Pra Sonhar escrita por KatherineKissMe


Capítulo 10
Capítulo 10




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/418169/chapter/10

Bia – 2 anos e 2 meses

Bruno chegou em casa meia hora depois. Bia já estava dormindo e Fatinha estava deitada. Quando ela ouviu a porta da casa abrir, apagou a luz do abajur, virou de lado e fingiu dormir.

A loira tentava controlar a raiva que sentia, mas tudo o que ela conseguia pensar era no quanto o Bruno estava trabalhando. Ele chegava em casa tarde quase todos os dias.

Fazia três meses que isso estava acontecendo.

–Fatinha? –Bruno chamou por ela, abrindo a porta do quarto.

Ela ficou calada, sem se mover. Quando a porta fechou, ela finalmente relaxou.

Bruno sabia que ela não estava dormindo, mas estava cansado demais para brigar. Ele se sentou no sofá, abrindo o notebook para trabalhar.

Você está encrencado maninho. –As palavras de Ju martelavam na cabeça dele.

Quando Bruno começou a ficar mais tempo fora de casa, Fatinha compreendeu e o apoiou. Além do trabalho, a criação da horta comunitária estava exigindo muito dele. Olavo ajudou com a parte legal, Nélio fez um trabalho incrível de divulgação e ficou por conta de Rasta e Bruno boa parte do serviço pesado.

Fatinha e Rita também ajudaram, mas não tanto quanto os rapazes. A loira, além da faculdade e do emprego no Hostel, tinha uma filha de dois anos que precisava de atenção. Já Rita passou uma curta temporada na Suécia com os pais, levando Fera de acompanhante.

Quando a horta pode enfim ser inaugurada – graças ao multirão –, Fatinha pensou que seria o fim das longas jornadas de trabalho do moreno.

Mera ilusão.

Bruno aparentemente tinha outra obrigação que tomava boa parte da sua noite.

A loira começou a ficar desconfiada, mas não tinha indícios além das horas extras do rapaz. Até Helen entrar na história.

Fatinha só soube da existência dessa mulher, quando recebeu uma ligação da mesma.

O Bruno está? –A mulher perguntou educadamente.

–Ele ainda não chegou do trabalho, é só com ele mesmo?–Fatinha perguntou.

–É um assunto pessoal, peça ele para me ligar o mais rápido possível.

–E qual o seu nome?

Helen.

–Só Helen? –A loira tentou descobrir mais.

Só Helen. –A mulher disse para depois desligar.

Naquele dia, Fatinha esperou por Bruno impacientemente. Depois de longos trinta minutos, ele chegou.

–Uma tal Helen ligou e pediu que você retornasse o mais rápido possível. –Fatinha contou observando atentamente o namorado.

Bruno estava obviamente surpreso e um tanto quanto nervoso.

–Quem é Helen? –A loira perguntou.

–Uma colega de trabalho. –Ele respondeu passando a mão pelo cabelo. –Eu vou retornar a ligação.

A única coisa que Fatinha pode ouvir da conversa, foi Bruno repreendendo a mulher.

–Nunca mais ligue para a minha casa. –Ele disse ao telefone.

Desde então, Fatinha ficou com a pulga atrás da orelha. Porém, toda vez que ela queria saber mais sobre a tal Helen, Bruno desviava o assunto, dizendo que ela era apenas mais uma colega de trabalho.

Naquela sexta-feira, Fatinha foi dormir segurando as lágrimas e tentando controlar a vontade de gritar. Ela não viu a hora que o namorado deitou, já que como sempre ele estava “trabalhando”.

Ao menos dessa vez ele estava em casa.

No outro dia a loira levantou cedo e decidiu dar um passeio com a filha. Bia foi vestida com o seu biquíni de borboletas, um chapéu e coberta de protetor solar. As duas estavam a caminho da praia.

Te encontramos no Misturama para almoçarmos. Fat. –Era tudo o que dizia no bilhete deixado pela moça.

Assim que Bruno leu, ele soube que a namorada o estava evitando. Ele simplesmente não sabia o que fazer. Contar o que estava acontecendo não era uma opção no momento.

–Um, dois, três e PULA! –Fatinha contava o tempo para que ela e Bia pulassem a onda.

A menina estava se divertindo muito e a mãe aproveitava para relaxar.

–Vamos tomar uma água de coco agora, meu amor? –Fatinha sugeriu.

Vamo, mas eu quero fazer um castelinho. –Ela disse.

A loira comprou a água de coco e se sentou junto à filha na beira do mar.

