Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 22
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Adivinha de quem é o níver???? O personagem lindo que mais perturba, faz bico, tem ideias furadas, é um irmãozão e tem uns parafusos a menos quando se trata do coração. Murilo, criatura, juízo, menino! Um ano a mais é sabedoria, dizem, então a use, porque tá precisando e, olha, ultimamente tem funcionado (vide capítulo passado). Continue assim :)

*Murilo enxugou uma lágrima que eu VI!*

E bom, depois daquele surto do Vinícius, ele volta disposto a limpar a besteira que fez. Milena perdoa ou não perdoa?

P.S.: Channing Tatum é o protagonista do filme "G.I. Joe: A Origem de Cobra".

P.S. 2: Dica de Cast?
Armando - Alex Pettyfer (Eu sou o número 4; A Fera)
http://i1286.photobucket.com/albums/a619/alexisklets/MoE/armando_zps5af5080f.jpg



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Pra quem tinha brigado na noite anterior, eu estava muito animada pela manhã. Fora esse caso, tudo estava nos conformes, meu trabalho do sacana do Bart impresso, matéria estudada, nada de problemas no estágio e até esperei pela meia-noite. Murilo foi deitar-se logo depois que Vinícius saiu, depois de insistir em perguntar se eu estava bem mesmo depois daquilo, fiquei foi doida para terminar tudo o que tinha para fazer para assim ter a manhã livre para brincar na cozinha com dona Bia preparando umas coisinhas, era então aniversário do meu irmãozinho querido.

Quando deu meia-noite, levantei da mesa para ir ao quarto dele, espantá-lo ou algo assim. Porém, mais uma vez minha mãe chegou na minha frente, ela ligou exatamente nessa hora, então o encontrei no celular deitado na cama, sonolento, mal de um olho aberto. Nossos pais queriam muito estar nessa data conosco, porém não tinham como todos deixarem seus trabalhos de uma vez só, assim esperaríamos o feriado de carnaval para comemorarmos alguma coisa. Mesmo o próprio aniversariante não gostando das ideias de mamãe.

Trilha indicada: Demi Lovato – Love You Like A Love Song

http://www.youtube.com/watch?v=pCHce36nWRY

Dona Bia podia não conhecer a maioria das músicas que tocava na rádio pop, no entanto curtia fazer uma baguncinha comigo. Enquanto ela cuidava do almoço, fazendo a macarronada preferida de “alguém”, eu me arriscava numa receita de bolinhos. Mesmo um pouco chateada pela discussão com Vinícius e não tendo nem olhado o celular para checar se mandou alguma desculpa, tô muito relaxada e puxo até um vocal com a colher de pau. Hoje não era dia de chateação, esse é o ponto.

Dei uns simples parabéns àquela hora na madrugada, porque Murilo não estava muito lá acordado. Como acorda cedo, não queria ele de zumbi. Tivemos uma pequena conversa antes de ele ir para o quarto dormir.

– Deixe que ele se acalme, essa história de Filipe e a mãe dele mexem muito. Conversamos no outro dia, parece que Filipe estava atrás dele de novo. Sabe como ele fica.

– Hum. Ele não... não me disse. Não que tivemos muitas oportunidades essa semana mesmo. Filipe me perguntou algumas coisas, assim, por alto. Também falou do estágio e...

Então contei aquela história do André pagando aquele mico perante o chefe. Mico não, desrespeito. Mesmo se fosse qualquer cliente, ele não tinha o direito de responder do jeito que fez. Meu irmão também riu, disse que parecia coisa do departamento dele, sempre tem um que faz besteira. Só não disse o que eu vi no carro a caminho de casa. Mais especificadamente, na carteira de Filipe.

