Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 17
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

De casos sérios a acidentes cômicos. Ou interrupções engenhosas...



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– Hey, Lena, estava pensando sobre minha mãe, a Viviane e... você acha que seu eu abordar com Filipe, ele pode vir a me deixar em paz e falar de fato nela?

Sério que ele me bombardeou com essa pergunta plena entrada da empresa Muniz? Comigo tendo apenas 10 minutos (ou menos) para chegar à sala de reuniões onde irei encontrar meu treinador e o bleh do André?

Vinícius almoçou comigo em minha casa dessa vez, insistiu em me deixar no estágio, no primeiro dia dele, numa segunda-feira, todo orgulhoso, enquanto abraçava as graças de meu irmão sobre eu estar crescendo. Até papai me ligou! Quase deixei os dois homens da minha vida na mesa e não peguei um ônibus por mim mesma. Eles, por fim, se juntaram para me dobrar, me convencer de que mais valeria para meu bom humor ir com um deles. Apesar de não gostarem de ser justamente na empresa Muniz, empresa de Filipe, eles estavam bem felizes por mim. Me sentia feliz com isso também, não nego.

– Hã... Vini... acho que minha resposta não tem tempo suficiente. Se ainda quiser seu beijo de despedida, melhor isso ficar pra depois.

– Bom lembrete, namorada, muito bom lembrete. Desculpe... é que ontem...

– O tempo tá correndo, namorado.

– Okay, okay...

Quando finalmente me deixou sair do carro, quase saindo ele mesmo também, vimos André atravessar a rua para entrar na instituição. Ele havia estacionado do outro lado, um pouco mais atrás de onde estava Vinícius. Me segurei tanto para não pegar uma pedra de tamanho médio que vi na calçada e tacar na cabeça do desgraçado, nem ia ver de onde veio de tão distraído que passou. O que me acordou do transe de imaginar a cena foi Vinícius me chamar, mais sério dessa vez.

– Milena, você conhece esse cara, esse que acaba de atravessar a rua?

– Infelizmente, sim. Por quê?

– Eu não gosto desse cara.

Bem-vindo ao clube, entre pelo tapete vermelho e pegue uma bebida para você.

– Conhece ele de onde?

– Me promete que não vai ficar perto dele?

Isso não é bom, isso não é nada bom.

– Olha, Vini... eu tenho que ir, tá. A gente conversa depois.

Logo Gui despontou do fim da rua, onde deve ter estacionado seu carro, me encontrou na porta, acenou para Vinícius e seguimos juntos para a recepção. É mais fácil afirmar que mais acompanhei meu amigo do que outra coisa, pois, enquanto dava um passo pós outro ao lado dele, minha cabeça trabalhava entre a história com Filipe e a possível história que Vinícius possa ter com André. De onde será que se conhecem?

~;~

Estava fazendo umas anotações no caderno durante o horário de aula da professora Amália. Ela mandou nos reunirmos com nossas equipes sobre o último trabalho que havia passado, um seminário que unia publicidade e marketing.

Eu devia ganhar um prêmio por estar frente a frente com André discutindo estratégias e argumentos de Marketing, escolhendo propagandas para nossos exemplos. Por um momento enquanto escrevia as ideias me perguntei o que tinha naquele café que fiz no estágio para me fortificar tanto assim, pois me segurava para ser uma pessoa decente de não sair espancando pessoas por aí. Quer dizer, o André.

Sávio estava atrasado para a aula. Podia pensar que teve problemas com o trânsito na hora de sair do estágio, mas lembrei que ele pegou estágio matutino, começou sua monitoria essa tarde com Djane, então já devia estar no prédio, na aula. Precisava tanto dele nesse momento e nada do bendito aparecer.

