Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 21
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

O outro lado da história. Quer dizer, mais um lado da história, um que não foi esquecido. Iara conta melhor que eu.

Mas algumas pessoas podem não gostar disso... Apostas sobre quem vai surtar hoje?

Enjoy.



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Por algumas vezes andando na rua, vi pessoas em cantos, calçadas e até nos muros chorando por algo que havia acontecido a elas. Pelo status de estranha, não poderia fazer nada para lhes ajudar, mesmo com toda a vontade de perguntar o que lhes afligia. Algo deveria ser feito, não parece justo deixá-los se sentirem sozinhos quando não estão.

Sinto esse aperto no peito novamente quando entro no banheiro feminino do estágio. Fui para lavar a ponta a blusa que manchou de café. O maldito do André fez de propósito, aposto, topou em mim só porque fiz de tudo para deixar a encargo dele o serviço de oferecer café aos funcionários que estavam em reunião com nosso treinador. Sendo minha blusa branca ficou aquela coisa horrível que todo mundo passa, olha e tem pena. Pensava até em ligar para Flávia e pedir que levasse uma blusa para mim, já que ela sai do estágio e consegue passar em casa antes de ir para faculdade. Pensava nisso até ouvir um choro.

Era diferente do choro do outro dia, em que Gui e eu cuidamos de uma menininha. Era um choro sério, de gente grande. Como entrei tão silenciosa no espaço, quem quer que seja no cubículo continuou a chorar. De primeira fiquei sem ação, com aquele aperto de dúvida, se batia na porta do privado, oferecia ajuda ou algo assim. Mesmo uma mera estagiária, sou uma pessoa e sou solidária. Me sentia impotente, porque a pessoa provavelmente me dispensaria. Ou me chutaria para longe.

Então abri a torneira, para ver se me livrava ou ao menos dar um jeito de amenizar a mancha da minha blusa. Só que ao ouvir a água corrente, a outra parou, se conteve em seu cubículo. Fiz o que me levou até lá, dei um jeito de limpar mais, ia sair logo depois. Isso se não fosse meu ímpeto mais forte de não conseguir deixar aquela pessoa sozinha em claro sofrimento, como tive de fazer das outras vezes e muitas delas me arrependi de não ter feito algo.

Imaginei que ela havia terminado alguma relação, estourado o cartão, perdido alguma coisa, alguém, o emprego, sei lá. Preferi ir em frente a ficar o resto do dia me remoendo por ter perdido a chance de estender algum tipo de consolo. Então enxuguei as mãos, ajeitei a blusa, enrolei papel-toalha para bater na porta do privado (por causa dos germes, claro).

– Oi. Precisa de alguma coisa?

Nenhum retorno veio para meu grande anseio. Insisti:

– Pelo menos responde.

Uma vozinha alterada tenta se fazer de forte e sai de lá:

– Não, obrigada. Pode ir.

Reconheço de imediato. Era... Iara. Checo também pela abertura do cubículo embaixo que eram os pés dela. Quer dizer, seus sapatos, os mesmos que eu havia elogiado mais cedo. Aquilo me apertou ao peito novamente.

– Iara, não consigo ir e te deixar assim.

– E-e-estou bem.

É, tô vendo.

– Não precisa me dizer, não vou perguntar. Só não quero que fique assim. Me preocupo. Fico aqui até você se sentir melhor se for o caso, não tem problema.

– Você po-o-de levar a-alguma bronca. Estou me recuperando, sério.

Ela me dispensava, era isso. Contudo, algo dentro de mim me dizia para não arredar o pé dali, que era mais sério do que poderia imaginar. Nem imaginar mesmo eu sabia, chutar sobre o que se tratava, pois poderia ser sobre qualquer coisa, eu não a conhecia tanto quanto se poderia dizer.

– Então por que tá nesse cubículo do banheiro se escondendo de todos? Não sei se você sabe, mas não é um dos lugares mais higiênicos pra se pensar... Até o terraço lá de cima me parece melhor. Pra pensar digo. Ou se esconder. Não que eu tenha, mas você sabe, ninguém passa por lá, diferente do banheiro... Desculpe, vou ficar calada.

