The Surviver 2 escrita por NDeggau


Capítulo 30
Capítulo 29 — Abraçando


Notas iniciais do capítulo

Nossa senhora aparecida.
Eu já demorei tempo pra postar, mas dessa vez. Foi um record. Um record nada agradável. Se alguém ainda lembrar que eu existo e ler, ficarei extasiada. Mas tá. Está aí. A reta final. Sim, chorem comigo.
Mas espero que gostem (:



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Abraçando

AS MARCAS NO SOLO ARENOSO estavam praticamente apagadas, mas qualquer tolo conseguiria diferir as direções que os dois carros pegaram. Noroeste e Nordeste, rumo a Phoenix e Tucson, respectivamente. Acredito que se espalhar seria a maneira mais fácil de encontrar Jamie, mas os locais de busca pareciam errados. Escalo a parede rochosa até a parte superior da caverna. Ao apoiar a perna em uma saliência, sinto uma pontada aguda nas costelas que me lembra de que eu não deveria fazer isso, já que acabei de, bem, ressuscitar. Mas Jamie precisa de mim, então ignoro qualquer tipo de dor.

(Angels Forever - Lana Del Rey)

O sol não nasceu ainda, mas o reflexo de seus raios sob as nuvens clareiam as areias pálidas, me dando alguma luz para focar os olhos. A brisa gelada do amanhecer salpica a minha pele, obrigando-me a proteger os olhos, e ao baixá-los, algo chama a minha atenção; a frágil cicatriz urbana em meio ao deserto selvagem, a velha e empoeirada Rota 66, tão silenciosa e abandonada quanto qualquer outro lugar que minha vista alcança. Ela não se enquadra em nenhuma das direções das equipes de busca, vista que era ridicularmente ao Norte, praticamente em linha reta de onde estou. Era o lugar mais improvável a se seguir, era onde Jamie estava. Sei como a cabeça dele funciona. Quando ele não quer ser encontrado, ele não é.

Desço do meu ponto de observação e vou a pé mesmo; não há mais carros aqui. Cada passo meu se afunda nas areias ainda frias, meus coturnos se enchem de pedrinhas a cada metro que percorro, e me sinto exausta e faminta. Mas sigo em frente. Não me daria ao luxo de perder Jamie novamente. Esse pega-pega doentio que nos impede de ficarmos juntos está me irritando profundamente. Quase acredito que tem alguém brincando conosco.

Depois do que parecem horas caminhando, consigo ver, ao longe, a autoestrada. Àquela hora já havia alguns carros perdidos passando por lá de tempos em tempos. Percebo, arrependida, que me esqueci de pegar minhas lentes, então teria que lidar com a situação do jeito antigo e um pouco mais agressivo. Espero alguns minutos até avistar um conversível vermelho por trás da névoa do amanhecer, vindo na calmaria do limite de velocidade. Corro para o meio da estrada e balanço as mãos, abaixando o queixo para que minha franja cubra meus olhos. A Alma motorista acelera levemente para me alcançar e para no acostamento. Um homem do meu tamanho, magro e com cabelos castanho-claros desembarca, com uma expressão preocupada e pronto para me ajudar.

—O que aconteceu?

Simulo um choro desesperado.

—Minha gasolina acabou e não sei para onde ir... Me ajude, me ajude, me ajude!

—Não se preocupe. —Ele se aproxima e pega minhas mãos, e tenho que baixar ainda mais o rosto. —Onde está seu carro?

Aponto para o leste.

—Para lá.

A Alma estreita os olhos.

—Perdão?

Desloco-me para trás dele levemente e estendo o braço sob seus ombro.

—Lá, você não o vê?

Ele cai na minha armadilha e praticamente fica de costas para mim. Aproveito meu braço estendido para passar ao redor de seu pescoço e agarrar um punho com o outro, forçando-o a ficar sem ar. O homem se debate, segurando meus braços com dedos firmes, mas ele não é tão forte como eu; anos de calmaria e paz o fizeram molenga.

O estranho demora alguns minutos até ficar inconsciente, e meu braço já está dormente quando ele desmaia. Arrasto-o para dentro do deserto apenas alguns metros, atrás de uma pequena duna, para ficar oculto àqueles que passassem pela estrada.

