Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 15
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Umas poucas confusões, outras poucas "acobertações". Milena tem um gênio difícil, difícil...



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André não prestava, isso só se reforçava a cada dia.

Acho que quando acorda pela manhã ele pondera sobre quem será seu alvo. Que dessa vez não fui eu. Mas também não foi calculado, talvez. Vai saber. A única coisa que me faz feliz depois de ter me dispersado dele é que Gui tem carro e não preciso ficar com esse ser presa num engarrafamento. Que por falar nisso, motoristas devem ser mais atentos, já num basta os engarrafamentos normais dos sinais de trânsito, eles têm que vir piorar tudo com suas batidas? De qualquer modo, eu não pegaria carona com André nem a pau, preferiria ficar parada na avenida dentro de um ônibus de pé.

Alguma coisa ele fez a Gui, antes de eu chegar para nos apresentarmos na distribuidora que seria nosso estágio. Murilo me deixou quase na porta, na calçada onde estavam os dois, André com seu sorriso debochado, Gui de expressão fechada. Algo mais essa coisa fez ao meu amigo na hora da saída. Não vi porque ainda estava me certificando com Iara sobre meu pedido.

Sim, Iara!

Acontece que a empresa distribuidora em que pegamos estágio era a empresa que Iara e Filipe falavam! Como nunca soube o nome – ou sobrenome – deles, Muniz, não deu pra juntar 1+1 de cara, soube por acaso. A atendente do RH nos recebeu na recepção para nos acompanhar a uma saleta aonde a responsável pela área iria nos atender. Como a tal responsável estava numa reunião que se prolongava, aproveitei para ir ao banheiro, resmungando comigo mesmo, nervosa, porque tinha bebido tanta água se daria naquilo, eu apertada.

Pedi informações para chegar ao banheiro. Tudo tranquilo até lá, fui e na volta, quem eu vejo ao longe, perto de um corredor que visivelmente eu de principiante não teria acesso? Iara conversando com um cara, que explicava algo a ela, que parecia bem tediosa, sem vontade alguma de ouvir o tal. E foi aí que ela me viu, algo nela se iluminou quando encontramos uma a outra no olhar. Despachou o cara e foi ao meu encontro. Cumprimentou-me com um abraço e beijinhos no rosto, que retribuí.

– Milena! Você por aqui! O que veio fazer?

– Acredite ou não, estágio.

– Estágio? Que maravilha! Vou já passar no R.H., não acredito que você veio parar aqui.

– Você é do setor do R.H.?

– Não exatamente, mas quero deixar minha recomendação de você lá, só pra garantir.

Ah, não. Suspiro por ter que repetir aquele meu mesmo discurso.

Só o fiz porque era Iara, ela não devia saber disso. Por que saberia?

Mordi o lábio temendo ser indiscreta.

– Por favor, não o faça? Eu... eu não gosto quando as pessoas... er... intervém assim por mim. Prefiro que não o faça.

– Entendo. Pelo menos vamos ser colegas de trabalho, isso já me anima muito.

– Obrigada, Iara, por sua consideração. Mas pode não fazer muito alarde quanto a isso? Digo, bom, eu tenho tido uns probleminhas ultimamente... me acusam de favoritismo por causa da relação que tenho com Djane e isso tem me chateado muito. Não quero que isso aconteça aqui também, só porque conheço você e... o dono.

– Sério? Poxa, que chato. Já estava gostando da ideia de você por aqui...

– Isso não nos impede, na verdade. Eu só...

– Eu sei. Pode deixar que de mim ninguém saberá. Vou falar com meu pai também, que é pra ele não dar furo. Você pode não achar, mas ele gosta muito de você, sabia? Quando não posso ir aos almoços de domingo ele sempre fala de vocês... Gosta até de seu irmão, que é uma figura.

Essa eu não poderia imaginar. Filipe comentando sobre a gente?

Que... estranho.

Minha mente não consegue trabalhar com isso. O que fica bem na cara com minhas sobrancelhas juntas e testa franzida, Iara percebe...

– Acredite, meu pai não é tão rude quanto parece. Já soube também do fight que teve domingo, o mal-estar de seu Júlio. No fim do expediente vou lá vê-lo. Tempos difíceis custam passar, não custam?

– Ô se não custam... bom, tenho que voltar. Vejo você por aí, colega de trabalho.