Um fungado forte vem de seu nariz, muito congestionado.

– Obrigada.

– Por ficar calada?

– Por ficar aqui.

– De nada.

Ficamos minutos caladas. De vez em quando ouvia uns fungados, assim como sua respiração que amainava. Verifiquei a porta do banheiro e a ala do corredor, nenhum incêndio até então. Mandei uma mensagem para Gui pedindo para me cobrir de algum jeito se pudesse. Cogitei pedir isso a André até me dar conta que eu estaria me entregando de bandeja para ele me ferrar, então não.

– Milena? Tá aí?

Sua voz me dizia que estava mais recomposta. Fiquei feliz de tê-la ajudado, o pouco que fiz. Ou o nada que fiz, se era o que precisava no momento.

– Tô. Você tá saindo?

– Tô horrível. Todos vão perguntar, Filipe vai que eu sei.

– A gente dá um jeito... O importante é você sair.

Primeiro ela destranca a porta, respira fundo que posso ouvir o congestionar de suas vias nasais, abre finalmente enquanto ajeita seu blazer ao busto. Pisca rapidamente com os olhos vermelhos e passa um dedo sobre eles pra enxugar os resquícios já meio secos dali.

– O que vou dizer?

– Em algum momento da vida toda mulher pode e tem o direito de usar uma desculpa universal, mesmo que não seja verdade. Nenhum homem vai querer questionar e as mulheres vão saber compreender.

A cabecinha dela devia estar tão cheia que não notou de primeira qual era.

– Qual?

– Cólicas menstruais. Sério. Algumas realmente nos derrubam.

Ela ri, daquelas pequenas risadas que a desgraça permite.

~;~

Dei um jeito de driblar Gui, avisei que não poderia ir à faculdade, que ele me atualizasse no dia seguinte. Me sondou um pouco sobre a razão de eu faltar, que lhe disse que não era nada demais, só não poderia ir. Assim me encontrei com Iara no fim do expediente no estacionamento do fundo, onde estava sua moto.

– Tem certeza? Posso te deixar na aula. Já te atrapalhei hoje.

– Nada, tava precisando matar uma aula mesmo. Faz uns bons dias que não descanso. Hoje tem só dois horários, posso recuperar depois.

– Tá bom, mas qualquer hora que mudar de ideia, me diz.

– Não vou.

– Para onde vamos? Já andou de moto?

Ela se preparava para subir, me deu o capacete reserva que guardava num compartimento debaixo. Mesmo de maquiagem refeita, seu rosto continuava inchado, daqueles que liberou muita emoção e não teve um tempo para resguardo.

– Já. É legal. Podemos ir para qualquer lugar. Algum que você goste?

– Não sei, me diz você.

Assim fomos parar na praça de alimentação de um shopping. Estava desejando um caldo de camarão apimentado que só era feito num local, sentir seu cheiro até esquentou meu estômago. Minha missão primeira era distrair Iara, coisa que estava conseguindo com êxito. Ficamos por lá só o tempo de o jantar descer bem, então voltamos para a moto e fomos para seu apartamento, parando um pouco próximo de lá para passar num supermercado, onde compramos algumas besteiras pra completar o dia.

Nunca soube onde era ou como era o apartamento onde Vinícius costumara viver. Sabia umas poucas referências, na verdade. Por isso que, quando entrei, fiquei sem noção do que dizer ou comparar, mas que era arrumado era. O quarto de Vini na casa de Djane é bem organizado, porém, não é grande referência para quando se vive sozinho. Ou quase sozinho nesse espaço pequeno. Me pareceu bem acolhedor.

– Não repare na bagunça.

Só havia alguns papéis sobre a mesa e mais outros na bancada da cozinha.

– Bagunça onde? Ainda não viu o guarda-roupa de Murilo, ali é passagem para Nárnia mesmo. É coisa de outro mundo.

– Vou só guardar essas coisas na dispensa. Você quer... hã... assistir algo? Filme?

– Bom, eu tenho de perguntar... então, esqueça de mim. Você precisa conversar?

