Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 13
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Um pouco de vários shippers, é o que tem pro capítulo.
Ah! Não mencionei antes, mas a minha inspiração de Sávio veio de um filme chamado The Good Guy (O Bom Rapaz/ O Homem Ideal - sim, o filme recebeu dois nomes aqui no Brasil Oo). Lá, o personagem é apaixonante. Mas aqui... a Milena já tem alguém no coração, né? :P
Indico o filme de qlqr maneira. Principalmente pela música Just Impolite, do Plushgun, que sei lá... grudou na minha cabeça desde então e só lembro do Sávio/ator representativo qnd ouço :)

Anyway, enjoy.



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Ó vida de estudante que nada. Ó feeling bom que nada. Ó coisa boa que nada.

– E por que você quer matar a Flávia?

– Eu não quero matar a Flávia, quero é trucidar o André e, se der tempo, jogar a Flávia no mesmo bueiro... Tá, seria maldade, procuraria um bueiro melhor pra ela.

– Eu ainda não entendi, Lena...

Nada de bom tinha acontecido.

Não que realmente acreditava nos dons que Flávia dizia que tinha – e não tinha – de prever que coisas boas viriam. Professora Amália passou um seminário para a turma sobre o marketing publicitário. Estava tudo bem até ela anunciar ela mesma os componentes dos grupos, pois estava “cansada” de todo semestre serem as mesmas divisões. E com quem eu caí, com quem, com quem? Com o mala do André. E o Sávio pra me segurar e provavelmente nos intermediar. Cadê boa notícia? Ainda a espero. Se é que é pra esperar.

Isso sem falar da esbarrada que todo mundo me deu hoje. Toda hora eu topava em alguém, incrível. Hoje não era meu dia de novo! Frustrada relatava o caso para Dani no intervalo. Yuri ia ficar conosco, mas Dani acabou o dispensando do “trabalho”. Levei um sanduíche com suco que havia me pedido e fiquei com uma macarronada, estava com fome.

– Vish. Só te digo uma coisa: no final do túnel, tem tua nota. Não se estrague por causa desse cara chato. Mas vamos esquecer isso, me fala da viagem.

Desembestei a falar da viagem logo de cara. Eu ia ficar me desgastando por André? Num ia de jeito maneira. Se fizesse sua parte no trabalho já estava de bom tamanho. Só combinamos de falar sobre isso no dia seguinte, para que pudéssemos pesquisar o assunto e trabalhar as ideias em conjunto. O tema era bom pelo menos. Ficamos com a análise comparativa de propagandas “realistas” e “fantasiosas”, de como isso mexe com o consumidor. O grupo de Flávia ficou com a explanação de projetos em propaganda política e Gui com estratégias para formulação de jingles. Por esse lado, assim, o meu tema não era nada ruim.

Só a presença do André que me perturbava mesmo, ainda que ele não tenha balbuciado alguma provocação no dia. Ter que ser civilizada com ele era um sacrifício grande para um trabalho bem feito, um mês preparando com os dois. Apresentação para logo após feriado de carnaval. Podia ser mais perfeito isso.

E foi.

Só que não.

~;~

Dessa vez o professor de orientação de estágio supervisionado aparecera.

Antes não tivesse aparecido.

Depois de preenchermos toda uma papelada e pegarmos umas orientações de como seria os procedimentos de estágio, avaliação, observações, o pacote todo, o professor foi confirmar as inscrições e vagas que preenchemos de acordo com o que nos foi apresentado pela secretaria, que foi o que ele havia deixado antes de correr para a reunião de emergência na segunda passada.

Só podia ser perseguição... acho que estão me testando, porque só pode ser isso. Feeling bom que nada de novo. Ó coisa boa que nada, de novo. Para a instituição que ficamos eu e Gui, a distribuidora Muniz, quem entrou por último, quem, quem? Sim, o André. Além de vê-lo todos os dias nas aulas, querendo que ele falte, vou vê-lo no estágio também, olha que lindo. Lindo é... deixa pra lá.

