A Mecânica Dos Anjos escrita por Misty


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Uma canção de mim, uma canção na necessidade
De uma sinfonia corajosa
Um verso de mim, um verso na necessidade
De um coração puro cantando para a paz

Todo aquele grande coração continua repousando e morrendo lentamente
Todo aquele grande coração continua repousando nas asas de um anjo

*Song of Myself



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Nem mesmo conheço Fiona, mas devo dizer que a amo. Acho que se não fosse por ela, bem capaz de Charles se perder em sua própria bagunça. Atravessamos um corredor longo, com papel de parede escuro e uma única janela, essa límpida e com uma bela vista de toda cidade.

– Sua casa é realmente muito bonita -digo parando de frente para janela, e puxando a cortina branca para o lado. O por do sol parecia preguiçoso, pintando o sol de laranja e roxo, enquanto quase como em sincronia os dirigíveis e balões sobrevoavam o céu, como pingos fluorescentes se perdendo no horizonte. Grandes construções altas de metal, elegantes com pilastras se erguiam, como se protegendo a cidade de um mal invisível, sem contar as fábricas que jogava uma fumaça negra pelo ar. O trem que me trouxe da America parecia estar de partida, seus trilhos se erguiam do chão, dando volta em torno de uma grande torre, ornamentada com desenhos dourados e em destaque ficava um relógio, em números romanos e grandes.

– Agradeça a Fiona -sorriu Charles, batendo levemente um dedo robótico em um dos muitos abajures a gás no corredor, nos formatos de uma rosa desabrochando -Mas siga me.

Passamos por uma larga porta de madeira, entrando em um tipo de sala muito bem ornamentada, com a luz do sol deixando tudo alaranjado enquanto adentrava por uma grande janela redonda, que ia do chão ao teto, me dando uma visão maravilhosa, das montanhas enegrecida com musgo que cercavam a cidade.

– Charles, não irá me apresentar a garota -me virei, saindo do estupor de tal visão, para encarar uma mulher sorridente. Ela trajava um vestido listrado de branco e preto, com mangas curtas deixando a pele levemente bronzeada em evidência, era magra e tinha os cabelos em cachos escuros enrolados em um elegante coque alto, prendido por um tipo de presilha no formato de duas borboletas de metal verde. Seus olhos eram grandes, de um tom azul cristalino como se deixando em evidência os segredos de sua alma, ela sorriu ainda mais partindo os finos lábios e me mostrando dentes curtos e brancos -Olá querida, sou Fiona Mclesster Dupont Figuesster.

– Certo -sorri, ela gargalhou, certamente sabendo que me perdi já no seu segundo sobrenome. Apertei sua mão estendida -Nora Darlly.

– Então seu louco, não me disse que tinha uma parente -ela disse sorrindo e se sentando no sofá estofado de vermelho. Charles coçou os cabelos, e me deu um sorriso tímido.

– Bem, nem eu mesmo sabia algum tempo atrás.

– Muito bem então, posso ver pelas marcas em seu rosto que está cansada, venha vou leva-la até seu quarto.

Estava prestes a seguir Fiona então parei.

– Por favor, um que seja longe de Robby...a aranha gigante.

Ela mandou um olhar acusador a Charles.

– Já assustando a garota, o que tem na cabeça homem.

– Robby é um ótimo trabalhador, é nosso amigo não precisa temê-lo Nora.

Mesmo com seu comentário eu temia e muito. Segui Fiona por um pequeno corredor cheio de portas, e abriu uma porta de madeira com uma bonita fechadura em formato de flor. Por dentro tudo era ainda mais bonito, era um quarto pequeno de madeira, com papel de parede verde escuro e moveis antigos, tudo tinha um agradável cheiro de limpeza, sem contar a janela e a vista maravilhosa para torre do relógio.

– Esse lugar é lindo, juro que pensei quando estava do lado de fora que era um tipo de muquifo.

Fiona riu, enquanto tirava a sujeira imaginaria do lençol de rendas verdes.

– Você tinha que ver a primeira vez que pisei aqui -ela olhou para cima em espanto -Jesus, era assustador.

A encarei, com um sorriso nos lábios.

– Agora tem medo de que se for embora tudo volte a ser como antes.

Ela se levantou, caminhando até a porta como se medindo suas palavras.

– Certamente que sim -então piscou para mim -Jantar as oito, esteja pronta.