Teve um momento em que, quando ele voltou da farmácia, um amigo dele apareceu e pediu por um cartão de visitas, pois tinha perdido o número de Filipe e blá blá blá. Então ele me disse para pegar no porta-luvas, abrir a carteira e pegar um cartão enquanto ele remexia na sacola da farmácia. Peguei o cartão, mas não pude deixar de notar que havia um recorte de foto, onde imprimia a imagem de seu irmão Gustavo, pai adotivo de Vini, e o próprio, ainda criança de colo, sorrindo. Fiquei até envergonhada! Porque Filipe me pegou olhando para a foto. Ele também ficou sem-graça. Deu o cartão ao outro, comentou uma coisa qualquer e seguimos caminho.

Ao invés disso, eu quis tratar de outra coisa com Murilo, aproveitar sua guarda baixa. Ele havia se levantado para se retirar, então parou no corredor quando me pronunciei. Só que também não sacou de primeira do que eu falava.

– E o que você quer fazer amanhã?

– Num sei, quer que eu fale com Vinícius?

– Tô falando do seu aniversário, cabeça-de-vento.

– Ah. Ah tá.

Preciso dizer que ele ficou com um sorrisão?

– Pensei que não queria preparar nada. Naquele dia você diss...

– Eu não iria deixar essa data passar batida, mesmo chateada. Pensa em alguma coisa e me diz. Amanhã tenho só os dois primeiros horários de aula. Saímos para algum lugar, eu, você, Aline e Vinícius. Ou quem mais você quiser.

– Tá bom, te aviso qualquer coisa.

Lavava a louça quando dona Bia me alertou do forno. Então fui retirar a “fornada” de 3x3, totalizando 9 bolinhos feitos inteiramente por mim – palpitados em complemento pela minha ajudante, claro. Era de trigo com recheio de doce de leite cremoso. Peguei os confetes e cobertura de chocolate no ponto para iniciar o adorno, com a melhor trilha sonora, uma que parecia ter sido feita para mim. Meu Ryan tava tocando na rádio. Life in color para colorir meus bolinhos.

Trilha citada: One Republic – Life In Color

http://www.youtube.com/watch?v=5ZI1HXDnxGQ

Quando meu irmão entrou com seu clássico “Chegamos, família”, eu estava pronta, arrumada para o dia que eu sentia que seria muito bom. E que não importasse quem quisesse me chatear hoje, eu iria mandar para o espaço. Terminei os últimos retoques na cozinha e fui lá pular no meu irmão, pego de surpresa pela minha animação.

– FELIZ ANIVERSÁRIO, MANINHO.

Tava nem aí se o sufocava o pescoço, eu queria abraçar aquela peste. Ficou muito surpreso pela minha abordagem, percebi. Ao soltá-lo, cumprimentei Aline e dona Bia já veio atrás da gente parabenizar seu menino. E ele que nem gostava dessa atenção – aham! – se divertia bastante também. Logo cobri seus olhos, ao que ele soltou um urro de vitória antecipado. Tive que ficar na ponta dos pés porque ele era consideravelmente mais alto que eu.

– UHU! Vô ganhar presente?

– Tá, não te ilude. Ainda tenho uma última parcela daquele teu sunglass que te dei no Natal. Acha que dinheiro dá em árvore?

– Poxa.

– Maaaaaaaaas, preparei uma coisa pra você. Anda. Pra frente.

Guiei a peste ansiosa até a cozinha, todos já sentindo a mescla de cheiros doces e salgados. Sem querer Aline deixou escapar um “ai que lindo” que fez meu irmão se remexer mais inquieto querendo espiar. Retirei minhas mãos e..

– Pra mim? Fizeram bolo pra mim?

Os bolinhos estavam dispostos na mesa da cozinha, muito bonitinhos e deliciosos. Bom, esperava que estivessem deliciosos, porque foi minha primeira vez como confeiteira. Alguém tinha que ser cobaia né?

– Eu fiz, especialmente para você. Mas também não se gaba muito não.

E então ele foi todo afoito atacar um bolinho, dona Bia bateu na sua mão e determinou que era só para depois do almoço. Nem o bico dele a convenceu, permaneceu firme. Essa é das minhas!

~;~

– Opa, cupcakes!

