Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Nyah me mandou uma advertência por ter feito um apanhado no começo com fotos e notas (e apagou u.u). Já fiz todas as mudanças necessárias, então, tá de boa agora. Isso me pegou um tempo, então só um cap pra postar dessa vez.

Suspense, descobertas e encontro dos planetas. Salvem-se quem puder!



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Uma campainha soa. Dani grita, eu grito porque ela gritou e Flávia logo depois.

Assistíamos a um filme de suspense, sábado à tarde na casa de Dani. Estávamos nós e um primo dela, que se arrumava pra sair na chuva que caía. Imagino que ele não foi checar o motivo de nossos gritos por saber que era um filme que devia arrancar gritos de nós. Ou mesmo pela campainha que ele nem se dignou a verificar.

– Pode abrir pra mim, Lena? Tô muito afundada no sofá.

– Fala a anfitriã... tá, eu vou.

Apesar de Daniela ser a “dona da casa”, eu quem tava no meio do sofá, com as duas amigas grudadas em mim pelo suspense do filme. Achei melhor mesmo levantar, para dar espaço a minhas veias do braço, que Dani apertava a cada cena tensa – que, a propósito, era toda hora – e dar uma arejada daquele filme. A chuva caía leve lá fora, a sala estava no escuro das janelas fechadas, só a Tv iluminava o ambiente. Fazia um friozinho gostoso. Daqueles que é uma boa pedida ficar juntinho de quem se ama e nem precisar falar mais nada, só sentir o calor que cede e recebe da pessoa. Mas não hoje, ah, com certeza não hoje.

Só porque o tempo estava bom, não quer dizer que estávamos beeeeem no humor para isso. Na verdade, acreditamos que hoje tenha tido um encontro dos planetas, um equilibrar de forças que sincronizou nossos ciclos femininos. Hoje sim era um dia para barrar os homens com uma placa de Temporada Proibida para Machos. Estávamos um perigo, um perigo que só nós mesmas entendíamos. Quem passa, sabe.

Tinha uma fúria guardada em mim. Daquelas que é melhor me segurarem pra não fazer besteira. Só que de certa forma eu fiz... soltei fumaça para o professor Bartolomeu – o que ele adorou, aposto; o que tanto ele queria, ele conseguiu... me deixar louca da vida – troquei umas farpas com Murilo, discuti com Vinícius. Quando a cólica veio hoje, tudo fez sentido. Mas a descoberta não aplacou o que sentia, deu foi mais lenha na fogueira. Por isso estava me regando de chocolate, pão-de-queijo, pipoca e bombons com as meninas, que estavam numa situação semelhante.

Levanto naquela coragem, capo um quadradinho de chocolate da mão de Flávia antes de ir para o portão, pelo terraço fechado. Ela não me olha bonito quando levo esse pedaço de guloseima, o que faz pensar que talvez seja a mais normal desse sofá que abandono momentaneamente. E que era bem por isso que o primo de Dani preferiu não assistir ao filme conosco. Por nossas transições de humor, não quem tem mais senso, digo.

A campainha soa novamente quando caminho pelo terraço, grito um “já vou” logo que escuto a chuva aumentar de repente. Abro a porta de alumínio num puxão e...

– Bruno?

– Lena?

Nessa hora o primo de Dani aparece para sair, cumprimenta Bruno que entra num pulo para dentro, a chuva estava começando a ficar forte. Assim que o primo de minha amiga deu no pé e fechou a porta de casa, ficamos eu e o outro nos olhando sem saber quem começava a falar. Apesar de não ter vontade de qualquer testosterona próximo a mim, sinto que a presença de Bruno ali não me afeta. Como um ponto neutro.

– Então, veio ver a Dani?

Enquanto mexia no seu cabelo de pontas molhadas e nos braços também vitimados pela corrente água do céu, Bruno pronuncia-se à minha pergunta meio inquieto, como se não soubesse bem ou quisesse me explicar a razão de sua aparição repentina.

