Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 34
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Um ombro e 'tronco' amigo ainda soa suspeito para algumas pessoas...



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Por todo o caminho me mantive quieta. De repente andar de moto me pareceu o melhor, já que o vento me ensurdecia, ao mesmo tempo em que tinha um corpo para me manter em equilíbrio. O calor que vinha de Sávio, a sua “compreensão descompreendida” me dava esse espaço. Às vezes quando fazia uma manobra de desvio, eu aproveitava para me apertar contra ele, crendo que no momento que eu o soltasse não haveria mais chance para qualquer lamento mais.

Pois ninguém mais poderia saber daquilo.

Após me resolver com Eric, encontrei Sávio no ponto onde deixara a moto, me esperava, distraído. Havia lavado o rosto antes de sair, para disfarçar. Ajudou no quesito aparência, já que a mãe de Eric me viu e não percebeu nada. Já Sávio era muito mais observador para não notar. Quando me aproximei dele, peguei o capacete para por na cabeça, ele me parou. Segurou firme, ainda que não forte, meu braço, a meio caminho no ar de levar o capacete ao seu lugar.

– Lena, eu não vou perguntar. Mas se você quiser dizer algo, não me importarei de ouvir. Estou aqui se precisar. E sinto que você precisa de algo, então só me diz o quê, não aguento ficar a somente olhar e não poder fazer nada a respeito.

– Sáv...

Ele deu o giro pela moto que nos separava, me envolveu em seus braços mais uma vez na noite. Do jeito que estava, não recusei, eu precisava mais que nunca da sua vibe para me acalmar, para me dar as forças necessárias de encarar tudo que iria ter de enfrentar. Acalentou-me por uns minutos, beijou-me a cabeça, esperou pacientemente que me recuperasse.

– Quem é esse cara, hein? Por que ele te deixou assim?

E de novo, Eric era o acusado. Quase ri, ironicamente.

– Não é ele. Só que... é uma longa história. E não é das boas. Ele está do meu lado, acredite. Pode fazer uma coisa por mim?

Ele expirou, como se dissesse “nem precisa perguntar”.

Só que se quero fazer certo, preciso que tudo esteja bem combinado, nada de meias palavras, nada de implícitos.

Minha voz sai abafada, por ainda me manter abraçada a ele, que mantém um carinho às minhas costas. Havia então alguém que pudesse me amparar sem me julgar.

– Não conte para ninguém, ok? Que estivemos aqui, que eu conversei com Eric. Não quero mais problemas.

– Se isso te deixa melhor... Você não merece isso, o que quer que seja. Não gosto de te ver desse jeito, viu? Mas também não me esconda se é assim que se sente.

– Obrigada, Sávio. De fato, não mereço. Só que sempre temos uma cruz pra carregar, e essa... é a minha. É pesada. Arrasto faz um tempo, assim como Eric. Ele está convencido em seguir em frente, de outra maneira dessa vez. Talvez um dia eu consiga também... e desculpa por esse discurso codificado.

Rio, nervosa pelo desabafo sem sentido. Sem sentido para ele, claro.

– Tudo bem. Pelo menos você pôde respirar agora que falou.

– Sim. Não se preocupe, estarei melhor. Vai passar.

E então pudemos subir à moto, pegar caminho para minha casa.

Mesmo na garupa, me sentia off. A conversa com Eric ainda zumbia na cabeça. Contei-lhe sobre Anderson, o primo de Kevin. Este fora melhor amigo dele naquele ano, no nosso segundo ano de ensino médio. Melhor dizendo, foi amigo no primeiro ano, nem tanto no seguinte. Kevin também estava na linha de intriga de Denise, de forma que traiu o melhor amigo, manipulado, e desde que foi embora, assim como a muitos outros que estudaram conosco, não tivemos chance alguma de consertar as coisas com ele após a descoberta dos fatos e as ligações deles com os planos daquela maldita.

Quando encontrei com Anderson, que calha de ser amigo de Vini na faculdade, ele me reconheceu, mencionou até Kevin. Isso me deu um arrepio que bateu na alma e voltou. Por muito tempo me mantive afastada pra não levantar qualquer assunto sobre esse passado, que Anderson mesmo uma vez comentou sobre, que Kevin era muito próximo de Denise, minha prima, e isso Vinícius notou. Percebeu que em muitas vezes eu dava um jeito de escapar de encontros com seus amigos, só não entendia o que eu tinha. Com uns acasos a mais, resultou em briga.