Embarco no conversível vermelho e baixo o teto. O modelo é meio antigo, mas o motor rosna potentemente quando enfio o pé no acelerador. Cruzo a autoestrada e continuo a seguir para o Norte. Nada de cidades. Por que Jamie, sozinho e apavorado, se enfiaria no meio das Almas? Ele estava triste, não retardado.

Sigo quase vinte quilômetros até avistar, ao longe, meu Troller. Está mal escondido e parado a esmo, como se o motorista tivesse parado de repente e sumido.

Pensamentos horrendos cruzam minha mente, mas me impeço de ficar especulando. A gasolina deve ter acabado e Jamie seguiu a pé. Só pode ter sido isso.

A areia voa a minha volta e o carrinho balança pra caramba pelas dunas. Sinto os pneus de trás patinando e o largo, terminando o caminho que me separava do Troller na maior corrida.

Arranquei a porta do carro, fazendo-a abrir até o limite. Solto um suspiro aliviado quando encontro Jamie estava lá, dormindo sobre o banco inclinado de motorista, olhos fechados e lábios entreabertos. Havia marcas secas de lágrimas partindo dos cantos de seus olhos. Embarco no banco oposto, o de carona, e me inclino para poder beijar sua face. Acaricio seus cabelos e debruço o rosto na curva do seu pescoço, aspirando seu cheiro, sentindo-me em casa. Jamie se remexe, mas não acorda, e sinto que seu corpo já correspondeu ao meu. Sorrio levemente contra sua pele e toco os lábios em seu maxilar, os fios da barba crescendo espetam minha pele. Seguro sua nuca e por fim, afundo meus lábios nos dele, forçando-o a despertar, forçando-o a me corresponder. Jamie acorda de repente, com uma guinada, mas antes de abrir os olhos, suas mãos vagam pelas minhas costas e se firmam sobre os ossos do meu quadril. Passo uma perna de cada lado de sua cintura e me acomodo em seu colo, enfiando os dedos nas mechas de seu cabelo, até ambos estarmos exaustos demais para continuar. Inspiro contra seu rosto até sentir que ele abriu os olhos.

Seus dedos percorrem o contorno do meu rosto.

—Você está viva.

—E você duvidou disso?

Jamie não responde. Meus punhos se chocam levemente contra seu peito e mordo o lábio, baixando os olhos. Por algum motivo, não consigo sustentar seu olhar admirado, como se eu estivesse envergonhada.

—Sabe... —Começo, espalmando a mão sobre sua camiseta. —Jamie, você não pode simplesmente desaparecer só porque pensou... Só porque pensou que havia sofrido mais uma perda...

—Eu sei. —Ele murmurou, e seus olhos abandonam os meus. —A questão é que eu não viveria com isso. Não viveria com a constante lembrança de você naquelas cavernas. Entende? Seria como tortura.

—Eu entendo. —Sussurro. —Mas eu estou aqui agora. —Sua respiração acaricia meu rosto. —Podemos voltar pra casa então, por favor?

Jamie sorri.

—Considera aquilo sua casa?

—Jamais pensei que encontraria um lar nesse mundo, mas, contanto que você esteja comigo... Não quero mais deixá-lo.

—Por quê?

—Por que não tenho escolha.

Toquei meu rosto no de Jamie, sentindo sua respiração tranquila e segura, sabendo que jamais o deixaria sair de dentro dos meus braços, e jurei a mim mesma que meu os dias de aventura insaciável estavam no fim; selei minha promessa quando selamos nossos lábios. O fogo oriundo da explosão devastou todos os lugares a nossa volta, seguindo em raios de quilômetros, aquecendo o coração da terra, prometendo.

Nosso mundo, uma gigante rede de vidas interligadas, que se chocam uma com as outras de maneiras improváveis, transformando-os e moldando-nos, melhorando-nos e piorando-nos, uma catástrofe global incurável. O mundo era nosso. A responsabilidade de tê-lo, também. Ainda existem resquícios de felicidade nesse bárbaro matadouro em tempos modernos conhecido como “humanidade”.

Nós éramos um deles.


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Notas finais do capítulo

Sim, eu sei.
Próximo capítulo daqui a alguns dias sem falta. É o epílogo, i'm sorry. Até lá, um breve adeus.



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