Enquanto isso, me vejo presa a André discutindo propagandas de cerveja e de produtos de limpeza. Faltava mais um tipo de propaganda e a falta de Sávio era sentida muito por mim, porque me controlar dentro da sala de aula estava se mostrando uma atitude bem difícil de lidar. Ainda mais com André me dizendo que as propagandas de produtos de limpeza era um exemplo mais “sem-graça” para dar, já que ele era da elite, e não fazendo parte do público alvo, deveríamos optar por outra.

Fiz cara de tédio pra ele.

Até que ouvi a porta da sala se abrir e uma voz discreta se desculpar pelo atraso. Era Sávio pedindo para entrar. Como eu estava de costas para a porta, me virei... e foi aí que vi. Oh no. Mais uma vítima.

Eu num queria nem rir.

– O que houve, Sávio?

– Nada, professora, só... machuquei o joelho.

– Hum. Sente-se com sua equipe, aproveitem esse momento para discutirem suas ideias. Estarei aqui para qualquer dúvida que tiverem.

E assistimos todos, o Sávio atravessar a sala, mancar até alcançar onde eu e André estávamos sentados, no fundo do fundo do fundo do canto da sala mais distante. Risos baixos foram ouvidos, ele ficou todo desconfortável, não encarava nada nem ninguém além do chão. Quando se sentou na cadeira ao meu lado, eu nem hesitei:

– A escada assassina, né?

O fato de ele fechar os olhos com força era o bastante, mas preferiu enfatizar com um leve balançar da cabeça e palavras diretas.

– Essa mesmo.

– Tá chovendo?

– Tá.

– Te preocupa não, a gente entende bem o que é isso.

– Desculpa a demora, sair da turma em que eu estava foi difícil.

– Problemas?

– Não, acho que não. Então, me atualizem.

O mantra que me fez encarar aqueles dois horários até o fim era de que logo iria ver meu Vini. Mandou-me uma mensagem dizendo que não teria os últimos horários, que me buscaria logo no começo do intervalo.

Quando acabou aquele horário – e toda a minha discussão com André pelo argumento dos produtos de limpeza, que tive apoio de Sávio – eu voaria para a área da portaria se não fosse o machucado de Sávio. O grande amigo que André é só fez dar-lhe tapinhas nas costas antes de sair e só. O que pra mim foi até melhor. O casal 20 – leia-se Gui e Flávia – iria ficar na sala para alguma coisa deles de casal. A gente não ia ficar de vela, ia? Acompanhei Sávio por todo o caminho até a rampa, onde topamos com Daniela, que se apiedou dele e tomou apoio dele também. Além de supostamente interessada nele, ela quis retribuir o que ele tinha feito por ela, pois na semana passada quem virou o pé foi ela.

Com todos descendo quase ao mesmo tempo para o intervalo das aulas, muitas “moças” avistaram o Sávio machucado sendo “rebocado” por nós duas. Dani e eu paramos de rir quando elas começaram a avançar e perguntar se não queria ajuda, se ele precisava de alguma coisa. Se duvidar, acho que teve até mão-boba. Não que Sávio fosse confessar, ele é muito tímido para essas coisas. Mas que eu vi papéis com números de celular delas voando para o bolso da camisa dele, eu vi.

Ao chegar no pátio, ele agradeceu as gentilezas, disse que não precisava de nada, estava bem, só doía um pouco. Acho que vi Dani empurrar uma menina num “chega pra lá”. Não deu tempo de ver direito porque logo depois foi Bruno quem apareceu.

– Mas de novo?

Aos olhos de quem estava naquela “roda” Bruno soou preocupado com o bem-estar de Daniela, como se fosse ela a carregada, não o Sávio. Pra mim era outra coisa. Sei que ele ficou indignado de ver outra vez Dani pendurada no pescoço de Sávio, dessa vez retornando o apoio que ele havia lhe dado no dia que machucou o pé e mal pôde andar também. Pra mediar a cena, intervi:

– Dessa vez foi a escada assassina. Né, Sávio?

– É, foi.

– Pois então, a gente já tá indo. Não temos mais aula hoje.

