S.O.S Me Apaixonei Por Um Assassino Suicida escrita por Anthonieta


Capítulo 9
Estranho demais para chamar de lar


Notas iniciais do capítulo

Espero que estejam gostando (:



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No mesmo momento soltei o celular no chão, próximo ao corpo desfalecido da mulher. Horror tomava conta do meu corpo e pensamento. Meu choro era baixo, quieto, assustado. Ratos juntavam-se para se alimentar da carne fria. Uns morrem, outros aproveitam. Meu pavor aumentou, joguei-me para fora do beco, minhas roupas estavam ensaguentadas. Corri o mais rápido que pude. Agora chorava alto, queria sumir dali, esquecer tudo aquilo. E quanto ao meu celular? Havia alguém observando-me? Alguém que tinha conhecimento do meu número? Eu não sabia dizer. Meus calcanhares queimavam dentro das botas marrons de Montaria, fazendo-me fraquejar. Puxei o fôlego e continuei a correr em meio aos choros. Crouzi estava totalmente vazia, as luzes dos prédios apagadas, eram apenas oito horas da noite, eu acho, mas para a população de Crouzi era como meia-noite.

Minhas botas batiam forte no asfalto, eu soluçava e tremia de frio, apesar de estar sendo envolvida pelo casaco ensanguentado. Senti um forte puxão em meu braço esquerdo, quase derrubando-me ao chão. Gritei em protesto. O aperto era forte e machucava meu braço. Eu me contorcia e chutava o vento, tentando libertar-me do estorvo. Meu cabelo cobria todo o rosto, impossibilitando-me de ver com clareza quem me segurava.

— Me solte! — gritei.

Agora meus dois braços estavam imobilizados. Lágrimas geladas escorriam pelo meu rosto suado. Eu não aguentava mais aquilo.

— Não... — era uma voz rouca e familiar — Não me chute, Clarissa — eu urrei — Clarissa, sou eu, Clarissa!

Instantaneamente parei. Silêncio se formou, o ar quente que saia de minhas narinas farfalhava meu cabelo, caído sobre os olhos. O aperto de Jason sobre meus braços foi cedendo. Pude senti-los praticamente livres. Trinquei os dentes e corri.

Minha fuga não durou mais de cinco segundos. Jason segurou-me por trás. Meu choro aumentou. Não havia mais forças para resistir, de tal forma que desabei no chão, escorregando do abraço dele. Jason abaixou-se, ficando ao meu lado.

— Jason...? — eu não conseguia raciocinar, estava chocada, cansada, cheia de hematomas e sangue.

— Não fale. — sua voz era calma e baixa, quase um sussurro — eu vou tirar você daqui.

— Ela está morta... — grunhi, caindo ao choro mais uma vez. — ela morreu em meus braços — gritei.

Ele não pareceu surpreso.

— Você vai acabar acordando a cidade toda se continuar gritando desse jeito. — venha, vamos sair daqui.

Incredulidade percorreu meu rosto.

— Você não sabe o que aconteceu... Eu...

— Eu sei. — ele interrompeu-me — Eu estou atrás de você desde a hora em que saiu daquele... beco.

Não emiti palavra alguma, apenas encarei seus olhos escuros e inexpressivamente incógnitos. Seu cabelo lampejava à luz da lua, seus olhos estavam fundos e com olheiras, provavelmente havia passado muito tempo sem dormir.

Ele ajudou-me a levantar, estendendo um braço para que eu me apoiasse.

— Já andou de moto? — perguntou-me.

— Nunca.

Ele puxou-me para mais perto.

— Então agora você andará.

Jason entregou-me um capacete preto. Eu o coloquei e prendi a fivela. Ele já estava graciosamente sobre uma Chopper vermelha.

— Uau, onde conseguiu uma dessas? — perguntei, aparentando mais cansada do que queria.

Ele alisou a lateral da moto, como se tivesse muita estima pelo veículo.

— Foi um bom negócio. Vamos, suba.

Assim eu fiz, entrelaçando suavemente meus braços pelo seu tronco. Uma sensação esquisita me fez arfar, um tremor no estômago. Jason era magro e frio. Eu podia sentir seu abdômen contraindo e relaxando rapidamente. Me perguntei se ele sofria de problemas respiratórios.

