Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 28
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

(tive que escrever errado porque aparentemente a última manutenção do Nyah deixou essa pra trás.)

Esperanca, acreditemos na esperanca!
E mais que tudo: na traquinagem!

Enjoy.



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– Sou ou não sou o namorado mais perfeito?

Um sussurro de Vinícius me surpreende por ele ter aparecido repentinamente às minhas costas. Seus braços tão logo me circundam, vejo de rabo de olho que ele veste apenas um calção de banho. Antes que ele pense em alguma pegadinha, ou mesmo a execute, eu corto seu barato.

– Está em muito boa colocação, eu diria. Mas se me jogar nessa piscina, vai ser futuro-ex-namorado-perfeito.

Vini me solta devagar, permitindo que eu vire para ele, quem está de bico pela proibição e que sabe que isso não funciona comigo. Bom, por sempre ele tenta para o caso de funcionar, não tem jeito – teve, infelizmente uns casos raros e isolados cof cof poder de persuasão dele é bom cof cof. Mas dessa vez, ele que não tentasse me jogar na água de roupa e tudo!

Quer dizer, o short eu havia tirado, não a bata de praia ainda, logo mais revelaria meu biquíni. Como viajaríamos no dia seguinte para casa de meus pais, seu Júlio quis um dia para ficarmos o atentando na sua casa. Sim, ele disse “atentando”, como um senhor besta por seus netos. Se Murilo pedisse um pula-pula, seu Júlio daria lá seu jeito de conseguir, e com um baita sorriso realizado no rosto. Só que agora meu irmão tá crescendo, então talvez não peça um pula-pula.

– Assim você estraga meu plano diabólico... Pelo menos fico com a indireta de que sou sim o namorado mais perfeito.

Vinícius falava, todo pretencioso, do fato do dia anterior, em que se encarregou de fazer seu papel, o de integrar novamente eu com Murilo, que tamo numa fase complicada em nosso relacionamento. Muito me surpreendeu quando Vini foi me deixar em casa após passar o dia na sua; se pensei que ele aproveitaria algum tempo de nosso toque de recolher, me enganei completamente. Mal desligou o motor do carro, ele desceu.

– Onde você vai?

– Entrar, oras.

– Mas... então o que você disse...?

– Disse que queria que você pudesse dormir na minha casa sim, e que o “porém” não deixava.

– Qual é o “porém”?

Estava tão ansioso para entrar na minha casa que pegou as chaves de minha mão e abriu ele mesmo. Sua postura decidida, de ideais determinados, me impressionou:

– Você se reaproximar de Murilo. Estou certo de que muito da poeira já baixou, ele está calmo. Lembra que no ano passado vocês tiveram que viajar chateados, para o Natal? Bom, é meu dever de cunhado dele, amigo e namorado seu de promover a paz entre vocês. Nessa viagem de sábado vocês não vão brigados, ou não me chamo Vinícius Garra.

Fiquei tristinha por quase todo o dia mesmo. Quando ele chegou da faculdade, já que sua instituição demorou a liberar sua turma para o feriadão de carnaval, me encontrou no sofá com Djane nos esbaldando num sorvete – não que eu sentisse muito o gosto mesmo. Mais tranquila, apenas o puxei para se sentar conosco e terminei de ver o episódio da novela, mesmo fazendo ideia alguma de qual era a história. Djane se retirou ao fim do capítulo, e Vini despertou para sua “missão”. Uma que cintilou em seus olhos ali na porta de minha casa, que me trouxe um sorriso terno.

– Amor, não prometa o que talvez não possa cumprir.

– Só confia em mim, Lena, confia. Depois combinamos o que ganho quando for me agradecer.

– Se não soubesse suas reais intenções, te acusaria de interesseiro.

– E não nego também.

Presunçoso nada.

– Jura que não tá chateado comigo? Você aparenta muito tranquilo.

– Acho que não é tranquilidade... é determinação. Eu realmente fiquei mal ano passado por ter pactuado com Murilo sobre... você sabe. E agora que posso fazer algo de fato pra ajudar, não me importo de fazê-lo. Mas claro, no fundo, tenho minhas preocupações. E não, não é sobre minha mãe conhecer a sua. Helena me ligou hoje, pra confirmar nossa ida de sábado.