Bruno fez que entendeu e as outras garotas que nos rondavam foram dispersando para a lanchonete. Viram que não iam conseguir nada, nem atenção. Antes que déssemos um passo para a saída, Bruno nos interrompeu:

– Posso falar com você, Dani? Coisa rápida.

Daniela pareceu incerta antes de dizer sim, me olhou numa muda questão do que fazer a respeito e, bom, dei de ombros, ora. Era dureza se afastar abruptamente de Bruno, então que fosse aos poucos, ser apenas amiga dele. Ainda indecisa ela se mostra gentil, pergunta se ainda precisava dela para ir até o estacionamento, o que eu e Sávio dissemos não – eu poderia dizer sim, mas não queria que ela escapulisse assim. Não desse jeito. Com eles para trás, nós rumamos para sair, porém tivemos de parar para achar nossas carteirinhas da instituição que não estavam à mão para passar pelas catracas.

Isso nos deixou ainda um pouco próximos de Daniela e Bruno. Com mais pessoas chegando ao pavimento da lanchonete, Bruno a incitou a afastar-se dali e se aproximar de mim e Sávio parados na portaria. Assim eu pude ouvir um pouco da conversa enquanto caçava a carteira na bolsa e Sávio a dele no buraco negro de sua mochila.

– Eu... hã... só queria dizer... para quando... você for comprar suas passagens... as da viagem do EREAD, eu... você poderia me avisar? Porque... porque... err... eu quero comprar junto com você. Digo, quero poder ficar... hã... do seu lado na poltrona. Como você é minha amiga, acho que... posso dizer que fico nervoso, muito nervoso quando se trata de viagens de avião.

Eu estava de costas para eles, Sávio também, mas acredito que só eu estava ouvindo conscientemente essa conversa. O Bruno tem medo de viajar de avião? Se bem que isso faz todo o sentido quando a gente falava de comprar passagens e ele queria saber se dava para ir de ônibus ou carro, alguma coisa assim. Por causa de um problema no site que combinamos comprar no outro dia, perdemos uma promoção e estamos esperando aparecer outra.

– Você tem medo de avião, Bruno?

– Prefiro o nome aversão. Você tem aversão a cachorros, não?

– Hum. Entendo. Eu... hã... ok. Te aviso.

Eu já havia achado minha carteirinha. Porém, só a mostrei como achada depois que Sávio apresentou a sua. Enquanto saía pela rampa da entrada ainda olhei para trás, vi os dois dispersando, ele tão desajeitado quanto ela. Com certeza era algo difícil para os dois... o que me pergunto se era isso que ele também tinha ido fazer na casa dela no sábado. Como Flávia que não pôde falar de sua história com André na presença de Bruno, ele não pôde comentar nada da viagem contando com outras pessoas na sala também.

Só sei que esses dois são um caso sério.

~;~

Às vezes guardar as coisas só para si é só pra evitar mais confusão. Ou chateação e briga. Ou evitar ficar falando sobre uma coisa de que já se está cansada. Ou que não vale a pena falar diante de tanta coisa boa para se fazer no lugar. Desde que houve muito problema por outros não ditos meus, essa história de guardar as coisas para mim mesma estava mudando. Essa foi uma das coisas que concordei em trabalhar em relação a meu relacionamento com Vinícius.

– Eu só quero um beijinho, Vini, é tão difícil assim?

Vinícius estava irredutível. Queria porque queria saber o que tinha sido a tensão na hora de sair da faculdade e entrar no carro dele. O nosso pedido de jantar chegaria e nem me cedia um beijo, nem comigo tentando roubar um. Parado como uma estátua, ele imaginava que uma hora eu iria parar e falar. Depois de umas tentativas é isso que faço mesmo.

– Tá, o que você quer saber mesmo?

– Você sabe, Milena.

Ele tava sério. Ficava lindo sério. Me parecia um desafio gostoso mudar o status de sério para divertido, como aquelas pessoas que ficam cutucando os soldados que vigiam o território da rainha, na Inglaterra.