De qualquer forma... Mas que ódio! Ele não tinha outro lugar não? De todas aquelas opções, ele poderia optar a ficar com seus amigos, qualquer lugar, qualquer trabalho, aí o bendito se inscreveu no mesmo que eu. E temos que ir amanhã para o escritório Muniz nos apresentar, entregar uma papelada de responsabilidade, conhecer o ambiente e nossas funções.

Acho que o professor só veio pra aula pra me dar notícia ruim. Ele levantou nessa manhã dizendo a si mesmo “é hoje que eu lasco com essa menina, essa queridinha”. Se bem que ele não implicava comigo, era gentil até, só me fez o odiar por causa dessa história. Que não era bem culpa dele o idiota do André ter se inscrito no mesmo lugar que o meu... só que eu precisava de alguém para dar a culpa e preencher minha cabeça de mimimis.

A aula não demorou, precisou de apenas um horário para resolver esses trâmites administrativos, nos liberou cedo. Daqui para frente não teríamos mais aulas com ele, que só nos acompanharia à distância, receberia relatórios e, se tivéssemos algum problema ou dúvida, poderíamos recorrer a ele. Assim, às segundas teria os últimos horários livres. Que triste isso ser o meu pequeno lucro do dia, fora o tema do seminário na disciplina de Marketing II.

Na saída da sala dei meu máximo de decente, relembrei André do seminário, das ideias que iríamos discutir e que era bom ele pesquisar mesmo. Extremamente quieto só concordou rápido com a cabeça e se mandou. Fiquei um minuto olhando para a porta depois que ele passou. Que cara estranho. Eu é que não queria saber o porquê, estava de boa com isso. Se permanecesse assim até lhe daria um abraço. Ok, não daria, não. Daria 1 centavo, menos intimidade a esse ser.

Gui me ofereceu carona, que dispensei. Queria ir na biblioteca, que àquela hora devia estar livre, e assim esperaria Vinícius. Ele insiste em vir me buscar, acha o cúmulo eu dizer que não precisa. Poderia ir de ônibus só para provar, mas não tava muito a fim de discutir isso de novo, não até arranjar uma nova abordagem ou novo argumento.

Sávio me acompanhou dessa vez, saímos juntos da sala, fomos os últimos, logo atrás dos apaixonadinhos, Gui e Flávia, o casal mais fofo para se admirar.

– Quer que eu carregue suas coisas?

– Ah, não precisa, não tá pesado. Sabe, agora pensando bem, acho que entendi qual é daquele gráfico esquisito. Flávia me falou mais ou menos sobre isso quando saiu da biblioteca. Acho que sei quem procurar.

– E aquela tabela antes dele? Entendi o porquê dos valores, só não a menção que levaram no texto. Quer dizer, financeiramente aqueles dados são apenas de suporte dedutivo e...

Ficamos de conversa um bom tempo pelas prateleiras e corredores vazios da pequena biblioteca. Lá e cá Sávio tinha seus acessos de timidez, outras mais normais. Ele é o tipo de cara que chama a atenção, sabe? Que retribui se alguém o cumprimenta, é altamente educado, prestativo e simples. Nem preciso questionar pela... milésima vez... que raio lhe atingiu pra andar com André. Não combina em nada com ele. Sério.

Também não falei nada.

Dado um tempo concentrados em trechos dos livros que folheávamos, abordei novamente o assunto sobre a monitoria:

– Valeu por ter se inscrito para ser monitor de Djane e de não ter desistido depois de tudo que viu e ouviu dela. Você precisa do crédito, eu sei... ela, pelo contrário, não liga para isso. Djane tá precisando de uma ajudinha mesmo, seja lá pelo que esteja passando.

– Pensei que você soubesse do que se tratava a confusão. Parece sempre saber o que rola por essa faculdade.

– Impressão sua, eu quase nunca sei. E... Nem sempre foi assim, sabe. Isso, essas cenas, essas brigas. Nunca foi assim, na realidade. Estou aqui faz uns dois anos e nunca tinha visto nada disso até então. O que quero dizer é que não julgue mal a faculdade ou o ensino ou o prestígio que tem.

– Todos e tudo têm problemas, Milena. Não seria esse lugar diferente. Alguns só escondem mais que outros... e uma hora explodem.