Aí mudei de tática. Preferi me manter perto pra não levantar dúvidas. No começo foi um pouco difícil por conta do receio, eu ficava realmente assustada com qualquer comentário que pudesse querer dizer outra coisa, algo assim. Fui idiota, claro, mas, se você junta receio e ansiedade, pode ter certeza que paz não terá. Ainda assim, engoli. Só desse jeito para me sentir mais segura, principalmente se não dou margem a desconfianças.

Descarreguei tudo isso com Eric, quem me ouvia e procurava me aconselhar. Já quis muito ter outra pessoa pra conversar a respeito disso, como Flávia, porém, sobre esse assunto, não consigo, não sai. Existe algo que me fecha, coisas ruins, coisas que me prejudicam. O orgulho, a mágoa, a vergonha. Com Eric tudo fluía porque ele passou pela situação junto a mim, nós fomos os maiores alvos, nós fomos vitimados, assim como outros que estiveram no caminho daquela louca.

Entretanto, nesse reencontro, não nos detivemos a só isso. Não, seria egoísta demais. Instiguei-o a contar mais sobre o que acontecia, como ele estava, as perdas que teve com o lance do seu incidente, que resultou no seu pé engessado. Perdeu, infelizmente, muitas audições de teatro, assim como algumas apresentações de dança. Foi muito difícil para ele lidar com tanta decepção, ele me confessou.

Nesse momento ele captou mais uma vez meu pedido sincero de desculpas, aceitou. Como não havia se recuperado por completo, e por ter passado muito tempo engessado, teve que arrumar alternativas para se manter “ativo” na carreira artística. Para o workshop que sua faculdade anda organizando, tanto de teatro e dança – a que Daniela já havia levantado assunto antes – ele montou uma apresentação, para atuar como diretor-geral. Uma audácia, ele acrescentou, mas boa. Coisa que lhe garantia bons pontos extras.

– Até o fim do semestre, espero que tudo esteja resolvido e você possa ver minha produção rolando na faculdade. Você está convidada.

– E é sobre o quê?

– É uma pequena peça que converge com a dança, de forma que a dança vá levando a trama. Vai ser uma mistura, dança clássica e formal com a contemporânea, não indo muito pra dança de salão. Tive a ideia uma vez assistindo clipes na tv, acredita?

– Sério? E qual foi o clipe?

– Não sei se você conhece, me disseram que passou na tv por muito tempo até. All the right moves, da banda One...

– One Republic.

Sorri enquanto falamos juntos. Isso descontraiu a proposta de uma conversa tensa. One Republic sempre pra me puxar do poço que me meto.

– Então você conhece.

– É só minha banda favorita... e uma das minhas músicas preferidas.

– Então no dia vou dedicar a apresentação a você. “Todos os movimentos certos” é o nome da peça. Envolve outras músicas mais, serão 4 atos. Mostra a história de uma garota que se vê entre um romance com um colega de classe e um professor de dança. One Republic pega o cume.

A ideia dele é genial. Enquanto dizia-me alguns pormenores, como as músicas base para os atos, fiquei animada de contar para Daniela, assim como a Flávia, que adoram essas coisas. Tive que me retrair, pois não poderia chegar a dizer coisa alguma, senão saberiam com quem estive e muitas perguntas que quero ignorar surgiriam.

Antes que ele percebesse que me encolhi internamente, perguntei sobre a história da peça que Dani falava, de que os atores estariam dispostos a tirar a roupa em público em prol da cultura e da liberdade de expressão. E é tudo verdade. Evitando que eu perguntasse, ele mesmo disse que não estava no meio dessa papagaiada toda, já que seu projeto era outro e grande o bastante para lhe ocupar bem.

– O que diria seu namorado se eu tirasse a roupa na apresentação? Já levei umas de seu irmão na cara, levar do namorado é meio demais pra mim.

– Eu poderia fechar os olhos, oras.

– Do jeito que ele fechou? Você tem que ser honesta com ele também, Lena. Não sei como esse cara ainda não veio aqui nos interromper depois desse tempo todo. Minha mãe não vai o segurar por muito temp...

– Ah, aquele que veio comigo? Não, ele não é meu namorado. É meu amigo da faculdade, apenas isso. Meu namorado você conheceu naquela noite, lembra? Meu relacionamento é com Vinícius.

– Ah, sim, é que lembro pouco dele. Desculpe a confusão... é que vi você e esse amigo dançando quando voltei aqui pra sala, e ele te segurava de um jeito... pensando bem, esse cara te olha diferente, Milena. Já notou isso?