Para disfarçar sua missão de intervenção foi com esse tópico que ele chegou falando na sala lá de casa, chamando a atenção de meu irmão. É, não posso reclamar que Vinícius não é um bom namorado. Porém, dizer que ele é o mais perfeito é arriscado, sabendo muito bem como é essa peça que apresenta um sorrisão para mim. Ainda mais andando com Murilo, sei que não posso enaltecê-los tanto quanto querem, é um perigo. Além do mais, adoro uma provocação. Mordo o lábio travessa, ditando toda brincadeira com uma sobrancelha levantada:

– É, né, dentre “uns” sempre tem o mais perfeito...

Vinícius me firma pela cintura, me puxa a encontro de si, de humor atiçado. Ousado, me aperta sugestivamente com uma mão, descendo seu rosto de encontro ao meu. Rio, brincalhona, tendo a visão perfeita de sua expressão possessiva. Mais uma vez sussurra, porém, pausadamente, roça seus lábios nos meus em provocação. A outra mão livre investe em segurar-me pelo queixo.

– Como é que é a história bem aí, senhorita... Milena Lins?

– Ah, você conheceu o Pacey. E o William. Viu o William ainda ontem na novela. São uns amores. Apesar de só o Pacey ser um xodó pessoal...

Até suspirei, entrando na minha encenação.

– Ah é, é? Ai desse Pacey se aparecer na minha frente, ai desse William se piscar pra ti. Milena Lins é minha e só minha.

Capto um brilho diferente em seu olhar, tão próximo, e gosto muito do efeito que produzi. Sob a eminência de um beijo, passeio minhas mãos ao seu peitoral até o pescoço, onde entrelaço minhas mãos à sua nuca. Ele continua a me provocar, nunca me beijando, só pairando, faz cócegas com seu nariz e tudo. Envolvida pelo clima, sussurro de volta:

– Então prove.

Vini não precisa de mais provocações ou inflexões para investir num beijo, nada calmo e que queima. Ou é ele ou é o sol, mas como ainda estou de bata, acredito ser ele mesmo quem tem esse efeito em mim. Segurando-me mais forte, ele ousa mais, me puxa mais para si e, com suas mãos ágeis, acaba adentrando o leve pano que me cobria, chegando a me tocar na base da coluna, arrepiando-me instantaneamente.

Estávamos num local perigoso por assim dizer, pois a qualquer momento poderia aparecer alguém, com ou sem aviso. Mas era desse gostinho que gostávamos mais, dava mais adrenalina. Quando senti que sua mão se deslocaria para mais baixo, ouvi passos, o que me fez parar bruscamente no mesmo instante e me afastar de Vinícius, desnorteado.

Consegui ver ainda uma expressão surpresa nele quando o impulsei para a piscina, atrás dele, onde ele caiu empurrado como um gato em luta para fugir da imensidão de água. Tive de engolir meu estado ofegante assim que Murilo apareceu trazendo umas toalhas.

Sei que ele anda passando por umas mudanças de comportamento, mas ele nunca perde esse senso de pairar como se estivesse investigando e com uma cara nada discreta. Ele sempre se entrega. Joga as toalhas nas espreguiçadeiras ao lado e se chega mais para mim:

– Impressão minha ou você acaba de derrubá-lo?

Vinícius emerge de sua queda com um olhar quase homicida direcionado a mim. Respiro profundamente a fim de disfarçar e respondo a meu irmão:

– Antes ele do que eu.

Dou de ombros.

Murilo faz que vai dizer algo mais e desiste.

– Quer saber? Eu nem vou perguntar.

E sai novamente. O outro que está como gato molhado revoltado, de pé dentro da piscina, não tem uma cara muito boa quando me volto para ele. Sorrio mais travessa ainda.

– Agora você tá me devendo duas, viu, dona Milena Lins.

Finjo ultraje, coloco a mão ao peito e tudo.

– Ora, Vinícius, o que você preferiria? Ser pego numa situação constrangedora e perder seu título de Garra pra assassinado ou ser salvo a tempo? Eu devia estar recebendo agradecimentos, não cobrança de dívidas.

Vini cruza os braços, entra no teatro. Ele aprendeu a fazer drama comigo. Meneia a cabeça com uma ameaça. Ah, ele realmente não sabe com quem está lidando...

