Pra Sonhar escrita por KatherineKissMe


Capítulo 11
Capítulo 11




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Bia – 2 anos e 2 meses

Tudo aconteceu muito depressa. Fatinha foi se virar para descer e pisou em falso. Sem ter onde apoiar, ela sentiu o corpo cair em direção aos degraus.

–Essa escada deve ser amaldiçoada. –Ela pensou já se preparando para a dor.

No último instante, Fatinha sentiu um baque.

Bruno a segurava pela cintura.

–Você está bem? –Ele perguntou preocupado.

A garota não conseguia firmar as pernas, e o moreno percebendo isso a sentou em um dos degraus.

–Ei, olha pra mim. –Bruno pediu.

Fatinha estava com o olhar assustado e perdido. Ele segurou no rosto dela, obrigando-a a olhar para ele.

–Você não se machucou. –Ele afirmou para acalmá-la. –Foi só um desequilíbrio, mas está tudo bem. Você está bem.

Os olhos da garota se encheram de lágrimas, cegando o seu desespero. A cena da quase queda de hoje se misturava com a cena do acidente na escada. Ela conseguia sentir a dor da cabeça batendo contra o degrau e do sentimento de horror perante a possibilidade de perder a criança que carregava.

Ela estava em estado de choque.

Naquele instante ela não sabia diferenciar o presente do passado.

–Fatinha, olha pra mim. –Bruno insistia, encarando os olhos desfocados dela. –Está tudo bem.

Ele a abraçou, mas ela não retribuiu. Ela continuou estática.

–Minha loira? –Ele tentou mais uma vez entrando em desespero.

–M-meu. –Fatinha começou a balbuciar algumas palavras.

Em um gesto de proteção ela abraçou a própria barriga. O movimento não passou despercebido por Bruno.

Por um instante ele pensou que ela estivesse grávida. Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, vozes se propagaram pela escada.

–Qual dos vestidos você gostou mais? –Uma voz conhecida perguntava.

–Da onça. –Uma criança respondeu.

–Pelo visto você puxou mais a sua mãe do que nós imaginávamos. –A mulher comentou rindo.

–É a Bia. –Bruno sussurrou assustado. –Ela não pode te ver assim.

Dizer o nome da filha acendeu algo em Fatinha.

–Bia. –Ela disse.

Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, o moreno a pegou no colo, carregando-a pelo lance de escadas que faltava.

A porta do 801 foi aberta sem cerimônias. Bruno colocou Fatinha na cama e voltou para a sala. Antes que a campainha fosse tocada, a porta já tinha sido aberta.

–Oi papai. –Bia disse pulando no colo do moreno.

–Uau, você foi rápido. –Ju comentou surpresa.

–Vocês já tomaram sorvete? Que tal as duas irem à sorveteria? –O moreno sugeriu de pressa.

–Nós tomamos um açaí mais cedo. –A it-girl respondeu.

–Açaí não é sorvete, vão lá. –Bruno insistiu lançando um olhar significativo pra irmã.

–Ok. –Ela concordou curiosa.

–Eba! –Bia gritou se jogando no colo da madrinha.

–Então vamos pra sorveteria. –Ju disse indo até as escadas.

–Ah Ju, me faz um favor? A Fatinha esqueceu a bolsa dela na praça, pega pra mim? –Ele pediu.

–Claro. –A it-girl estava cada vez mais curiosa.

Quando as duas desapareceram na escada, Bruno suspirou aliviado. Ele fechou a porta e voltou para o quarto, onde encontrou uma Fatinha mais lúcida.

–Você está bem? –Ele perguntou.

–Estou. –Ela respondeu. –Não sei o que deu em mim.

–A Bia foi à sorveteria com a Ju. –Ele contou.

–Certo.

E de repente, o silêncio reinou. Fatinha não conseguia parar de pensar em tudo o que havia acontecido depois do acidente. A perda da memória, a briga com o pai, o relacionamento com Bruno, as novas amizades, o dia em que Bia mexeu pela primeira vez. Tudo.

