S.O.S Me Apaixonei Por Um Assassino Suicida escrita por Anthonieta


Capítulo 7
Ouvir The Vaccines nunca pudera ser mais desagradável




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Jason Santi investiu contra entrada da lanchonete, sem notar, ou, simplesmente, fingindo não notar a nossa presença. Envolvido em sua habitual jaqueta de Brim, agora com uma camisa branca por baixo. Seu óculos de sol cobria sessenta por cento de seu rosto pálido e inexpressivo.

— Oh, meu Deus! — disse Gabriela

Eu não movi os lábios para balbuciar palavra alguma, apenas o observei.

— Chamberlain… — kat sussurrou — o próprio Chamberlain, em carne osso e… bem, vocês sabem.

Ele sentou-se há cerca de cinco metros paralelos de distância da nossa mesa. Minha cadeira, nessa situação, ficava quase de frente para a dele, o que me favorecia, e desfavorecia também. A garçonete chegou até sua mesa, ajeitando o cabelo, oferecendo-lhe um sorriso escancarado. Ele não tirou os óculos para falar com ela, nem a olhou. Jason encarava o horizonte seriamente, brincando com o porta-palitos, como quem não se importava com absolutamente nada no mundo, sua casa poderia estar desabando, sua mãe pegando fogo, ainda assim ele estaria observando toda a balbúrdia, sentado, imóvel, degustando um pacote de pipoca amanteigada.

— Ele não parece ser muito simpático. — disse, enfim.

— Não importa. — kat continuou — Gabriela, hora de agir!

— O quê?

— Sim, querida — kat sorriu, divertidamente — preste atenção às minhas instruções.

— Eu não acho que… — ela interrompeu, e Kat continuou.

— Você vê aquela porta? — perguntou à Gabriela, apontando um dedo magro.

— Sim, eu vejo.

— Pois bem, ali deve ficar o banheiro, por Deus, não entendo o porquê deles não colocarem adesivos de indicação. — ela balançou a cabeça negativamente e prosseguiu — Você vai levantar com o pseudo propósito de ir até o suposto banheiro, levante com calma, naturalmente. Então bata ”sem querer” na… cabeça do Chamberlain, é… bata com o cotovelo, de preferência, mas não com muita força…

— E então? — Gabriela interrompeu.

— Então você pedirá desculpas, e desenrolará algum tipo de assunto. Crie um vínculo, faça-o implorar pelo seu telefone.

Eu a olhava assustada, aquilo definitivamente não era um bom plano.

— Olha… Kat, desculpa, mas não sei se isso é uma boa ideia. — sussurrei.

Gabriela olhou de relance para Jason, que agora remexia uma xícara de café e lia uma revista de artes. Artes?

— Hum... — ela murmurou — pode ser arriscado demais.

— Arriscado? — Kat parecia incrédula — vocês falam como se ele fosse um… criminoso, um bandido estripador, um sequestrador de criancinhas, um torturador nazista.

Eu respirei fundo e flagrei Jason num sorriso torto, seus olhos supostamente fixados nas páginas da revista. Ele deve ter lido algo engraçado à sua maneira, pensei.

— Nós não sabemos.

Kat jogou as mãos para o alto e fitou Gabriela, que parecia mais confusa que o normal.

— Você deve ir… Agora.

— Tudo bem — Gabriela disse finalmente — eu não tenho nada a perder mesmo.

Eu a olhei incrédula.

— Não acredito que você vai fazer isso — sussurrei — é loucura.

— Ah, por favor! — Gabriela quase gritou — foi você quem começou com isso, essa implicância sem sentido, essa coisa de ”o 305 não deve ser ocupado por ninguém, porque eu sou egoísta demais para aceitar vizinhos.” Você começou isso, Clarissa, não pode voltar atrás, não irei voltar atrás, não iremos. — ela olhou para Kat, que assentiu.

Eu estava completamente perplexa, a ideia de ser uma autocentrada já havia me passado pela cabeça, mas ter alguém, assim, jogando na minha cara, era completamente diferente. Não disse uma palavra, apenas a observei sair da mesa.