– Tchau, colega de trabalho.

A apresentação formal no R.H. foi normal, com um adendo ruim apenas. Quando mandaram a lista de vagas nos setores, havia três, certo aí, já quanto às especificações das vagas que houve um probleminha. Na nossa relação na faculdade apareciam duas vagas para analista de marketing e uma para consultor corporativo, sendo esse último a vaga a que André se prontificou. Era o contrário, na realidade... duas vagas para consultores e uma para analista.

Quando a mulher do R.H. nos esclareceu isso, o clima ficou estranho por nós três nos entreolharmos. Gui estava claramente desconfortável, coisa que ele procurou disfarçar, sem procurar confusão. A gente não tinha direito de escolha mesmo... um de nós dois teria que partilhar um setor com André, pois ele foi o primeiro a dizer que não seria analista, o que deixou eu e Gui em maus lençóis. Pra mim tanto fazia o cargo, no entanto, para Gui era uma boa oportunidade ele ficar como analista de marketing, que é bem a área que ele gosta e quer, além de que foi quem tanto quis ir para essa empresa.

Minha relação com André é péssima, mas tive de engolir porque, por mais que tivesse me alistado pra analista, eu queria era consultoria. Que esse sacrifício pague uns pecados meus, porque é dose ter André como colega de turma, como parceiro de equipe e ainda trabalhar com ele. Levo então a experiência como treino de espírito, pois pra ficar com esse cara do lado tem que ser muito espirituosa, isso sim.

A mulher do R.H. pareceu não ligar para nosso incômodo – e por que ligaria mesmo? Éramos novos integrantes e estagiários ainda por cima. Estagiário sempre leva o pior mesmo. Recebeu nossa papelada, assinamos alguns termos de compromisso, começaríamos na segunda. Ficamos então com uma última semana de supostas férias...

Estava meio longe pensando nisso quando buzinas soaram atrás de nós. O trânsito à nossa frente estava andando, menos Gui, que, mesmo com as buzinas, não pareceu ter acordado. Toquei-lhe a mão que estava descansando na marcha... seu outro braço estava apoiado na janela aberta, de forma que segurava a cabeça, perdida em algum canto desse mundo.

– Gui? O trânsito.

– Hã? Ah.

Seja lá o que for isso, só espero que não tenha nada a ver com André, porque isso consideravelmente iria atrapalhar meu gênio e o que chamo de relação péssima com esse bendito tornaria pior. Se mexem comigo, sei lidar, se mexem com meus amigos, não sei definitivamente como lidar.

~;~

Querendo parar outra semana tensa já pode.

Sim, teve dedo de André naquela chateação de Gui. Claro, por que outra razão ele teria explodido no meio do intervalo das aulas? Estávamos quase todos de nosso grupo comum juntos na parte do jardim, falando novamente da viagem e o planejamento dela, quando um grito furioso de Gui rompe o pátio e todos se viram a tempo de vê-lo empurrando André, ainda naquele sorrisinho escroto e debochado dele.

– TU NUM FALA ASSIM DELA, TÁ ME OUVINDO?

E eu que falei pra Sávio em outro momento que cenas e brigas como outras que presenciou não eram comuns, estavam tencionando a se repetir. O povo da turma logo tratou de separá-los, Gui num estado extremo que nem quis falar com a gente. Digo, eu ou Flávia, que não sabíamos o que acontecia.

– Lena, você sabe de alguma coisa? Ele tá estranho, não quer falar. Agora isso.

– Acredite, Flá, também gostaria de saber.

O que eu sabia era pouco, mínimo, e não quis compartilhar com Flávia para não deixá-la mais apreensiva que estava, além de que ali não era lugar se qualquer um poderia nos ouvir. E de cochichos eu estava cheia já.

Quando saí da reuniãozinha com o diretor Fabiano e Djane vi quando esses cochichos recomeçaram. É tão irritante passar por um lugar, saber que todos têm olhos em você, falam de coisas que não sabem, conjecturam rumores sem fim. A propósito, a reunião foi... intrigante. A “bomba” iria estourar no dia seguinte: Djane assumindo o cargo de chefe de departamento. Era isso o mote de tamanha confusão na diretoria esses dias.

