S.O.S Me Apaixonei Por Um Assassino Suicida escrita por Anthonieta


Capítulo 6
Era para ser apenas um café




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Eram, exatamente, seis e meia da noite quando cheguei no Tude Empire. Frederich cochilava na portaria, eu bati levemente no vidro que o cercava, ele deu um saltinho para trás, despertando.

— Oh, sta. Licer?

— Olá.

— Deseja algo?

Apoiei-me sobre o balcão e peguei um dos panfletos de propaganda sobre o prédio, que falava sobre as inúmeras vantagens de ser um morador e blá, blá, blá.

— Você aceitaria conversar um pouco com uma garota frustrada?

Nosso pequeno diálogo fora interrompido por zunidos vindos da calçada do Tude, duas senhoras gordas entravam na portaria, falando desesperadamente sobre alguém que havia morrido... bem, não, sobre alguém que havia sido morto.

Frederich enrijeceu.

— senhoras, algum problema?

Elas pararam de discutir e o fitaram. A mulher de cabelo preto aproximou-se do balcão, balbuciando.

— Morto! Simplesmente.

A outra mulher, de cabelo louro e curto, cara assustada, tomou a frente.

— O filho dela, Frederich, por Deus, o rapaz… ele está desaparecido. Eu bem disse à Gertrudes que adolescentes fazem mesmo dessas coisas – bebem e somem, passam alguns dias por aí e depois voltam para casa. Mas ela parece querer acreditar no pior.

Eu cocei a cabeça. Em outra ocasião teria dado meia volta e murmurado um isso não é de minha importância, mas eu estava com muita vontade de saber os detalhes. Adolescentes morriam o tempo todo, mas esse caso, em especial, parecia estranho.

— Meu coração… — Gertrudes gritou — meu coração dolorido de mãe me diz que eu o perdi. Meu menino — sua voz suavizou — eu sei que o perdi, sei que está morto e sei que, apesar de tudo, ele mereceu.

— Como pode dizer isso? — me intrometi — Ele é seu filho, como pode dizer que ele mereceu morrer?

A mulher deu um profundo e triste suspiro, suas lágrimas havia cessado.

— Rafael era das ruas — ela continuou — das drogas, da bebida, da falta de caráter. Ele era de tudo que mais há de ordinário no mundo. Ele esteve quase sempre endividado, envolvendo-se diretamente com traficantes, às vezes chegava totalmente fora de controle em casa, tarde da noite, quebrando os móveis, me ameaçando… — ela pausou — ele vendeu tantas coisas, tudo para comprar mais drogas e cometer seu suicídio seriado. Até que…

— Não pense assim. — disse a outra mulher — não pense que seu filho está entregue, tenha esperança.

Frederich e eu éramos dois tonéis de silêncio transbordando.

— Ele estava jurado, Ana — disse Gertrudes — você sabe, foi apenas uma questão de tempo.

Desta vez Frederich se pronunciou.

— A senhora sabe dizer, ou tem alguma ideia de quem poderia ter, no mínimo, interesse em matar seu filho?

Ela fitou a avenida, os carros passando apressadamente.

Não. A polícia vai iniciar o inquérito, mas… Não acho que vá adiantar muita coisa.

Depois daquilo tudo, pedi licença e fui pegar o elevador, a fome havia se tornado maior que a minha curiosidade, podia sentir o mal humor encostar-se em mim.

***

Meu apartamento cheirava a morfo e perfume masculino, como sempre, não que eu leve centenas de homens para meu quarto e tudo mais, para ser sincera nunca levei nenhum. O fato é que prefiro os perfumes masculinos aos femininos, uma prática que devo ter aprendido com a minha mãe, perfumes doces e enjoativos causam-me náuseas.

Tomei um banho rápido, catei uma pizza velha na geladeira e aconcheguei-me no sofá de couro que um dia havia sido um belo móvel, hoje não passava de um trapo que pinicava a parte nua da minha pele quando eu sentava. Com o notebook sobre o colo, comecei a pesquisar sobre a possível ocupação de Jason Santi. Podia ouvir o som do chuveiro ligado. Tomando banho, pensei, mas logo afastei o pensamento – que raio que criatura eu estava me tornando, medindo os passos de um cara que mal conheço?