–Aonde foi que tudo começou a desandar? –Ela perguntou. –Nós estávamos tão bem, aí puft! Do comercial de margarina fomos pra um daqueles programas de baixa qualidade.

–O que você quer dizer com isso? –Bruno perguntou preocupado.

–Embora você pareça decidido a ignorar, eu não consigo. Eu não sou assim, Bruno. –Ela disse com um sorriso triste.

O moreno continuou calado, sem saber o que dizer.

–Eu esperava mais de você. –Fatinha disse num suspiro. –Eu esperava que no mínimo você me respeitasse. Admito que também esperava um amor incondicional, mas não todo esse descaso.

–Fatinha. –Ele tentou dizer, mas foi impedido.

–Eu não quero ouvir suas desculpas. É tarde demais pra isso. –Ela disse se controlando para não derramar as lágrimas que inundavam os seus olhos. –Acabou, não é?

–Não Fatinha, não diga isso. –Bruno pediu desesperado. –Eu sei que te devo muitas explicações, e no momento certo eu garanto que você vai entender!

–No momento certo? –Ela riu em deboche. –Eu já cansei de esperar, Bruno. Não faça um estrago maior do que você já fez.

–Mas, –Ele tentou discordar.

–Mas nada! Não quero falsas justificativas, Bruno. –Ela gritou. –Eu quero a verdade! Por tudo o que nós já tivemos, me diga a verdade.

O homem olhava para baixo tentando encontrar a melhor maneira de se explicar. Fatinha não entenderia a menos que visse o que ele estava fazendo.

–Deixa eu te ajudar. –Ela disse com a voz fria. –Quem é Helen?

–Helen é uma das arquitetas da empresa.

–Isso você já disse tantas vezes, que eu já nem duvido mais. –Fatinha suspirou. –E quando foi que vocês começaram a sair?

A vontade que a loira sentia era de gritar. Apesar de manter a postura, tudo o que ela queria era chorar.

Ela estava quebrada por dentro.

–Eu e a Helen estamos trabalhando juntos em um projeto importante. –Ele disse.

–Não foi isso que eu perguntei. –Ela disse tomando fôlego. –Quando foi que você começou a me trair?

–Nunca! –Bruno disse de imediato. –Eu nunca te traí, minha loira. Por favor, acredite em mim.

–Não Bruno! Engole esse “minha loira” e seja honesto. Diga-me a verdade. –Ela implorou sentindo as lágrimas molharem o rosto. –Não destrua tudo assim.

–Fatinha, eu juro pra você que amanhã você vai entender tudo. –Ele pediu desesperado.

–Amanhã já é tarde demais. Acabou. –Ela disse num suspiro cansado. –Fique com a Helen, com a Vanessa, com a Raissa, com quem você quiser. Eu só lhe dou um aviso, a minha filha fica comigo.

Dito isso, Fatinha se trancou no banheiro e deu vazão a toda a sua dor. Ela chorou copiosamente, tentando abafar os soluços com a água que caia do chuveiro.

Alguns minutos depois ela deixou o banheiro, indo até o quarto para vestir roupa. Felizmente – ou infelizmente – Bruno não estava em casa. Fatinha tentou não pensar nisso e focou na procura pelo seu moletom favorito.

Antes mesmo que a loira tivesse que se preocupar com o que faria a seguir, o telefone tocou. O nome que aparecia na tela era o da sua cunhada. Ex-cunhada.

–Oi Fat! Já peguei a sua bolsa. –Ju avisou. –O professor gato ainda estava lá e eu aproveitei para tirar umas duvidas sobre o esporte.

Fatinha até tentou forçar uma risada, mas a amiga percebeu que algo não estava bem.

O que aconteceu?

–Acho que eu preciso de uma panela de brigadeiro. –A loira disse voltando a chorar.

–Certo. Eu vou deixar a Bia com a Marcela, pego a Lia e em menos de dez minutos chego aí. –Ju disse obviamente preocupada.

–Estou esperando.

Fatinha desligou o telefone e foi até a cozinha fazer uma panelada de brigadeiro. Ela também deu uma checada no freezer para confirmar se o pote de sorvete ainda estava por lá.