– Na verdade vim... hã... entregar a ela... a-a identidade, achei debaixo do banco do meu carro. Deve ter... num sei, deixado cair naquele dia do aniversário de Vinícius, teve uma hora que a bolsa dela abriu e... o que vocês estão fazendo?

– Assistindo filme. O Sexto Sentido.

O olhar dele se levanta de imediato quando cito o filme.

– E vocês estão bem?

– É, eu acho. É só um pouco de suspense.

Os meus braços que quase foram arrancados por aquelas duas medrosas não acham isso exatamente. Quando os mexo ao lado do corpo, faço parecer que estava me esticando para estralar uns ossos – que estralam mesmo – como se estivesse me alongando.

– É só que eu tava sentada de mal jeito no sofá... então... quer entrar?

O quê que eu ia dizer? Ou fazer depois do grito de Dani perguntando sobre quem era e por que eu demorava? Poxa, Bruno é meu amigo, não devia ser tão estranho, devia? Apesar de estar convidando-o para certo covil assassino de mulheres, queria que fosse escolha de Daniela, de que ela pudesse decidir se era mesmo bem-vindo ou não.

Chegando na sala escura, o filme paralisado, a luz da TV tremelicava numa cena do guri mediador de fantasmas conversando com a mãe assustada e preocupada numa mesa onde eles faziam refeição. Flávia e Dani conversavam sem saber da presença de Bruno. Dani dizia:

– De que ano deve ser esse filme? Será que esse guri já é homem? Porque se for, acho que deve ser um gato, não acha?

– Sabe que nunca parei para ver isso? Contanto que ele não seja assust...

Pigarreio, anuncio a nossa entrada para que as coisas não sejam tão constrangedoras quanto já pareça ser. Bruno ao meu lado permanece sem-jeito.

– Olha quem veio, meninas.

~;~

Bruno por fim ficou.

Após devolver a carteira de identidade que disse ter achado, Dani o agradeceu mais recomposta. Já planejava tirar outra porque acreditava ter perdido, e nem imaginava onde. Foi seu lado mais derretido que permitiu a presença de Bruno, um ponto masculino que teria que aguentar três temperamentais, coisa que ele percebeu uns tempos depois. Não sei como não fugiu.

Daniela era a que estava dramática e impaciente, daquelas que analisava tudo do filme, porém não a impedia de morrer quando vinha aquela sonoridade suspeita e logo não sabia mais do que falava. Flávia era a mais derretida, só que de humor intercalados... Quando não estava a ponto de chorar, estava a ponto de matar. Era ela quem começava a jogar pipoca na gente quando os comentários iam além do filme. Eu? Num sei, me sentia bem temperamental também. Não era rude, no entanto. Tinha me livrado das cólicas pelo menos, gritava junto com as meninas, tinha surtos raivosos vez e outra com o filme, morria com algumas cenas tensas.

Bruno? Ria.

Quem é bandido que tem coragem de rir numa sessão de suspense com três assassinas do lado? Não foi a toa que apanhou das três com almofadadas. Resmungava que éramos muito medrosas e loucas. Se não fosse pela cena do guri confessar a mãe o que acontecia de verdade em sua vida num momento tenso, Bruno iria jazer naquela sala pelo conjunto de olhares mortais que receberia, que sim, daria para sentir de onde estava sentado, ao lado de Flávia.

O sofá era grande, porém como as duas eram medrosas demais – e eu também, confesso – ficávamos amontanhadas umas às outras, quase num só lugar, dando espaço suficiente para Bruno se acomodar. Na hora em que foi se sentar, quando chegou, tinha duas opções: sentar-se do lado de Dani, sentar-se do lado de Flávia. Claro que optou pela última. Às vezes Flávia pulava quase em cima dele... e ele não parecia se incomodar. Já não poderia dizer isso de outra pessoa no recinto.

