S.O.S Me Apaixonei Por Um Assassino Suicida escrita por Anthonieta


Capítulo 11
Doce e amargo como água de flor




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Amassei o cartão medonho com força suficiente para que minhas unhas ferissem levemente a palma de minha mão. Ignorei o sangue e chorei. Chorei como uma criança fraca e sozinha, queria que Martin estivesse comigo, mas eu jamais poderia informá-lo sobre tais acontecimentos, não poderia preocupá-lo, não é um problema dele. No mesmo momento agarrei o buquê e atirei-o pela janela da sala pequena. Minha habitual blusa branca gigante estava molhada de suor, nunca sentira tanta raiva de alguém quanto estava sentindo daquele estranho. Primeiro a mensagem privada, pensei, agora essa porcaria de cartão ameaçador. No mesmo instante corri para o banheiro, para esfriar a cabeça, que estava fervendo de dor.

Deixei que a água fria do chuveiro me embalasse. Teria me afogado ali mesmo, se fosse possível. Não por inexatidão de vontade de viver, mas porquê estava tudo demasiadamente confuso, e a confusão meche com a mente, às vezes. Terminei meu banho, sequei-me e vesti um jeans velho e uma camiseta azul-marinho, a qual estava escrito: você é o que você faz nas horas livres. Por fim calcei um par de tênis preto, cujo par esquerdo estava mostravelmente rasgado. Passei a mão pelos fiozinhos desfiados da lona, tentando tapear o rasgão, mas não obtive sucesso.

Voltei à sala e Gabriela estava sentada no meu sofá – seu vestido de estampas místicas ia até o joelho. Ela estava numa posição aparentemente desconfortável, provavelmente o sofá estava pinicando suas pernas. Kate estava ao seu lado, trajando uma regata branca e uma minissaia College preta. Ela batia o pé sobre o piso, seus sapatos de salto emitiam um barulho chato e desagradável. Eu levantei uma sobrancelha.

— Não nos olhe assim, Clarissa — Kat balbuciou enquanto lixava as unhas — a porta estava destrancada.

— Ah — disse — interessante.

Gabriela fez uma careta.

— Você falou que tinha algo sério para contar, então trouxe Kat comigo, você sabe, ela é inteligente.

Eu bufei.

— Você acha que não posso resolver meus problemas sozinha? Eu posso. Só chamei-a porque… — dei uma pausa, fitando meus pés — eu... eu não posso… Não consigo resolver meus problemas idiotas sozinha. — passei a vista para Kat e depois Gabriela — preciso de ajuda… Por favor.

Kat deu um sorriso fraco.

— Bem, vamos descer, vamos até a Você Não É Um Unicórnio, conversaremos lá, é melhor, porque…

— Não! — quase gritei — digo… tudo bem, é… Eu adoro os sorvetes de lá.

Gabriela rolou os olhos. Rapidamente fiz um gesto para que elas levantassem e empurrei-as porta afora. Passei a chave e peguei o elevador.

***

A Você Não É Um Unicórnio fica ao lado do Tude Empire. Uma pequena sorveteria que vende os mais exóticos sabores de sorvete. Nos sentamos em uma das mesas que ficava na calçada. Era uma manhã quente, mas ventava o suficiente para não deixar o ar pesado.

Olhando o cardápio, escolhi um sorvete de casca de maracujá, meu preferido. Gabriela escolheu um de raízes e Kat, um misto de cereja com vodka, como ela sempre fazia. Fui até o balcão, peguei nossos sorvetes e voltei à mesa.

— Então — Kat começou — o que tanto aconteceu para você passar os últimos dois dias em pânico?

Eu exitei um pouco, mas expliquei tudo a elas. Se eu não confiasse em minhas velhas amigas, em quem mais confiaria?

— Laura estaria desesperada se estivesse aqui — Gabriela disse, enquanto enfiava um colher de sorvete na boca — ela iria sugerir para você sair da cidade, do pais, do planeta, até. E eu confesso que a apoiaria.

Eu suspirei pesadamente.

— É tudo tão… horrível.

— Oh, meu Deus. — Kat parecia atônita — Clarissa, você não está com medo? Dois assassinatos estranhos...

