Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 40
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Segurem as pontas aí, galere, que ainda tô no aperreio pra postar combo (e ainda tem cap. pra revisar). Vai ser curto hoje, mas com gosto :)

Como dei a super dica no cap. passado sobre um (novo) shipper... eis o cap. inteirinho pra vcs entenderem a confusão. O melhor nem é a descoberta do Vini, é como ele descobre (qnd comenta sobre o Carnaval hahaha) #adogo

Btw, adoooooro essa que a Milena apronta com o irmão.

Enjoy :)



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– Preciso que você fique calmo.

– Hum.

– Muito calmo.

– Diz logo.

– E vai prometer que não fará nada, se se exaltar.

– Anda logo, Milena.

– Tá.

O fato é que enrolo para explicar porque também me sinto estranha em dizer isso em voz alta. Nem ao menos conversei com Djane sobre isso, poxa! Fica meio chato dizer ao filho dela que ela tem um relacionamento com o professor Carvalho, sendo que, ao que consta, é segredo. Sei que é segredo porque tudo ocorre às escondidas. Não foi apenas uma vez que a vi... errrr... com o professor Renato. Nada demais, no entanto, somente amigos conversando e parecendo muito íntimos. São fofos, na verdade.

Foi Gui que viu uma vez mais eles se beijarem, numa parte bem deserta da faculdade. De primeira pensou que fosse qualquer casal, mas se espantou ao perceber que se tratava de Djane. Não sei dizer bem o motivo do espanto, só que ele correu até mim, como se fosse a grande confirmação, já que descoberta não era, se um tempo atrás flagramos uma cena dessas.

Não teve outra cena, nem no estacionamento enquanto caminhava para o carro de Vinícius. Foi... próximo disso. Vini desceu do carro para que eu pudesse avistá-lo melhor, fui em sua direção assim que o identifiquei. Nesse caminho, um pouco distante, que minhas vistas captaram duas pessoas do outro lado do estacionamento, conversando muito próximas. Não que meu olho foi certeiro, quero dizer que foi uma distração, distração essa que me fez estancar quando o cérebro processou a imagem.

Parada, olhando diretamente para Djane conversando com o professor Renato, eu “dei” a dica para Vini, que se aproximou de mim e “viu”. Acho que pelo escuro, ele não sacou de imediato. Não até Djane se mover para a luz, como se estivesse indo embora e o professor a parou, tocou seu braço, e para meu saltar de olhos na expectativa de algo demais, Carvalho a beijou. No rosto, digo. E Vini viu, às claras.

Foi muito inocente na verdade, podia ser considerado um beijo de amigos. Eu mesma já dei beijos mais significativos em meus amigos, mas pelas circunstâncias... bom, ficou mais estranho quando, de impulso, virei o rosto de Vini para mim com uma força que ele nem resistiu. Estavam lá a confusão, olhos perdidos, desentendidos. Que não demoraram muito a compreender o que acontecia.

Por fim, como se eu tivesse sido a quem foi pega no flagra, arrastei ele para o carro, que foi mais resistente dessa vez.

– Então... não é o você tá pensando. Eu acho.

– Que aquele cara tá se jogando pra cima da minha mãe? É o que tá parecendo. Você sabia disso, Lena?

– Err... não exatamente.

– O que quer dizer?

Coço a cabeça, desconcertada.

– Que... eu não sei bem também, eu meio que descobri e não falei a respeito com ela. O fato de Djane já ter me pego com você não me deixa muito confortável com isso, sabe.

Meu namorado, um tanto chocado, se vira pra mim dentro do carro, gesticulando, irritado. Como se fosse grande coisa pra se irritar.

– E como acha que me sinto agora? Um cara tentando pegar minha mãe?

– Ah, Vini, também não exagera. Professor Carvalho não é qualquer cara, ele é um dos melhores professores que conheci aqui, uma das melhores pessoas da faculdade. Muito companheiro, gentil... engraçado, cavalheiro...

Uma mão ele levanta no espaço entre nós, num silencioso pedido de que eu parasse de descrever quem eu desenhava. Se professor Carvalho fosse ruim, ou se nem ao menos eu conhecesse quem Djane estivesse se relacionando, eu não falaria nada. Só que eu conheço. A chateação de Vinícius, todavia, parece é aumentar.