Ao fim do filme, com os créditos subindo, a gente continuou a ver todos aqueles nomes passando devagar. O chocolate, o pão-de-queijo, a pipoca e demais bombons já tinham acabado faz tempo, só sobrando o sorvete, seguro no congelador. Dani foi a primeira a se levantar, ligou a luz, deu pause na TV. Retirava seu pen-drive do eletrônico sob o nosso silêncio enquanto amassávamos as embalagens de chocolate, mordia sementes de pipoca que não estouraram e recolhia nossas tigelas com colheres sujas de sorvete quando Flávia soltou um...

– Ai Meu Deus!

Bem aí que todos viramos pra ela, a única sentada no sofá, de olhar perdido. Havia algo nesses olhos e não era bom. Algo que a assustava. Aquele filme tinha mesmo lhe atingido? Daniela fez uma piadinha.

– Flávia, a gente sabe que você é loira, mas também não precisa colocar em evidência, né? Só agora você entendeu que o cara lá era um dos mortos que falava com o guri?

– Não... não... não é isso. Eu... eu... acho que sei o motivo da br...

E foi bem aí que ela olhou para Bruno, de pé, perto dela e bem atento ao que dizia. Ele sentiu que ela não diria na sua frente o que quer que ela teve de cortar. Isso deixou ambos desconfortáveis, e a mim e Dani no mesmo estado, por esses dois ficarem desse jeito. Melhor dizendo, tava tenso.

– Acho que é melhor eu... hã... eu ir.

Não fomos educadas de convencê-lo do contrário, nem mesmo hesitamos. Dani foi acompanhar Bruno até a porta, para onde também me arrastou, e foi uma despedida bem estranha, porque ninguém sabia bem o que dizer.

De volta à sala, Flávia tinha o rosto enterrado em uma almofada, resmungava “droga” sucessivamente. Olhei para Dani que também percebeu que dali iria vir algo difícil e sério. Me sentei ao lado da minha amiga, toquei-lhe o braço.

– O que foi, Flávia?

Ela levantou devagar o rosto da almofada. Inspirou.

– Sei o porquê de Gui estar tão chateado com André. Ele descobriu.

Dani sentou do outro lado, interviu também:

– Descobriu o quê?

– Que eu... eu já fiquei com ele uma vez.

~;~

– Ainda tá chateada por aquilo de hoje de manhã?

Vinícius tinha me... rejeitado.

Quando percebi que ele havia dormido na cama de hóspedes comigo, o amasso não demorou muito a rolar. E as coisas foram esquentando rápido – bem rápido, devo dizer – de forma que não era uma casquinha que se tirava. Tomei a iniciativa, certo, mas ele também estava colaborando muito, apesar de hesitante ao começo. Tinha mão pra tudo que é lado, apertos aqui e acolá, beijos compartilhados e...

Vinícius parou do nada. Pediu para eu parar de avançar e tudo.

Tá, a gente não iria até os finalmente, mas também não precisava estancar daquele jeito. Do mesmo jeito que o súbito havia feito eu avançar nele, um súbito me fez me afastar dele. E foi quando senti o primeiro fio de cólica chegando.

Não voltamos a comentar sobre o caso. Primeiro porque seus colegas da faculdade logo iriam aparecer para um trabalho de equipe e segundo que fui responder uma mensagem de Dani, que além de falar da nossa viagem, mencionou que essa tarde seria daquelas de extrapolar dieta que qualquer mulher. Interessada nisso, transformei num encontro das garotas. Tal qual não foi nossa reação quando descobrimos que estávamos sincronizadas nos ciclos menstruais?

De qualquer forma, após um papo leve com dona Ana e um almoço com os Garra, Vinícius foi me deixar na casa de minha amiga. Ele quis conversar sobre o assunto no caminho, eu não. O fato de ter insistido um pouco me irritou. E me deixou irritada por ter sentido raiva dele. Hormônios, seus lindos, que parassem de intensificar minhas reações!