Ela vestia uma calça jeans desbotada e um suéter vermelho, combinando com seu batom. Tudo fazia um bonito contraste com seu cabelo dourado, caído sobre os ombros. Gabriela estava prestes a passar por trás de Jason, quando inexplicavelmente parou para nos fitar. Não, não faça isso, sua estúpida, Kat queria gritar. Pela primeira vez, Jason tirou sua atenção das páginas amarelas e olhou confuso para Gabriela, que ainda sorria para nós. Eu fiz um sinal para que ela percebesse que ele estava olhando-a, mas ela não pareceu entender. Virou-se quase que como sem querer e congelou. Jason tirou os óculos escuros, expondo um par de olhos negros cheios de dúvidas. No mesmo instante, Gabriela cruzou por trás da cadeira e deliberadamente bateu com o cotovelo na cabeça de Jason, como quem tenta dar um golpe de algum tipo de arte marcial. Ele soltou um grito. Gabriela mais uma vez olhou para Kat e eu. Kat soltava fogo pelos olhos.

— Ei! — Jason protestou, colocando os óculos sobre a mesa, junto com a revista. Não tive que fazer muito esforço para ouvi-los. — Você é louca ou o quê?

Ela arregalou os olhos, esfregando o cotovelo, provavelmente estava doendo mais nela que nele.

— Oh, me desculpe. Foi sem querer, juro, não tive a intenção. Eu só… bem… estava indo ao banheiro — ela apontou para a porta descascada um pouco depois deles — e então topei em você… Como sou desajeitada… Ahn… se você quiser me bater, tudo bem, não irei me importar, acho justo, até.

— O quê? — Jason disse. — Não, claro que não vou bater em você, mas que coisa.

— Oh, não?.

— Não. Mas… — ele continuou — aquilo não é o banheiro, é a saída de lixo.

— Como? — ela parecia sem graça.

— Não vê? — ele falou — olhe lá… lá em cima. — havia uma placa meio borrada anunciando: Próxima retirada de resíduos orgânicos, 28/03. Favor não entrar.

— Oh — ela olhou para mim, eu preferi não olhar de volta. — nossa, eu realmente sou muito desatenta.

— Entendo. — ele disse, impacientemente.

Gabriela passou a mão pela testa, estava inconfundivelmente nervosa.

— Posso sentar?

— Hã? — Jason estava realmente impaciente — por que você quer sentar aqui? Não está acompanhada pelas suas amigas?

Ele apontou o dedo fino e pálido sem nenhum constrangimento, naquele momento eu queria poder sair correndo, mas isso só pioraria a situação.

— Eu não acredito que ela está nos fazendo passar vergonha na frente do Chamberlain. — balbuciou Kat, seu rosto estava totalmente corado.

— Eu avisei que isso não daria certo.

Gabriela puxou a cadeira que estava à frente de Jason e sentou-se.

— Sabe — ela começou — minhas amigas, aquelas magrelas — ela nos deu uma piscadela — estão conversando sobre coisas chatas. Elas fazem faculdade e tudo mais, só sabem falar sobre isso – coisas da faculdade, garotos da faculdade, até a comida da faculdade… — ela suspirou — É tudo tão excessivamente chato.

— Ah.

— Então — ela continuou — você é o novo cara do Tudo Empire, não é?

— É… sou. Se há um novo cara, então eu sou o novo cara que há. — ele sorriu divertidamente. Ficou claro que ele gostava quando alguém demostrava algum tipo de interesse nele. Parecia fazer muito bem ao seu ego.

— Você também mora lá, não é? — ele perguntou — Eu te vi naquele dia, no dia quem que cheguei. Você me olhava como uma animal faminto. Eu sou tão sexy assim?

Gabriela ficou completamente ruborizada. Vergonha percorria por suas veias, isso era claro de notar.

— Eu… é…

— Não precisa se acanhar. — Jason parecia estar muito bem humorado agora — estou acostumado, com o assedio, você sabe.

— É. — e isso foi tudo que Gabriela conseguiu dizer.

Houve um pequeno intervalo de silêncio, Kat não tirava os olhos dos dois, bem, nem eu.

— Se você não se importa… — Jason começou — eu tenho que ir.

— Oh, não, tudo bem — ela sorriu.

— Espero que as suas amigas mudem de assunto. — ele pegou um pouco de dinheiro e pôs embaixo do porta-palitos — E da próxima vez que quiser falar comigo não precisa similar uma dor de barriga.

Jason levantou-se e partiu rapidamente em direção à saída. Gabriela o observava, assim como Kat e eu, do outro lado da Soof. Ele cruzou as portas de vidro, e antes que sua imagem pudesse ser coberta pelos carros no estacionamento da loja ao lado, pousou seus olhos de Gavial sobre mim, balançando a cabeça negativamente com um sorriso leve e sem graça, colocando os óculos escuros e encontrando o sol ardente.

Minha garganta estava seca, Gabriela tornou a sentar-se conosco.

