A Mecânica Dos Anjos escrita por Misty


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Oh , você vai perder a sua alma, esta noite
Você vai perder a sua alma
Você vai perder a sua alma
Esta noite, esta noite

Eu levanto e este sentimento
Me mantém no rumo
Acordo pela manhã
Coloco meus sonhos de lado
Eu levanto, eu levanto, eu levanto....



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Eu conseguia sentir olhos em minha direção, fuzilando e queimando sobre minhas costas, olhares de pena...coisas que eu não precisava no momento. Engoli em seco, passando pela garota que congelou seu rosto em uma expressão assustada e segui em passos lentos até o escritório de Lovalece, as coisas pareciam fora de foco, eu não conseguia sentir absolutamente nada.

- Nora! -alguém gritou, mas eu já longe e também não queria voltar para o maldito salão e encarar a todo, agora o que tinha me sobrado? Tom, era a última ligação que eu tinha com minha antiga vida, aquela vida monótonoma e normal, a que eu tanto pesava e gostava...tudo agora era apenas louco e sem noção.

Quando por fim cheguei até a onde Lovalece se reunia com Charles, Fiona e mais um homem que nunca vi em minha vida, eu ainda não conseguia sentir nada.

- Hó minha querida -choramingou Fiona me abraçando como se eu fosse uma bebê -Estamos aqui por você, tudo ficará bem.

- Como isso aconteceu?-perguntei ainda sem derramar uma lagrima, eu me sentia mais forte e um tanto fria, mas não era porque eu queria...simplesmente era.

- Ele foi assassinado -suspirou Lovalece tirando os olhos da janela e se voltando para mim -Não conseguimos rastrear o corpo.

Pisquei sentindo algo no fundo do meu peito se quebrar, como milhões de cacos a titilar em meus ouvidos.

- Não haverá um corpo -sussurrei, fazendo minha voz ecoar por todo o pequeno salão, Lovalece negou lentamente eu apenas senti um sorriso louco atravessando meu rosto -De novo, primeiro meus pais...e agora Tom, até quando isso vai durar...até quando eu vou chorar em cima de um caixão vazio!

- Nora...

- Não tio Charles! Tudo está errado, isso tudo tenho certeza que é culpa dessa maldita história de marker, isso não é natural vocês não percebem!

- NORA! -gritou Lovalece segurando meus ombros de uma forma que eu ficasse cara a cara com ela, a mesma apenas balançava a cabeça enquanto me chacoalhava de uma forma que parecia me querer tirar de um transe-A morte existe para todos, é algo que vem sem percebemos e não temos como evitar, apenas é que markers conseguem lidar melhor com isso, sendo uma você deveria aprender a lidar com o luto!

- Eu não quero aprender a lidar com o luto! Quero sentir a dor, pois assim sei que ao menos isso é real, não estou ficando louca!

Consegui sair de suas mãos e corri para fora, dessa vez sentindo todo o desespero apertar meu peito com mãos gélidas. Corri bastante, até conseguir sair daquele prédio claustrofóbico, e senti o cheiro da cidade limpar meus pulmões, me sentindo miserável me arrastei pelas ruas, chorando por alguém que deveria estar aqui comigo, compartilhando essa loucura junto a mim.

Mas eu estava sozinha.

A tarde estava em seu final esplêndido, o céu como uma aquarela em tons de roxo e amarelo, as pessoas pouco se importando uma com as outras...a vida apenas seguindo seu rumo natural.

- Nora -alguém chamou, mas não me virei apenas continuei escorando no poste observando a rua movimentada, e querendo achar um sentindo para tudo isso -Hey -Ian sorriu de uma forma carinhosa, enquanto arfava e suspirava -Você corre hen.

- Acabou Ian, minha busca finalmente chegou ao fim....e nunca vou achar nada.

Ele juntou as sobrancelhas enquanto seus braços passava por minha volta, eu apenas aceitei seu gesto de bom grado, enquanto sentia meus lábios tremer assim como todo meu corpo, eu estava cansada, cansada de perder pessoas.

- Venha, vamos fugir um pouco -sussurrou no meu ouvido, segurando minhas mãos com firmeza e me guiando pelas ruas.

Passamos por toda a fervorosidade da cidade, e chegamos até uma ponte em forma de arco, ela era toda feita com pedras escuras e tinha pequenos lampiões em suas extremidades, abaixo dela um rio esverdeado passava sem fazer barulho, era um lugar solitário e de certa forma arrepiante.

- Você já perdeu alguém Ian? -lhe perguntei finalmente, retirando meus olhos do rio e deixando descansar sobre a sombra do seu rosto pálido. Pude ver que seus olhos se escurecerem, e o mesmo apenas olhou em direção ao rio esmeralda.

- Sim -suspirou, sua voz era pesada e ao mesmo tempo suave -Há muitas perdas na vida de um marker.

- Quem? -insisti limpando meu rosto com a manga do meu vestido.

- Muitas pessoas....o mais recente também é meu irmão, ele foi morto com uma espada banhada em sangue da criatura -havia algo de estranho em sua voz, uma falha que não deveria estar lá, mas me deixou curiosa, ele escondia algo, por fim ele fechou as mãos em punho, enquanto cerrava os olhos em minha direção -Pena que os mortos não podem mais voltar.

Suas palavras flutuaram por um tempo sobre nós, até um trovão quebrar o silêncio em pedaços, não estava com medo ou assustada apenas...curiosa e um pouco sem entender nada, de qualquer forma achei a hora perfeita para perguntar quem era Sophie.

Virei minha cabeça novamente em sua direção, pronta para lhe fazer a pergunta.

- Ian, me responda quem afinal é....

- Nora abaixe-se! -gritou por fim me jogando ao chão, enquanto algo prateado e incrivelmente brilhante passava sobre minha cabeça. Ian se jogou de lado, sacando de algum lugar, talvez de suas botas duas adagas vermelhas rubi e se erguia de pé, como um escudo protetor a minha frente -Fique onde está!

- O que está havendo?-gritei por fim me pondo de pé e soltando um grito de horror, enquanto robôs esqueléticos apareciam do nada, com sorrisos mecânicos e vapor saindo sobre sua cabeça, seus olhares perdidos e negros, cheios de ódio, enquanto em mãos traziam serras e outros tipos de armas que deixaram minha perna bamba -Mas o que diabos é isso?

Ian jogou uma de suas adagas diretamente no olho da criatura mais próxima, que caiu ao chão, se mexendo como se tivesse possuído então desapareceu em uma nuvem de poeira prateada. Ian fez som de nojo enquanto pegava novamente sua adaga, e me fazia uma careta.

- Servos da criatura.

Engoli em seco, enquanto me afastava e cada vez mais aquelas coisas apareciam, eles parecia olhar diretamente para mim, enquanto diziam em uma voz que parecia cacos de vidro rasgando minha cabeça.

- Criadora...queremos a criadora....a alma criativa para o mestra...Nora para se juntar a seus familiares...

Eu apenas conseguia observar, enquanto imagens que não deveriam existir de meus pais e Tom, em um lugar estranho e cheio de árvores de metal se retorciam em minha mente, me chamando...eles imploravam para eu ir até eles...mas o caminho era difícil...a morte nunca realmente foi fácil.


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Notas finais do capítulo

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