Uma garota de TPM pode ficar zangada por isso, não pode? E pode se empanturrar de doces com as amigas no encontro dos planetas remoendo a razão, não pode? Não era só por isso a minha chateação, no entanto.

Saio do carro, Vini me alcança na varanda, estamos na sua casa. Djane nos esperava para o jantar. Antes de ele virar a chave da porta, me toca no braço para que eu diga algo.

– Próxima pergunta.

– Lena... você sabe que... ainda não. Concordamos em ir com calma, né?

– Eu tô calma, Vinícius.

Só queria um banho, só isso. Iria me acalmar muitos nervos ficar debaixo do chuveiro. Lutava para não bater os pés de inquieta que estava, me abraçava pra me segurar de qualquer coisa. E isso, aos olhos de Vini, poderia parecer estar emburrada. Não fiz nada, no entanto, para mudar essa impressão.

Murilo me exilou na casa de meu namorado desde a noite anterior, sob a vigilância de Djane. Estava numa plantão muito importante no trabalho, não quis me deixar sozinha em casa. Nem convidar Vini para ficar lá, por causa das “regras”. Iria ficar na casa de Flávia se a sogra não tivesse me convidado.

Devia ter era ido pra lá mesmo.

– Você não falou quase nada desde que te busquei na casa de Dani.

– Só... estava pensativa.

– Então me fala, hein, me fala. Não gosto de você caladinha assim.

Nem o fato de colocar a mecha de meu cabelo para trás da orelha me comoveu.

– Não era sobre isso, Vinícius. Agora passe essa chave ou passo eu.

Fomos recebidos por sua mãe logo que entramos, que notou nossos humores não muito tranquilos. Pedi licença, fui para o quarto de hóspedes e voei para o banheiro. Só então debaixo da água que pude me sentir mal pelo que disse a Vini. A culpa não era dele afinal.

Só sei que vou ter de reunir forças para não estrangular o André. Sim, o André.

Acontece que na festa da calourada em que eu consegui fugir desse descarado, Flávia não teve a mesma sorte, ela estava naquela lista idiota dele. Assim como Daniela, quando entrou na faculdade, pois foi André quem fez a calourada da turma dela. Ambas foram enganadas, envolveram-se com ele nessas festas. Arrependeram-se, claro. E por se arrependerem que evitam falar disso... até acontecer o que achamos que aconteceu. De André provocar Gui por ter ficado essa única vez com Flávia.

Bom, não podemos culpar Gui de ter se alterado mesmo.

E isso borbulhava em mim. O asco que sentia por esse cara, que não era pouco por todas as provocações, aumentou. Apesar da confissão de Daniela, de ter ficado também com ele sob as mesmas circunstâncias, eu não me pronunciei. Flávia algumas vezes havia me perguntado o porquê de tanta discussão minha com ele, se havia acontecido alguma coisa e sempre neguei. E nunca aconteceu mesmo, coisa que deu mais vazão às discussões com o safado, ele nunca conseguiu fechar a maldita aposta dele. Agora eu teria que trabalhar ao lado desse bastardo, estudar e fazer seminário com ele.

Devo reforçar o aviso a Sávio para me segurar? Devo, provavelmente.

Para o jantar me apresentei mais relaxada. A prenúncia de uma cólica se desfazia conforme o remédio fazia seu trabalho em meu organismo. Quando Djane me disse para chamar seu filho para a mesa, fui lá no quarto dele, toda sem-graça. Tinha sido rude com ele que não merecia nada daquilo. Bati na porta entreaberta, ele estava na cama digitando algo no celular.

Toc, toc.

– Oi, Mi.

Levantou-se, digitou algo mais, deixa o celular sobre a mesa. Remexe na sua mochila então, mas atento a mim. Observo-o perambular pelo quarto a procura de algo.

– Sua mãe tá chamando.

– Ah. Já vou.

– Vini...

– Hum?

– Desculpa se fui rude.

Ele vira-se num segundo, volta ao que estava fazendo no outro. Tinha mesmo que me deixar culpada?