– De qualquer maneira, valeu. Por tudo.

– Ah, estamos aí.

Escolhidos os livros, só esperei para Sávio tirar sua carteirinha da biblioteca, para então dividirmos a cota de material emprestado. Trocamos: o que ficou registrado em sua comanda ficou comigo e vice-versa, pelo menos até na quarta, quando destrocaríamos. Conversando fomos entendendo melhor o objetivo do trabalho, como formular argumentos para os casos, comparar com o bendito material do professor e deixamos a lógica matemática se debater com a praticidade do dia-a-dia.

Saindo de lá avistamos Dani descendo a rampa toda trabalhada no cuidado de um passo a passo pendurada no Yuri. Aos poucos as pessoas iam dispersando para dar passagem a ela, que mancava para andar.

– Ih, olha lá a Dani. Acredita que ela virou o pé no lugar menos provável? Lá no estacionamento da frente, num buraco perto de onde o amigo dela estacionou. Cedi minha sapatilha pra ela, senão nem taria andando – ou mancando.

– Por isso que estranhamente você ficou alta.

Me faço de ofendida, ralho ele.

– Sávio!

– Tô só brincando. Mas que você, de uma hora para outra, ficou mais alta, ficou, tá quase do meu tamanho.

– Tá me chamando de baixinha? Tu que é enorme. Sou mediana, tá? E satisfeita.

E sou muito satisfeita com minha altura, como muitos duvidam. Sávio, diferente de mim, era bem alto, tanto que para conversar com ele precisava inclinar a cabeça pra cima. Minha cabeça batia em seu ombro.

– Não estou reclamando. Gosto de voc... gosto de sua altura.

Ele di... quase disse o que pensei que diria? Colocou suas mãos no bolso, meio constrangido pelo seu comentário, ajeitou a mochila nas costas com os ombros. Pra não ficar mais sem-graça, não retruquei muita coisa também.

– Hum. Valeu, eu acho.

Quando Yuri e Dani atingem o solo nos aproximamos deles e os ajudamos na caminhava de volta ao carro. Ela estava bem melhor no quesito humor, fez até piada sobre como eu tinha adorado demais a sandália dela, que ela iria requerer de volta. Carregando sua bolsa junto de meu material nos encaminhamos para a saída, ela praticamente carregada pelos dois homens, para falatório de muitos outros que ainda se encontravam por lá na portaria. Foi nessa hora que um Bruno preocupado se materializou a nossa frente:

– Dani! O que foi isso? Foi a escada assassina? Tá machucada? Precisa de ajuda? Te deixo em casa.

– Não, não foi na escada... foi na rua mesmo. Só meu tornozelo que torceu um pouco, acho. E valeu, não precisa... vou voltar com o Yuri mesmo, fica fácil ele morando perto de mim.

– Ah, então tá bom... se precisar de algo, qualquer coisa, pode me ligar. Sério.

– Hum, ok.

Tava na cara que ela havia ficado desconfortável. E ele também, como se não soubesse o que dizer, o que fazer...

– E você, Lena? Carona?

– Não, tô esperando o Vini.

– Ah, então... er... deixa pra outro dia.

– Claro, brigada. Tchau.

Ok, todo mundo aqui é dissimulado. Todo mundo notou a vibe estranha.

Mas sabendo dos motivos, esperava que Bruno estivesse remoendo seus últimos feitios. Não, ele não a merecia. Quer dizer, não estava a merecendo. E não seria uma preocupação súbita que faria uma grande diferença. Ele teria que dar uma rebolada para conseguir ela de volta... não seria também na força bruta de expressão que ele a tiraria dos braços dos outros que, prestativos, aconteciam de ser o suporte dela para andar.

Se isso lhe entristecia, bom, bem-vindo ao clube, e que piorar tudo pode piorar, mas que não fosse mais que isso, eu pedia internamente. Para todos tudo estava bem difícil o bastante.

~;~

Como não dava mais para jantar com Vinícius, por nossos horários nada convergentes das faculdades, ele propôs uma sobremesa. Fomos para a sorveteria perto de minha casa, onde uma vez tivemos que nos segurar para não estragar o que tínhamos. Enquanto o moço colocava as bolas de sorvete em casquinhas de nosso pedido, Vini contava-me que o mais queria naquela noite era declarar logo que não estava com a Becca, que aquilo não era nem mesmo um relacionamento e nada nos impedia de ficarmos juntos.