Algumas novas atualizações repousavam em seu perfil social super badalado. Jason parecia ser o tipo de cara que sai na rua e é seguido por um grupo de garotas enlouquecidas, querendo qualquer mínimo de coisa com ele... Ou não. Sabe como é, algumas pessoas fingem ser outras na internet. A vida é tão arrevesada.

Fucei um pouco mais, fui e voltei aos mesmos lugares e nada. Nada sobre algum tipo de ocupação. Dei um gole na coca que repousava ao meu lado no sofá e, surpreendentemente, levantei as sobrancelhas e entreabri os lábios, a janela de notificações pulsava: uma solicitação de amizade do meu estranho vizinho? Não aceitei. Havia uma coisa que me perturbava, se ele estava conectado à internet, como poderia estar tomando banho? O chuveiro ainda ressoava, um barulhinho irritante. Ele deve ter algum tido de porta-celular preso na parede do banheiro, pensei. Ou pode ter esquecido o chuveiro ligado, o que seria péssimo para mim, poderia aumentar as infiltrações. Fiquei com a hipótese mais provável e a que me fez virar a lata de coca goela baixo: alguém, provavelmente uma mulher, está tomando banho enquanto ele navega na internet. Se Jason Santi começasse a levar garotas para seu apartamento, isso, com toda a certeza do mundo, iria roubar a paz, o silêncio e a tranquilidade. Eu realmente não queria ficar ouvindo gemidos ridículos a noite inteira. Eles devem ter se pegado muito enquanto eu estava fora e agora ela está tomando banho para eliminar as toxinas do corpo imundo dele, pensei. Eca.

Depois da ultima fatia de piza, liguei para Gabriela e Kat, para que pudéssemos nos encontrar na manhã seguinte, na Soof, e fui dormir.

***

Kat e Gabriela me esperavam sentadas na primeira mesa da Soof, uma das poucas lanchonetes de Crouzi. Eu poderia ter chegado antes delas, se não fosse por Juliete, que parece não gostar nem um pouco de mim. Sorte a minha que ela resolveu quebrar quase à frente de uma oficina.

— Desculpem o atraso.

Kat suspirou.

— Você marca e se atrasa. Isso é anti-ético.

Eu rolei os olhos e sentei ao lado de Gabriela, Kat à minha frente. A garçonete nos ofereceu o cardápio. Eu pedi um Café, junto com Gabriela, e Kat um cachorro-quente com refrigerante.

— Então — disse Kat — novidades sobre o FJC?

— Sobre o quê? — perguntei.

— Fora, Jason Chamberlain! Seu plano, nosso plano.

Gabriela soltou um riso sem graça.

— Muito original — murmurei.

Nossos pedidos haviam chegado, rápido demais, eu pensei, então olhei ao redor e percebi que nós eramos as únicas clientes do estabelecimento.

— Ainda não consegui descobrir aonde ele trabalha. — disse.

— Você falou com Frederich? — perguntou Gabriela.

Eu lembrei da cena que havia presenciado noite passada: Gertrudes chorando a suposta morte de seu filho.

— Não.

— Bem, isso é o de menos, eu acho — disse Kat.

— Talvez. — disse — o que temos de fazer é arrumar um jeito de Gabriela conseguir pelo menos uma noite com ele, no apartamento dele, e sabotá-lo. As regras do Tude são claras: Nada de vandalismos. Quando a compra é realizada, o contrato é bastante preciso a isso: você detém noventa por cento da casa, os outros dez pertencem ao patrimônio do Senhor Bonifácio. Um, apenas um ato de vandalismo e você desrespeita a cláusula e é, automaticamente, despejado, levando cinquenta por cento do valor aplicado à compra, é claro, mas ainda assim não é uma vantagem. — dei um pequeno gole no café — Isso seria maravilhoso.

— Você quer que eu destrua o apartamento do cara? — perguntou-me Gabriela— por que você mesma não faz isso?

— Porque eu sei que para você será nada menos que um prazer.

— Ainda bem que sabe. — ela disse — e você, kat, o que você acha dessa palhaçada?

Kat parecia inexpressiva, encarando alguma coisa além da cabeça de Gabriela.

— Kat? — bradei — kat, o que você está olhando?

No mesmo instante, virei-me para ver o que tanto chamara a atenção dela, e o arrependimento bateu imediatamente, uma onda quente circulou sobre mim, sufocando minha garganta.

— Ah, merda.


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Notas finais do capítulo

Farei de tudo para postar o próximo capítulo na próxima quarta-feira.



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