– Eu não tô ouvindo minha namorada falar bem do cara que pegar minha mãe.

– Vini, não fala desse jeito. Faz com que o relacionamento deles pareça outra coisa.

– Relacionamento? Quer dizer que ele já tá pegando minha mãe? Milena, como você não me conta uma coisa dessas, caramba?

No fundo ele só quer protegê-la, entendo. Passou por muita coisa no ano passado, e nos anteriores. Praticamente a perdeu, foi difícil reconciliá-los. E ainda tem sua mãe biológica, Viviane, quem nunca conheceu. Imagino que ele queira se agarrar ao que tem, mesmo que vire um ciumento e protetor, tal qual meu irmão.

– Hey, não mate a mensageira, tá. Calma lá que tu não pode exigir nada.

– O fato de ser minha mãe é o bastante.

Antes era Djane que mantinha uma cerca protetora em cima de seu filho, agora ele quer fazer o mesmo. Djane pode ter ficado maravilhada ao ouvir, uns tempos atrás, que seu querido filho estava com ciúmes dela pela sua relação professora-aluno com um de meus amigos, Sávio, mas acho que não gostaria de ver isso tão estampado na face de Vinícius. Também não gosto.

– Ela tem vida, Vini, e ela não pode viver em função do trabalho ou de ser mãe. Você mesmo diz que quer espaço. O que você acha que ela vá fazer, jogar Sudoku para todo o sempre no jornal? Assistir filme no sofá, sozinha?

Bom, agora que ela tem sua vida mais equilibrada, que ela possa ter um companheiro, não? Afinal, nem sempre poderemos estar perto dela, se uma coisa é ser mãe, outra coisa é ser amiga. Até mesmo com os amigos, não há essa garantia. Fico feliz que Djane tenha alguém. Ainda que não tenha nada confirmado.

Meu namorado vira o rosto para o outro lado, está inquieto, bagunça seus cabelos, desnorteado. Talvez o choque esteja passando?

– Eu... não sei. Só não gostei de saber, oras. De descobrir, quer dizer, desse jeito. E depois você me diz que não tem nada nessa cabecinha, né?

Ele é um pouco rude quando levanta esse assunto. Sempre faz questão de frisar que pode aguentar as coisas, não importando o que seja, contanto que eu seja sincera. Sabe que ainda guardo muito, que tento quebrar essa barreira, espera por quando minha cabeça faz “cliques” de consciência para poder compartilhar. Só que às vezes ele espera muito, e ele não pode me culpar por isso.

– Vini, você sabe que tem coisas que eu não apenas falo, porque não funciona assim. Tem coisas que realmente quero contar, porém, mal as palavras conseguem sair. Não é minha culpa, só acontece assim, tá? Ainda não tenho força suficiente para externar isso de mim, nem para você, nem para Murilo. Não se trata de confiança e você sabe.

Agora eu que me chateio, ainda que não sabendo por que me irrito. Ou com quem me irrito. Cruzo os braços, por já ter começado tudo errado.

Isso o traz para a realidade, faz com que esqueça a história de sua mãe. Como que voltando a si, ele suspira em desculpa, por ter exagerado.

– Ô, Lena, eu não quis soar como se estivesse pressionando. Porque eu não tô, sério. Sei que vai dizer quando estiver pronta, ok? Só acho que eu que não tava pronto para essa coisa toda com minha mãe... É minha mãe, afinal, é estranho.

– Eu sei.

E tenho toda uma peninha dele, porque Vinícius fica fofo ciumento desse jeito e ele ainda não sabe metade.

~;~

– Preciso de você muito calmo.

– Que aconteceu?

Quando os olhos de meu irmão saltam em alerta, mesmo aquele lado que tá com conjuntivite e que mal abria desde que voltamos do oftalmologista, uns dois dias atrás, marco uma nota mental de que sou eu quem precisa mudar esse discurso. Assusta mais do que deveria, quando eu realmente só queria que ele pudesse ficar calmo.