Em menos de dez minutos, Ju chegou com Lia.

–O que está acontecendo? –A it-girl perguntou preocupada entrando no apartamento.

–Espera. –Fatinha pediu. –Antes que eu conte e comece a chorar, como está a minha filha? A Marcela pôde ficar com ela?

–A Bia está ótima. A Marcela adorou a surpresa e as duas ficaram lá brincando de bambolê. –Ju respondeu.

–O Gil estava brincando também, por sinal. –Lia tentou arrancar um sorriso da amiga, mas não deu certo.

–Agora me diz por que você está usando esse moletom velho e comendo brigadeiro sozinha?

–Porque eu sou a maior corna do Rio de Janeiro. –Fatinha disse se jogando no sofá. –Do estado do Rio e não da cidade.

–O Bruno...? –A jornalista não conseguiu concluir a frase.

–O Bruno estava me traindo com uma tal Helen. –A loira completou a frase enfiando uma colherada de brigadeiro na boca.

Lia suspirou e foi até a cozinha pegar duas colheres.

–Impossível! –Ju disse descrente. –O meu irmão é louco por você.

–Agora ele é louco por essa Helen também. –Fatinha disse rancorosa.

–Isso só pode ser um mal entendido. –A estudante de moda disse.

–Surreal. –Lia disse voltando com as colheres. –Mas como você descobriu isso? Você viu ele com outra?

–Não precisei chegar a esse ponto. Eu já estava desconfiada faz tempo, mas só agora consegui confrontá-lo.

–E o que o Bruno disse? –Ju perguntou comendo o brigadeiro.

–Ele disse que nunca tinha me traído e blá blá. Tão clichê. Depois veio dizendo que não podia explicar agora. –Fatinha contou. –Ele só está querendo tempo pra pensar em uma desculpa melhor.

–Como assim, você já vinha desconfiando? –Lia perguntou.

A loira começou a relatar todas as evidencias dos últimos meses. Ela também contou detalhes da briga que havia tido com Bruno.

–Agora eu entendo porque ele estava tão nervoso. –A it-girl comentou.

–É verdade, nós o vimos saindo do prédio com o tio Olavo. Eles conversavam seriamente sobre alguma coisa. –A amiga contou.

–Não quero saber do Bruno. Tudo o que eu quero agora é comer esse brigadeiro. –Fatinha cortou o assunto.

Ju e Lia apenas concordaram.

Algumas horas depois, Fatinha cansou da autopiedade e decidiu que não tinha tempo pra ficar choramingando.

–Vocês não vão perder o sábado à noite aqui comigo. –A loira disse. –Eu vou lavar o rosto, vestir uma roupa decente e vou até a casa da Marcela buscar a Bia.

–Tem certeza? Eu não me importo de ficar aqui. –Ju disse.

–Mas eu me importo. Um tempo com a minha filhota é tudo o que eu preciso agora.

–Se você diz.

Fatinha rapidamente se aprontou. Ela estava determinada a não ficar na fossa.

Por fim, Ju e Lia foram com ela até a casa de Marcela.

–Mamãe! –Bia gritou quando viu Fatinha. –Ó o meu vestido de onça.

A menina desfilou pela sala, exibindo o presente da madrinha.

–Ela que escolheu. –Ju contou rindo.

–Você está linda, princesa! –A loira disse enchendo a filha de beijos.

–Fatinha, você precisa deixar a Bia comigo mais vezes. Nós nos divertimos muito. –Marcela disse.

–Olha que eu não vou esquecer esse pedido, hein?! –A loira riu. –Então Bia, vamos pra casa?

–Nem pensar! –A professora de educação física impediu. –Hoje eu vou fazer um yakissoba e vocês vão jantar comigo.

–Delícia! Eu vou chamar o Vitor. –Lia disse saindo da sala.

–Ah Fatinha, chama o Bruno também. –Marcela disse.

–Ele está resolvendo umas coisas com o meu pai e deve jantar lá em casa mesmo, Marcela. –Ju disse rapidamente.

–Ok. –Ela deu os ombros. –Vocês preferem yakissoba de frango, boi ou legumes?