O leite que ela se esticava para pousar na prateleira de cima foi esquecido no mesmo segundo. Apoiou-se então na pia e vi que respirou fundo, como que se munindo de forças. Logo uma mão levou ao rosto, e um espasmo pequeno tremeu seu corpo. Fui ao seu amparo.

– Iara.

– Não é nada, Milena. É só que...

– É só que é algo. Algo que te derruba. Não precisa falar, sério. Só saiba que se precisar, posso fazer qualquer coisa. Que esteja ao meu alcance, claro.

Vejo em seus olhos o brilho de lágrimas que se acumulam, alguma dor que vem de dentro e não sabe como sair. Num segundo ela está abraçada a mim, forte, precisando disso. Demora um tempo para ela se acalmar de novo. Ao se recuperar, insiste em desabafar, aos meus protestos de que ela precisava se não queria. Só que ela quis.

– Como você sabe, perdi muito cedo minha mãe. Ela não era a melhor pessoa do mundo, também não a pior. Mas foi a pior para quem me criou. Vivendo anos com meu pai biológico, pude conhecer muito pouco sobre ela ou sobre o que eles tiveram, ele não gostava muito de conversar sobre. Quando morreu, fiquei aos cuidados de minha avó, que me desprezava junto da família por ser filha de quem eu era, filha de Lígia. Sempre fui a bastarda, Milena. Eu nunca tive estabilidade e nem uma família de verdade.

É, eu não poderia dizer que entendo porque não entendo o que é crescer desse jeito. Minha família por sempre foi muito presente. Iara merece mais que isso, o tempo todo sofrendo sozinha. Por vezes senti que tinha algo que lhe consumia, imaginei ser algo do tipo por uma vez ela ter me falado um pouco sobre sua história de vida. Dessa vez, no entanto, algo mudou e não me parece algo bom.

– Faz algum tempo que eu investigo sobre o passado de minha mãe, não consegui muito. O pouco que tive acesso por enquanto tem sido o bastante. Descobri que mesmo se mostrando tão fútil e egoísta, ela camuflava muito seu lado bondoso. Muitos não acreditam que fora ela quem iniciou vários projetos comunitários, fazia doações e esteve a cargo de muitas ações sociais, não só de minha cidade. Ela só não gostava de receber atenção por isso, se manteve sempre quieta de seus planos. Consegui falar com muita gente que chegou a trabalhar nessas causas com ela, e sempre eles se mostraram admirados. Ela era conhecida como a “doadora de coração”, uma figura anônima que pouco deixou rastros de seus afazeres sociais.

Não me admiro que a sua mãe não era bem reconhecida, pois, pelo pouco que Filipe mesmo contou, a mulher fez terror com a mãe de Vinícius. Mas uma pessoa nunca é 100% podre por dentro (menos o Hermani, acredito), tem coração que bate ali. E ouvir ela falar de suas buscas por sua mãe me lembra das próprias de Vini, que infelizmente não tem por onde ir, já que para seu caso as “pistas” são mais escassas.

– Tinha seu lado negro também. Viveu um casamento de fachada, teve um caso fora dele, perseguiu algumas mulheres de Filipe, ameaçou a maioria delas, dentre outras coisas. Seu lado negro era o que a definia perante todos praticamente. Minha avó sempre a odiou, e me odiou por ser “cria” dela. Felicidade mesmo não tive com minha família... Nem sei se poderia chamar de minha família, porque, ainda quando meu pai era vivo, eu não me sentia parte dela. Era pior que uma agregada, era um nada que só morava lá, porque não tinha para onde ir, era menor de idade. Apenas meu pai me aceitou.

É visível a vergonha que ela sente de sua história. Uma vergonha por muito, silenciada. Seus olhos se derramavam mais, suas mãos tremiam um pouco em meio as minhas que a seguravam. Ainda assim, Iara tenta se manter controlada. Estávamos chegando ao ponto desencadeador de sua queda.