– Tudo bem.

– Você tá chateado. Acho que não tá tudo bem.

– Eu entendo então. Você não quer falar sobre o assunto.

– Não é isso, Vini. É só que... errr... eu tava com dor.

Ah, agora ele se vira?

– Dor? Que tipo de dor? Precisa de alguma coisa?

– Já tomei.

Ele insiste, vendo que provavelmente eu não ia mencionar. Não ia mesmo até notar que não iria esquecer aquilo enquanto não lhe dissesse.

– Que tipo de dor, Lena?

– Pois então... cólica.

– Oh.

– Yeah.

– Isso explica muita coisa.

Ele ri.

Estreito os olhos.

– Que “muita coisa”?

– Um comportamento um tanto... explosivo.

– Hum. Nem vou comentar essa, senão explodo de novo.

Abandono o vão de seu quarto a que estava encostada, ia voltar para a sala. Se ele não me detivesse, claro. Me interceptou no corredor, quase à porta do seu quarto ainda. Me abraçou por trás, inspirou profundamente minha colônia pós-banho de meu pescoço, onde deixou leve selos, apertou-me com segurança aos seus braços.

– Ô, minha linda, está tudo bem. Por que não me falou, hein?

Com os sentimentos à flor da pele, quem não fica manhosa depois dessa?

– Porque não é legal de se falar para o namorado isso.

– Você e essa mania de guardar as coisas pra você de novo.

Volátil, emburro de novo.

– Meça suas palavras mocinho, tu sabe que hoje tô assassina.

~;~

Algumas coisas eu poderia evitar ficar falando... Só precisam me informar que coisas são. Como eu poderia saber que um detalhe em particular Djane havia ocultado do filho?

– Pera aí, que história é essa de caso com o diretor? MÃE!

Ops.

– Respeite-me perante a mesa, Vinícius Garra. Eu não estou tendo caso algum. Isso são apenas rumores.

Eu não poderia deixar de concordar.

– É, Vini, o que mais rola naqueles corredores são rumores.

– Mas alguém tem que dar uma lição nesse cara.

Acredite, eu sou uma das que mais quer isso, que merece d

ar um dos primeiros golpes. Se pudesse, já teria partido para cima. Não poder o fazer me força apelar para outros modos, que ainda não consegui pensar, infelizmente.

O lucro de ter abordado isso ao final de nosso jantar era de que Vini se mostra bem... preocupado com a mãe, coisa que ela fica bem feliz – EU VI, EU VI, EU VI ELA RINDO – o que significa que a relação deles tem se estabilizado bem. Mas também não queria ficar falando desse assunto de novo. De professor Bartolomeu, digo.

– Deixemos isso de mão, não vale mesmo a pena. Milena, como vai seu irmão?

– Mais tapado que nunca. Quer dizer, apaixonado.

– Murilo apaixonado? Que ótimo! Me diz que é por aquela moça que ele trouxe no aniversário. Eles pareceram bem ligados.

– Essa mesmo, a Aline. No outro dia eu topei com ela no trabalho dele, disse-me umas coisas, deixou escapulir outras... Acredita que ele ficou me ligando que nem maluco pra saber dessa história? Foi bem durante aquela reunião com Fabiano, tive que desligar o celular até.

– Que lindo. Queria saber sobre o que vocês conversaram lá no trabalho dele, aposto.

– Lindo, nada. Ele nem deixou eu aproveitar meu namorado!

Ok, isso definitivamente não é coisa que se diga a sua sogra.

Que se mostra curiosa.

– Não me diga que brigaram de novo. Ah, não.

Djane também não gostava quando brigava com aquela peste.

– Trocamos umas farpas, digamos. No fim disse a ele o que tanto queria ouvir.

Murilo estava meio impaciente quando adentrei a casa, chateada pela interrupção dele. Sem rodeios, me questionou o porquê de não ter mencionado anteriormente.