–Eu quero um castelo igual ao da Cinderela mamãe. –Bia disse.

Fatinha ajudou a filha a construir o castelo de areia dos sonhos. Não que ela tivesse muita habilidade, mas boa vontade tinha de sobra.

Quando o sol começou a ficar forte demais, Fatinha decidiu que já era hora de irem embora. Foi só então que ela viu as três chamadas perdidas de Bruno. Além das mensagens. Ele já estava no Misturama.

–Bia, papai está nos esperando para o almoço. Vamos?

–Almoço com o papai. –A menina concordou cantarolando.

As duas foram até a ducha para se limparem e depois até o carro.

Quando elas chegaram ao Misturama, Bia correu até Bruno.

–Papai, papai! –Ela disse.

Bruno pegou a filha no colo enchendo-a de beijos.

–Quer dizer que as duas mocinhas estavam na praia e não me convidaram?

–Eu ia te chamar, você estava roncando muuuuuuito. –Bia explicou.

–Já almoçou? –Fatinha perguntou se pronunciando pela primeira vez.

–Não, estava esperando vocês. –Ele respondeu.

–Família feliz, qual vai ser o pedido? –Nando perguntou.

–Batata! –Bia pediu.

Eles riram. Fatinha disse a Nando que poderia trazer as batatas, mas acompanhadas de arroz, feijão, uma carne e verduras.

–Trás suco de maracujá, tio Nando? –A menina pediu.

–Por...? –Bruno a incentivou.

–Por favor. –Bia disse dando o seu melhor sorriso.

–Pra você tudo, minha princesa. –Nando concordou feliz.

Quando o roqueiro voltou com os sucos, Bruno iniciou a conversa.

–Como estava na praia?

–Muuuuito legal. –Bia respondeu exagerando no “muito”. –Eu e a mamãe fez um castelo de areia igual ao da Cinderela.

–Eu e a mamãe fizemos. –Fatinha a corrigiu, tomando o suco.

–Fizemos. –Ela repetiu a palavra com um pouco de dificuldade. –A gente pulou ondonas também.

–Pelo visto eu perdi uma manhã excelente. –Bruno disse para a namorada.

–A praia vai continuar no mesmo lugar. –A loira fez pouco caso, atenta ao suco que tomava.

Bruno não teve tempo de comentar a evasiva da namorada, pois a filha logo exigiu a sua atenção. A menina contava com os mínimos detalhes do enorme castelo que ela havia construído.

A comida não tardou a chegar e logo já estavam todos almoçados. Eles ficaram ali por mais um tempo conversando.

Quando eles chegaram em casa, Bia foi para o banho. Depois de limpa a pequena dormiu no quarto dos pais enquanto assistia o desenho dos Backyardigans.

–Fatinha? –Bruno chamou a namorada que estava na lavanderia.

–Oi. –Ela respondeu concentrada em tirar o excesso de areia das roupas.

–Você podia ter me chamado para ir à praia com vocês. –Ele disse.

–Podia ter chamado sim. Mas você tem trabalhado tanto, que fiquei com pena de te chamar. –Ela respondeu em tom de deboche.

A garota saiu da lavanderia, mas Bruno a impediu de chegar ao seu destino.

–Nós precisamos conversar. –Ele disse segurando o braço dela.

–Nós já não estamos conversando? –Ela respondeu com um sorriso cínico.

–Você sabe do que eu estou falando. Por que você está agindo assim?

–Agindo como?

–Você está me evitando, mal conversa comigo e quando conversa é debochada.

–Por que será? –Ela perguntou irônica. –Não quero conversar com você agora. Vou tomar banho.

Fatinha se soltou e foi para o banheiro controlando a vontade de chorar que sentia.

–Porra! –Bruno esbravejou quando a porta fechou.

Depois que a loira se banhou, ela se trancou no quarto com a filha.

O telefone de Bruno tocou e pouco depois Fatinha ouviu a porta da casa ser fechada. Ele havia saído, deixando um bilhete dizendo que foi resolver um problema no escritório.

–Aposto que esse problema tem o nome de Helen. –Ela murmurou amargurada.

Duas horas depois Ju apareceu para buscar Bia. As duas tinham combinado um passeio no shopping.

–Tem certeza que não quer ir conosco? –Ju perguntou pela segunda vez.

–Tenho. Tenho andado um pouco irritada, estou precisando relaxar.

–Que eu saiba, fazer compras é maior terapia que existe. –A it-girl disse fazendo biquinho. –Não é, Bia?

–É! –A menina concordou, sem entender o que a madrinha havia dito.