– Tenho estado nessa busca faz muito, muito tempo. Além de informações, encontrei algumas coisas, pequenas por maioria, a me agarrar. Como a pulseirinha que consegui recuperar dela, era uma parecida com a que tive quando criança. Descobri também que minha avó vendera a minha quando pôde. Me restou apenas essa, que agora também já era. Na minha última estadia uns tempos atrás, sem querer deixei cair. Pedi para um amigo se enfiar naquela casa de algum jeito e recuperar. Só que descobriram e... minha avó deu um jeito de se livrar. Ela me ligou hoje só para se gabar, Milena, só pra destruir qualquer esperança que tivesse sobre ver aquela pulseirinha novamente.

E terminou por abraçar a almofada que detinha sobre o colo.

Qualquer pessoa poderia dizer que sofrer tudo isso sobre uma pulseira era exagero e drama demais, mas não nessa situação. Cada sofrimento vem de um jeito, tem um significado. E a tal pulseirinha era algo, pouco do que Iara não teve e provavelmente não teria mais. Não se dependesse dessas pessoas que só a queriam mal. Vê-la nesse estado me faz olhar para a própria pulseirinha de Vini em meu braço. Que já esqueci de colocar, que já dei pouca importância a ela quando não se tratava apenas de um objeto.

Puxo a outra pulseira que estava no meu braço e peço a atenção de Iara com um toque a seu braço.

– Fique com essa. Não é de sua mãe, talvez nem parecida, mas... bom, não posso te oferecer uma família, porque não tenho poder para isso, mas eu sou sua amiga e sozinha não está, não agora. Outro dia enquanto conversava com uns amigos, falava de caminhos cruzados. Pode não ser hoje, amanhã ou nos dias seguintes que deixemos de nos cruzar, só sei que aqui, agora, você tem com quem contar. Se puder transferir o que sentia por aquela pulseira de sua mãe para essa, transfira. Porque esse novo significado ninguém vai poder quebrar.

– Mi, não posso aceitar. É sua pulseira.

– É sua agora, aceita. Para mim era apenas um adorno.

Ela aceitou, receosa e acanhada. Só assim pude ver um pouco de esperança em sua expressão melancólica. Me senti bem melhor também, não gosto mesmo de ver alguém desse jeito e não poder fazer nada a respeito. Aquele aperto no peito que começou no banheiro se desfez quando ela conseguiu abrir um mínimo sorriso e me agradeceu pelo gesto, por tudo que estava fazendo por ela, que pareceu tão pouco para mim.

Se recompondo novamente, Iara pediu licença para tomar um banho, que logo seu pai iria chegar. Filipe costuma agora ir na casa de seu Júlio mais pelos dia de semana que nos fins de semana, desde aquela confusão última com Vinícius. Às vezes Iara vai, mas conseguiu ser dispensada por aquela desculpa de cólicas terríveis que tinham lhe acometido.

Diz que Filipe ficou todo sem jeito! Queria ter visto essa cena, poxa.

Não vi essa, mas vi outra. Quer dizer, participei de outra.

Assistia alguma besteira qualquer na tv comendo uns biscoitinhos de padaria que encontramos na saída do supermercado, Iara no banho, quando o trinco mexeu e Filipe entrou no apartamento, estacou ao me pegar sentada em seu sofá. Também paralisei, como que pega em algum flagra que não existia.

~;~

Quando senti meu celular vibrar na bolsa, ouvi o Ryan tocando, tinha dois palpites de quem poderia ser. Olhei pela janela do carro de Filipe que ele estava na fila de pagamento da farmácia e atendi.

– Alô?

– Oi amor, recebi sua mensagem. Tá onde?

– A caminho de casa. Te vejo mais tarde?

– Claro. Apareço daqui a pouco.

– Ok.

Até aí tudo aparentava dentro das normalidades. Só que não era nada como imaginava. O caso é que, depois de muita insistência, aceitei o pedido de Filipe de deixar Iara descansar e ele me levar em casa, de carro. Ele só teve que fazer uma parada na farmácia perto do apartamento, que foi a hora que Vini me ligou, enquanto eu esperava, quase 22h.