– Você não iria me largar e eu tava atrasada para a apresentação ao estágio.

– Você desligou o celular.

– Claro. Tive uma reunião na diretoria, tive aulas. Tava na faculdade, Murilo. Esqueceu, foi?

– Tá, deixa pra lá, só me conta o que ela te disse.

– E o que ela te disse? Preciso saber o que sabe pra dizer o que não sabe.

– Bom, se mostrou nervosa, como se tivesse falado algo que não devia a você e que eu não deveria saber.

– Pois se anime, maninho. Ela gosta de você e muito. Só tá encanada com os históricos que cada um carrega sobre relacionamentos passados. Satisfeito, agora?

Ok, o olho dele brilhou. Depois me abraçou como se não houvesse amanhã, saiu bobo pela casa como se... se tivesse ganhado na loteria. Talvez na loteria do coração.
Antes de me exilar, me disse que estava se resolvendo com ela, o que muito me deixou feliz.

– Então temos mais um final feliz? Tenho mais uma nora?

Amo minha sogra. Já Vini, ele brinca de indignado, antes de me dar um beijo estalado na bochecha. Repreendi, claro.

– Poxa, mãe, pensei que a Lena fosse sua preferida.

– Vini!

– Coração de mãe sempre tem espaço. Isso não me faz amá-la menos. Bom, crianças... acho que já vou me retirar.

Na menção dela se levantar, olhei para o relógio na parede que marcava 20h.

– Já, tão cedo?

– Ai, Milena, acordei com o galo. Tenho tanto para assumir agora. Estou muito cansada...

– Então boa noite, Djane.

Ajudamos a colocar a louça suja na cozinha. Antes de nos deixar na sala, deu um último comunicado. Que me deixou um pouco sem-graça.

– Só mais uma coisa, meus amores. Eu não imponho regras porque sei que vocês são responsáveis o bastante para entender o que é decência. Podem namorar, mas peço por juízo e respeito.

E se isso já não fosse o bastante, tratou de complementar com o golpe de misericórdia. Minha sogra era liberal demais para meu constrangimento.

– E, claro, proteção.

– Mãe!

Restou jogar-nos no sofá sem qualquer comentário sobre o comportamento de Djane, mãe e sogra. E amiga. Passado o momento de estranheza, Vinícius ligou a TV, mas não prestava atenção a ela. Com o braço ao redor de meus ombros, ele se mostra todo cuidadoso... de sua segurança. Usava uma voz firme ao pé de meu ouvido pra me amolecer. Posso dizer que conseguia.

– Ainda com alguma dor? Posso cuidar, mimar você. Contanto que não me xingue, claro.

– Awn, Vini. Não, agora não dói. Passou.

Um sorriso sapeca foi desenhado em seu rosto. Aproximou-se, mas, antes de qualquer coisa mais, olhou para trás.

– Era só o que faltava, minha mãe nos encontrando juntos.

– Que ela já encontrou.

– O quê? Quando?

– Aquela noite dos trovões. Descobri quando ela soube que estávamos namorando. Acredite, eu morri quando ela me disse isso.

E sinto que ele morre também, quando aperta os olhos num vinco. Tão logo que faz isso, ele relaxa.

– Sabe, agora que estamos sozinhos...

– Hum.

– Boa hora para conversar, né?

Ele acha? Eu toda interessada em outra coisa... Na TV por exemplo.

Mentira.

– Você tá mesmo encucado com o que aconteceu de manhã, não está?

– Lena, entenda, eu quero você, claro que eu quero. Não quero errar de novo, ser impulsivo.

– Tá dizendo que cometemos um erro? É isso?

– Não, nunca. Não foi um erro. Assim você distorce o que falo. Quis dizer que foi um impulso que desconsiderou muita coisa que até então eu não havia pensado.

– Sobre o fato de ser minha primeira vez? Você já disse isso.

