A Mecânica Dos Anjos escrita por Misty


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

O papel está morto sem palavras
A tinta é inútil sem um poema
Todo o mundo morto sem histórias
Sem amor e beleza desarmante

Realismo descuidado custa almas

*Nightwish



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A primeira coisa que senti quando abri os olhos foi uma dor latejante na minha testa, fiz uma careta enquanto levava a mão até o local dolorido e sentia ali um pequeno galo. Que ótimo.

- Vejo que parece melhor -arregalei os olhos e me sentei na cama, o que não deveria ter feito, já que por um momento tudo rodou e eu agradei aos céus por estar na cama. Ian estava com um olhar estranho em minha direção, curioso e intrigado, enquanto se ajeitava de uma forma mais relaxada em uma poltrona de couro escuro -Ou não, saiba que está com um galo enorme na cabeça.

- O que houve? -perguntei por fim, levando meus pés ao chão e notando estar em um lugar estranho, com um estranho...isso não era bom e eu já me sentia envergonhada o suficiente.

- Você resolveu subir pelas temíveis escadas flexíveis de Madame Lovalece, elas não são muito boas quando estamos com pressa.

Senti meu rosto se contrair.

- Porque ela tem uma escada flexível em casa? E outra, como ela conseguiu tal feito?

Ele ergueu as mãos.

- Uma pergunta de cada vez, você é muito apressada -então suspirou -Escadas flexíveis são ótimas para treinamentos e segundo, foi seu próprio tio maluco que as criou.

Eu tinha muitas coisas que perguntar, perguntas sem noção que mereciam uma resposta a altura, o inferno estava subindo para terra, Tom estava desaparecido e a tal da Criatura poderia ter sido a morte dos meus pais, sem contar que sou a chamada visora, a linda que pode ver demônios e outros seres “não-naturais” mas em meio a tanta loucura e desordem, só consegui dar de ombros e dizer.

- Tio Charles não é maluco, apenas um pouco fissurado.

Ian se levantou, ele era alto e seus traços pareciam ágeis e ao mesmo tempo delicados. Caminhou até a janela, chutando com as pontas de suas botas algo invisível e sorriu para as cortinas.

- Passei tempo o suficiente com ele, para eu ter certeza de que é completamente louco.

Eu apenas me levantei também, pensando no que minha mãe falaria se soubesse que estava sozinha no quarto com um sujeito homem ainda por cima desconhecido e bem, de fato muito atraente. Nora! Segure seus malditos pensamentos cheios de libido. Sentia minhas bochechas em brasa, enquanto me auto repreendia, fazer isso sempre me ajudava.

- Então -comecei tentando soar tranquila, enquanto colocava um espaço grande entre nós -Me diga, você com certeza deve estar a parte dessa loucura toda, certo?

Ele assentiu, enquanto sentava na beirada da janela, seu cabelo claro sobre a luz do sol, fazendo um ralo em torno de sua cabeça. Ele sobrou alguns fios para longe, enquanto virava os olhos escuros e inexpressivos em minha direção, sua boca se erguendo em um sorriso orgulhoso.

- Claro, desde pequeno que Madame Lovalece me convence que meu trabalho e procurar a “ampulheta dourada” e caçar a criatura, e óbvio não deixar que o inferno suba para terra -rolou os olhos -Como se eu quisesse isso.

Cruzo meus braços, abrindo um pequeno sorriso.

- Pelo jeito seus esforços não estão valendo de nada.

- Pois é, agora agüente Madame Lovalece dia e noite nos seus ouvidos.

Ele sorriu de forma cruel, eu apenas deixei meus braços caídos a minha volta.

- Porque aquela mulher estranha iria ficar me enchendo dia e noite?

- Ora, não é todo dia que ela recebe alguém com o dom da visão, ela não irá deixar você escapar assim tão fácil.

Empinei meu nariz, tentando de alguma forma ganhar esse dialogo.

- Sou uma pessoa livre, se quiser sair posso sair.

Ele apenas se sentou de forma ereta, ainda sorrindo e isso me deixava irritada. Não gosto que os outros se divirtam as minhas custas.