– Okay, okay...

Me despedi de Sávio no estacionamento da frente, torturado sobre seu joelho dolorido, que a cada movimento se tornava mais e mais evidente, ele fez um grande esforço pra sentar na moto. Ajudei na hora de ajeitar sua mochila nas costas para evitar maiores movimentos do que já tinha de fazer. De certa forma era engraçado. No mesmo segundo que ri, parei, porque se ainda não tinha acontecido comigo, uma hora dessas poderia acontecer (tenho altas tendências pra isso, certeza). Mal Sávio saiu do estacionamento, Vinícius apareceu, buzinou para mim, que estava mais afastada.

Para entrar no carro, porém, tive que alcançar a calçada e retomar um pouco do caminho. E justo por onde professor Bartolomeu caminhava. Com ar de desafio, passei por ele altiva, muito dona de mim e nada medrosa dele. Como tinha raiva dele isso era fato, mas medo? Nunca. Ele me devolveu o ar ditoso dele no mesmo segundo.

Vinícius assistiu a tudo isso, surpresa não foi nenhuma minha quando questionou sobre isso quando sentei ao banco do carona e ajeitei o cinto em mim.

– Quem era aquele na calçada?

– Um professor apenas.

– Lena, eu vi certo ar tenso daqui. Quem é esse cara, diz.

– Ninguém que valha a saliva.

– Hum.

Aí ele ficou encucado. Do jeito que sempre fica quando digo qualquer coisa pra distraí-lo ou não falar sobre o assunto, sendo curta, apesar de não grossa. Dali em diante ele conversou normal – porém nada bom humorado – sobre como estava em dificuldade com uma disciplina, justamente essa que o professor cancelou de última hora. Envolvia bastantes cálculos e isso às vezes o deixava meio confuso, pois passou bastante tempo por fora dessa matéria. Anderson nem foi à aula.

Engraçado como que toda vez que ele mencionava Anderson eu sentia uma coisa fria na espinha. Como se ele soubesse uma coisa tão minha, tivesse nas mãos e a qualquer hora pudesse falar livremente sobre meu passado. Ele podia contar essas coisas a Vini, que me perguntaria e ficaria aquele clima estranho. Felizmente meu namorado não percebe nada disso, ele só fica impressionado com aquela minha evasiva sobre o professor. Nem falar do meu primeiro dia no estágio o distraiu o bastante, senti que aquilo não o largaria. Ou ele fazia de propósito pra eu falar logo.

– Ok, era o professor Bartolomeu.

Na mesma hora ele muda de expressão. Mordo o lábio levemente não querendo falar mais do que necessário. Havia confessado a Sávio que estava muito chateada com o comportamento daquele homem perante minha apresentação do ensaio, que o maldito foi totalmente injusto comigo e eu não poderia fazer nada. Quase toda a turma tirou 7 e eu e outros vagabundos mais ficamos com 5.

Cinco! Eu virei noites, eu me estressei, pesquisei, me acabei... pra no fim Bartolomeu rir da minha cara, chutar as perguntas mais absurdas – que não fez a nenhuma outra pessoa – não concordar com nenhum de meus argumentos e fazer pouco, muito pouco de mim perante toda a sala. Tá, com um argumento apenas ele ainda cedeu, disse que era duvidoso. Duvidoso! Sendo que foi isso que elogiou no trabalho de Sávio, um ponto que era muito comum com o meu e que juntos, eu e Sávio, buscamos com muito esforço achar essa resposta. Ou seja, professor Bartolomeu não me avaliou direito. De propósito! Ódio! Ele tava de sacanagem comigo.

O único lado bom disso é que eu poderia apresentar esse trabalho em algum lugar ou publicar em revistas acadêmicas, o que me dá créditos pelo bom trabalho feito. Pensava em pedir para Djane me orientar... só que não a queria envolvida nisso. Então provavelmente falaria com professor Carvalho, que mesmo não sendo professor meu nesse semestre, ele me receberia bem.