Cada um deu o seu palpite e por fim a mulher decidiu fazer um pouco de cada.

Lia e Gil resolveram aproveitar o momento para ensinar Bia a tocar violão. Felizmente a roqueira guardava o seu violão de infância.

Logo Lorenzo chegou com Tatá, e pouco depois Vitor. A festa estava completa.

Fatinha, Ju, Vitor e Tatá conversavam. Lorenzo ajudava Marcela. E Lia e Gil ensinavam Bia a tocar.

–O jantar está servido. –A professora anunciou.

–Eba! –Bia largou o violão e correu para a mesa.

–Essa menina é tão esfomeada quanto a Lia. –Lorenzo comentou, fazendo todos rirem.

Depois do jantar, foi a vez de lavar os pratos. Marcela até tentou impedir, mas Fatinha e Ju foram bem insistentes e tomaram conta da cozinha.

Lia e Gil até tentaram insistir com as aulas, mas Bia estava mais interessada em usar a Tatá como cobaia em seu salão de beleza. Não que a garota se importasse.

Pouco antes das dez, Fatinha decidiu que era hora de ir pra casa. Beatriz já estava dormindo no colo do tio Vitor há tempos.

A loira se despediu de todos, agradeceu pela noite e carregou a filha adormecida no colo.

Quando ela chegou ao apartamento 801, encontrou Bruno sentado no sofá.

–Onde vocês estavam? –Ele perguntou preocupado.

Fatinha apenas lançou um olhar furioso para ele, que se calou. Ele apenas observou, enquanto a loira colocava o pijama na filha, para depois deitá-la no berço.

–Você vai dormir na sala. –Ela disse simplesmente.

Bruno seguiu a namorada até o quarto deles.

–Você não vai me dizer onde estava? –Ele insistiu.

–Eu estava na casa da Marcela, não que isso seja da sua conta. –Ela disse entregando a ele o travesseiro e um cobertor.

–Fatinha, não faz isso com a gente. –Ele implorou.

–Não venha colocar a culpa em mim, Bruno. Quem fudeu com o nosso relacionamento foi você. –Ela disse tentando controlar o tom de voz.

–Minha loira. –Ele tentou falar.

–Comece a procurar um lugar pra você morar. –Ela disse fechando a porta na cara dele.

Bruno controlou a vontade de gritar que sentia, e se pôs a arrumar o sofá.

O sono não queria vir. Enquanto um se revirava no sofá, a outra se remexia na cama de casal.

Algum tempo depois, a contagem de carneirinhos de Fatinha foi interrompida. Beatriz chorava desesperadamente.

A loira saiu correndo do quarto, para encontrar Bruno consolando a pequena.

–O que aconteceu? –Ela perguntou preocupada.

–Sonho feio. –Bia disse soluçando, escondendo o rosto no pescoço do pai.

–Foi só um sonho. –Bruno dizia tentando acamá-la.

–Está tudo bem, nós estamos aqui com você. –Fatinha disse fazendo carinho na filha.

–Pode dormir com vocês? –Beatriz pediu em meio aos soluços.

–Claro que pode, vem aqui com a mamãe. –A loira pegou a filha no colo, levando-a até o seu quarto. –Você quer me contar o que aconteceu no seu sonho?

–Cadê o papai? –Ela perguntou voltando a chorar.

Bruno apareceu na porta, com o seu travesseiro debaixo do braço.

–Eu estou aqui, princesa. –Ele disse sentando do lado dela. –Com o que você sonhou?

Bia olhou para os pais, Fatinha de um lado e Bruno de outro, para garantir que eles estavam ali com ela.

–Eu não tinha papai e mamãe no sonho. –Ela contou voltando a chorar.

–Ei, calma. Nós estamos aqui com você. –O moreno afirmou abraçando a filha e Fatinha também.

Naquele momento, a loira não se importou e retribuiu o abraço. Tudo o que importava era Beatriz.

CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

É galera, será que é o fim?

COMENTEM!

Ps: Beijo MarLili dia 5! Quem, além de mim, está fazendo a dancinha da vitória?



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