- Claro que é, mas lembre-se, quando aquele o homem matar mais mulheres, quando ainda seu irmão estiver desaparecido e a criatura estiver andando livremente sobre a terra, ela irá culpar você, somente você. A culpa será muito grande e a única saída para seu sofrimento será a morte.

Engoli em seco, enquanto suas palavras soavam como alfinetes em minha pele. Mas tudo que fiz foi abaixar os ombros e engolir o meu orgulho.

- Certo, você sabe mesmo como mexer nas decisões de uma pessoa.

Ele deu de ombros, ficando de pé e jogando sobre sua roupa escura um sobretudo.

- Lembre-se que a forma a melhor forma de mudar uma pessoa ou mudar seus atos é tocando na palavra morte, seres-humanos não gostam de como isso soa.

- Nem eu -sussurrei baixo, ele passou por mim com um meio-sorriso.

- Por isso mesmo  você é um ser - humano patético, que com certeza pensa que irá viver para sempre.

Me virei em sua direção, ele estava parado de frente a porta, como se soubesse que eu tinha a obrigação de retrucar.

- Eu não...bem...-seu olhar superior e o sorriso orgulho me faziam gaguejar, por favor amigos não pensem besteiras, era só que impossível de retrucar uma pessoa assim, eu apenas bufei me sentindo irritada como um balão prestes a estourar -Okay Sr. Espertão, e você por um acaso não teme a morte?

Ele escureceu o olhar, por um tempo me senti por cima, touché...então ele novamente ganhou.

- Aprendi a muito tempo a lidar com a Senhora de preto, agora pare de tagarelar bobagens e venha.

- Para onde exatamente?-minha voz estava amarga, eu esperava descontar minha raiva toda nesse sujeito, mas ele apenas sorriu enquanto fechava a porta atrás de nós.

- Um lugar para você espairecer um pouco, você parece que irá surtar a qualquer momento.

Sorri de forma educada, enquanto tentava deixar nossas rixas para trás.

- Ótima observação.

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Madame Lovalece morava no que parecia ser uma grande construção, parecida com um conjunto de prédios interligados entre si, feito de pedras grandes e cinzentas, com janelas grandiosos e elegantes, pintadas com uma bonita coloração avermelhada. No sol da tarde, os vitrais ficavam coloridos, lançando réstias estranhas sob minha pele, enquanto descíamos uma escada de pedras nada flexível e seguíamos até o pátio, onde nas portas duplas de madeira estavam tio Charles e Fiona, conversando baixo.

- Minha querida, estávamos mesmo falando sobre você -ele sorriu para mim, então olhou com estranheza para Ian -Onde estão indo?

- Nora parece que irá surtar, gostaria de leve-la para um...passeio turístico.

Sua voz era tranquila, mas com um pequeno tom de irritação, como se querendo sair logo dali.

- Eu acho que...

- Ora Charles, não seja um velho antiquado, querida vá e depois conversamos, deve estar com a cabeça lotada -sorri agradecida para Fiona que apenas deu de ombros, e levou as mãos a minha testa -Bem, depois colocamos algo gélido ai.

- Depois...depois, odeio como essa palavra soa! -argumentou Charles coçando seu bigode com o braço mecânico, então piscou -Tudo bem vá, só não demore ou vá a outra casa de ópio.

Fiz uma careta azeda, enquanto eles saiam falando baixo novamente e Ian ria.

- Casa de ópio, confesso que não esperava essa de você.

Rolo os olhos, enquanto lhe dava um tapa na mão e abria a porta por mim mesma, não queria seu cavalheirismo, queria apenas sair dali e o deixar rindo sozinho para trás.

- Cale a boca idiota, essa foi uma história...estranha devo e confusa.

Mas isso o fez rir ainda mais, bem, já disse que odeio quando os outros riam as minhas custas, pois bem.

Estava querendo muito que alguma carruagem ou aqueles taxis movido a vapor passassem em cima de Ian, claro que tudo seria um grande acaso do destino...

Eu então poderia rir, as custas dele.


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Notas finais do capítulo

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