–A terapia que eu preciso tem que ser um pouco mais agressiva. Acho que vou participar das aulas de muay-thai que estão tendo na praça. –Ela disse.

–Nossa, daquelas aulas até eu quero participar. –Ju se abanou. –O professor é um gato!

–E você acha que eu não sei disso?! –A ex-piriguete disse com um sorriso malicioso. –Além de aliviar minhas tensões, o professor vai limpar as minhas vistas com tanta beleza.

–E aonde entra o meu irmão nessa equação?

–Seu irmão não entra e ponto. –Fatinha disse irritada. –Foda-se o Bruno!

–O que é fo-fodas? –Bia perguntou tendo dificuldades para pronunciar a palavra nova.

Ju olhou para a cunhada como se dissesse: “Você que fez a merda, agora conserte”.

–A palavra que a mamãe falou é muito feia e você não pode repeti-la. –Fatinha disse se abaixando até ficar da altura da filha. –Eu estava nervosa e não deveria ter dito o que eu disse, entende?

A menina concordou balançando a cabeça.

–Então vamos para o shopping, Bia? –Ju disse mudando de assunto.

Vamo!!! –A menina gritou feliz.

As duas se despediram de Fatinha e foram correndo até o elevador.

–Oh Deus, parece que a minha filha não vai puxar nada do meu lado piriguete. –A loira suspirou.

Depois de fechar a porta, Fatinha telefonou para a portaria para conversar com Severino. O porteiro passou todas as informações necessárias sobre as aulas que eram dadas na praça.

Devidamente trajada, a garota desceu vinte minutos antes do horário das aulas. O professor já estava lá arrumando todos os equipamentos necessários.

–Boa tarde. –Fatinha cumprimentou chamando a atenção dele.

–Boa tarde. –O homem respondeu com um sorriso torto. –Veio pelas aulas de muay-thai?

A garota precisou respirar fundo para recobrar a concentração. O professor era muito mais bonito de perto.

Dono de uma pele clara – levemente bronzeada –, cabelos loiros bagunçados, início de barba por fazer e incríveis olhos azuis, o professor era de tirar o fôlego.

–Sim. –Ela respondeu finalmente. –Quero fazer uma aula experimental.

–Já praticou algum tipo de luta? –Ele perguntou.

–Se você contar as brigas com irmãos, primos e vadias, pode-se dizer que sim.

O sorriso do professor se transformou em uma gargalhada.

–Meu nome é Lucas. –Ele se apresentou estendendo a mão.

–Maria de Fátima, mas pode me chamar de Fatinha. –Ela respondeu colocando a mão na dele.

–Fatinha, seja bem vinda.

Logo os outros alunos chegaram e Lucas deu início à aula. A maior parte dos alunos era do sexo masculino, mas tinha algumas garotas também.

Como era o primeiro dia de Fatinha e ela não tinha experiência com o esporte, o mestre a ajudou e recomendou que ela não tentasse acompanhar o ritmo dos outros alunos.

Depois de uma hora e meia de exercícios extenuantes, o professor liberou os alunos. A loira se sentou exausta em um dos bancos da praça.

–O que achou da aula, Fatinha? –Lucas perguntou recolhendo os seus materiais.

–Adorei. Se eu soubesse que a aula era tão boa assim, já teria vindo há meses. –Ela respondeu sorridente. –Pena que o meu equilíbrio não é dos melhores. Todas as vezes que eu tentei fazer o chute circular, quase caí no chão.

–Mas isso é questão de prática. Com o treino o seu equilíbrio melhorará. –Ele disse. –Vou te ajudar com o chute circular.

Fatinha se levantou para melhor observar o mestre. Lucas demonstrou o chute em uma velocidade menor, para que ela pudesse ver os detalhes.

–Agora tente.

A loira respirou fundo e tentou imitar o chute do professor.

–Você precisa melhorar a angulação do chute. –Ele disse se posicionando ao lado da aluna para ajudá-la.

Bruno estava irritado. O moreno passara a tarde toda em um impasse com Helen. Isso sem mencionar o fato de que Fatinha estava brava com ele. Àquela altura, o rapaz já pensava em contar toda a verdade para a namorada e terminar de vez com a confusão.

–Que porra é essa? –Ele exclamou não acreditando no que via.

Na pracinha em frente ao seu prédio, Fatinha estava com outro homem. Vale salientar que o rapaz a segurava pela cintura com uma mão e com a outra segurava a perna dela.