No carro conversamos um pouco, ele jogando conversa fora era algo meio que fora do comum, pelo menos para mim. Dado um tempo, quando estava mais próximo de minha casa, perguntou do filho, de como estava, sobre o namoro, e até de meu estágio. Fui gentil de respondê-lo sem adentrar muito nos detalhes, era estranho. Me despedi dele quando me deixou na minha porta, agradeci pela carona.

– Eu quem agradeço, Milena.

Então, logo que saiu, que as cortinas foram puxadas. O carro de Vinícius apareceu às minhas costas enquanto eu tentava acertar a chave no trinco. Quando saiu, Vini estava muito sério, arrodeou o veículo, veio para perto de mim. Tirar satisfações, ao que pareceu. Não gostei de seu tom.

– O que estava fazendo com esse homem?

Meio fora das órbitas, não entendi de imediato o que acontecia.

– Quem?

– Filipe. O que estava fazendo no apartamento com ele?

– Pera, como você sabe que eu... você falou com Iara?

Tentava entender como que aquilo chegou ao seu conhecimento, não que quisesse esconder, só queria entender. Isso, infelizmente, o enervou.

– Quer dizer que ela também tá metida nisso?

– Wow, vamo com calma, né? Filipe só me deu uma carona. Tá todo nervoso por quê? Ele não é nenhum bicho de sete cabeças, não.

Isso chamou atenção de meu irmão, que estava em casa e foi para a porta averiguar a discussão. Questionou o que era com o olhar, ao qual respondi com os olhos e um dar de ombros que tampouco eu sabia. Vinícius que estava surtando sozinho, andando de um lado para o outro. Deixei minhas coisas, que estavam um pouco pesadas, no batente de casa e fui tentar pará-lo. Ele se desvencilhou de mim, se dirigiu para meu irmão. E claro que isso deu merda.

– Sabe onde a Milena estava? Faculdade o caramba. Tava com Filipe, no apartamento.

Meu irmão já virou pra mim com uma cara suspeita:

– É o quê, Milena?

– Hey, hey, não foi nada disso.

Não adiantou nada essa, porque Vinícius parecia cego e surdo para minhas opiniões.

– Então não foi ele quem acaba de te deixar aqui? Eu vi, Lena, vi quando você passou de carro saindo do estacionamento do apartamento com ele.

– Espera, o quê?

Ah, aí quem ficou possessa fui eu. Os dois ficaram lá, como que me acusando de algo, de braços cruzados, estudando minhas reações. Fiquei furiosa com a constatação que veio na mente.

– Tava me seguindo, Vinícius? Tava atrás de mim quando me ligou?

– Passei a seguir quando te vi, confesso. Queria saber o que tava fazendo com ele, quando devia estar na faculdade. Que você nem foi, né? Flávia me disse que tinha faltado, assim como minha mãe, que perguntou sobre você. Liguei e você foi bem breve, né?

E Murilo se juntou a ele, para “variar”.

– Que história é essa, hein? Milena?

– Quer saber? Eu não vou falar com vocês desse jeito. Fiquem os dois plantados aí que eu vou entrar, tenho mais o que fazer.

E tinha mesmo, como terminar de digitar o trabalho do professor Bart. Mas o que é um trabalho desses no meio de uma discussão dessas? Nada. Passei batido pelo meu irmão na porta, peguei minhas coisas e entrei. Logo os dois vieram em meu encalço, não gostava nadinha de suas expressões, muito menos de seus comportamentos. Pelo menos desistiram de fazer barraco na porta de casa.

– Lena, volta aqui. Explica isso.

Incrivelmente, Murilo que se mostrava o mais sensato. Ou o mais calmo. E só por isso não os ignorei, deixei minhas coisas na mesa e retomei para enfrentá-los na sala. Vinícius tava muito alterado para meu gosto. Meu irmão parecia só assistir.

– Se eu fui pra faculdade? Não fui. Se estive no apartamento? Estive. Não com Filipe, estava com Iara. Ela teve um problema no trabalho, fui ajudá-la. Filipe apareceu quando eu estava de saída, me ofereceu carona. Fim de história.