Flávia algumas vezes me deu esse toque. Vinícius eu sei que sente ciúme. Mas eu mesma não vejo nada demais. Nem Djane alguma vez me reclamou a respeito. Acho que fica difícil acreditar que existe algo a mais nisso se para mim não parece evidente.

Ok, confesso que tem umas vibes sim que me sinto estranha. Penso ser apenas pelo atrativo mesmo, coisa que desperta meio do nada. Mas apenas isso. Não existe química ou tensão sobre nós, isso que quero dizer. Só que ouvir isso de Eric, uma pessoa totalmente fora, me faz me perguntar sobre isso.

– O que quer dizer? Foi uma dança improvisada, sua mãe que nos puxou. Sávio só calhou de saber dançar, só isso.

– Num sei não. Tem algo nesse cara... Você confia nele?

Confio. Não só por ter salvado minha pele algumas vezes, Sávio é um grande amigo. Se não fosse por ele nessa noite, muito provavelmente não estaria na danceteria, não poderia exprimir desculpas alguma a Eric.

Não sei o que viu; de qualquer forma, não entrou em detalhes, notei que estava tarde, estava na minha hora de ir. Ajudei na hora de descer as escadas, Eric ainda mancava um pouco do pé, sua recuperação se demorou também por, estar tão frustrado, ter tentado fazer o que não devia, até que desistiu, aceitou sua condição.

Sávio mais uma vez pegou um atalho, que nos levou a entrar na minha rua pelo lado direito, que não é o que fica perto da avenida. Assim que ele dobrou para entrar, vi um carro fazer o mesmo na outra ponta de entrada da rua. Esse mesmo carro parou de frente para nós, no mesmo segundo que Sávio estacionou a moto, na porta de minha casa, quando os pensamentos de todo o caminho se esfumaçaram assim que encarei quem se encontrava no carro. Sentada atrás de meu amigo, que é bem alto, ainda consegui ver sobre seus ombros, que quem estava no veículo era Vinícius.

~;~

– Onde você pensa que vai desse jeito?

Murilo me mede de cima a baixo com o olhar assim que tromba comigo no corredor. Com um banho rápido, vesti um pijama – só havia 2 opções, um para os dias frios, um para os dias quentes, e hoje havia calor, então optei pelo segundo, que nem era curto. Não tanto. Para refrescar, coloquei uma colônia pós-banho e saí do quarto, que foi bem a hora que meu irmão passava, e topamos.

– Como assim? Vini tá me esperando na sala. Acha mesmo que eu ia sair de casa de pijama?

– Essa roupa tá muito curta.

– Num tá não. Além do mais, a outra que tem é para dias frios. Se não tá frio...

– Lena, eu sei do que tô falando... Esse short tá muito curto. Vinícius é homem até onde me lembro.

Abri a boca, surpresa. Eu que não iria discutir intimidades no corredor com ele!

– Olha, não sou eu que tá na dúvida se vai ser pai ou não, ok? Eu não vou mudar de roupa só porque você acha que tá curta. Até então não desrespeitei as regras de conduta daqui, ao contrário de outros.

Mentira, porque já estive com Vini diversas vezes no quarto de hóspedes, no meu, no dele e no de hóspedes de sua casa. O fato de Murilo não ter acesso a essa informações é outra história. Bem guardada.

Meu irmãozinho leva a mão ao rosto, frustrado. Inspira e expira forte, cansado.

Pelo jeito, não resolveu foi nada sobre o boato sobre a Aline. Tsc tsc.

– Poxa, Mi, você fica falando essas coisas...

– Ah, Murilo, qualé, eu não estou sendo grosseira com você. Isso não foi uma patada, ok? Só tô dizendo o que acho. Que você tá me condenando muito cedo. E com essa cara já vi tudo, você não conversou com a Aline.

– Não. Eu... argh, eu não consegui.

Me compadeci dele, toquei seu braço.

– Você sabe o que tem que fazer. Só vê se não mata a mamãe no dia das mães.

Tá, essa última parte foi brincadeira. Ele fechou os olhos, inquieto, só de pensar nas loucuras que mamãe faria quando soubesse da gravidez – se for confirmada – de Aline. Isso vai dar o maior alvoroço lá em casa.

– Eu ainda acho que esse short tá muito curto... Anda, vai trocar.

Tentativa de dispersão de assunto falha. Cruzo os braços, faço que não. Passo por ele, sigo para a sala, onde Vini me espera. Antes de qualquer coisa, digo a este para ir sentar-se à mesa da cozinha, que lá eu iria ver os curativos dele. Sim, Vinícius me apareceu com machucados no rosto.