Cinco minutos depois, entre hesitações e coisas desconexas, que acabaram achando seu caminho para fazer sentido, meu irmão se exalta. E Vinícius o apoia.

– Você vai me dizer AGORA o nome desse desgraçado.

– Não, não vou.

Como se eu não soubesse o que ele ia fazer! Quer dizer, eles.

– Tá me dizendo que um cara plantou documentos nas tuas coisas pra te prejudicar no trabalho, que você deu na fuça dele, e não quer que faça nada a respeito? Porra, Milena, tá pedindo demais não? Vinícius, faz alguma coisa.

E empurra meu namorado, como se ele pudesse arrancar alguma informação.

– E tu acha que já num fiz? Ela não quer me dizer também.

Dois contra uma sempre será uma tarefa difícil.

Meu irmão se levanta do sofá, determinado como uma besta, achando que vai conseguir, de qualquer maneira, a informação. Quase rio sobre quão enganado está, se acha que vou deixar uma coisa dessas.

– Quer saber? Eu vou descobrir, é isso... Vou amanhã nessa reunião com teu supervisor, e lá eu vô ver esse cara.

– Não, você não vai lá. Primeiro, você ainda tá de “quarentena”, segundo, não vai fazer cena no meu estágio e, terceiro, eu sei me cuidar. Que fique agradecido por eu te comunicar. Só.

Sinto que se segura, sinto que ele não quer perder o controle, por mais que eu force a barra. Só não quero que faça nada estúpido, poxa.

– Olha, Lena, eu já não pude dar uma surra naquele professorzinho “fi duma” que te assediou, até porque outro pegou a chance e deu um soco no meu lugar... Mas não vá achar que ag...

– Pera aí.

Tão centrada em discutir com meu irmão nem me atentei quase pra Vinícius que ficou imerso. Quando quis defender um ponto, tomou a palavra. Mas por um momento ele havia se calado novamente, só assistindo a discussão... e agora que nos chama a atenção, ele parece confuso com algo. O jeito com que fica, tenso, no meio da minha sala, como sua testa franze e umas maquinações acontecem lá dentro... não sei, não me parece bom.

Não é. Não exatamente. Hesita um pouco antes de se virar para meu irmão que, como eu, esperava para entender o motivo da interrupção:

– Não foi aquele professor Carvalho que deu esse soco no tal Bart?

Merda, ele sacou.

Até viro o rosto para que não leia a confirmação em mim de sua especulação. O que não adianta muito, se é Murilo quem diz algo a respeito.

– Foi. Renato, eu acho, o nome dele. Que tem?

Ô inocência. Posso culpá-lo por isso?

Provavelmente não. Mas já pode vazar da sala sem que eles percebam?

Tentei, ao menos. Vinícius me grita ao notar que quase escapo de fininho, aponta pra mim que congelo. Quase cheguei à cozinha.

– Milena Lins Albuquerque, parada onde está. Você sabia... sabia DESDE O CARNAVAL?

– O quê? O quê que ela sabia?

Ai, ainda tem meu irmão perdido na história...

– Minha mãe tá saindo com um cara... e a sua irmã, QUE SABIA DISSO DESDE O CARNAVAL, APARENTEMENTE, não teve a disposição de me contar!

Quem sabe se eu colocasse os braços pra trás, começasse a assobiar e me fingir de alheia eles entenderiam que eu não sei desse tópico? Não. E nem vale a tentativa com Vinícius irritadinho de novo.

Mas não pude evitar de rir quando Murilo deixa essa escapar:

– Djane namorando? Hum... é, se for um cara legal...

– Murilo! Não traia o movimento!

Ai, Senhor! Tem hora que não mereço esses dois, principalmente depois de uma conversa dessas. Facepalm digno para eles, que ora são amigos, ora são cunhados, ora são apenas homens defendendo seu território. Se eu pudesse apenas deixá-los falando sozinhos...

– Quem disse que tô traindo? Tô dizendo que temos que conhecer o cara, só isso. Não é qualquer um que rela a mão em quem eu amo. Tu mesmo já apanhou de mim.