— Claro que estou! — retruquei — Mas tenho trabalhado para manter-me sob controle.

Gabriela balançou a cabeça negativamente.

— Muito estranho isso de Jason aparecer justamente quando você recebeu a tal mensagem. Muito estranho.

— E depois ele entupir-se de remédios como um lunático — kat continuou — e agora essas flores que raios sabem de onde vieram.

Eu as olhei com dúvida.

— O que estão querendo dizer exatamente? Vocês não… Oh, não…

Kat curvou-se sobre a mesa.

— Talvez… Eu disse talvez, Jason não seja apenas um destruidor de corações.

Gabriela a fitou.

— É, Kat…. Talvez — ela exitou — Olha, ele provavelmente toma remédios controlados, não é? — eu assenti relutantemente, não estava gostando do rumo daquela conversa, estava com um pouco de medo, até. — então…

— Você está o acusando de ter matado aquela mulher? — perguntei

— E ele também pode ter te mandado aquela mensagem — Kat continuou — então, com você assustada o suficiente, ele lhe seguiu e fingiu-se de bom moço para disfarçar.

Eu estava inexpressiva, negando com a cabeça, isso não tinha fundamento, Jason…

— Então ele fez com que você se sentisse grata — Gabriela disse — lhe mantendo em seu apartamento para ter um certo controle sobre você durante as primeiras horas. Seria a garantia dele de que você não chamaria a polícia.

— Não… — balbuciei.

— E os comprimidos… — Kat continuou — ele os tomou para tentar se matar, mas acabou apenas machucado. É o que acontece nos filmes, os psicopatas matam suas vítimas de forma peculiar, dão um jeito de distrair as testemunhas e depois cometem suicídio. Eles são assim, preferem morrer à entregar-se. O orgulho é a alma do psicopata.

Perplexidade exalava de mim, mal consegui tomar todo o sorvete, que agora amargava em minha boca.

— Vocês estão loucas. Isso… Isso não tem lógica. Jason, cara, vocês precisavam ver. Sabe, apesar do jeito nojento dele, ele me tratou bem… Ele…

Kat bateu com o punho fechado na mesa. Gabriela balançava a cabeça negativamente, espantada.

— Não… — Gabriela sussurrou.

— Clarissa! — Kat praticamente gritou, diminuindo o tom de voz em seguida. — Você está gostando do Chamberlain. Oh, Afrodite, tens piedade dela.

Eu corei instantaneamente, apertando o maxilar.

— Não seja idiota! — grunhi — Eu jamais poderia, nem se quisesse.

Gabriela afundou os ombros.

— Clarissa, você precisa parar com essa coisa de se manter insentimentável. Isso está lhe deixando uma maldita cega, você não vê nem percebe o que sente.

Kat mandou um olhar de reprovação à Gabriela.

— Não a incentive em querer se envolver com o Chamberlain, Gabi. Ele é um psicopata suicida. Nós deveríamos enviá-lo à polícia, às autoridades, ao presidente…

— Kat! — eu a interrompi — Você está sendo tão ridícula.

— E você tão cega…

Gabriela, que estava sentada adjacente a nós, segurou minha mão, assim como a de Kat, passando os olhos por nós, aparentemente brava.

— Parem com essa palhaçada! Parecem crianças. Kat, nós não temos certeza de nada, apenas suspeitas. E Clarissa, não haja como uma hipócrita que não sente coisa alguma, porque você não é feita de argila, sua idiota.

Eu me soltei de Gabriela, levantando-me apressadamente.

— Eu não gosto de ninguém, já disse!

Sem olhar para elas, segui de volta ao Tude, passei correndo pela portaria para que Frederich não me parasse para falar sobre o mau governo da nova síndica.

***

Eram quase dez horas da manhã, e eu já estava estirada em minha cama, emaranhada em minhas cobertas, queria desaparecer. Toda aquela coisa de Jason Santi ser um assassino estava tomando conta da minha mente mais do que deveria. Não poderia ser, não havia lógica… Não poderia ser.

Quando comecei a sentir minhas pálpebras pesarem, estava prestes a cair no sono, mas fui despertada por batidas brutas e incessantes, vindas da porta da sala.

— Mas que merda! — grunhi.