– Sério, se não estivesse ocupado com o sorvete, teria me ocupado de você.

Brinca comigo ao recebermos as casquinhas. Nos sentamos no mesmo banquinho, de frente para a avenida. O céu dessa vez estava um pouco nublado, o que não nos dava acesso à lua ou às estrelas. O acizentado pegava uma boa parte do céu. Iria chover, só que se preparava para mais tarde.

– Acho que diante das circunstâncias isso pode ser considerado romântico para se ouvir...

– Como queria ter te beijado naquela noite! Se não fosse a confusão que Filipe fez sobre aquela velha história minha com Becca eu estaria com você há muito tempo. Mal pude provar de seus lábios quando adormeceu em minha casa...

– E eu que fiquei no eterno conflito? Poxa, tu tinha acabado de terminar um relacionamento. Falso, mas era. E ficou todo cri-cri quando aquele médico apareceu e mencionou o enfermeiro bonit... o Diogo.

Oops, me escapuliu. Juro. Faz tempo que não me referia assim ao Diogo.

Será que ele percebeu?

Claro que sim. Fica cri-cri de novo, só que de um jeito fofo e controlado. Balança a cabeça rapidamente de um lado para o outro, nega-se a aceitar tal alcunha para um cara de quem ele já teve ciúme.

– Ah não, enfermeiro bonito, não. Eu sou bem mais bonito, charmoso...

– Dengoso, manhoso, carente...

– Se me amando tu me acaba, imagina me odiando.

– Oxi, ainda não viu nada.

E lá estava a faca imaginária estacada em seu peito, que o fez jogar-se de vez ao encosto das costas do banco, teatralmente. Apenas sua mão ficava levantada, para segurar o sorvete, a outra dramatizava o golpe.

– Você sabe que só tem um jeito de me salvar.

Falou falsamente enfraquecido.

– Não sei, não.

Me faço de desentendida, e ele levanta-se minimamente, chega bem rente ao meu rosto, bem próximo de minha boca, sussurra uma pequena provocação, que me arrepia mais que o próprio vento da corrente de ar que batia direto em nós. A diferença é que o arrepio que me proporcionava era daqueles que me cobria o corpo, coisa que o vento por si não consegue fazer. Fico tentada nessa antecipação.

– Um beijo. E não qualquer um, um beijo gelado, para me refrescar o coração, remendado só por uma pessoa. Minha enfermeira bonita.

Ele desistiu primeiro – ou investiu primeiro? Não sei – beijou-me com delicadeza num primeiro instante, buscou meus lábios com leves selinhos. Acho que Vinícius queria era brincar comigo, me fazer avançar, porque aquele era um ritmo muito baixo para o efeito que tinha em mim exigia. De qualquer forma, conseguiu me manipular, o beijo aprofundou-se e pensei o quão bom seria se tudo tivesse diferente já naquela outra vez.

Estava com saudade de seus beijos pelos dias que passou gripadinho... ainda briguei por ele ter escolhido sorvete, não era tão bom assim para sua garganta recém melhorada. Com os remédios e mimos de Djane ele melhorou consideravelmente, às vezes só o nariz congestionava. Não me parece novo em folha ainda, porém, não estava disposta a esperar desse jeito para conseguir um beijo.

Só me dei conta do mundo quando senti o gelado do sorvete tocar minha mão, ele estava derretendo. E Vini, ah Vini, ele quando começa, nunca quer parar.

– O sorvete... Vini... tá derre...tendo.

– Deixa derreter.

Precisei intervir com a mão livre, segurei-lhe pela boca, que ria traquina, com cara de “desejo mais”. Sorria tanto que nem o bico que tentou fazer vingou.

– Na-am. Você pediu sobremesa, sobremesa terá.

– Você é minha sobremesa.

– Hum?