– É, eu não diria bem apanhar... e foi por outras circunstâncias... e, Milena, se você fugir de novo, eu conto sobre o que armou pra ele.

Droga, ele me viu escapulindo para o corredor. Congelo de novo. Tão por pouco.

Não gosto de como isso atiça meu irmão, muito interessado no que não deve.

– O que ela armou pra mim? LENA?

Droga, droga, droga. É por isso que eu não gosto de contar as coisas. Porque além de me ferrar por si só, ainda tenho que ouvir dos outros. E ser ameaçada.

Me viro para Vini, lá, de pé, esperando que eu diga algo. Murilo se junta a ele, lado a lado. Reviro os olhos. Essa discussão já rondou por mais tópicos que deveria, não vai alcançar outro para a coleção.

– Ele tá blefando, maninho.

– Experimenta, amor...

Murilo olha de mim para o outro, desconfiado. Entrefecha o olho direito, que é o olho doente, de maneira que fico na dúvida se é por estar coçando de novo, se é por suspeitar de algo, ou os dois. Fica, no entanto, sem saber em quem acreditar.

E que Vini não cubra o blefe com a verdade verdadeira do que aprontei... Foi sacanagem da minha parte, eu sei, só que meu irmão tava merecendo uma! Na manhã passada, acordando na cama de hóspedes com meu namorado, fui à porta do quarto do mano para destrancar. Ele nem percebera, continuava a dormir. Não foi essa minha peça que preguei... fora oooooooooutra coisa.

Enquanto Vini conversava com dona Bia sobre o café da manhã, longe do quarto, entrei para dar uma verificada. Uma ideia passou pela minha cabeça de noite, resolvi colocá-la em ação antes que Murilo acordasse. Rápido acessei a internet pelo meu notebook, baixei uma mp3 curta e passei para o celular. De volta a rondar meu irmão, botei para tocar um pouco próximo dele.

O que havia me contado no outro dia era que ele estava tendo uns sonhos, sonhos sobre ser pai. Achei fofo no começo, achei mais interessante me aproveitar disso depois. Sabidinha, aprontei por colocar um choro de bebê perto de seu ouvido.

Como eu quis ter gravado essa cena!

Meu mano começou a se remexer na cama no mesmo instante, seu rosto parecia perturbado. Se virou, desvirou, virou de novo, abraçou o travesseiro do lado. Depois ANINHOU esse mesmo travesseiro, abraçou-o como se carregasse alguém no braço. Seu filhinho, talvez? A coisa mais hilária.

Num repeat da mp3, Murilo começou a resmungar coisas, coisas que eu não entendia, por mais que chegasse perto. Era um perigo me aproximar tanto, assim tomei uns passos para trás, para o caso dele acordar subitamente. Não demorou para acontecer isso, na realidade, deu apenas tempo de eu desligar o som e me meter no banheiro dele assim que ele deu pulo e, perdidinho da cabeça, gritou um “Para!”. Pela fresta da porta do banheiro vi que ele ainda tava agarrado ao travesseiro, olhando tudo no seu quarto, na sua cama, como se não compreendesse a realidade.

Do nada saí de onde estava. Ofeguei em teatro:

– Que foi?

Ele se espantou novamente.

– Que você tá fazendo aí?

– Eu? Hum... vim pegar pasta de dente, oras. Já acabou na dispensa e no outro banheiro, sabe. Tenho que colocar isso na lista logo, pois dona Bia...

Fui tagarelando, andando pelo quarto. Murilo soltou o travesseiro assim que parei ao vão de sua porta, como se tivesse levado um choque ou algo assim. Me sentia numa provação de riso, querendo explodir e não poder.

– ...vai sair daqui a pouco para o mercado. Por quê? Pera, você gritou.

Ele se desconcertou todo.

– Gritei?

– Foi. Ouvi você dizer “Para!”. Para o quê?

– Hã.... nada eu acho. Foi só um... errrrrrrr... sonho.

– Ok, então.

Assim que fechei a porta do quarto dele, que entrei no meu, explodi as gargalhadas, abafadas no meu travesseiro. Nessa hora que Vini apareceu, soube de tudo em primeira mão. Agora me ameaça com essa info. Como lidar?