O motor roncou, meus braços apertaram Jason automaticamente. Estava com um pouco de medo de andar de moto à noite com um cara que mal conheço, especialmente porque acabara de presenciar uma morte e tudo de repugnante que ela carrega.

Jason e eu parecíamos voar pelo asfalto, uma sensação horrível.

***

Entramos no estacionamento para motos do Tude. Jason desligou o motor e eu desci desajeitadamente. Ele desceu logo em seguida.

— Se sente melhor? — perguntou-me, fitando as manchas de sangue da minha roupa.

— Com certeza não. — retruquei.

— Pode passar a noite comigo, digo, no meu apartamento... se quiser.

Eu bufei, sentindo uma leve tontura.

— Claro que não!

— Mas você não parece em condições de ficar sozinha, — ele insistiu — pelo menos durante as próximas horas.

Eu o encarei, desdenhadamente, levantando uma sobrancelha.

— Ah, vamos lá, Clarissa. Eu não vou fazer nada com você. Me aproveitar de garotas perturbadas e cobertas de sangue alheio nunca foi meu forte. Isso é meio broxante... no mínimo.

Eu semicerrei os olhos, fazendo uma careta.

— Com certeza não é hora para piadas. — rebati — Você parece que é doente.

Ele não pareceu se importar, como sempre.

— Então você vem comigo?

Eu pensei em relutar, xingá-lo ou qualquer outra coisa do tipo, menos aceitar o seu convite. No entanto, estava fraca demais, não sabia se realmente conseguiria passar as próximas horas sozinha e isolada no meu apartamento, indo e voltando naquela mulher jogada entre os sacos de lixo, me pedindo ajuda... Seus dedos mutilados... Os ratos...

— Eu vou... — disse relutantemente — eu... aceito.

Ele deu um sorriso sem graça, oferecendo-me o braço. Eu o segurei e seguimos para o hall de elevadores.

***

O apartamento de Jason era tudo aquilo que nunca imaginei que seria. Eu o imaginava perfeitamente organizado, sofisticado, limpo e impecável. Jason dava essa impressão – sempre tão sombrio e bem vestido, à sua maneira, é claro. Mas aquilo parecia um covil. Como alguém consegue fazer uma destruição dessas em tão pouco tempo? Perguntei-me. Não havia por onde passar sem derrubar ou bater em alguma coisa. Lixo espalhado por toda parte. Cigarros jogados pelo sofá. Latas de cerveja vazias espalhadas pelo tapete manchado por coisas que não ousei perguntar o que eram. A estante, onde uma tevê velha e um mini som repousavam, estava repleta de restos de Cheetos de requeijão. O fedor era ominoso. Apesar de bonito, ele é apenas mais um carinha vagabundo que vive do dinheiro dos pais, Kat havia dito.

— Você fuma? — perguntei, tentando não transparecer o nojo.

Ele olhou para os cigarros no sofá.

— Eu estou tentando. — ele deu um muchacho — Mas tenho muita dificuldade para ficar preso a vícios. Só fumo quando tenho vontade de parecer mau. Sabe, as garotas preferem os caras maus.

Eu o olhei com descrença.

— Você... você finge que fuma por querer e não conseguir ficar dependente? — questionei — que tipo de pessoa você é?

Ele rolou os olhos.

— Eu finjo fumar para pegar garotas idiotas, entendeu?

Eu não respondi.

— Bem — ele olhou para os lados, depois fitou o sofá — eu vou dormir aqui e você... pode dormir na minha cama. É de casal, sabe? Muito confortável. Cabe muitas pessoas, entende? Cabe muito mais que uma única pessoa. Eu até acho muito desperdício aquela imensidão de cama ser ocupada apenas por um único corpo magro...

— Okay! — o interrompi — Eu aceito dormir na sua cama enorme. Eu gosto mesmo de espaço, nossa, como adivinhou? Muito obrigada.

Jason fez uma careta, apontando para o pequeno corredor.

— Segunda porta à direita — ele disse enquanto eu me dirigia pelo corredor — Bons sonhos.

Eu bufei.

— Você está brincando!