– Tira o olho, André, que esses aí têm destinatários e nenhum é você.

– Como você é egoísta, garota, tem quatro aí dentro.

Ok, confesso, fiz de propósito. Abri a vasilha em que tinha enfiado alguns bolinhos meus, fiz que seu cheirinho fugisse um pouco e fazer invejinha para ele. Já aceitei essa realidade de provocações com André. Se ele o faz normalmente, eu também o poderia fazer. Fingi estar ajeitando a tampa e então fechei, recoloquei na mochila com meus pertences.

Ainda não tinha provado de meus próprios bolinhos, guardei o meu para comer com Gui e Iara, o outro era para Flávia. Em casa, dona Bia me era só elogios para meu feito, assim como Aline. Murilo com graça ficou resistente de me dar um único elogio, e quando o fez, saiu numa tossida! Ah, safado. Num preparo mais nada para ele.

Um pouco antes de o expediente acabar, fiz de tudo para terminar o mais rápido possível, pedi para meu chefe me liberar 20 minutos antes. Folgado como ele estava, não viu nenhum problema, então fui encontrar Gui e Iara na lanchonete, com meus lindos bolinhos.

Gui quis me sacanear. Outro safado.

– Você quem fez? Num sei, me sinto inseguro. Sabe que tenho um jantar chato daqueles para ir com a família, né?

– Olha, Gui, eu te salvei um bolinho, o André queria até me roubar. Não faça pouco de meu cupcake, tenho testemunha e fãs pra comprovar meu sucesso. Come logo antes que eu o amaldiçoe e sim tenha uma boa desculpa para escapar desse jantar.

– Me convencendo desse jeito, quem não iria?

Já me deliciava com o meu, Iara também, e meu chefe apareceu na lanchonete exatamente no momento em que Gui ia dar a primeira mordida. Chateado, ele foi ver o que era, voltando ao departamento. Nessa hora pude falar com Iara.

– Então, tem planos hoje de... aparecer no níver de alguém?

Em casa Murilo me disse que alguns amigos do trabalho iriam aparecer na praia para uma cerveja. Como não gostava de comemorar, não quis convidar muita gente, só aqueles que valiam a pena. Então perguntei se ele se incomodaria muito se Iara fosse, o que surpreendentemente ele disse que não. Ficou até interessado quando sem querer me escapuliu que ela havia me mostrado um presente que comprou para ele.

– Mas... como? Murilo não gosta de mim. Não precisa me convidar por aquil...

– Não foi por aquilo. Murilo tá aprendendo as lições da vida, tarde, mas tá tentando. 28 anos deve servir para alguma coisa, né? Perdoar é uma delas.

Eu VI o sorrisinho dela, escondido atrás do bolinho, e não, não era porque tava ótimo – vou me gabar até a próxima vida, beijos. Chequei seu braço, lá estava a pulseira. Acho que me senti tão bem quanto ela.

Na faculdade, Gui quis surrupiar o bolinho da própria namorada, só porque ela me entregou por eu faltado aula. Pra quem não queria saber dos meus dons de confeiteira, ele estava muito interessado.

– Diiiiiiiisculpa, Lena. É que... sei lá, foi estranho. Você faltou, Gui num falou muita coisa, pensei que tinha dado uma escapada com Vinícius. Aí ele me ligou um pouco antes do intervalo, Djane tinha nos liberado um pouco mais cedo. Escapou!

– E tinha ligado para quê? Essa ele não me disse.

– O Anderson tá procurando um professor de francês não sei pra quem. Aí Vini lembrou do meu cunhado, pediu o número de Pedro. Como vocês ficaram?

– Ele tá chateado. Não disse muita coisa durante o dia, o que tô achando bem estranho. Vinícius tem mania de me encher de mensagens. Chegou duas apenas, dizendo nada demais.

– E você não parece muito preocupada...

– Acho que não tenho motivos, a não ser pelo comportamento dele de ontem.