– O que quer que eu diga? Se eu soube naquele dia? Por causa daquele soco? Sim, imaginei que sim. Satisfeito? Como te disse, não tenho uma confirmação direta, se não cheguei a comentar com sua mãe durante esse meio tempo...

Na verdade eu descobri porque peguei Djane beijando professor Carvalho beeeeem antes disso, coisa que não falo e prefiro não ter que ir afundo disso. Quero dar um crédito a ela, poxa, que merece ser feliz, não ter um filho lhe pentelhando a vida. Por isso acrescento:

– E ai de ti, Vinícius Garra, se implicar com ela. Porque aí EU implico contigo.

– Mas, amor...? É minha mãe.

– Por isso mesmo, deixa a mulher ser feliz. Se você pode, ela também pode.

Emburrado, ele senta na poltrona atrás de si.

Quando acho que o assunto tá mais por encerrado, Murilo reabre mais uma vez:

– Sim, e ninguém me diz mesmo o que você aprontou comigo?

Ele tem lá suas desconfianças, que sei.

– Era um blefe, maninho... ou você ainda não sacou?

– Rum. De qualquer forma, eu vou sim atrás desse cara do estágio, quer você querendo ou não. E tenho dito.

Lá vamos nós de novo.

~;~

Às 11h que vou acompanhar o namorado para sua saída. Apesar de não ir trabalhar na manhã seguinte, não vai poder dormir na minha casa como fez da outra vez. Tem de ir, principalmente se insistiu em me levar ao estágio pela manhã.

– Hoje tá difícil, hein.

Resmunga. Aprendeu com quem não presta. Ora quem.

– Já vai começar de novo?

Cruzo os braços. Nada que ele se abale, só me abraça assim mesmo. Seu rosto vai direto para minha clavícula, onde se instala perfeitamente para me desarmar. De lá sua voz sai abafada, causando-me mais arrepios que a frieza do terraço.

– Não tem jeito, termina o mundo e você vai defender minha mãe com unhas, dentes, tacos de beisebol, máquinas de choque-elétrico... mas não é disso que tô falando. Não ganhei um mísero beijo essa noite.

Rio, revirando os olhos. Achei que era sério.

– E eu aqui acreditando que iria abrir o tribunal mais uma vez.

Vini levanta a cabeça devagar, quer provar alguma coisa com a traquinagem escorrendo pela sua boca. Como se eu não conhecesse a peça.

– Viu como você pensa errado de mim? Eu que sou o mais maravilhoso, gentil, puro e inocente...

– Tá, vende isso pra outra pessoa. Quem não conhece, que te compre.

– Poxa, Lena, num ofende meu coraçãozinho.

Ele põe a mão no coração, no rosto a desolação em pessoa. Não tenho pena, só retruco, firme forte, muito perto de sua boca, para lhe provocar como quero.

– Então não exagera, namorado.

Ele bem que tenta me surrupiar um beijo, tenta até demais. Brinco, desviando.

– Mereço, né, Lena? Não termine de acabar com meu coração numa só noite. Já basta isso da minha mãe, isso do estágio, e até essa de você fugir com o seu amiguinho para procurar o ex. Quanta coisa você guarda aí, dentro, hein.

Aproveitei a deixa, de que estavam os “dois homens de minha vida” num mesmo lugar, na mesma hora, discutindo. O que era mais um tópico no mar de tanta história se misturando? Além disso, eu precisava disso, falar aos poucos... só que aconteceu de ser muito, como Vini coloca, como se pudesse contar nos dedos.

Funcionou tipo um teste, uma preparação sobre o quanto eles aguentariam de primeira a história que muito nos prejudicou no passado, principalmente quanto a meu irmão, que se calou de imediato assim que mencionei Eric. Pareceu até que estivesse num mundo paralelo. Depois reclamam que tenho medo quando meu mano começa a pensar demais. Nem sempre presta o que sai dali – e estou sendo gentil.