Ele sorriu, forçadamente, pude perceber. Talvez Jason Santi não fosse o cara mais bem humorado do mundo.

***

O quarto de Jason era um mistura de imundície e posts Grunges, Clássicos e Alternativos. Pousei meus olhos num do Bob Dylan, onde na parte de baixo estava escrito a lápis: Se eu fosse uma mulher e você fosse uns quarenta anos mais jovem, meu querido, já estaríamos casados. Mas porém, se eu fosse uma mulher, provavelmente seria lésbica, então só posso dizer-lhe que seu cabelo é demais! Não pude conter o riso, Jason era sarcasticamente ridículo.

Sem mais observações, retirei as botas e as coloquei no canto da parede, perto da porta. Olhei-me através do gigantesco espelho pendurado próximo à janela. Minhas roupas estavam totalmente sem condições de uso. Sem mais pensar, retirei o casaco e o pendurei na cabeceira da cama, depois tirei a skin preta, ficando apenas com uma fina blusa branca de alças, que havia saído ilesa, e roupas íntimas. Vasculhei o guarda-roupa de Jason à procura de alguma camisa grande o suficiente a ponto de cobrir pelo menos metade de minhas coxas. Encontrei uma preta, aparentemente adequada à meus requisitos, a qual dizia: Eu preservo às árvores, porque garotos bonitos, como eu, não podem ficar sem oxigênio. Balancei a cabeça negativamente e a vesti, ignorando o fato de não ter pedido autorização para tal.

Com o cansaço e a dor de cabeça, por ter chorado demais, falando mais alto que qualquer outra coisa, caí de costas nas cobertas brancas de Jason e no mesmo instante dormi.

***

Eu estava andando pelas ruas escuras e frias de Crouzi. meu cabelo farfalhava ao vento. Meu rosto demonstrava uma aparente felicidade, eu sorria em meio à luz da lua, como uma criança que acabara de receber um presente de sua mãe que há muito tempo não via.

Então uma mulher saiu das sombras das árvores que circulavam a Não Passe Mais De Quinze Minutos.

— Você deixou-me morrer...

Meu coração gelou. Não era possível... Eu a vi sucumbir.

— Meu Deus... — bradei — Você está morta, eu vi... O que...

— Porque você deixou-me morrer! — ela silvou — Você, sua maldita.

Minhas pernas forçavam passos descontínuos para trás, ela não parecia nem um pouco fantasmagórica.

— Não! — continuei — Eu a vi morrer, apenas a vi. Não tinha como... como evitar, não era algo que pudesse ser tratado como alternativa.

— Você deixou-me morrer! — ela gritou, alto o suficiente a ponto de me fazer tapar os ouvidos e espremer os olhos — Agora nada mais justo que eu ceifar a sua vida.

E ela se aproximou.

***

Acordei completamente suada, apesar de sentir um frio extremo. Olhei ao redor, tudo escuro. Tateei a cama e percebi que ainda estava no apartamento de Jason santi, e até então estava intacta. Suspirei aliviada. Ainda com um pouco de medo, levantei-me tremendo, procurando pela porta. Foi apenas um pesadelo, sussurrei.

Saindo do quarto, pude ver que a luz da cozinha estava acesa.

— Jason?— chamei — você está ai?

Não houve resposta. Resolvi caminhar até até lá. Não havia ninguém. Ele dorme com a luz da cozinha acesa? Perguntei-me. Fui até a sala e o sofá estava apenas com travesseiros e lençóis brancos pendurados até o chão.

— Jason! — quase gritei — não acredito que me deixou aqui sozinha.

Instantaneamente, voltei ao corredor, procurando o banheiro. Todos os apartamentos do Tude tinham a planta diferente. Provavelmente é uma dessas portas, pensei. Girei a maçaneta da que ficava ao lado do quarto de Jason, abrindo-a até o canto. Pânico circulou sobre meu rosto, soltei a maçaneta afastando-me lentamente. Jason estava jogado no chão do banheiro, cartelas de comprimidos espalhadas pela palma de sua mão aberta e sangue manchava as paredes.


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Notas finais do capítulo

Próximo capitulo segunda ou terça-feira. Então, alguém já tem algum personagem preferido? E algum que definitivamente não gosta? kk (:



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