Ficamos de papo na sala de aula esperando o mala do professor Bart aparecer. Sávio chegou todo esbaforido, o que foi engraçado. Acreditou estar tão atrasado que quase tomou a escada assassina de novo. Porém, depois do incidente ele não mais subiu por ela, às vezes só descia e olhe lá, quando havia garantias que estava seca. Para me gabar novamente, disse que iria preparar um bolinho para ele, que boiou na história.

Então o estraga-prazeres do professor chegou correndo, mandando todo mundo sentar. Se ele pegasse a escada assassina, eu não iria achar tão ruim. E não, não iria dar um bolinho da minha fornada para ele.

~;~

Era pra ser uma chegada triunfal. Que se desce da moto, tira o capacete sensualizando, o cabelo deslizaria dele, o vento colaboraria, todo mundo pararia para olhar, como numa propaganda de shampoo. Ou de moto. Ou de capacete para motos. Ah, a realidade pode até ser “ficcionada”, porém nunca igual, nem para o lado real, nem para o ficcional.

Numa propaganda, uma situação é simulada, podendo chegar muito próximo do factual, e só. É mais ou menos isso que vou discutir no seminário da aula de Marketing II com Sávio e André, me veio à cabeça instantaneamente por ter achado que faria uma entrada legal, enquanto foi na verdade meio desastrosa.

Não sei por que ainda me engano de pensar que poderia ser diferente, sendo que por sempre acontece coisas assim comigo. Pode ter 10 mil pessoas comigo num raio de um quilômetro de certo local e sinto que a probabilidade de acontecer uma coisa dessas para mim sempre é maior. Claro, acontece com outros também, só pra dizer que não acontece APENAS comigo. A probabilidade tem dessas.

Iara estacionou bem em frente ao barzinho onde estava a galera. Desci, puxei meu capacete, o vento veio, comi cabelo. Estava contra a força do vento, grande ideia a minha. Iara já acostumada com isso, soube ter esse cuidado. Se posso dizer que ninguém viu? Não, muita gente viu, a maioria de quem tava passando no local, alguns riram. Pelo menos da galera no bar não, só Armando, que estava chegando justamente nesse momento. Já no calçadão, recomposta – e sem-graça de minha entrada – pude os apresentar.

Nisso Vinícius, que já estava lá, veio ao meu encontro.

Parecia cuidadoso. Não é pra menos.

– Mi? Pensei que... viria com seu irmão. Eu... teria te buscado.

– Não precisava, marquei com Iara.

Sua testa se franze sem dizer alguma coisa, só se aproxima mais de mim. Quando ia me beijar no rosto, virei e fingi que estava ajeitando o cardigã, que o vento o balançava. Ele deu um passo pra trás, ou pra me sondar ou pra me dar espaço, num sei.

– Onde estão suas coisas?

– Ficaram na casa de Flávia.

Tive que passar lá depois da faculdade, tomar um merecido banho e trocar de roupa. Coloquei uma bem básica e informal (http://bit.ly/16eAmOh– sem os óculos), que era o que a situação pedia, Murilo mesmo não gosta de fazer muita coisa para seu aniversário. Iara também estava de calça, seguindo minha dica (http://bit.ly/H4hSos), até porque ela ir de farda de serviço eu não ia aceitar.

Para não deixá-la largada pra me resolver com Vini, a impulsionei para entrar comigo, junto com Armando. Eles ficaram conversando nesse meio tempo que estive com Vini, estavam falando sobre motos e me parecia que o assunto estava bom, pois ela tinha um sorriso acanhado no rosto. Aline logo veio nos cumprimentar e, quando Murilo levantou para nos receber, Iara lhe entregou o presente. Fiquei muito feliz pela reação dele, de agradecer, e ainda dar um abraço, mesmo que desajeitado, pela delicadeza.