Caminhei passadamente até à sala, as batidas estavam mais aceleradas. Irritação corria por meus nervos.

— Já estou indo! — gritei — Se quebrar minha porta irá pagar…

Girei a maçaneta com rispidez e instantaneamente senti minha garganta arder.

— Finalmente, hein?! — Jason exclamou, olhando-me com diversão — Mas será que você só tem essa blusa? Que decadência!

Eu bufei. Jason estava com a mesma camiseta vinho que havia pegado de seu guarda-roupa, jeans e botas marrons. Notei que seu ferimento do braço estava envolvido em um curativo mal feito e nojento. Perguntei-me quem teria feito aquilo. Ele mesmo?

Entre… — disse.

Ele semicerrou os olhos, seu cabelo bagunçado, tão brilhante e bem tratado quanto o de Kat, caía sobre os ombros. Não era o tipo de cabelo exatamente liso, formava sutis espirais nas pontas, o que o deixava com um ar americano, embora não fosse.

— Bem, eu não costumo entrar na casa de… estranhos. — ele disse.

Eu rolei os olhos.

— Às vezes você é tão ridículo que consegue me despertar pena.

Ele segurou meu queixo, aproximando seu rosto ao meu, completamente sem expressão, fincando suas órbitas negras em mim, deixando-me assustada e esquisita. Então ele entrou, dando um sorriso fraco.

— Que sofá horrível! — Jason sentou-se, fingindo total incômodo e dificuldade em encontrar uma posição confortável. — Já pensou em trocar de móveis, Clarissa?

— Se você pagar, eu troco sim, é claro. Pague e, da próxima vez, e eu espero que esta não haja, você se acomoda melhor, meu querido.

Ele cruzou suas pernas longas sobre o centro de madeira.

— Não me chame de meu querido, não lhe dei tal intimidade.

Eu o ignorei, indo até a escrivaninha que ficava ao lado do raque. Abri a primeira gaveta e de lá tirei uma chave fedorenta.

— Aqui está sua chave. — disse — Obrigada… pelo… pela hospedagem. A propósito, você está melhor?

— Sim — ele agora parecia desligado — muito melhor. Valeu por se importar.

— Eu não me importo.

Sua expressão transmitiu um espanto que me fez sentir pesar pelo que havia dito. Então o deixei no sofá e fui até meu quarto, pegar sua camiseta. Não havia tido tempo para lavar, e ela estava totalmente impregnada com meu perfume, o que não era tão ruim, porque o de Jason era horrível.

Voltei à sala e percebi que ele estava de pé, observando um retrato pendurado na parede, ao lado da porta. Um retrato meu com Martin.

— Aqui está a sua camisa. — gaguejei — é…

— É seu namorado? Digo, o cara da foto.

Eu prendi a respiração.

— Ele é o meu irmão.

—Ah.

Entreguei-o a camisa, seus olhos estavam daquele mesmo jeito que notei na primeira vez que que o vi, enquanto as portas do elevador cessavam. A mesma sensação de alma invadida, de vulnerabilidade. Seus dedos finos tocaram os meus enquanto ele segurava o tecido preto. Arrepio correu pelo meu corpo, meu sangue era eletricidade. Podia sentir minhas bochechas queimarem, ao mesmo tempo em que me aproximava dele. Estávamos tão perto agora, à uma camisa de distância. Nossas mãos ainda seguravam o tecido. Meu dedo indicador trocando de lugar com o dele, minha unha o arranhando desde o início até a extremidade de seu indicador.

Ele puxou a camisa de minhas mãos, por um momento exitei, pensei em empurrá-lo e sair daquela situação ridícula, mas não o fiz. Clarissa, você precisa parar com essa coisa de se manter insentimentável. Gabriela havia dito-me mais cedo. Era quase involuntário. Eu segurei seus braços por ambas as mãos. Seu olhar passou de ameaçador para aturdido. — Então agora eu estou conseguindo enxergar através de seus olhos, seu imbecil. — sussurrei— só agora pude… — Então eu o beijei. Lento. Alvedrio. Constatando sua correspondência calma. Enroscando minhas mãos em seu cabelo escuro, sentindo as gotas de suor de sua nuca escorrerem por entre minhas unhas, pensando no quão desesperadamente louca eu sou.


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