O caso é que nosso antigo chefe de departamento teve um problema sério de saúde, o que lhe levou a deixar o cargo bem no começo do ano letivo sem prévias, causou um alvoroço pelo departamento todo quem poderia substituí-lo às pressas, sem muito tempo para votações ou coisas do tipo. Foi aí que Fabiano optou por indicar Djane, que de primeira não quis aceitar, mas o diretor insistiu, porque confia na competência dela.

Só que isso não foi bem interpretado. Professor Bartolomeu queria a vaga, achou injusto e armou o maior bafafá lá dentro, dizendo que... bom, também pasmei nessa...

– Ele nos acusou de ter um caso, Milena, olha como esse homem é abusado!

Eu estava na minha só ouvindo a explicação que Fabiano e Djane me falavam, pensando em desligar o celular que, graças, estava no silencioso, porque o tanto que Murilo me ligava naquela hora eu perdi as contas de ignorar ele.

– Pera, Djane, como assim “um caso”?

De aparência cansada foi o diretor quem me respondeu:

– Acontece, Milena, que eu me importo com Djane. Somos só amigos, no entanto. Eu soube dos problemas que ela teve no ano passado... acho que fui, na realidade, o primeiro a saber, por causa daquela invasão que o filho dela fez à nossa instituição. Como amigo sempre dei meu jeito de ajudá-la, às vezes à distância, sei que foi uma época difícil. Aos olhos de outros, como professor Bart, isso teve outro significado.

Há sempre mais de uma história do que podemos saber, essa é a verdade.

– Quando Fabiano não aceitou o pedido de Bart, ele surtou, nos acusou de favoritismo, como se fôssemos... fôssemos mais que amigos, coisa que não somos, Milena, acredite em mim.

– Não, eu acredito. Isso dá muito sentido agora. Mas por que estão me contando isso, afinal?

A voz grossa, porém terna, de Fabiano me puxou para lhe dar atenção:

– Sei, Milena, que rumores sempre rondam por aí. Sei que andam te provocando também, por causa de sua proximidade com Djane... e daquela história do ano passado, de que ela quis te favorecer na monitoria. Quanto a isso sinto muito por não poder nada...

– Ah, não, não sinta.

– ... só quero saber se... bom, na discussão do outro dia de Djane com Bart ele exprimiu bem o que sente em relação a você, não? Quero saber se ele anda te perseguindo de alguma maneira, porque nisso posso fundamentar alguma repreensão por parte do departamento.

Olhei para o diretor, olhei para a professora. Olhei para o celular vibrando pela milésima vez, piscando o nome de meu irmão. Desliguei logo. Respirei fundo, poderia ter dito que sim. Disse não.

Fabiano ficou incerto.

– Tem certeza?

Vamos recapitular: professor Bart não gostava de Djane, não gostava do diretor, não gostava de mim. Se ele era mala por isso, se me “provocava” por causa da vaga que iria perder, o que o bendito faria se Fabiano movesse uma ação de repreensão direta nele? Tinha problemas o suficiente pra acrescentar mais pedra no meu sapato. Não, muito obrigada. Aí sim esse negócio de favoritismo ia me pegar. E Djane!

Ela também estava cansada desse lenga-lenga todo. No aniversário do filho, Fabiano ligou para avisar sobre outra discussão que corria na diretoria com Bart, que exigia então a presença dela. O homem insistia naquela história de os dois terem um caso, dizia que tinha provas. Mas Djane não se rebaixou, nem se intimidou, mandou foi o sujeito catar coquinho.

Foi nessa hora que eu e Iara, na varanda, ouvimos parte de sua conversa. Logo ela desligou, chateada, e ainda topou com Filipe. Por isso eu tava tão sem-jeito com ela, que havia permitido a entrada dele, aborrecendo-a mais. Não trocaram palavras, nem farpas ou lasers no olhar que deram um ao outro, só desconforto mesmo antes de passarem pela porta, cada um no seu destino. Ela de se manter próxima ao filho, ele próximo a Iara. Foi uma noite difícil.

– Sim. Ele só fala aquilo da boca pra fora. Acho que consigo lidar com isso.

– Ok, Milena, se você diz... não posso fazer nada mais. Mas se acontecer, por favor, me informe. Professor Bart tem tido um comportamento terrível nos últimos tempos, nem o conselho estava confiante de aceitá-lo no cargo. Confio em Djane para assumir.