Ao ver que era o dvd de um filme que ele queria, comemorou todo animado me mostrando a capa. G.I. Joe, a Origem de Cobra. O filme havia sido lançado faz um bom tempo, ele não teve oportunidade de assistir até então, ficou só querendo. Iara jurava que um dos protagonistas era a cara do meu irmão, eu que ficava ainda desconversando, se não Murilo ia começar a se achar.

Sentamos na mesa, estavam outros amigos de Murilo na cerveja. Se fosse esperar pelo aniversariante, ninguém ia comer, então apelei pra Aline que me ajudou a fazer o pedido. Ao meu lado Vini se mostrava ainda cuidadoso, porém incerto. Estava chateada com ele sim, não esperava aquela reação dele na noite anterior. Mesmo assim, segurei sua mão por debaixo do pano e ele recebeu bem o toque, apertou-a contra si enquanto seus olhos queriam me dizer desculpa.

Antes mesmo de o pedido sair, os amigos de Murilo foram embora, estavam ali só pra tomar umas e ir. Ficamos mesmo só eu, Aline, Iara, Vini e Armando, jogando conversa fora. O clima entre mim e Vini estava bem amainado. Cantamos parabéns a contragosto de meu irmãozinho, os garçons se juntaram pra apoiar. Na falta de câmeras, fui com o celular mesmo para guardar aquele momento, que demorou, mas enfim chegou. Ali estávamos esquecendo nossos problemas.

~;~

Vinícius ri contra meus cabelos, esvoaçando em seu rosto.

– Como você pode ser minha paz e minha loucura ao mesmo tempo?

– Sendo eu mesma.

Assim que me peguei conectada por Vini ainda na mesa, meu irmão disse logo para a gente fazer as pazes que ele não aguentava ver aquele clima de “resolve-não-resolve” na frente dele. Quase joguei a guarnição de farofa nele por contar que estava brigada com Vinícius perante todos.

O namorado me convidou para uma caminhada até o início das ondas, que todo mundo assobiou e me incentivou de ir. E de “perdoar o cara”. Tiramos os sapatos antes de sair do bar para poder andar na praia. Como estava um pouco afastado dele, no quesito sentimental, ele fez questão de me segurar a mão o tempo todo, não quis me largar um segundo. Quando chegamos para contemplar o mar se quebrando a nossa frente, numa noite escura e pouco estrelada, Vini também não me largou, passou seus braços por meu dorso e me abraçou, inspirando meu perfume no vale do pescoço. Sempre gostei dos arrepios que me dava ali.

– Me desculpa. Pela reação exagerada, pelo que pensei... eu...

Me aperta mais contra si, que sinto seu coração às minhas costas. Estava arrependido. Mas eu precisava de mais que desculpas, precisava de explicações.

– Por quê? O que foi aquilo? Não confia em mim?

– Confio. É que... pelos últimos acontecimentos, eu só... explodi.

– É, explodiu em mim. Que não fiz nada.

– Também não é bem assim, Lena.

Como que é a história aí?

– Como assim? Quer dizer que eu fiz algo pra v...?

Ele tenta consertar o que disse. Quer que eu esqueça seu deslize? Ah, num esqueço não, quero saber disso direitinho.

– Eu só fiquei chateado, foi isso. As coisas acumularam na cabeça.

– Que coisas?

– Besteiras, Lena, eu sei.

– Que coisas, Vini?

Me desfaço de seu abraço para lhe encarar. Quero saber o que fiz. Ou pelo menos se de fato fiz, porque se o fiz, tenho o direito de explicar e não só esperar que ele tire suas conclusões. Inquieto, Vini fica nesse “digo-num-digo” que insisto mais para que conte. Ele não iria escapar dessa.

Sem me importar com minha roupa, sentei na areia mesmo, num lugar onde as ondas não poderiam bater. Ele me seguiu e fez o mesmo, sem querer me deixar. O tempo todo quis manter contato, físico, como se dependesse de minha aceitação. Ele havia feito alguma coisa ruim, e eu não sabia se se tratava do que eu pensava ou se havia algo mais o afligindo.

– Diz.