– Aquele que...?

– Esse mesmo, o que tava perseguindo sua mãe.

– Poxa, Lena, por que você não me disse naquela hora?

– Porque eu pressenti o que você ia fazer, então evitei.

– Como você ia saber?

Olhei pra ele, tão séria quanto ele estava, e estragando nosso momento. O garçom veio, pediu licença, deixou nossas macarronadas na mesa, ofereceu um molho, negamos e ele foi atender outra mesa. Era uma casa de massas, melhor conhecida como pizzaria. Estava desejando uma boa macarronada quando Vini perguntou sobre o jantar. Agora já servida nem tanto.

– Isso poderia trazer mais problemas pra Djane. É isso que você quer?

– Não.

– Então pronto, a gente sabe lidar com a peça. Vamos aproveitar nosso tempo?

– Tem certeza que é só isso? Não tem outra coisa que não está falando?

Resolvo brincar pra ver se ameniza o caso. Vinícius, no entanto, quase se levanta em alerta. Djane tinha razão, não poderia ter contado antes para o filho não, de jeito nenhum. Tá parecendo o Murilo. Bem dizem que se andar muito com a pessoa, as manias delas a gente adota.

– Claro que tem.

– Como assim? O quê? Que ele fez agora?

Aham que eu ia contar a história da apresentação do meu ensaio de sexta-feira passada, aham.

– Ai, Vini, você pensa tão negativamente. Eu ia voltar ao tópico do estágio, poxa. Tá ficando paranoico, viu. Vamos ou não vamos aproveitar nosso jantar? A gente se vê tão pouco agora...

Ok, foi meio apelo para um draminha. Ele conhece minha família, então sabe minhas raízes de drama. Tomo a iniciativa de começar a enrolar o macarrão com o gafo, porém, antes que abocanhe, ele traz mais um assunto desagradável.

– Uma coisa apenas antes... De onde você conhece aquele Hermani?

Eu até preferiria que ele falasse de Filipe, preferiria.

– De onde você conhece esse sujeito?

– Milena...

– Vinícius...

– Olha, eu não gosto desse cara, tá? Num gostei de saber que ele está trabalhando no mesmo local que você.

– Acredite, eu também não gosto. Acho que nem sei dizer realmente alguém que goste da presença dele. Pegue sua senha, porque a fila é grande.

– Ele já te fez alguma coisa?

Vinícius me sonda. Espera que diga algo, espera por algo ruim.

Nesse ponto tenho duas opções: ou minto na cara dura ou omito por enrolação. Mais vale a segunda opção, né? Já pensou se eu digo que André é uma pedra afiada no meu sapato? Se Vinícius queria procurar briga com meu professor, imagina com esse projeto de aluno que é o André. Nam, isso ia dar merda e das grandes.

– O cara é um chato, Vini. Implica por qualquer coisa. Se acha demais, faz pouco de qualquer um ou qualquer coisa. Um pé no saco. Não sei por que voltou, devia ter ficado onde estava.

– Você não respondeu, Lena. O que esse cara te fez, hein? Me diz.

Apelo para um golpe.

– Não está dando uma de ciumento de novo, tá?

– Mi, não bagunça minhas ideias. Esse cara te fez alguma coisa, eu quero só saber o que foi. Pra ficar me enrolando assim é porque fez algo. Diz.

– Então diz de onde você o conhece.

– Você também não disse isso.

É, escapar dessa tá se mostrando difícil. Então mudo a estratégia, resolvo falar a visão geral logo que isso pode lhe ocupar bem a mente e, torço, para esquecer essas perguntas.

– Tá, eu falo. Mas nada de ficar exaltadinho, viu? Ele tá na minha turma da faculdade. Era de um período avançado, só que perdeu o semestre passado e agora tá pagando. E caiu no mesmo estágio que eu e Gui. Sem falar que ainda faço um trabalho de Administração Mercadológica com ele. Eu já tenho que aguentar muito, Vini, então não me venha também implicar com isso, porque se eu pudesse, eu estaria longe, ok?

