Mas eu não queria ter de desistir, eu estava cansada e cheia de raiva, então gritar e quebrar alguns “ossos” mecânicos seria algo realmente muito bom.

– Ian! Dei-me algo! -gritei para o mesmo, que dava passos para trás, enquanto jogava pequenas facas afiadas na direção daquelas...coisas, que sumiam ao simples toque da lamina. Ele olhou em minha direção, olhos semi-cerrados e suspirou, enquanto eu estendia minha mão -Não quero ser a donzela que apenas grita e chora em desespero.

Ele riu, sério sim que ele riu em uma situação como essa e me jogou uma pequena faca, que em minhas mão se transformou em uma grande espada prateada com desenhos em azul claro, era pesada e fria, mesmo assim eu conseguia me virar. Por fim, enquanto jogava suas laminas nos seres robóticos, ele piscou para mim.

– Tenha certeza Nora, uma donzela que apenas grita e chora é o que você não é.

Isso me fez sentir bem, ter o apoio de Ian me fez sentir...forte. Então quando uma daquelas coisas pulou da minha frente, sem hesitação enfiei a espada ema onde deveria se seu estomago e o vi sumir em milhões de pedacinho de metal, que quicaram até o chão. Era um sentimento maravilhoso. A chuva caia agora forte, deixando minha visão um tanto embaçada, mas consegui pegar o exato momento em que Ian chutou dois dos robôs para o rio, ele ria com diversão.

– O que são essas coisas? -perguntei quando três me cercaram e um deles conseguiu rasgar a manga do meu vestido, enquanto resmungavam, eu cortei a cabeça de um, fazendo fios coloridos pularem para cima, e com um sorriso sádico Ian enfiou a lamina em outros dois, os fazendo cair até seus pés.

– São criaturas humanóides construídas pela criatura ou seus servos, basicamente eles não fazem nada a não ser reclamar em línguas estranhas, mas acho que esses sabem exatamente o que querem.

Quando um trovão soou acima de nossas cabeças, os robôs que voavam em nossa direção apenas pararam, rolando os olhos de vidro para cima e entrando em curto, então caindo ao chão. Com raiva chutei a cabeça de um deles, descontando ali toda minha frustração.

– Odeio essas coisas! Se soubesse Ian como não suporto isso tudo! -gritava sentindo a perda de Tom mexer com minha cabeça, a chuva ainda caia forte, deixando meus cabelos grudados em meu rosto, por fim o peso da espada pareceu demais e me deixei cari de joelhos ao lado dos fragmentos daquelas...coisas. Eu estava chorando, não queria parecer fraca a seus olhos, mas eu simplesmente não agüentava mais.

A perda realmente é algo que mexe com você.

– Hey -disse ele se ajoelhando ao meu lado, havia algo em seus olhos que me fez respirar de forma relaxada, seria o entendimento por minha dor ou compaixão...de qualquer forma ter um ombro amigo era sempre bom -Perdas são necessárias, mas aqueles que você ama nunca estão longe, eles nos rodeiam, estão sempre aqui. Eles nunca dizem adeus.

Olhei para minhas mãos, e me obriguei a acreditar nisso.

– Eu os sinto -sussurrei para Ian, que me levantou e me arrastou até debaixo de uma árvore, nos escondendo da chuva que teimava em cair. Tentei abrir um sorriso, mas apenas tremi em minhas palavras -Hoje foi um dia bem estranho.

Ele juntou as sobrancelhas, parecendo realmente esgotado.

– Com certeza, mas acho que isso ainda não acabou.

Enquanto corríamos pelas ruas, com nossas roupas não só encharcadas mas sim rasgadas e sujas, eu me senti quase em êxtase, pois convenhamos que não a nada melhor do que correr em liberdade logo depois que se foi quase morta.

– Essa criatura -perguntei por fim, quando paramos para dar uma respirada debaixo do telhado de uma loja de musica -Ela está mesmo atrás de mim?

– Sim -era por isso que eu gostava de Ian, sua sinceridade era gélida mas era real -Você tem um poder único, algo que não vimos a sei lá...bem a muito tempo, ela não iria deixar alguém como você escapar, você pode ver coisas além, consegue criar coisas e pode ouvir-las. Isso é algo que a criatura pode querer, não, na verdade ela vai querer, está sedenta por seu poder.

Engoli em seco, enquanto uma onda de medo passava sobre mim.

– Então...eu...eu vou morrer? -essas palavras eram amargas, mas eram verdadeiras. Ian apenas se aproximou, deixando seu rosto colado ao meu, os pingos da chuva escurecerem as pontas de seu cabelo, mas mesmo assim ainda era branco papel de sempre.

– Todos nós vamos morrer Nora, só que a sua hora não é agora.

– Como pode ter tanta certeza? -perguntei com um leve suspiro, ele apenas sorriu, deixando seus olhos divagarem por meu rosto, assim como os meus estavam fazendo até acharem caminho a seus olhos.

– Eu prometo, você está segura comigo Nora, não tema. Eu irei lhe proteger.

– Confio em você, mas quero saber me proteger sozinha -disse ainda encarando seus olhos, ele roçou seus lábios por minha bochecha, me fazendo por um momento fechar os olhos, então se afastou, apertando minhas mãos enquanto novamente corríamos de volta para chuva.

– Realmente depois do que vi na ponte, você não é uma dama indefesa.

Me senti orgulhosa com isso, bem que meu final feliz poderia acabar aqui, dois jovens correndo por entre as lacunas das ruas molhadas, se sentindo bem consigo mesmo apenas na companhia um do outro, enquanto raios e trovões passam sobre nós.

Mas não.

Isso vai muito mais a afundo, a tragédia e verdades estava começando a vir a tona, o que jaz morto e esquecido deveria para sempre ficar assim, mas eles insistiam em subir a superfície. E isso nunca, jamais poderia proporcionar um final feliz.

Como em certo livro de George Pirip, ele sabia muito bem escolher sua palavras em meio ao desespero: A tragédia sempre nos prepara para algo de maior proporção, a morte não é nada, comparado a verdade que lhe foi escondida a tanto tempo.