Assim que Sávio saiu, as luzes do carro de Vini foram desligadas. Não queria que ele me visse com Sávio, sabendo da aversão que sente por meu amigo. Apesar de sempre trabalharmos a questão do ciúme, e de saber que ele se segura, outra coisa é ficar colocando essa imagem a sua frente. Sem querer brigar mais, desci logo da moto, puxei o capacete, entreguei a Sávio, retirei sua mochila e, dela, puxei meu material. Nos despedimos rapidamente, agradeci por tudo, ele não demorou a sair.

Já Vini sim. Ele assistiu toda a cena no banco de motorista de seu carro. Não conseguia enxergar bem as suas expressões, mas não precisava saber de muito para entender o que se passava na sua cabeça. Só após a moto ter passado por nós, que ele resolveu sair do carro. Seu rosto não estava dos melhores. E não só porque o aspecto era de desprazer, sua face estava machucada.

Corri para onde se manteve parado, coloquei minhas coisas sobre o capô do carro para poder checar isso. Ele franziu a testa assim que o toquei, pela área machucada. Infelizmente, não era possível dizer se era só por estar dolorido ou se também estava chateado.

– Não é nada.

– O que foi isso?

– Foi uma discussão na lanchonete que... bom, não quero falar sobre isso agora. Pensei que você já estivesse em casa. Por que só chegou agora?

Apesar de aparência calma, no meu ouvido a coisa toda soou de outra forma. Algo como “Por que só chegou agora COM ELE?”. Foi desse jeito, meio ácido.

Como ficava tarde, pedi um tempo só para um banho rápido, que logo o veria para conversar. Ao se sentar à mesa, como pedi, Murilo grita de onde está – seu quarto imagino:

– É melhor não fazerem nada que eu posso aparecer a qualquer momento.

Como se realmente fôssemos tentar algo demais com ele em casa. Aham.

Ignorado isso com um revirar de olhos, fui pegar um conjuntinho de curativos que tinha na cozinha. Vinícius questiona:

– O que ele tem?

Umedeço um pouco os algodões na pia já que não temos soro para limpar. Estou de costas para ele. Resmungo.

– Acha que meu pijama tá curto demais.

Ouço uma risadinha instantânea, e penso que seu humor melhorou nesse meio tempo que estive no banho. Iria comemorar se não fosse seu comentário.

– E tá... Não que eu esteja reclamando.

– Eu devia te deixar a esmo na rua depois dessa...

– Masssssssssss?

– Mas vou apenas cuidar desse rostinho antes de bater a porta nele.

– E meu beijo? Vai me deixar mesmo esperando até o fim da vida?

Respondo convicta.

– Vou.

Me aproximo com o material à mesa. Instintivamente ele afasta o rosto, já temendo que eu faça algo que vá doer. Até parece que eu faria uma coisa dessas... Ele não se chama Murilo por acaso.

– Então... Por que demorou a chegar?

~;~

Mentir estava fora de questão. Enquanto não pudesse falar sobre o caso, preferi não responder diretamente, apenas passar por cima. Depois de muita insistência Murilo saiu para comprar um jantar, pois eu não havia comido algo desde um lanche rápido na faculdade.

– A gente ficou resolvendo umas coisas... que não percebemos que passou muito tempo.

– Que coisas?

– A viagem está próxima, lembra? Amanhã vou até fazer compras com a Flá. Agora não enrola, que briga foi essa que você arranjou?

– Nada demais. Tinha uns caras mexendo com a Susana na lanchonete, aí Anderson ficou puto, revidou e eu fui lá pra apartar. Foi logo que eu tava saindo.

– Ain, e levou na cara foi?

– Devia ter visto como ficou o outro cara.

Homens, sempre se vangloriando sobre como deixaram o outro numa briga.

– Devia apenas ficar com a versão do cavalheiro pacífico. Ou eu taco essa almofada no seu rosto sem dó nem pena se vai doer ou não por esse machucado aí.

Estávamos no sofá, com Vini confortavelmente carente ao meu colo. O perigo nem era o fato de estarmos sozinhos, mas de ele relaxar e se aquietar. Com aquela carinha de sono ele poderia muito bem dormir sobre minhas pernas, ainda mais se eu mexia nos seus fios, num cafuné. Tentei parar, pra evitar que relaxasse demais, só que, do que adiantou se ele ficava pedindo?

– Se doer, o que provavelmente vai, e eu fizer cara de coitadinho, ganho beijo?

– Por todo esse tempo você tá com cara de coitadinho, Vini. Se não ganhou até agora, vai ganhar depois por quê?