Êxito, tenho êxito em meu apelo. Apesar de ainda mostrar-se preocupado, não se atém mais a detalhes, não menciona os que citei. Vinícius alcança minha mão na mesa, aperta-a levemente.

– Promete que vai ficar longe dele?

– Já faço por natureza, nem precisa pedir.

– Tá chateada comigo por insistir nisso?

– Tô começando, porque a gente só tá discutindo e a macarronada esfriando.

– Ô, amor, eu só quero teu bem... quando vi aquele cara naquela hora, lembrei dele lá na faculdade. Um cafajeste, namorou uma amiga de Susana. Ela me disse hoje, quando perguntei sobre o tal. Já ouvi muita coisa sobre ele e nenhuma foi boa coisa. Vi que você tá consciente, mas é consciente de me falar se ele fizer algo?

– Vini, uma vez quase quebrei o nariz do seu pai. Não acha que se André fizer algo, ou qualquer outra pessoa, eu não vou revidar? Sei me defender, sabe disso.

– Mas não quero que fique por conta própria, entenda isso. Cuidar não é só amar, é defender também. Me deixe te defender.

– Ainda bem que disse o verbo “defender”, porque se fosse o “proteger”, te deixaria aqui plantado, iria embora sem olhar pra trás. Sabe que posso fazer isso, não sabe?

De novo não, né?

– Não estou exaltado, ok? Somos civilizados, cuidadosos apenas. Sabe que te amo muito pra deixar qualquer um do teu lado te machucar. Não sou o Murilo, essa briga não é nossa. Não desconte em mim, por favor.

– Quer saber? Eu não quero mais falar sobre isso. Eu vou comer minha macarronada. Qualquer coisa mais sobre o assunto, não tenho nada mais a declarar. Você escolhe. Quer passar o jantar num silêncio?

Vini respirou fundo, sorriu meio sem-graça, estava chateado. Pelo menos deixou o assunto de lado, voltamos a falar então sobre meu dia no estágio. Que inevitavelmente foi parar em outro tópico delicado. Filipe.

~;~

Devia não ter sido egoísta e ter respondido a mensagem de Murilo. Quando mencionou sorvete e cobertura sabia que tinha algo a falar, só não queria ter que ouvir tão cedo. Podia ser qualquer besteira. Fiquei pensando que melhor fosse ficar com meu namorado por um tempinho, que mal a gente tinha, então me surpreendi que talvez fosse melhor eu ter marcado de voltar cedo pra casa, porque ficou um climinha estranho por todo o meu jantar com Vini. Foi a noite de comentar as coisas ruins, digamos. De Bartolomeu a Hermani, de Hermani a Filipe.

Não que Filipe fosse tão ruim assim, quer dizer ele é, só que em níveis totalmente diferentes. De certa forma cada um desses afeta um de nós de uma maneira certeira. Bartolomeu persegue Djane, assim como Hermani não deixa meu pé e Filipe ainda corre atrás do prejuízo com Vinícius. Cadê a paz nesse mundo?

A ironia é que até uns meses atrás eu que meio que forçava a barra para falar de Filipe. E era essa a grande questão na cabeça de meu namorado.

– Só decidi não me meter, Vini. Acho que já fui longe demais com Djane, não sei se faria o mesmo com Filipe. Djane estava errada em muitas coisas, já Filipe fez coisa muito pior. Mesmo que se arrependa. A verdade é que não sei lidar bem com isso também. Sabe como anda meu processo com Murilo, perdão também é uma coisa difícil pra mim.

– O que Murilo fez não chega nem perto, Lena.

Estávamos de volta à avenida, ele se encaminhando para me deixar em casa.

O que começou no jantar se prolongava no caminho.

– Mas me magoou, é isso que quero dizer.