– É, mas não falei a razão por completo... Olha, outro dia, antes do meu aniversário, eu conversava com seu irmão sobre Aline. Ele me disse uma coisa que colocou minha cabeça pra trabalhar.

– Murilo dando reflexão? Essa é nova.

Tomei o controle da Tv de sua mão, ele não deixou que eu mudasse. Vinícius não havia percebido, ele tinha deixado no canal Senado. Quem assiste canal Senado? Se não assisto o canal dos bois, imagina do Senado. Vendo minha atenção dispersa, puxou-me pelo queixo para si.

– É sério, Lena. Ele disse que não sentia... errr... não apenas sentia desejo por ela, que rolava muito mais sentimento por trás disso. Mas que a queria muito também.

Ele tem noção do que tá me dizendo? Não, pelo jeito não tem não.

– Isso é COISA demais para meus ouvidos.

– O caso é que... quando ele falou, eu me senti daquele jeito. E culpado. Por ter me precipitado tanto. Pelas circunstâncias que descobríamos o que era esse sentimento dentro de nós. Eu mudei muito. E na cabeça só me restava duas constatações. Ou que você era virgem e que eu não respeitei bem, ou que você não era mais e só poderia ter sido com uma pessoa. E pensar que outro já te fez mulher... me alucina.

A última parte foi sussurrada. Vinícius já havia falado sobre tudo isso – menos a origem de sua reflexão, na verdade – no dia de seu aniversário, enquanto estávamos deitados aproveitando o sono da tarde. Aproveitando o pouco momento que tínhamos só nós dois juntos. Só porque me chateei essa manhã não quer dizer que não saiba suas razões. Sei agora bem até demais.

– Eu quis também, lembra?

– Eu sei, mas para uma primeira vez do casal, as coisas têm que ser especiais. Naturais.

– E foi especial. E natural, Vini.

– Eu sei, não digo que não foram... só que eu não tive um cuidado maior, entende?

Entendia. Entendo. Não concordo, mas entendo.

– Sei onde quer chegar. Mas me diz que isso você não comentou com ele.

Vinícius ri um baixo riso, roçando um caminho pela minha mandíbula.

– Claro que não. Escapei de não levar um soco por namorar a irmã dele, acha que falaria isso? Que sempre me exige o máximo respeito a você?

Tô vendo o respeito dele.

Pior é que ele respeita mesmo!

– Hum. Ainda bem. Morreria se ele soubesse de nossas intimidades. Isso é do casal e mais ninguém.

– Sabe que te amo, né?

– Você vive dizendo, mas não convencendo.

– Hum, então mudemos esse status. Vamos para o quarto? O seu, de hóspedes?

– Namorado... você diz umas coisas... depois conota outras...

– Namorada, você não tem nada com que se preocupar. Vou só cuidar de você.

– Tá, finjo que acredito. Vamos deitar então.

Eu sei, ele queria aproveitar o máximo de nós juntos num mesmo quarto, numa mesma cama. Parecia outro dia que estávamos na minha casa escapulindo um para o quarto do outro. Parecia também que estava tão longe.


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Notas finais do capítulo

Djane ainda mata um do coração desse jeito.

Trechin do próximo?

[...]
Aos olhos de quem estava naquela roda Bruno soou preocupado com o bem-estar de Daniela, como se fosse ela a carregada, não o Sávio. Pra mim era outra coisa. Sei que ele ficou indignado de ver outra vez Dani pendurada no pescoço de Sávio, dessa vez retornando o apoio que ele havia lhe dado no dia que machucou o pé e mal pôde andar também. Pra mediar a cena, intervi:
— Dessa vez foi a escada assassina. Né, Sávio?
— É, foi.
— Pois então, a gente já tá indo. Não temos mais aula hoje.
Bruno fez que entendeu e as outras garotas que nos rondavam foram dispersando para a lanchonete. Viram que não iam conseguir nada, nem atenção. Antes que déssemos um passo para a saída, Bruno nos interrompeu:
— Posso falar com você, Dani? Coisa rápida.


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