– Começou segunda, quando te chamei pra não ir pra aula. Você me dispensou... e depois eu encontrei Bruno, que me disse que vocês haviam saído. Então pensei o que poderia ter de errado nesse quadro... Tenho essa impressão de que não... hã... que não gosta de meus amigos. Sempre tem algo e você fica por fora. Isso só se confirmou quando você matou aula por Iara... quer dizer, você fez por ela, e não fez por mim.

– Vini, você realmente tá me dizendo isso?

Quantas aulas já não matei por causa dele?

Ele não responde, fica encarando a areia quando encosta a cabeça nas pernas dobradas pra cima.

– Não é por eu não ter matado aula, por quem fosse. Porque isso não seria suficiente para aquela briga.

Numa piscada lenta ele fecha os olhos, então os abre, me encaram, temorosos.

– Você me perdoa?

– É essa a sua justificativa?

Bem atenta às suas expressões, vejo que engole a seco, duro de ceder. Resistente. Uns poucos movimentos se dão em sua mandíbula, mostrando que ele não gostava daquilo. Eu sinceramente não entendi a zanga toda dele. Porém, enfim, ele resolveu abrir o jogo:

– Não. Acho que... que foi algum tipo de... autodefesa.

– Defesa contra o quê? Ou quem?

– Filipe.

Ah. Filipe, sempre Filipe. Era agora que ele iria “vomitar”? Já não era sem tempo. Vini tem guardado isso por tanto tempo que eu tinha receio mesmo do que faria com ele. Só que foi bater na minha porta, e disso eu não gostei, definitivamente.

– Me descontrolei, reconheço. Estava estressado, tive uns dias ruins, Filipe voltou a me perseguir, a me ligar, a aparecer até no meu trabalho. Então o que me martelava na cabeça por essa de você ter meio que me evitado na segunda, de ter sumido ontem e não ter ido pra aula, de eu te encontrar com Filipe... Deus, eu fiquei tão furioso.

– E onde está a autodefesa aí?

– Pensei se Filipe não poderia estar... te influenciando. Porque se influenciasse, poderia chegar até mim. Por isso te quero longe dele. Quanto mais próximo da gente ele fica, eu num sei... Não quero isso.

– Eu não te dou motivo pra tanta insegurança, dou? Por que não me falou dessa de Filipe voltando a te procurar?

– Num sei. Acho que falar sobre isso confirmaria que ele estava de volta me cercando. Eu só queria esquecer.

– Você sabe que eu tô do teu lado, não sabe? E sabe que ele é meu chefe. Uma hora e outra vou ter que vê-lo, conversar com ele. Sei que ele te magoou muito, mas, hello? Eu não sou fácil assim de ser convencida.

– Não foi o que pareceu no meu aniversário.

Ouch.

– Já pedi desculpas por isso. Foi burrice, eu sei, um deslize.

– Eu sei... E se você deslizasse de novo? E se ele te convencesse de alguma maneira? Se, agora que você estagia na empresa dele, ele possa se aproveitar de algo? Assim como meu ponto forte, você é meu ponto fraco.

– Sou apenas uma estagiária, ele é o dono da empresa, deve ter melhor e muita coisa pra fazer do que ficar “me influenciando”. Além do mais, eu quase não o vejo.

– Mesmo assim, fico pensando... e...

E eu tenho de perguntar. Se não o fizer, talvez ele não fale mais sobre isso. Toco o seu rosto ao passo que ele fecha os olhos e reclina mais uma vez seu rosto para os joelhos. Lidar com aquilo era bem complicado.

– O que aconteceu naquele domingo, hein? Você nunca quis tocar no assunto. Ele nunca mais apareceu para os almoços. Iara só me disse que agora Filipe visita o pai pelo meio de semana, pra evitar outr...

– Ele também me disse. Que queria me dar um tempo para respirar de nossa discussão. Foi o que me contou quando fugi dele lá no serviço. Mas também só deu pra ouvir isso, eu saí logo de perto dele.