E por causa desse cargo, ela estaria mais atarefada. Nem poderia até ir na viagem do EREAD, que planejava alguns estudos para apresentar. Ainda bem que Sávio se ofereceu para o cargo de monitoria... ele passou no teste, Djane me contou. Confiava que ele pudesse ajudá-la de alguma forma, mesmo conhecendo Sávio tão pouco. Ele sempre passa essa sensação de que tudo ficará bem no final das contas, bem o que Djane precisava... um tranquilizador.

E Gui! Gui precisava de um também. Queria de alguma forma fazê-lo falar, mas não houve jeito, só o vimos novamente quando deu a hora de voltarmos todos para a sala. Aparentava mais calmo, porém, permaneceu emburrado enquanto assistia ao pequeno monólogo que professora Silvana fez André apresentar, resignado por ter latido e não mordido. No fim, ele não pôde fazer nada contra a professora, teve de seguir suas regras e conduta. Fazia de mau gosto, mas fazia.

~;~

Quando a bomba enfim foi jogada aos ares daquela faculdade, de que Djane assumira o departamento de Administração, mais rumores vieram à tona. Vazou até a história de que Djane estava tendo um caso com o diretor, o que ela já previa e por isso tratava de afastar qualquer coisa que pudesse prejudicá-la. Não respondia às provocações, mostrava-se impassível, seguia em frente, atarefava-se mais. No fundo eu sabia que aquilo lhe atingia, porém, nada mais poderia lhe oferecer além do meu apoio, não apenas como nora, mas amiga que eu era dela. Isso fazia dela mais confiante.

Contou para Vini na véspera, como fez comigo.

Pensei que ele ficaria no meu pé por ter guardado isso em segredo por um bom tempo, coisa que ele ficou um pouco chateado, mas foi por outra coisa que ele tava assim. Murilo.

Quando me buscou na quarta depois da aula, comentou um pouco sobre Djane como se tivesse preparando território. Assim deu o bote:

– Tá, você não falou por causa de minha mãe... mas e Murilo?

– Que ele tem a ver na história? Por que ele se interessaria pelo que acontece pelo departamento de minha faculdade?

– Você sabe que não é disso que eu tô falando. De Aline.

Acontece que as ligações maníacas de meu irmão no dia anterior foram porque ele tinha descoberto minha breve conversa com Aline, que ela sem querer falou num deslize e Murilo ficou louco querendo saber o que era. Como desliguei o telefone durante o encontro com Djane e Fabiano na diretoria, me esqueci de ligá-lo de volta de tão agitada que permaneci o resto do dia de aula. Em casa, quando Vini foi me deixar, Murilo saiu batido de casa, disse que teria que ver umas coisas na casa de um de seus colegas de trabalho, o Armando, que não era para esperá-lo, que conversaríamos depois.

Nessa manhã ele chegou na porta do meu quarto, bateu e antes mesmo de citar a Aline, eu o cortei. Pedi desculpas, mas cortei.

– Murilo, por favor, agora não. Tenho um trabalho muito complicado e importante pra digitar, esse é meu último dia com esse livro de apoio, o negócio aqui não tá muito bonito. É sério. Falamos no almoço ou depois do almoço, tanto faz, só... agora não, tá?

Ele fez bico!

Confesso que foi fofo – ele tá me amolecendo?? – vê-lo se conformar, hesitar antes de sair de meu quarto. Olhou uma última vez para o monte de papelada que rondava minha cama e minha penteadeira, percebeu o quão eu tava enrolada, saiu. Ele quis me esperar para almoçar, porém, teve mais fome do que pôde segurar. Fiz uma pausa inquieta por algum “clic” que faltava na ideia do ensaio que escrevia, fui almoçar depois que dona Bia foi embora, quase 14h. Comi rápido para ver se dava tempo de falar com meu irmão... só que aí o encontrei dormindo no quarto.

Murilo tinha aparência cansada, esparramado em sua cama. Pude só ajeitar seu travesseiro, fazer-lhe um carinho e deixá-lo em seu sono, precisava escrever mais uns parágrafos. Antes pedi a Dani que consultasse Yuri, perguntar se ele poderia passar na minha casa, pois eles sempre iam mais cedo pra faculdade, eu tinha marcado uma breve reunião com Sávio antes da aula. Logo que ela me confirmou que Yuri o faria, dispensei Bruno, meu parceiro de caronas, assim ele não precisaria ir tão cedo.