Não passa despercebido o quanto meu namorado se sente em relação a Sávio. Como quase cuspido, “amiguinho” foi a forma amena que inventou de lidar com essa presença no meu círculo de amizades. Não entendo como pode se preocupar tanto... nem Murilo, que é uma grande referência de frescura e perturbação desse tipo, se preocupa. Ele não vê essa ameaça.

Acontece que outras pessoas já “viram”. Gente que nem tá no nosso meio, como Eric. Se bem que meu irmão só viu Sávio umas poucas vezes, que não se portava perto de mim para ele notar algo “diferente”. Já Vini... ele sente ciúme de mim e de sua mãe, quem descobriu fácil o hobby de meu amigo de jogar Sudoku. No outro dia os dois travaram uma discussão sobre estratégias sobre como resolver mais rápido, com umas sacadas que eu não entendia bulhufas, menos ainda o namorado.

Ele só entendia que a atenção de sua mãe estava sendo roubada.

Dramático ele? Imagina!

– E vamos parar por aqui, que o baú já abriu o bastante. Agora vai.

– Ih, esqueci de uma coisa.

– O quê?

– Ah, só digo depois de meu beijo. Quer dizer, cinco beijos.

– Como que você pula de um pra cinco? Tu faz arquitetura mesmo.

– Arquiteto minha genialidade... então?

Jogo smacks por seu rosto, do queixo, bochechas, nariz e fronte, totalizando cinco, tal qual ele queria.

– Agora diz.

– Assim não vale, você sabe.

– Ô proposta cara essa. Tá, eu pag...

Aquela velha mania de me desarmar, interromper o que falo, me agarrar como se fosse fugir. Como se eu não retribuísse...

– Então... fomos convidados para um casamento. Adivinha de quem?

– Temos uns 10 minutos no máximo. Quer mesmo gastar com adivinhações?

– Certo. Lembra-se da Ádria?

O nome se repete na cabeça, nome de familiaridade não muito estranha... até que a memória me joga o arquivo que guardara. Ádria... Ádria... Ádria!

– Eles já vão casar? O enfermeiro bonito e a médica?

– Poxa, Lena, você nunca vai esquecer essa história de enfermeiro bonito, não?

– Ah, força de um hábito. Pegou, que culpa tenho?

– Prefiro o hábito de se referir a ele apenas como Diogo. Se eu consigo, você consegue.

Impressão minha ou...

– Estou sentindo que você também tinha um apelido para ele?

– Nãaaam. Que é isso... pra quê... ou por que eu inventaria um?

Aham. Ele tinha!

– Sei. Não diz se não quer. Agora conte-me mais sobre o casamento.

– Pagamento primeiro, informação depois. Sem mais esmagar esse meu coração.

– Poxa, meu passatempo preferid...

Eu devia parar só pra ele ver que não pode ficar me cortando. Dizer que eu consigo são outros quinhentos e seiscentos. Mas também não deixo de repreendê-lo, ainda de lábios colado nele, que tem o disparate de rir. Muito palhacinho ele.

Se eu não o parasse, acabaria a noite, chegaria o fim do mundo, e eu não teria as informações prometidas.

– Pois então, o Diogo mencionou com a Alexandra, que falou pra Michelle, e chegou na Becca. Queria nossos contatos para fazer o convite oficial. Seu irmão também tá no meio. Mas não se preocupe, é no fim do semestre, até lá o olho do Murilo tá bom.

– Ainda bem. Digo, vai que cairia no tempo da viagem? Não quero perder esse casamento.

– Precisa mesmo, mesmo, mesmo ir nessa viagem? Falta uma semana praticamente, não quero largar de você.

– Nem tu, nem a peste. Vocês sabem que tenho de ir. Olha, prometo que não apronto mais essa semana... Ou me esforço para não aprontar. Além do mais, amanhã é um dia só nosso não?

Um sorriso enorme ganha a face do namorado, que me aperta contra ele e fica com o rosto rente ao meu, brinca com a expectativa de outro beijo. Sua respiração quente e ansiosa denuncia o quanto ele espera pelo dia seguinte, que poderemos desfrutar de um dia só para nós.

– Pode apostar que sim, namorada, pode apostar.


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Notas finais do capítulo

Adivinha quem vai... 'aprontar'?



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