Desculpe, ele tentou ser sedutor e essa sua frase tomou todo um outro sentido. Que ele percebe só depois o que disse, além de entender também o que parecia. Ficou logo desconcertado. Limpávamo-nos com o guardanapo que acompanhava a casquinha, o sorvete derretia-se por ela.

– Eu... num quis... eu não... não foi isso que eu quis dizer.

– Acho que eu entendi. O que disse e o que não quis dizer, digo.

– Lena, sabe que... te quero. Muito. Mas do jeito certo.

– E como é o jeito certo?

– Um dia especial, só nosso. Sem interrupções, só eu e você.

– Isso quer dizer que você... anda planejando?

Vinícius parece perder o foco, aquele seu jeito sem-jeito se transforma num sorrisinho discreto enquanto confessa. Por falar na nossa primeira vez, ele entrelaça seus dedos nos meus, puxa minha mão ao seu peito, para sentir seu coração.

– Quer dizer que eu penso às vezes sobre isso. E penso sobre aquela nossa primeira vez... E como penso que vou sentir saudades enormes quando você tiver que viajar. Precisa mesmo viajar?

Ele franze um pouco a testa, faz bico, quer me colocar em dúvida sobre a viagem. A do EREAD. Não ficou muito contente sobre ficarmos uma semana longe, dizia-se doido de saudades por quase não me ver pelos dias de faculdade. E que lá na sua turma quando divagava, as pessoas já acusavam a bonequinha do cordão dele, que era eu. Ocasionou de essa noite ele vestir a camisa de mangas que a tal colega Susana lhe presenteou – ficou um gato com as mangas repuxadas ao antebraço, curvando-se ao cotovelo, imagem que eu não conseguiria pela camisa que lhe dei, por não ter longas mangas – coisa que só repuxei a boca numa leve desaprovação.

Quer dizer, eu não queria toda essa visão dele pra ela ou a lembrança de que fora Susana que deu a camisa. Era escura com um bordado branco com um A e a descrição “Arquiteto” logo abaixo. Como viu que eu tava com um pouco de ciúme, emendou logo que Susana não era bem de sua turma, ela só pagava uma disciplina com a turma dele, pois teve problemas com ela no ano passado.

– Preciso. Vou apresentar uns dois trabalhos lá, tenho que ver umas palestras, participar de uns minicursos, essa papagaiada toda. Vai ser só no fim do semestre, ainda temos meu aniversário intacto.

– Falando em aniversário... o do seu irmão está bem próximo, não?

– Eu sei, 10 de fevereiro. Pouco menos de um mês. E não, não vou fazer uma festa surpresa pra ele.

– Por que não?

– Porque ainda não merece. Ainda nem conversamos, só meio... meio que fizemos as pazes hoje depois da briga naquele dia. E olhe lá. Mas num quero falar sobre isso, como está seu avô?

– Só ficou daquele jeito ontem mesmo, já voltou ao seu escritório. O homem não para nunca de trabalhar. Nem quando precisa ficar de cama, lá está ele no celular.

– Uhum... nem me parece alguém que eu conheço.

– Eu? Eu fiquei dois dias sem ir pra aula, nem fui mais às palestras. Se não fosse Anderson, taria perdidinho. Vocês praticamente me trancafiaram em casa.

– Quero ver se tem coragem de dizer que num gostou.

– Eu não, ainda quero um beijo de boa noite hoje.

– Interesseiro.

– Tô mais pra esperto.

– Então seja esperto e tome teu rumo, senão amanhã não vai nem querer levantar. Quem leva a culpa sempre sou eu. Que tenho que acordar cedo também para fazer trabalho. Aposto que tu também tá fazendo coleção deles.

– Tô. Mas é culpa sua mesmo que eu fique de zumbi pelas manhãs, você não sai da minha cabeça. Desculpa se fica meio difícil de dormir ou estudar, você não me deixa.

– Viu, já tá aí me culpando. Vamos, vamos que vai chover, você nem devia ter tomado sorvete, tá ficando tarde, temos trabalho.

– O universo resolveu conspirar contra mim.

– Acredite, o universo fez pior comigo hoje, pior.