— Você não poderia ter sido pior. — disse Kat.

Gabriela não rebateu, parecia péssima. Confesso que senti um peso na consciência em pensar que tive que submetê-la àquela situação. Se não fosse pela minha cisma…

— Eu acho melhor nós irmos para casa — sugeri — vocês parecem cansadas, você, Gabi, você não foi tão ruim, olhe… você conseguiu um contato, isso é ótimo, não é?!

Dessa vez ela falou.

— Nhár… Um contato? Pode ser, mas nada suficiente a ponto dele me convidar para seu apartamento e me oferecer uma taça de vinho.

— Definitivamente! — bradou Kat. — Vamos embora, eu estou exausta, vocês nem sabem, eu tenho prova mais tarde, eu… Clarissa!

— O quê? — respondi.

— A síntese… Que dia é hoje?

— Oh, meu Deus… Ainda faltam dois parágrafos. Dois parágrafos e um dia para entregar.

— É melhor você correr. — disse Gabriela.

Eu assenti, me despedi delas e deixei a Soof. Enquanto caminhava pela calçada, pensava nas exatas palavras para preencher os últimos parágrafos. Sete minutos caminhando até a oficina onde Juliete estava.

— Então… — bradei, cutucando o mecânico que estava de costas para mim. —está pronto?

Ele virou-se instantaneamente.

— Oh, sim. É só girar as chaves… E me pagar, é claro.

Retirei duas notas da carteira e o entreguei.

— Aqui. Obrigada, obrigada.

Ele assentiu. Peguei Juliete e dirigi o mais rápido que pude.

***

Nada era tão perfeito quanto chegar em casa, em pleno Domingo, e sentir aquele silêncio. Era por isso que eu gostava tanto do meu apartamento e do prédio: a paz era incomum. Lembrei-me que a segunda-feira estava próxima e, além da síntese, havia pilhas de planilhas sobre a nova reorganização da Volta Ao Mundo Em Oitenta Dias para entregar. Suspirei e procurei focar no meu maior problema. Se eu conseguisse uma das vagas de estágio, passaria a ganhar o triplo do que Lucy me paga. Acharia um pena, claro, deixar o trabalho que compareço desde meus dezessete anos, mas era preciso um upgrade.

Tomei um banho rápido, peguei um suco e sentei-me no velho sofá, com meus cadernos sobre o colo. Fiz um coque desajeitado no cabelo e comecei a rabiscar.

No entanto, se o homem passa da condição de ser racional e engenhoso para acoplar-se a um comportamento rude, onde haja um destrato para com seus semelhantes e este regresse demasiadamente a ponto de haver uma zoomorfização, ele obtém total acesso à possibilidade justa de desrespeito, uma vez que não o pratica…

Eu estava, talvez, conseguindo formular alguma coisa com sentido, e poderia ter tido bastante progresso se não fosse pelo estrondo que vinha do andar de cima, é claro. Pude perceber, era inevitável não perceber que Jason Santi estava ouvindo I Always Knew, do The Vaccines em um volume extremamente alto.

— Mas que merda! — gritei.

Esquecendo o fato d’eu achar The Vaccines uma ótima banda, Girei a maçaneta da porta da frente e saí furiosamente, praticamente correndo pelos corredores. Alcançando o elevador, parti para o próximo andar, estava sozinha, transpirando raiva.

Cheguei à porta de Jason, 305, maldito apartamento, o som três vezes mais alto. Bati. Bati ferozmente na porta, com o punho fechado – não era possível que ninguém estava incomodado com aquele barulho infeliz. Bati com mais força e velocidade, minhas mãos estavam vermelhas e doloridas, podia sentir a raiva ensurdecer. Aumentei o ritmo dos murros, agora chutando a porta, até ele abri-la aos gritos. Sua voz cessou instantaneamente. Estava descalço e vestia uma calça moletom preta. Suor escorria pelo seu peito nu, seu cabelo negro caindo sobre os ombros, dividido ao meio em sua testa, partes menores caindo por suas bochechas. Seu rosto quadrado e pálido sem expressão, boca entreaberta, os seus olhos, tão negros quanto seu cabelo, estavam encolhidos em dúvida.

Seus braços seguravam as extremidades da entrada. Nos encarávamos como dois estranhos que se esbarram na rua, debaixo de uma tempestade.

— Você… — bradei, tentando soar firme, embora jamais estivera — você quer desligar essa porcaria de som?

Jason torceu a cabeça de lado, soltando um sorriso funesto e largo, expondo seus dentes brancos como o céu de Outubro.


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