– Obrigada -agradeci enquanto a mesma saia porta a fora e me deixava sozinha. Olhei novamente para o quarto e fiz uma careta quando constatei que minhas malas estava ali, no canto ao lado do guarda-roupa. Por um momento fiquei temerosa a olhar para cima, mas quando o fiz não havia nada, me sentindo aliviada sigo para o pequeno banheiro que havia ali dentro.

Me afundei na água morna dentro da banheira, deixando meus cabelos flutuarem ao meu redor e tentei deixar minha alma leve e o pensamento em claro. Eu ainda não conseguia me conformar que meus pais estavam mortos, era tão absurdo! Fechei os olhos, me lembrando daquela noite e suspirei, era algo que realmente eu queria esquecer.

Estava chegando em casa, depois de algumas horas na minha aula de piano e o que vejo; simplesmente minha casa, o lugar onde cresci em chamas, as lavadeiras subindo para o céu noturno, o laranja das chamas se misturando as estrelas no céu escuro....e o corpo de meus pais carbonizados, nem mesmo consegui me despedir deles adequadamente.

E onde estava meu irmão Tom nisso tudo? Eu não fazia a menor ideia e isso me deixava com o coração apertado.

Ele também estaria morto? Era horrível pensar nisso, mas era uma possibilidade.

............................................

– Nora, Charles gostaria de falar com você, ela está no escritório -agradecia a Fiona e ajeitei meus cabelos, enquanto caminhava em direção a uma porta de carvalho entre aberta.

– Gostaria de falar comigo? -perguntei lentamente, enquanto colocava a cabeça para dentro do comodo. Charles estavam concentrando em escrever algo, ele apenas fez um rápido sinal de espera, enquanto murmurava consigo mesmo, ele parecia ter essa mania de falar sozinho. Logo que terminou de escrever, se encaminhou até a janela e puxou um pequeno mecanismo, então colocou a carta ali e logo em suas mãos não havia nada, sorri chegando mais perto -Isso realmente é fascinante.

Ele riu, enquanto ajeitava a lapela do seu casaco.

– Muito mais rápido que os correios convêncionais -então apontou para uma poltrona estofado a frente de sua mesa -Sente-se por favor, gostaria de trocar algumas palavrinhas consigo.

Reparando melhor em seu escritório, constatei que deve ser um lugar em que Fiona não deve botar os pés. Era bagunçado, mas uma bagunça onde eu poderia me sentir confortável, tudo era de madeira ou a ferro, com mecanismo e pinturas pela parede, ele parecia quase um lord enquanto dedilhava uma antiquada maquina de escrever.

– O que quer saber? -perguntei um tanto desconfiada, ele apenas rodou sob sua cadeira, enquanto brincava com um anel dourado em seus dedos.

– Quero saber sobre seu dom -ele sorriu, enquanto os olhos cinzentos cheios de expectativas brilhavam em minha direção. Recuei sentindo uma careta se formar em meu rosto.

– Que dom?

– Nora -ele disse lentamente ficando de pé, com um olhar assustado cobrindo todo o estranho brilho -Seus pais, eles nunca falaram nada sobre o...dom.

Estava ficando confusa e irritada, isso não era muito bom.

– Não, e você pode começar a me explicar! -disse ficando na sua frente levando meus braços a cintura, para tentar me auto dar um ar mais sério -Do que está falando?

Ele apenas levou as mãos a cabeça, seu braço robótico fazendo um som estranho, mas ele não pareceu se importar, apenas olhou para o teto como se pedindo ajuda as aranhas que ali com certeza devem morar.

– E agora, pensei que você pudesse ser uma ótima assistente.

– Assistente? -disse em voz alta, então sorri gostando da ideia -Claro que posso, adoro mexer e criar certas coisas, mas não tente mudar de assunto, o que é o dom?

Antes que ele pudesse falar alguma coisa, o mecanismo em sua mesa, em formato de um globo cheio de botões começou a piscar, passando de uma bonita luz esverdeada a dourado chamativo. Charles fez uma careta, enquanto caminhava em direção a porta, e enfiava a cartola em seus estranhos cabelos bagunçados.

– Nora, o trabalho me chama, mais tarde falamos melhor sobre isso.

Me senti incrédula enquanto o mesmo me deixava sozinha e ainda por cima cheia de perguntas.

Não, ele não iria fugir assim tão facilmente.


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Notas finais do capítulo

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