Embromei mais uma folha de texto, cheguei ao ponto de me perder eu mesma no meu argumento, que foi meu ponto de “chega”. Daí tomei banho, me arrumei e logo Yuri e Dani apareceram. Murilo ainda dormia quando saí de casa, não queria o atrapalhar. Quem me atrapalhou foi ele, me ligando no meio da reunião com Sávio, quando finalmente achamos a peça final do quebra-cabeça, que servia tanto pra mim quanto pra ele, de casos semelhantes. Não pude conversar com meu irmão, não tenho culpa.

– Ele te ligou, foi?

Murmuro sabendo que isso é meio que a cara de meu irmão.

– Liguei pra ele pra perguntar umas coisas, ele mencionou por alto.

– Que coisas?

– Anderson tinha dito uma referência de um jogo, de que tinha ligação com um outro, e eu tinha certeza que não era dos que ele citou. Aí fui perguntar para seu irmão, ele sabe mais que eu pra isso.

Homens!

Nessas horas fica meio impossível negar como eles são amigos.

– Hum. Bom, estive ocupada, tenho uma defesa de ensaio pra sexta e o assunto é terrivelmente terrível. Murilo só foi aparecer hoje de manhã, dormiu de tarde... que horas que eu ia falar com ele? Durante a aula? Num deu.

Vini faz carinho em minha mão logo que paramos num sinal antes de entrar em meu bairro. Não parecia mais chateado comigo, mas sim preocupado.

– Por que não pede ajuda a minha mãe?

– Tá doido, Vini? Porque não. Ela já fez o bastante por mim e é o máximo que posso aceitar dela.

Fui enérgica demais ao responder, sinto um peso ao fim. Em quase duas semanas de aula eu já estava estressada? Inspiro, expiro, peço desculpas.

– Tudo bem. Sei como você é cri-cri para essas coisas.

– Vini, eu não sou cri-cri, eu só...

– Eu sei, você não gosta de intervenções, quer fazer por você mesma. Só acho que um dia esse orgulho ainda vai te prejudicar, Lena.

Já prejudica. E sou orgulhosa o bastante de não comentar sobre. Posso lidar com isso, posso resolver. Como não disse mais nada, já diante de minha casa, ele desliga o carro, verifica se Murilo está em casa por olhar a garagem – está, ele me confirma – e ergue minha cabeça do encosto do banco para si ao tocar em meu queixo. Quando meu olhar encontra o dele, mesmo numa rua de luzes fracas, sei que está receoso.

– Ficou chateada pelo que eu disse?

– Não.

– Então cadê meu sorriso?

Tá, quem não iria rir meio boba por isso? Ri, claro.

Ele foi se aproximando devagar, até eu tocar-lhe carinhosa no rosto.

– E agora meu beijo?

– Exigente você.

– Exigente nada, carente de você.

– É, precisamos mudar esse status.

Senti o celular vibrar na bolsa, bem no fundo perdido dela, de onde vinha um som baixo com a voz do Ryan em Life In Color, que deixei tocar até cair. Outra vez mais também. Fiquei o dia todo sem poder ver meu namorado e agora na melhor parte querem me interromper? Que me chamassem para o enterro no dia seguinte, pois, quem quer que fosse, podia morrer a me esperar a atender.

No instante que pensei isso, me repreendi. Não sei de onde vinha essa agressividade dos meus pensamentos, talvez de toda tensão e pressão que tinha recomeçado. Mas não deixei de envolver-me em Vinícius, muito animadinho também para parar. Até que o meu celular parou e o dele começar a tocar, um daqueles sons padrões de celular – ele não era muito adepto de músicas personalizadas como eu – que o fez me soltar relutante, num suspiro cansado por todas as interrupções acontecerem sempre que estávamos juntos.

– Pode ser a minha mãe, tenho que ver.

Levanta-se um pouco no banco para puxar o celular do bolso. Ao encarar a tela, solta uma risadinha sem-graça enquanto passa a mão no cabelo. Declara:

– Assim só me quebram as pernas.

– O que, por quê? Quem é?

– Seu irmão. Acho que o toque de recolher hoje foi adiantado.

Droga! Assim Murilo tá pedindo pra morrer.


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Notas finais do capítulo

Mas o que terá sido agora? hahaha vou deixar um suspensezinho... É algo bom, isso eu prometo :P



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