– A gente faz uma gentileza e é assim que é agradecido, né? Pois deixe, deixe, vai ter volta.

Dou-lhe uma última chance de retirar sua ameaça.

– Pensei que não fosse vingativo, amor.

– Até então não era.

Por não colaborar, dou minha cartada final. De frente para ele, suspendo minha bata não muito calma, não muito ligeira, deixo que aprecie a visão. Hohoho, e ele aprecia. Até a tensão nos seus braços cruzados se desfaz pela surpresa. Quando atiro a bata para a cadeira onde estão as toalhas, à mostra o biquíni, posso ver que ele ainda está prestando atenção em meus movimentos. Homem é bicho besta – mulheres por maioria que negam até a morte que espiam porte de homem sem camisa. Ou calças.

De mão na cintura, testo o quanto o cérebro dele está processando:

– Ainda pensa em vingança agora?

Engasga:

– T-talvez.

~;~

Não importa o quanto meu irmão possa estar chateado, zangado, irritado, enfadado com algo ou alguém, ele nunca dispensa um bom carinho, nunca. E sente se alguém ganha e ele não. Não é uma natureza para se entender, apenas para se observar e rir de seu bico invejoso.

Acontece que no pós-almoço ele decidiu tomar banho, foi o último de todos. Aline não pôde comparecer, pois está recebendo alguns parentes em casa, e preferiu não apresentar Murilo a todos de uma vez, ela é bem discreta quanto a isso, não gostaria de ter umas primas “agorando” seu relacionamento – Murilo se achou muito quando ela lhe disse isso. Já não se achou tanto quando estava sem a doce companhia dela na piscina, e ficou perturbando a mim, Vini e até Iara, que sim, estava conosco – nem sinal de Filipe pelo menos.

Depois de brincar muito na piscina – ele ainda estava meio indiferente comigo, não adiantava, mas Vinícius conseguiu muito, ambos sabemos – Djane foi nos buscar para o almoço, que logo sairia, assim exigiu que todos tomássemos um banho antes, como a boa mãezonha que ela consegue ser. Só que Murilo a convenceu de que ele não precisava, estava muito “brocado”, além de preguiçoso, para ir tomar um banho. Assim, à mesa, só ele não tirou o cloro de si, fez depois do almoço.

Como Djane precisava de todo o descanso possível, assim que colocamos seu Júlio pra dormir seu sono da tarde, dispusemos Djane na cama de hóspedes. Prometemos não fazer barulho para que ela tivesse um bom sono. Só depois de muita insistência que ela aceitou.

Assim decidimos ver algum filme na tv, passava um tal de “A Fera” que pegamos no seu começo. No sofá, me sentei no meio, Iara a minha esquerda e Vini deitado sobre um travesseiro às minhas pernas, à direita. A sinopse descrevia que um cara fora amaldiçoado a viver com uma imagem de si desconfigurado, para aprender que boa aparência não era tudo. Em tempo, vimos a maldição e o prazo, justo quando o cara tinha acabado de se transformar.

Murilo chegou à sala quando o personagem ouvia as pessoas falando mal do que ele costumava ser. Olhou para a tv, não se interessou muito pelo filme, mas sentou no sofá, na ponta que sobrou ao lado de Iara. Mesmo acompanhando a história, vi meu irmão inquieto. Iara estava tão bem encostada ao sofá que me dava acesso de vê-lo esticar a cabeça, olhar para Vini recebendo cafuné e fazer bico. Iara também percebeu.

Ela puxa a nossa atenção:

– Alguém quer algo? Vou pegar um pouco de água.

E eu que acabo indo:

– Quer saber, eu vou. Fica aí.

Faço Vini se levantar um pouco para me dar passagem, saio deixando os três atentos à tv, converso um pouco com a cozinheira, elogio sua comida – ela faz um feijão divino, de dar inveja – e agradeço pela pipoca que faz. Chegando à sala novamente, por detrás do sofá, vejo 4 pés pendendo dos braços do móvel, dois de Vini, dois de Murilo. Estranhei. Ao rodear, salto os olhos para a cena: Murilo deitado com a cabeça numa almofada às pernas de Iara. Entreguei a água dela e voltei ao meu lugar, admirada desse passo de confiança de Murilo.