Bruno não conseguiu controlar a fúria. Ele caminhou em direção aos dois com as mãos fechadas em punho, pronto para dar um soco no otário que ousava encostar em sua mulher.

–Estou atrapalhando alguma coisa? –Ele perguntou, se controlando.

A chegada repentina do moreno, fez com que Fatinha perdesse o equilíbrio, mas felizmente Lucas a amparou.

–Oi Bruno. –A loira disse calmamente se separando do mestre, mas não muito. –Esse é o Lucas, ele está dando aula de muay-thai pra mim. Lucas, esse é o Bruno.

–Namorado dela. –O moreno acrescentou apertando a mão do rival com mais força que o necessário.

–Prazer. –O professor disse.

–Bruno, você pode ir pra casa, daqui a pouco eu chego lá. –Fatinha dispensou o namorado. –Vamos continuar de onde nós paramos, Lucas?

–Eu vou te esperar. –Bruno disse, se recusando a deixá-la à sós com o outro homem.

–Fatinha, que tal na próxima aula nós continuarmos? Você já se exercitou muito por hoje, vai ficar dolorida amanhã. –Lucas disse por fim.

O professor não estava procurando briga com namorado de aluna. Apesar de praticar a luta tailandesa, o rapaz era contra demonstrações gratuitas de violência.

–Tudo bem então. –Fatinha concordou decepcionada. –Até a próxima aula.

–Até.

Fatinha saiu andando e foi seguida pelo namorado.

–E aí Fatinha, como foi a aula? –Severino perguntou quando eles entraram no prédio.

–Excelente Sevê! O professor é espetacular. –Ela respondeu sorridente.

–Fico feliz. –O porteiro disse. –Ah, o técnico está fazendo a manutenção do elevador. Vocês vão ter que usar a escada.

–Tudo bem. –Ela disse.

Os dois foram para as escadas e comaçaram a subida.

–O professor é espetacular. –Bruno debochou quando eles chegaram no primeiro andar.

–E ele é mesmo, a aula foi muito boa. –A loira disse continuando a subida.

–Você faz isso pra me provocar, só pode.

–Eu faço aula de muay-thai só pra te provocar? –Ela riu. –Deve ser pra isso mesmo.

–Aula particular, né?! Pensa que eu não reparei que você era a única aluna?

–Eu era a única aluna porque os outros já tinham ido embora. O Lucas estava só me dando umas dicas. –Ela respondeu. –E você, pensa que eu não vi de onde você veio? Achei que estivesse resolvendo uma coisa no escritório.

–Eu estava. –Bruno respondeu mexendo no cabelo.

–E desde quando você vai a pé para o trabalho? O escritório mudou de endereço e eu não fiquei sabendo? –Ela provocou.

–Eu estava resolvendo uma coisa do escritório, mas não no escritório. –Ele esclareceu. –E não mude de assunto. Que tipo de dicas de muay-thai são essas que o professor precisa ficar se agarrando a aluna? E por que você não me apresentou como seu namorado?

–Eu finjo que acredito que você estava trabalhando e você acredita no que quiser. –A loira disse amargurada.

–Você finge que acredita? –Ele perguntou estupefato.

Fatinha parou em um degrau e olhou pra ele.

–Eu estou cansada de tudo isso, Bruno. –Ela disse triste, sentindo os olhos encherem de lágrimas. –Eu esperava mais de você, sabe? Ultimamente você só tem me decepcionado.

A garota voltou a subir a escada, limpando a lágrima solitária que escorreu. Bruno ficou imóvel.

–Fatinha... –O moreno tentou, mas não sabia o que dizer.

–Merda! Esqueci minha bolsa na praça. –A loira disse parando de novo.

Tudo aconteceu muito depressa. Fatinha foi se virar para descer e pisou em falso. Sem ter onde apoiar, ela sentiu o corpo cair em direção aos degraus.

–Essa escada deve ser amaldiçoada. –Ela pensou já se preparando para a dor.

CONTINUA...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Moças, não me matem! No último capítulo eu recebi inúmeros pedidos para que esse saísse o mais rápido possível. A minha intenção era postar na quarta (dia 8), só que a minha viagem foi adiantada e eu não consegui terminar o capítulo a tempo.

Bom, quero opiniões sobre o capítulo de hoje!
O Bruno está realmente traindo a Fat?
Qual será o resultado da queda?
E o que a loira fará com as suas desconfianças?

Agora falando de ADH... Vocês tem acompanhado? Pri e Chechelo formam um casal tão fofo.
E Marlon&Lili? Eu acho que vai rolar...

COMENTEM!