga que tive com André, veio conversar comigo. Enquanto sua carona se resolvia com a bibliotecária sobre umas multas de livros, eu explicava o ocorrido. Além dela, Sávio também permanecera em minha companhia. Disse que não me deixaria sozinha, não depois de tudo que rolara num dia só.

– Aquele cafajeste roubou documentos e plantou na tua pasta? Ah desgraçado.

– Meu ponto exatamente.

– E você conseguiu chegar a tempo para entregar?

– Sim, chegamos lá com tempo, na verdade. Só que Sávio teve que aplicar muita velocidade, fez umas manobras e tal, de forma que quando ele de fato parou, eu quase não me mantive de pé. Numa sorte-azar, meu supervisor estava bem na entrada, me segurou quando viu que eu ia cair. Foi tudo muito vergonhoso, eu sentada na calçada, entregar os documentos, explicar o que havia acontecido, ele chateado...

– Tenso.

Tenso é pouco. Pra cortar caminho e desviar de todo um trânsito, Sávio me avisou pra me segurar bem, na hora não pensei que seria tão assim. Me colei nele quando veio o choque de realidade, a pasta grudada entre mim e ele, só fechei os olhos e esperei pelo momento dele parar.

Algumas vezes reduzia a velocidade, depois aumentava de novo, não acompanhei que trajeto fez, só senti que deu muitas curvas, deve ter entrado num dos bairros para evitar a avenida principal que começava a encher de carros. O nervosismo pela raiva era latente, o que me deixou mais mal ainda. Por isso que quando desci da moto, tirei o capacete, tudo rodou, ouvi gritarem meu nome ao longe.

– MILENA?

Se bem que eu caí, sentada na calçada. Aí que vi que era meu supervisor me sondando preocupado, me segurando pelos ombros, ele gritava algo pra mim, Sávio logo veio me ajudar. Levantei a mão ao ar pedindo um tempinho para eu me restabelecer, puxei o ar, abaixei a cabeça. Os dois falavam, eu sequer os entendia. Uma comoção se juntou ali na portaria da empresa, exclamando suas surpresas pelo acontecido.

– Milena, você tá bem? Milena, tá me ouvindo?

– Oi? Sim, eu... errrrr... foi só uma tontura. Eu... hã... Vim trazer isso.

Thiago me olhou esquisito ao receber minha pasta da faculdade, não entendia. Ainda nas suas mãos, criei coragem de abrir e tirar de lá os documentos. Por um instante vi que ele não acreditava no que via até tocar nos papéis, segurá-los, passar um a um como se passa as folhas de um livro.

– Como? O qu...?

– Eu os achei na minha pasta. Acredito que colocaram aí... e de propósito. Sinto muito. Por isso corri para chegar aqui a tempo.

– Vamos para minha sala.

Sávio me sustentou em seu ombro, onde pude me segurar melhor para recuperar-me. Nessa hora já não tava tão mal, tava era envergonhada, pela cena que fiz e pelo ocorrido. Uma vez na sala de meu supervisor, fiz o que Gui havia me dito para fazer, contar a verdade, tudo o que eu sabia sobre o caso.

Quer dizer, omiti apenas a cena do dia anterior com André, falei apenas que tive um desentendimento com esse ser, que já tive muitos com ele, mas nada que chegasse ao ponto que chegou dessa vez. Ouvindo tudo, Thiago saiu da sala, fiquei com Sávio na sala cuidando de mim. Me ofereceu água, me acalmou os nervos, parecia tão chateado quanto eu. Quis perguntar como ainda ele poderia andar com André depois de ter ouvido muitas reclamações minhas sobre. Sávio nunca correspondia nesse assunto.

Quando Thiago voltou, foi só para me dispensar. Recuperada, me desculpei por tudo, expus minha vergonha e fui sincera em cada coisa que falei, de como ainda tentei consertar a armação. Ele me pediu apenas para voltar lá pela manhã, iria ligar para André para avisar. Na rua de novo, Sávio ficou sem jeito, preocupado sobre eu subir na moto mais uma vez. Expliquei que eu já tava mal antes, apenas que as manobras dele para correr que pioraram. Se comprometeu assim de ir devagar, e por isso chegamos bem atrasados para a aula.