Porque para se deixar deitar-se no colo de alguém é preciso confiança, até certa intimidade, coisa que se verificasse semanas atrás, veria que Iara era uma das pessoas que meu irmão mais ficava afastado, de não querer papo mesmo. Ele dizia na cara dura que não gostava dela. Acho que algo mudou quando Aline soube disso, ela não gostou de tomar conhecimento desse comportamento de Murilo para com Iara... No aniversário dele esse quadro certamente mudou. E mudou mais agora. Fico feliz por ele dar essa chance a ela. E a mim.

Confusa, eu já havia desistido de meu irmão algumas vezes. Ele, no entanto, mesmo com toda a mágoa que causei nele, ele não desistia, e eu nunca facilitava para ele. Diferente de minha teimosia, ele era mais aberto à segunda chance. Talvez porque muitas vezes foi isso que ele me pediu, porque sabe o que é estar em baixa com alguém. Murilo tem mais experiência nisso que eu, visto que tantas foram as vezes que brigamos feio e o afastei de alguma maneira por ele ter feito algo ruim.

Quem o fez dessa vez fora eu. Errei feio, ainda que não tivesse noção de que era de fato um erro. O caso é que estive aprendendo como é ficar do outro lado, ser aquela quem magoa. Pedi por esse “direito”, na realidade. Estou aprendendo com meus erros assim como a ser aquela que espera por segunda chance. Felizmente Murilo não oferece tanta resistência quanto a isso.

Na noite anterior, logo que Vini insistiu em fazer uma intervenção, ele convenceu meu irmão de que eu queria me retratar, que não deixaria que mais uma intriga nos separasse. E nos deu privacidade para uma conversa:

– Vou deixá-los à vontade, vocês precisam falar um com o outro.

Após acompanhá-lo à porta, voltei hesitante para sala. Entendi como e porque meu irmão ficava sem palavras pra começar alguma coisa quando fazia besteira, eu mesma não tinha muito o que falar. Me senti desorientada. Ansiosa, enroscava uma mão na outra, tudo se embaralhava na cabeça, nada parecia bom o bastante. Isso, entretanto, bastou para ele.

– Eu sei o que é isso... nem precisa acrescentar algo mais.

Antes que eu pudesse abrir a boca, ele foi mais rápido e já ia se retirar. Meio que bateu pânico e acordei pra vida, tomei atitude. Enquanto ele se encaminhava para o corredor, me joguei sobre ele e o abracei ternamente, mesmo com ele virado de costas.

Senti seu suspiro de entendedor, que se moveu mais pelo diafragma. Isso me deu a partida, e não esperava que pudesse ser, de alguma forma, humorada:

– Mu, vou fazer você se sentir heroi de novo. Só espero que isso não envolva alguma confusão... Sou uma Lins, o que se pode esperar, certo? Vou tentar meu máximo, ok? Dessa vez cometi um erro, um terrível que me trouxe uma lição importante. Tudo tem melhorado, eu acredito.

Com cuidado ele se virou, me deu espaço entre seus braços e me pôde devolver o afeto. Como sempre, selou tudo com um beijo no topo de minha cabeça, abrindo as brechas para que seu coração me aceitasse novamente. Admiro-o por não ser tão teimoso quanto eu nesse quesito. Aquele gesto foi minha confirmação de segunda chance. Não estamos às maravilhas, mas, com a ajuda de Vinícius, não estamos tão afastados ou brigados, estamos caminhando para a reconquista um do outro, ele conseguiu.

Por isso tem se gabado desde então.

Um sorrisinho dança em meus lábios enquanto tento voltar para o filme. De rabo de olho observo que Murilo se remexe sobre as pernas de Iara e ela acaba por migrar a mão dela para os cabelos dele quase secos do banho. Sob esse toque, Murilo no mesmo instante correspondeu, olhando-a ligeiramente, que lhe sorriu de volta. Retornar a ver o filme e aceitar o carinho de Iara foi então o outro gesto de segunda chance, de mudança de comportamento. Se foi Aline quem operou esse milagre, eu lhe devo muitos obrigadas.