– Porque sou lindo. Mereço. De qualquer forma posso roubar né...

E roubou. Me puxou sem avisos.

As coisas iam bem até sermos interrompidos.

Muitos votariam em Murilo chegando nessa hora, como sempre. Mas dessa vez foi com um bip, um alerta do meu celular de mensagem. Vini pegou de brincadeira, também achou que era meu irmão de graça conosco, até que viu o remetente. Na tela do meu celular havia uma mensagem de Sávio.


~;~

– Não sei o que você quer que eu diga.

Finquei, de braços cruzados no terraço, Vini na porta, meio distante.

Após a mensagem de Sávio, coisa bem inocente – uma notificação de que meu livro de Administração Orçamentária ficara na mochila dele, para que eu não me preocupasse achando que estava perdido –, Vini se afastou de mim, tenso. Logo meu irmão apareceu, e fomos jantar na mesa juntos, conversando qualquer coisa.

Cansado, Murilo se retirou para seu quarto logo após, não sem antes nos advertir das regras e blá blá blá. Sozinhos novamente, o clima com Vinícius não voltou. Então ele disse que iria embora, sem me dizer muita coisa. Estava ficando tarde, sabíamos, no entanto, havia algo ali que eu não iria deixar passar batido.

– De muita coisa que você vê, essa era uma das que eu queria que pudesse enxergar. Não tô dizendo que ele é mal intencionado, só que... eu sei que ele gosta de você. Fica meio difícil lidar quando sei que estão sempre juntos.

– Somos amigos, Vini, claro que ele gosta de mim. Se isso te faz sentir melhor, ele me confessou que gosta de uma garota do trabalho dele. Então não “vejo” o que você “vê”, se é isso que eu sei.

Encostado à porta fechada, Vini se mantinha de braços cruzados também, só que parecia mais pensativo. Seu rosto era uma mistura, não dava para ver o que realmente sentia, porém, posso afirmar que o que sentimento-mor era de insegurança, feeling que temos procurado lidar melhor aos poucos, desde que não tenha exaltações por ambas partes.

Ele até que estava bem calmo. Só a inquietude do assunto o marcava.

– Pra falar a verdade, eu não vi de primeira instância. Não fui eu, foi Anderson. Naquele dia em que Sávio apareceu na casa de minha mãe, para levar uns documentos que ela achou que havia perdido, Anderson me chamou, me deu um toque. Para eu estar de olho no Sávio, que ele parecia que tentaria algo, como... te roubar de mim.

Meu coração se enterneceu com essa declaração. Vini parecia um menino que se sentia culpado por desconfiar do que não devia, e isso não o impedia de desconfiar, até porque outro havia lhe dito para se preocupar. De ímpeto, caminhei até ele para lhe abraçar, tirar aquele medo de que algo ruim pudesse acontecer.

Na minha cabeça repercutiu que, se algo acontecesse, não seria aquilo. Antes fosse uma pequena preocupação como ciúme.

Ele nem mesmo hesitou quando o beijei, aceitou, sem dizer nada mais.

Ainda abraçada a ele, encostei minha testa na sua, e lhe disse cara a cara, olho no olho:

– Não vê que só tenho olhos para você?

– Não vê que outros olhos te seguem quando passa?

Foi quase uma tentativa de piada. Piada que escondia sua insegurança.

– Mas só a um par eu correspondo. Olhos que têm Garra até no nome.

Sua feição logo mudou, tranquilizou-se. Quando avançou para um novo beijo, o parei, espalmando as mãos ao seu peito.

– Você tem que ir se quer voltar amanhã cedo. Sabe que à tarde vou ficar com a Flávia. Hora de ir.

– Um último então.

Um riso frustrado veio a seguir, quando Murilo gritou de dentro da casa:

– Vocês ainda estão aí?

Revirei os olhos, não tinha jeito pra aquela peste. Gritei de volta, me virando:

– Fica na tua, Murilo, que quem tá na dúvida se vai ser pai ou não, é tu.

Vini se enrijece. Ops, saiu sem querer. Juro.

É que eu já aporrinhava tanto o Murilo com isso que nem me toquei que Vinicius não sabia até eu ter dito.

– Como que é a história aí?

– Amanhã, amanhã eu digo.

– Negativo, vai dizer agora.

– Amanhã.

Um último selo e abri a porta para ele. Ainda teria que enfrentar a fera lá dentro por ter soltado seu segredo. Mas quem mandou ele mexer comigo?


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Notas finais do capítulo

Milena, tenha dó de seu irmão!



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