Jocelyn continuou recebendo as cartas misteriosas. Todas eram antigas cartas que Valentine nunca pode realmente entregá-las. Todas sobre como ele a amava e estava disposto a perdoá-la. Palavras nas quais Jocelyn não acreditava mais, não depois de ver quão longe os próprios ideais de Valentine o levaram. Todavia eram palavras fortes, como todas aquelas que vinham dele. A freqüência destas por outro lado diminuira e o interesse de desvendar quem estava por trás disso sumiram quando Clary sumiu. Na verdade, Jocelyn sabia que Clary não havia “sumido”, ela tinha certeza que ela estava tentando fazer e isso a preocupava muito, pois sua filha apesar de toda sua bravura e esperteza não estaria segura nunca ao lado de Jonathan.

O Instituto nunca foi o lugar favorito de Jocelyn. E a cada ida até lá ela sentia-se voltando para tudo àquilo que lutou para se ver longe. Agora suas idas não eram uma questão de escolha. A esperança que Clary voltasse ou que a Clave decidisse realmente agir a faziam ir lá algumas poucas vezes. Porém hoje não foi possível completar a trajetória até ele, Lucian teve de estacionar o carro em um acostamento porque a ruiva ameaçou vomitar no carro. Foi o carro parar para ela sair correndo e vomitar a pouca comida que conseguiu engolir em dias. Lucian primeiramente já estava desconfiado que fosse o estresse, mas agora tudo isso com Jocelyn passando mal e indisposta o tempo todo tinha se intensificado. Ele estava cada vez mais preocupado e Jocelyn se negava ir a um médico ou algo do tipo. Irritado e consternado por não ter ou saber o que fazer em relação a isso ele falou:

“Jocelyn nós iremos naquela sua amiga Lauren agora e você não pode fazer nada que me faça mudar de idéia.”

“Mas Luke, nós temos que...”

“Não Jocelyn. Nada de Instituto por hoje, precisamos saber o que está acontecendo com você logo. Isso não pode continuar assim e Lauren além de trabalhar em um hospital mundano também é sua amiga feiticeira, nada com que você deva se importar.”

Jocelyn pensou em hesitar, ainda assim sabia pelo que via na figura me sua frente que seria inútil. Então com um “Okay” entrou no carro e eles foram atrás de Lauren. Foi uma questão de minutos até eles chegarem lá e uma fração de segundos para a híbrida recebê-los em seu escritório. Ela estava muito bonita como sempre, notou Jocelyn, seus cabelos albinos e orelhas pontudas de fada em contrapartida com seus traços místicos de bruxa. Sua pele dourada disfarçada por algum tipo de magia quase imperceptível aos olhos dela. O jaleco branco com alguns bordados que a faziam parecer não menos profissional que qualquer médico mundano daqui.

“Acompanhem-me”

Ela adicionou assim que os abraçou, poupou ouvir qualquer motivo para estarem aqui em sua procura. Ambos a seguiram por um corredor cheio de médicos e enfermeiros passavam correndo, até dobrarem em um beco um pouco menos iluminado e finalmente chegarem a uma sala que, sem dúvidas pelo forte encantamento e ferramentas de bruxaria, era a sala que Lauren consultava seus pacientes “especiais”. Lauren pediu para que eles se sentassem enquanto a mesma se dirigia para sentar em sua cadeira. Descansando as mãos sobre a mesa de madeira polida ela sorriu e perguntou se poderia ajudá-los. Luke lhe falou que estavam aqui tão somente para uma consulta, Jocelyn apenas o fitou enquanto ele falava – detalhes que ela pensou que tinha escondido muito bem, depois que terminou de falar ela esperou, pois não havia sobrado nada para ela acrescentar. Primeiramente um silêncio questionador e então a feiticeira fechou os olhos. Jocelyn já tinha tido a oportunidade de ver Lauren fazer isso antes, e agora não parecia muito mais como se ela estivesse tentando ver através dos olhos, através do corpo da ruiva. Em sequência, após depois de alguns segundos abrir os olhos, ela olhou para Jocelyn que estava um pouco entediada até. Olhos dourados como o sol em olhos verdes.

“Lucian, você poderia, por favor, esperar do lado de fora?” perguntou Lauren sem tirar os olhos de Jocelyn

Luke hesitou e então olhou para Jocelyn para que ela intercedesse, ela não o fez

“Você sabe que tudo isso é alguma gripe tola. Faça o que Lauren pede.” Ela disse

“Mas, eu...” ele começou e então se rendeu em frustração “Ok.” E com um movimento rápido saiu da sala, fechando a porta de metal atrás dele.

“Me desculpe, mas eu pedi que ele saísse porque acho que você não queria ser pega de surpresa ao mesmo tempo que ele.”

Ela se levantou e caminhou ate a extremidade direita da pequena sala, acenando para que Jocelyn se sentasse numa mesa. Obediente a shadowhunter o fez sem um piu.

“Eu soube sobre tudo que você tem passado. O casamento, a clave, seus filhos...”

“Minha filha.” Jocelyn falou secamente limpando a garganta

“Nós duas sabemos que é mais que isso. Você está tão preocupada em não se importar que não percebeu ainda que é exatamente isso que está fazendo. Você não é tão fria quanto gostaria de ser, só gosta parecer assim amiga.” Lauren fez uma pausa no final, vendo a face de mármore de Jocelyn em carranca “Mas, ok. Mas como eu ia falando... nada disso que você está sentindo é um espécie de doença pós-traumática ou uma gripe nephilim.”

Outra pausa o que fez Jocelyn se irritar, ela não podia perder tanto tempo assim aqui

“Lauren, pelo anjo, apenas diga logo, ok?”

“Lyn, como você sabe a lincantropia não impede, bem, que os doentes com a doença demoníaca tenham... descendentes. E você, apesar de não tão jovem ainda está sujeita a algumas possibilidades.” Jocelyn parecia confusa ainda “O que eu quero dizer é que, apesar de um pouco improvável e eu só ter ouvido falar disso em livros antigos, desde o momento em que você entrou pela sala pude sentir.” A híbrida colocou a mão gélida na barriga de sua amiga “Não existe muita coisa impossível no nosso mundo, Jocelyn, você sabe bem disso. O impossível torna-se um nada diante de tantas impossibilidades possíveis. Uma delas é isso: Você está grávida Jocelyn Fairchild.”

Como dizer isso a Luke?

Questionava-se Jocelyn assim que saiu da sala de Lauren. Ele estava no fim do corredor perto de uma máquina de café. As palavras e tudo depois que Lauren disse que Jocelyn estava grávida pareciam estar mergulhadas centenas de milhões de profundidade na água. Nada era claro. Ela se lembra dela falando ser uma gravidez de risco, que Jocelyn teria que tomar cuidado. Dois meses de gestação! E Jocelyn sequer havia imaginado isso, não havia considerado essa idéia sob hipótese alguma e aqui estava ela. Seus braços pendendo moles ao lado do corpo, fraca demais e surpresa demais para admitir. Ela se abraçou e caminhou até ele lentamente. Enfrentar demônios as vezes era mais fácil do que ter de lidar com seus próprios demônios internos. Eles eram muito mais fortes e muito mais difíceis de matar. E Jocelyn temia isso, ela temia por este bebe tão pequeno e frágil dentro dela.