O decorrer do filme então faz esse sorrisinho dançar mais travesso. Participar desse quadro me deu ideias que... não pude evitar de executar. Ainda bem que o sofá era grande para comportar nós quatro.

~;~

– Gostei desse tutor dele.

Murilo retruca do filme de “mulherzinha” que ele classificou. O personagem desconfigurado buscava ajuda do tutor para impressionar uma garota. Era fofo, isso sim.

– Nem fala, porque depois eu quem viro tua tutora pra te dar dicas, né?

Ainda bem que Aline não estava no recinto para ouvir essa. Murilo só mexe a cabeça para me olhar, e se cala novamente. Toda hora ele tinha que reclamar de alguma coisa do filme, que não tinha ação, não tinha vilão – tinha sim, a bruxa que amaldiçoou o carinha, mas ele disse que essa não contava – não tinha estouro, não tinha movimento. E mais, não tinha um “comando de ação” detonando, como “ele” no filme passado que assistimos.

– Murilo, xiu.

Ele boceja. Quando está enfadado ele tende a reclamar mesmo. Isso, porém, não me faria mudar de canal, gostava do filme. Vinícius nem comentava mais por estar sonolento. A combinação levantar cedo, pegar sol na piscina e ser pós-almoço o deixou mais pra lá do que pra cá, ainda mais se havia alguém para fazer carinho nele, que se aconchegava mais para eu não parar. Que era bem difícil já que mexer nos seus fios era mania minha.

Não demorou muito e eles dormiram mesmo, assim a cada vez que eu e Iara grunhíamos alguma fofura, com sonoros “owns”, tínhamos mais liberdade sem ter que ouvir reclamações e objeções ao filme. Iara até comparou algumas cenas com o livro, que eu não sabia que era adaptação. Quando o cara se livrou da maldição, retornou à sua imagem real, senti que reconhecia aquele cara de algum lugar. Iara também, pois sussurrou pra mim:

– Ele não parece o... Armando?

Armando!

Definitivamente, era a cara do Armando mesmo. Mas o que me alegrou mesmo foi Iara ter tocado no nome dele, pois sei que ela se acanha muito para ter um círculo de amizade, não é com qualquer pessoa que ela conversa ou se mantém perto. Com o Gui mesmo ela demorou a se abrir no estágio, ela só conseguiu porque ele vive junto comigo lá e hoje já tramam contra minha inocência. Às vezes penso que já foi tão rejeitada que ela mesma se afasta pra evitar uma rejeição. Espero que esteja errada, espero que ela se abra mais.

– Caramba, parece muito.

Nisso o filme terminava e constatamos que as duas pestes já tinham se entregado ao sono mesmo, apagados sobre nós. Iara tentou se mexer, e Murilo a barrou, inconsciente, de fazer qualquer movimento de saída. Sabia que se tentasse o mesmo, Vini também não deixaria se bem conheço o inconsciente dele.

– Acho que estamos... presas?

Ela comentou incerta. Já eu...

– Acho que tive uma ideia.

Desde todo o começo da história de Vinícius ter uma irmã, imaginei como isso poderia ser legal de muitas maneiras, pensando no meu lado, claro. Além de amigas, eu iria lhe ensinar técnicas de zoação, de traquinagens, de fugas, escapes, argumentações e outros mais sobre ser irmã caçula de um cara. Muito experiente nessa área, eu teria muuuuitas dicas para Iara, quem estaria se ingressando nas relações fraternais. E não só isso, podíamos aprontar coisas juntas, porque duas cabeças pensam melhor que uma.

Não iríamos dominar o mundo... Só talvez o centro do mundo das caçulas de Vinícius e Murilo, colocaríamos eles doidos. Já sonhei com essa chance... e ver o sono tranquilo desses dois me dá uma super ideia.

– O que você vai fazer, Milena?

Os créditos do filme subiam com uma música leve. Na minha cabeça, entretanto, o tema era mais... traquina. Algo sugestivo como Original Prankster do Offspring. Coloquei um dedo sobre os lábios para Iara, que me observava não certa do que eu estava fazendo, e eu ria internamente a puxar minha bolsa com o pé na mesinha da sala.