– Dani, me ajude a fazer essa garota comer. Faz tempo que tento empurrar algo nela, ela dispensa. Aí que fica fraca mesmo.

Sávio reclamou em brincadeira, com aquele fundo de verdade. Ele tentava mesmo me fazer comer algo, eu que não queria. Não estava mais mal, só... distante. Mas tive que comer, pois Dani plantou um sanduíche a minha frente, me mandou comer ou ela mesma iria fazê-lo passar pela minha garganta.

Agradeci a ameaça antes de mordê-lo.

Preferi mudar de tópico, já bastava assuntar sobre aquilo. Comentei sobre aquela sua conversa do workshop, algo que queria muito lhe contar pelo que ouvi de Eric no outro dia. Ela iria amar a ideia.

A animação dela, na verdade, foi o que melhorou o dia.

– Sério? Como você soube disso?

– Encontrei com o Eric outro dia, que me deu essa visão geral. Ele que tá por trás dessa peça que comentei. Tão a tua cara.

– E a tua!

Yuri apareceu, brincou que a bibliotecária aceitou um abate nas multas dele depois de tanto “chorar” com ela. Assim que Dani o acompanhou na saída, Sávio virou-se para mim na mesa. No pátio os alunos passavam conforme iam saindo de suas aulas, alguns acenavam e cumprimentavam de volta. Por isso meu amigo me chamou a atenção, cobriu minha mão sobre a mesa.

– Pensei que não era para falarmos sobre aquela noite.

– Uma coisa que Eric me pediu e eu não quis ceder era sobre parar de esconder as coisas. Acho que eu tô precisando disso... Obrigada por tudo, Sávio. E desculpa se te atrapalhei em algo, de verdade.

Cobri parcialmente a sua mão com a minha que estava livre. Quer dizer, meio livre, se ainda tinha gelo sobre o machucado de meus dedos. Não se importou se minha pele estava gelada ou algo assim. Ele estava tão sério que me preocupei de ter feito algo errado, esperei que dissesse. Não veio. Veio foi outra coisa.

– Se ele fizer algo mais, você me contaria?

Me surpreendi pelo seu tom... como se contivesse uma raiva interior? Me pareceu Vinícius uma vez quando me questionara sobre as atitudes do enfermeiro bonito sobre mim. Impressão minha talvez.

– Do que está falando?

– André.

– Por quê?

Sávio mexeu a mandíbula de forma que me dizia que algo estava errado sem querer pronunciar as palavras exatas. Quando ele se fecha, é assim que reage. Ele não fazia isso tem um tempo. Quando achei que não falaria mais, ele me deu uma resposta:

– Posso ser pacifista, mas ninguém mexe com qu... com meus amigos desse jeito e deixo barato. Alguém tem que dar uma lição nesse cara.

– Pensei que fossem amigos...

– Algumas coisas não são o que parecem.

O que ele quer dizer com isso?

Não pude dar voz a esse pensamento, meu celular tocou, era Vinícius avisando que me esperava na portaria. Sávio não comentou mais nada, nos despedimos ainda no pátio, já que Vini me esperava no estacionamento de trás.

Certamente eu não iria esquecer disso até que fizesse sentido na cabeça.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esse vídeo realmente existe, gentes: http://www.youtube.com/watch?v=RTuBf4BrIgE (tá em inglês, mas dá pra entender bem) Maior sacana! XD André pelo menos teve o que mereceu.

Ah, o que esperar para o próximo combo (trechinho):

— Eu não tô ouvindo minha namorada falar bem do cara que pegar minha mãe.
— Vini, não fala desse jeito. Faz com que o relacionamento deles pareça outra coisa.
— Relacionamento? Quer dizer que ele já tá pegando minha mãe? Milena, como você não me conta uma coisa dessas, caramba?

HOHOHO Adogo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.