~;~

Um relutante Vinícius foi pra casa ao deixar-me na minha. Dentro do carro, só aceitou eu descer quando ouvimos o meu celular tocar, ele pensou que era Murilo com suas conceituadas regras, num pedido de recuar, que estava na hora dele ir embora. Era fácil de pensar isso por ver que o carro de meu irmão estava na garagem.

Só que não era ele ligando, era Djane.

Despedi-me de Vini, atendi quando metia a chave na porta para entrar.

– Oi, Djane.

– Oi, querida. Desculpe-me ligar tarde.

– Nada, pode falar.

– Ah, é que eu queria conversar com você amanhã, antes da aula. Pode ser? Acha que pode ir?

Entro em casa, a sala e a cozinha iluminadas, mas nem sinal de meu irmão. Deve estar no quarto, penso. Ouvindo Djane vou tirando a bolsa, pesada com os livros locados, devolvo a chave ao bolsinho prático dela.

– Num sei, acho que sim. Vou ao escritório do estágio amanhã de tarde para efetivar minha inscrição. Tinha marcado uma reunião com uns colegas sobre um trabalho... posso desmarcar, se for muito urgente.

– Bom, não é bem bem urgente, só que... na verdade, sou eu e o diretor Fabiano que queremos falar com você, sobre os últimos acontecimentos da faculdade. Acho que devemos esclarecer algumas coisas.

– Diretor Fabiano? Esclarecer o quê? Por que comigo?

– Calma, Milena, não é nada demais. Não precisa nem se preocupar.

– Mas a senhora esses dias t...

– Eu sei, eu sei... foi estressante. O fim desse túnel tá próximo. Se puder chegar lá umas 18h, só me ligar, ficarei por lá toda a tarde. Não precisa desmarcar nenhum compromisso seu.

– Hum. Ok, então.

– Só isso, Milena. Boa noite.

– Boa noite, Djane.

Continuo olhando para a tela depois de desligar, caminho meio sem rumo pela sala, próximo do sofá. Se me demorasse pensando sobre isso queimaria meu cérebro em adivinhar o que o diretor Fabiano poderia querer comigo. Ou o que eu teria a ver com isso da faculdade. E o que será bem “isso” que ela quer dizer?

Só espero que...

– Hey.

– AH!

Murilo simplesmente se materializa do meu lado, sorrateiro. Claro que gritei de susto, dei um pulo que caí pra trás, sobre o braço do sofá, toda desajeitada. E claro que ele riu, enquanto meu coração se dobrava de ódio por essa brincadeira dele, batendo forte a fim de socá-lo, o que só socava a mim mesma por dentro. Me deu a mão pelo menos pra me levantar.

– Porra, Murilo, sabia que tu era feio, mas a ponto de assustar, o caso é sério. Caramba, cara.

Ele não me leva a mal, entretanto. Não falei por maldade, tampouco numa brincadeira. Pelo menos meio séria. Estava me recuperando do susto, poxa, tinha que lhe ralhar de algum jeito.

– Ah, qualé, você que fica no mundo da lua, já te disse pra prestar mais atenção. Nem te assustei por querer, dessa vez não foi planejado.

De volta de pé, me apoio no seu braço pra puxar a fivela da sandália da Dani. Não queria ter que dizer tchau e entregar a ela depois.

– Porque se fosse, eu já tinha te batido.

Fez cara de tédio pra mim, segurando-me melhor para outra falta de equilíbrio não fazer um estrago maior.

– Violência só gera violência, Lena.

– Você devia ouvir mais seus próprios conselhos.

Resmunga baixo.

– Você o mesmo.

– O que você disse?

Mentira, eu ouvi bem.

– Nada. Só... bom, eu... te esperava. Será que podemos conversar?

– Tipo, agora?

Tipo, agora mesmo?

Seria muita decadência pensar no meu ensaio para escrever?

– Seria muito bom agora. Não aguento mais adiar isso.

– Hum. Ok. Pronto, só achar minha chinela e volto pra cá.

– Te encontro na cozinha.


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Notas finais do capítulo

Eita que qnd o Murilo soa sério, rum, a gente já fica preocupada. Mas dessa vez... bom, posso jurar que é... hã... algo justo. Vejam por vcs msms no cap seguinte :P



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