Trilha citada/indicada: Offspring – Original Prankster

http://www.youtube.com/watch?v=wIOsseXq950

Assim que a bolsa veio, me estiquei num movimento não muito brusco e pude abri-la sem muitos protestos inconscientes de Vini, mais deleitado ao sono que outra coisa. Da bolsa tirei meu creme hidratante, um tubinho que por sempre ficava dentro da minha bolsa para eventuais usos... como esse. Quase bati palminha por o tubo estar lá. Iara continuava com uma interrogação à face:

– Milena? É o que pens...?

– Talvez sim, talvez não. Primeiro tenho que testar os reflexos deles.

Peguei uma fita de pano que vagava na minha bolsa sem razão, e trisquei sua ponta no ouvido de Murilo, que o coçou e fez uns resmungos involuntários. Iara segurou o riso com as mãos quando trilhei a fita para Vini, tocando-o no nariz. Ele apenas mexeu a cabeça minimamente.

– Agora sim.

Calmamente, e com muito cuidado, fiz uma pouca pressão no tubo para que gotas singulares caíssem no rosto de Vini, que nem parecia se importar, tava apagado. Fiz uma obra de arte com o creme, obra essa que eu poderia improvisar que era para hidratar a pele após banho de sol e piscina – ele não ligava pra protetor solar ou coisa alguma, só sabia de ficar me jogando água e roubar a bola de mim. Há! Eis minha vingança.

Feito a “pintura”, passei o tubo para Iara tentar em Murilo. Ela hesitou.

– Num sei se devo.

– Eu acho que deve.

Mordeu um lábio de leve, indecisa, olhando para a sugestão em minha mão. Depois de certo debate interno, Iara revira os olhos, suspira e recebe o tubo.

– Cuidado para ele não acordar.

E como se estivesse decorando um bolo, ela fez todo o enfeite no rosto de meu irmão, que também parecia não sentir nada. Soltei minha bolsa aos pés enquanto a observava em sua meticulosidade. Divertida, Iara não acreditava no que ela propriamente fazia, apertava os lábios em claro impedimento de riso. Tão concentradas na primeira parte do plano, nem percebemos quando Djane apareceu:

– O que vocês estão fazendo?

– Shiiiiiiii.

Foi involuntário levar o dedo aos lábios, não queria que eles acordassem antes do tempo. Djane se aproximou mais, olhou pra tv, olhou para “seus filhos”, a condição deles, e, com uma mão na cintura e uma sobrancelha levantada, ralhou baixinho:

– Meninas! Isso é coisa que se faça?

Dei de ombros, fui cara-de-pau:

– Sim, isso é coisa que se faça. Não vai estragar o plano, vai? Tenho uma proposta.

– Medo de suas propostas. O que é dessa vez?

– Seja... cúmplice?

Ela me sondou, observou Iara, mexeu com a boca intrigada. Parecia debater internamente prós e contras sobre o que teria de fazer, se valia a pena, se seria... bom. Coisas que eu poderia garantir que sim.

– E... e isso implica o quê?

Acho que eu poderia ser mesmo o Cérebro, com planos e mais planos de dominar o mundo. Ou pelo menos meu mundo e arrastar os Pinks comigo, nessa empreitada.

– Fácil, fácil. Primeiro tiramos umas fotos, depois vamos cutucar os instintos deles. Aí eles acordam e só. Se eles acordarem zangados, não é comigo. Vão emburrar sozinhos.

– Milena, Milena...

– Djane, Djane...

– Ok, aceito. Mas se me perguntarem, fui induzida, tão vítima quanto eles.

– O que eles com certeza vão acreditar.

~;~

E assim ficou, Djane pescou o celular dela em sua bolsa, tiramos fotos divertidas com os dois apagados, remexendo-se ora e outra, ríamos silenciosas de seus resmungos baixos e... nenhuma das duas pode negar que foi legal. Com uma boa gama de imagens garantidas, era hora da segunda parte do plano: fazer cócegas nos seus rostos para que se mexessem e se melassem, a brincadeira mais velha do mundo.

Dei uma fita a Iara, fiquei com outra. Na mesma marcação começamos as cócegas. Murilo foi o primeiro a coçar o nariz, não se melou muito, então Iara investiu em perpassar por outras partes. Vini fazia umas caretas, remexia-se e, num golpe certeiro, mexeu na face e se melou. E abriu os olhos. E me viu. E olhou a mão melada de creme. Voltou-se para mim, confuso, viu sua mãe, ouviu o “quê que é isso?” de Murilo que acordava também e eu, com a cara mais ingênua do mundo, soltei um “ô, amor, acordou, foi?”.