Conversamos mais um pouco sobre isso, sobre Murilo e sobre Filipe, de como nos sentíamos. Eu queria muito perguntar sobre o domingo após o aniversário-surpresa, em que Vini avançou no pescoço de Filipe. Nem no último domingo, que faltamos na casa de seu Júlio, não questionei coisa alguma. Esperava por Vini abordar o que tinha ocorrido, não importasse o quanto demorasse. E demorava. Porque chegamos na porta de minha casa e eu soube que, mesmo tendo discutido várias coisas que nos deixava chateados, ele não estava preparado para falar daquilo. Ainda.

Suspira cansado ao desligar o motor do carro, deita a cabeça no apoio do banco de forma que possa me observar melhor. Faço o mesmo.

– Acho que não foi essa noite que prometi quando te mandei aquela mensagem, né? É que realmente fiquei preocupado com a história do Hermani, e então teve a do professor e... eles não vão estragar mais nossa noite.

– Claro que temos muita coisa pra conversar ainda, Vini. Eu só não queria que fosse essa noite. Só queria você.

– É que... bom, deixamos pra lá. Sei de algo que voc...

Nem ele mesmo termina sua sentença, já se adianta e me beija. E é bem diferente, no sentido de dar algum significado mais talvez, penso. Eram suas desculpas oficiais? É lento, porém, nada singelo, é profundo. Isso esquenta fácil o espaço do carro, dando-nos um leve prazer e ânsia por mais. Isso só porque ele segura meu rosto entre as mãos com firmeza enquanto nos mantém bem ocupados.

Quando seu celular toca e sabemos que é meu irmão ligando cedo demais para nosso gosto, dessa vez Vini atende. Solta um “cinco minutos e ela é sua” antes de desligar com estilo. E quando me olha, ah, quando sinto um desejo em seus olhos, me dá vontade de ele ter dito dez, quinze, trinta minutos. Por que ele atendeu mesmo? Como veio aquele primeiro beijo, o segundo se dá na mesma linha. Se era realmente um pedido de desculpas, bom, ele tava desculpado. E devia se desculpar mais. Gostei dessa.

Não parou por aí. Não sei o que deu nele, mas havia uma carga de paixão que o fez migrar de minha boca para a mandíbula e quando alcançou o pescoço, por instinto, me arqueei para trás, sentindo o banco do carro me amparando enquanto puxava seus cabelos pela nuca. Senti de primeira leves selos abafados pela palavra “minha, minha, minha” que ele sussurrava, então perdida no meio das sensações, veio um prazer que me envolveu quando senti um mordidinha no vale de meu pescoço, perto do ombro, onde ele havia movido a blusa para chegar lá. Uma outra mordidinha implicou mais força dele, sugando minha pele numa leve dor extasiada de prazer. Então retornamos ao beijo, mais afobado, quase sem fim. Só isso nos tirou basicamente todo o fôlego, que precisamos de uma pausa. Que acabou por ser mais que uma pausa.

Uma mensagem apitou no meu celular. Eu queria matar o Murilo por me fazer me afastar de Vini. Estava cedo ainda, não competia ao “toque de recolher” que ele havia estabelecido. Ah, essas benditas regras! Só me obriguei a ver o que tinha mandado para meu celular porque me lembrei da sua mensagem de mais cedo, propondo um sorvete. Alguma coisa teria pra falar.

E foi quando minha sobrancelha levantou. Surpresa por seu pedido, mal retribuí aos leves beijos que Vini deixava em meus lábios abertos.

– O que foi, hein?

– Ele tá dizendo pra você entrar também. O que você fez?

– Eu? O que lhe faz pensar que fiz algo?

– Sei lá, só checando.

– Então vamos, vamos ver o que seu irmão quer logo. Isso me dá chance de ter um novo beijo de boa-noite.

– Interesseiro nunca você, né?

– Nunca.


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Notas finais do capítulo

Alguém adivinha o que o Murilo já "aprontou"? *-*



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