Vinícius ainda tinha um modo travado de se comportar. De braços cruzados, via mais que ira brilhando de seus olhos. Claro que não gostei nada.

– Eu não quero você perto dele, Lena. Só isso.

– Vai me dizer o que fazer agora também? Porque se for, melhor voltar pela porta que entrou. Não tem direito algum de vir falar algo se foi você quem nos seguiu, pra começo de conversa. Também não tava na faculdade, né?

– Não tive os últimos horários, só isso. Falei com a Flávia um pouco depois de sair, minha mãe ligou logo após. Fui deixar Susana em casa, ela mora ali perto. Então te vi, reconheci o carro, o lugar. O que queria que eu fizesse? Eu te liguei, você quem não disse nada.

Até parece que eu ia começar alguma coisa pelo celular.

Vendo que o negócio tava pegando que Murilo resolveu intervir.

– Epa, epa, vocês dois. É apenas um mal-entendido, né? Vamos parar antes que falem algo que venham a se arrepender.

Sabe aquela hora que você ouve uma coisa e não acredita que veio da boca de quem saiu e volta-se para ela com toda descrença e surpresa possível? Meu Deus, Murilo dizendo isso? Em que mundo paralelo fui parar? Mundo transversal, então. Por um segundo fiquei impressionada, então Vinícius bufou inquieto, ainda de braços cruzados e firmes ao peito.

– Sinceramente, Vini, eu não sei qual é o grande ponto dessa discussão. Tô boiando. E daí que...? Enfim, se não me disser o que está havendo, não vamos sair desse impasse.

– Só quero que se afaste dele, só isso.

– Fala como se eu tivesse próxima... Então tá, fica nessa. Quando essa suposta raiva tua passar, a gente conversa.

Ia dar as costas sugestivamente para ele, só que o que argumenta me dá um alerta, dou meia volta e aponto pra ele, que até parecia não ter noção do que dizia ali.

– Mi, eu faço isso apenas para te proteg...

– Olha bem o que você vai dizer.

Ele então engole suas palavras. Estava tão envolvida na cena que me esqueci até de meu irmão ali, assistindo tudo. Mais uma vez, ele interviu. Parou do lado de meu namorado alucinado e, com muita calma e preocupação, acenou para a porta.

– Vini, acho melhor você ir.

– Mas...

– Depois a gente conversa.

E assim engoliu novamente o que iria dizer e sua impaciência. Se aproximou de mim para me dar um beijo nos lábios, o que desviei, persistente de que não cederia também. Suspirou baixo ante minha atitude, beijou-me na bochecha unicamente, se demorou a sair, sempre olhando para trás enquanto Murilo o acompanhava até a porta.

Mecanicamente mexi nas minhas coisas para preparar o notebook, deixá-lo no ponto de começar a digitar. Basicamente eu só teria que finalizar, revisar e formatar. Meu irmão logo voltou, seu semblante preocupado, aquele clima estranho, sei que ele queria falar algo. Não sei como se segurava, ele sempre era o primeiro a estourar numa situação dessas. Talvez estivesse tentando mesmo mudar seu comportamento.

Também não tardou a abordar.

– Esteve mesmo com Filipe? Ele quem veio te deixar?

– Olha, Murilo, se for para brigar comigo também...

– Não, eu só quero... hã... ouvir a verdade. Se puder confiar em mim.

Suspirei agradecida por seu voto de confiança. De costas para ele, continuei a mexer nas minhas coisas, retirava um material da bolsa. Ouvi seus passos para chegar mais perto de mim.

– A verdade é que não sou próxima de Filipe. Só que isso não impede de ele ser meu suposto sogro. E ainda é meu chefe! Às vezes o vejo na empresa. Hoje eu estava com Iara, grandes foram as chances de encontrá-lo. Então ele me deu carona. Isso não vale uma briga, vale?

– Acho que não. Só... tenta ver pelo lado dele.

– E eu vejo. Só que dessa vez, Murilo, algo tá faltando.


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Notas finais do capítulo

Tenso!
(Acho bom vocês não terem apostado no Murilo - pra surtar - viu! Vamo dar um voto pra ele :D)



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