Impagável sua expressão.

Quando ele se levantou de meu colo, fugi, sendo seguida por Iara que também conseguiu sair da prisão de Murilo. Os dois se encararam, mais confusos ainda até entenderem o que era a situação. Foi Vinícius quem soltou a primeira ameaça, passando a mão no rosto para tirar todo o creme – o que na verdade o espalhava mais ainda:

– Ah, mas eu te pego, Milena!

Resultado: correria. Correria pela sala. E três triloucas gritando sendo perseguidas. Ou rindo perseguidas? Num sei, tudo junto. Pulei até sofá pra me safar, só que Murilo foi mais rápido, conseguiu me melar e foi à caça de Djane, pois Iara fora sua primeira vítima. Djane era a única intocável, pois soube dobrar bem o filho, escapava sempre dele. Murilo quem conseguiu pegá-la de jeito, abraçou ela pelas costas e a segurou tempo bastante para Vini melá-la também. Minha sogrinha pedia socorro e eu não podia ajudar:

– Esper... espera... meninos, não, meu cabelo, hey. Meninas, me ajudem. Isso não fazia part... parte do plano! Eu nã... tive, não tive nada a ver. Meninos!

Vinícius então se virou pra mim, traquina, enquanto falava com Djane:

– Valeu, mãe, pela informação. Já desconfiávamos sobre a possível cabeça disso.

E vieram atrás de mim! De mim, a inocência em pessoa.

Puxei Iara comigo, recomeçava a corrida pela sala. Murilo, numa esperteza repentina, declarou a Vinícius que seguisse por um lado enquanto ele mesmo iria pelo outro e uma hora dali iria sair o encontro. Quase saiu, quase! Seu Júlio despontou no corredor à sala:

– Mas o que significa isso?

Salva pelo gongo!

Ou não tão salva assim, se todo mundo resolveu apontar pra mim. Seu Júlio meneou a cabeça, olhou a cada um e suspirou com graça:

– Eu já devia saber.

E foi aí que me melaram de vez.

Suspirei dramaticamente.

– Nem se não fosse minha culpa, me apontariam.

– Acontece que ela tem muita culpa nesse cartório.

Murilo me entregou, muito satisfeito. Seu Júlio ainda fez uma cara de pai piedoso ao abaixar a cabeça, porém ao levantar, a coisa mudou totalmente de perspectiva. Ele sorria traquina.

– Todo mundo para o banheiro agora. Ou será que vou ter que melar todos vocês também? Porque acordei bem disposto.

Um show de “nam, não precisa, a gente vai” se fez coro. Vini foi para o banheiro de hóspedes com sua mãe, Iara para do quarto de seu Júlio, e eu com Murilo para o do corredor. Gritei um “damas primeiro” e me tranquei lá, mais moleca ainda. Só deu pra ouvir o “hey!” reclamão dele.

Quando saí, toda limpinha, fui à sala, preparando meu discurso de convencimento. Só que ninguém estava por lá, e nesse silêncio, ouvi meu Ryan ao longe cantando. Busquei a bolsa, revirei até achar o bendito celular. Ele piscava um nome. Um nome que me fazia hesitar em atender... Atendi.


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Notas finais do capítulo

(tive que escrever errado porque aparentemente a última manutenção do Nyah deixou essa pra trás - ainda bem que eh apenas quanto as notas...)

Reconciliacao mais que amor S2 S2 S2
Vinicius, hein, de mediador ta eh bem.
Masssss... alguem chuta aih­ quem tava ligando?

P.S.: Me mantive na intocada - mentira, esqueci foi dizer mesmo - que esse foi o PENULTIMO da temporada. Nao se preocupem, a continuacao vem logo em seguida, e na mesma pagina. ANSIOSOS(AS)?
Como eu disse faz um pouco tempo, daqui a historia caminha para o fim, ainda que ateh lah tenha mais umas odisseias. E to doida pra postar meus capitulos preferidos S2 S2 S2 Vou fazer um suspensezinho... logo logo posto o ultimo.



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