Acarinho seus cabelos, aproximo-me mais dele. Com o rosto meio que virado para mim ele arrisca uma olhadela me espiando, com claras dúvidas sobre falar sobre o assunto ou não. Normalmente eu pularia o tópico, porém, depois daquela ceninha na minha casa e disso tudo que já me falou, não posso mais recuar.

– E então, o que foi aquela briga?

– Disse que meu aniversário era um dos dias mais felizes da vida dele. Porque minha mãe não foi fraca de me deixar morrer... Mas ele foi fraco de deixá-la ir! Ele quem a matou. E levou tudo dela com ele, pois eu nunca soube quem ela era. Não tenho nada dela, Lena, nada. Djane é boa mãe, só que... às vezes sinto o vago de minha identidade, sabe? Tem mais de minha história que eu não tenho acesso. Ganhei a vida e ela o quê? Morreu por nada.

– Vini...

A busca de Vinícius sobre a vida da mãe dele era mais complicada que a busca de Iara sobre a mãe dela; ele, diferentemente, não tinha ponto de partida, não tinha referências. Só havia uma pessoa com quem pudesse realmente ter informações, justo a pessoa de que quer manter distância. Nenhum dos dois quer ceder.

– Não, Lena, nem pela minha mãe eu vou atrás. Ela se foi por causa dele. Filipe não me merece, ele que se contente por Iara mesmo... Por que você veio com ela? Por que não me disse nada?

– Não vai implicar com ela agora também, né? Ela não é ponte de ninguém. Só achei melhor te deixar quieto, pra pensar melhor sobre o que fez.

– Eu pensei, claro. E me arrependo de como tudo aconteceu, Lena, acredite.

Ele estava em sua maior sinceridade, aqueles olhos me diziam.

– Acredito, e perdoo. É só que você me deixou no vago, sabe? Fiquei lá com uma interrogação na cabeça enquanto não sabia de onde vinha toda aquela raiva. E espantada, porque Murilo tava muito calmo.

Vinícius ri brevemente, ele também notou esse pequeno tamanho detalhe do comportamento de meu irmão. Com esse sorrisinho vacilante, ele quer uma confirmação. Talvez achasse que eu fosse fazer mais tempestade nesse copo de água.

– Me perdoa, de verdade?

– Claro.

Então me abraça, forte. Passo minha mão por suas costas, acalmo-o com carinho em seus cabelos. Parecia assustado, muito preocupado pela minha reação. Será que achou que eu fosse brigar mais com ele?

– E que milagre foi esse que não encheu minha caixa de mensagens?

Preso ao meu pescoço, ele murmura:

– Pensei que não gostasse. Me controlei.

– Hum. Bom então. Só estranhei.

Devagar ele me solta. Havia uma questão que citara e eu hesitara em responder. Ele percebeu isso mais uma vez.

– Mas... e sobre segunda. Você realmente não gosta de meus amigos?

– Eu tava cansada, lembra? Saí com Bruno e Daniela, verdade, mas fui mais arrastada que outra coisa. E foi para a lanchonete perto de minha casa, era caminho. Não falei nada porque não achei importante, além de que estava esgotada mesmo. E não é que eu não goste deles, eu só não tive uma oportunidade de... enfim, da próxima, juro que faço um esforço de deixar nada atrapalhar.

– Amanhã. Almoce conosco. Eles vão de manhã pra terminar aquela maquete, você aparece no almoço e fica com a gente.

Com receio de que notasse algo de verdade, respondi rápido demais que sim. Eu veria novamente Anderson, sentiria uma parte de meu passado muito presente. Mas Vinícius estaria lá comigo... Não deveria temer, deveria?

Com o encontro de nossas bocas em reconciliação acho que não. Vinícius também era meu ponto forte, assim como meu fraco. Uma hora eu iria ter que lidar com isso.


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Notas finais do capítulo

"- Como você pode ser minha paz e minha loucura ao mesmo tempo?"
Já pode morrer de amor ♥



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