A Mecânica Dos Anjos escrita por Misty


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Aquela véspera fatal quando?
As árvores exalavam a pôr do sol e cânfora
Seus lampiões perseguiram fantasmas e atiraram
Um raio de luz inquiridor, como as sombras que eles lançaram
Sobre minha amada fugindo sob a luz da lua

*Musica tema: http://www.youtube.com/watch?v=gMFLg5PTmKM // Her Ghost In the Fog// Cradle of Filth.



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Em meus sonhos eu estava em um lugar melhor, onde Tom era simplesmente meu irmão mais velho, que adorava piano e livros com temas Filosóficos, que muitas vezes era engraçado e dizia não acreditar no amor. Onde meus pais eram um casal que trabalhava no teatro local e eram felizes com apenas compondo peças e musicas, onde que nas noites de sábado nos juntávamos para vê-los tocar na sala.

Onde eu era apenas uma garota que queria aprender a tocar violino, odiava o meu cabelo e sonhava em um dia dirigir um dirigível e gostaria de poder viajar ao redor do mundo.

Isso tudo agora parece patético.

Eu sabia que tinha de acordar e enfrentar tudo que estava escondido por trás dos meus olhos fechados, eu me sentia estranha e idiota, com vergonha de mim mesma, por que o que aconteceu no park foi minha culpa, somente minha, eu sei disso.

- Ela não está demorando para acordar -disse alguém ao meu lado, a voz delicada e um tanto preocupada, certamente Fiona -Já se passarem 4 dias.

Esse número me assustou, mas eu não sabia se estava pronta para voltar ao mundo real novamente.

- Havia muito veneno correndo em suas veias -Tio Charles disse em um fio de voz -Olhe só a cicatriz, ela não iria se recuperar assim tão facilmente.

- E Ian? -Fiona perguntou de repente, isso drenou toda minha atenção. Mas Charles não respondeu, apenas ficou em silêncio. Eu me sentia em um buraco cheio de escuridão, enquanto ouvia seus passos sumindo e por fim a porta se fechando atrás de si.

E novamente, eu não chorei, mas adormeci, egoistamente indo para meu mundo de sonhos, a falsidade que eu tanto adorava.

Estava frio, muito frio, pequenos flocos brancos caiam do céu como algodão gélidos, que queimavam minha pele. Em meio a toda paisagem branca, fábricas negras se erguiam do chão, com sua fumaça encobrindo o céu de um branco pálido e cálido. Na neve aos meus pés havia marcas vermelhas, formando uma trilha sinuosa que hesitei em seguir, mas como se uma força maior me impulsionando caminhei até lá, sentindo o sangue ser drenado de meus pés descalços.

Havia uma mulher, ela estava sentada em um tronco congelado, usando apenas um vestido azul abarrotado e os cabelos loiros caindo em volta de si como algas e ela cantava, sua voz rouca e suave ao mesmo tempo, cantando algo em uma língua desconhecida por mim, mas que fazia uma arrepio estranho passar por todo meu corpo. Ela guardava um corpo, que facilmente reconheci sendo do Tom e isso me alarmou, ele de olhos arregalados encarando o céu, sem respiração, com a pele de marfim sendo banhada pelos flocos brancos.

Eu tremi, enquanto me segurava para não correr em sua direção.

“Estava lhe esperando” -disse a mulher como se sentindo minha presença, então se levantou, notei que em sua mão havia um tipo de varinha comprida e de metal, com as pontas vermelhas flamejantes, que percebi ela usava para desenhar no peito de meu irmão, criando desenhos de círculos e estrelas estranhos, que estavam com sangue seco ao redor. Isso me causou dor.

“ O que fez a ele” -eu queria gritar, mas minha garganta doía e a visão da mulher de branco quando se virou para mim me fez congelar. Seu rosto era costurado, assim como um pedaço da sua boca, um olho feito de botão e o outro vazio e negro, ela sorriu, algo horrível e hediondo, enquanto estendia unhas afiadas em minha direção.

“Estava lhe esperando”-repetiu chegando mais perto, ainda sorrindo”Eu e seu irmão”

Então Tom se sentou, como se movido por algum mecanismo e piscou em minha direção, seus olhos negros e sem órbitas, eles sorriram em conjunto enquanto caminhavam em minha direção.

Eu gritei, mas eles permaneceram parados encarando algo atrás de mim, antes que eu conseguisse me virar, algo atravessou meu estômago, me enchendo de uma dor latejante fazendo pingos de sangue quente caírem sobre meus pés. Com o resto das forças que me sobrou me virei, dando de cara com Ian, olhos brancos e cabelos como flocos de neve, seu sorriso doía ainda mais do que a dor que queimava em meu anterior, sem dizer uma só palavra apenas tombei para o chão.

Mas antes pude ouvir sua voz, dizendo:

“Que os mortos se levantem novamente”

...........................................

Alguma coisa me segurava na cama, eu estava me debatendo enquanto um grito irritante e agudo me fez abrir os olhos; meus próprios gritos de agonia e medo.

- Nora se acalme! -gritou Charles por cima dos meus, enquanto Fiona agitada segurava meu braço -Nora volte!

Pisquei algumas vezes me sentindo esgotada e com dor por todo corpo, suspirei virando a cabeça de lado e vendo Ian me olhando com assombro. Ele parecia um tanto doente, os cabelos sujos pendiam caindo sobre seus olhos estranhos, as mãos tremiam ao seu lado, enquanto pela blusa entre aberta eu conseguia ver cicatrizes cruzando sua pele pálida.

Gritei novamente, um grito que até mesmo me assustou. Era como se algo, algo quente e gélido ao mesmo tempo, estivesse subindo por meu corpo, fazendo arrepios incontroláveis e espasmos me erguerem da pequena cama, enquanto seguravam meus braços, eu me debatia mordendo meus lábios e querendo que a sensação de estar sendo possuída por algo invisível saísse de mim.

- É o veneno, está a matando! -gritou Susan descabelada correndo pela sala com algo nas mãos, mas eu não conseguia ver direito pois as lagrimas encobriam tudo, como uma cortina expeça de água. Virei de lado novamente, sentindo meu estômago se contorcer com uma dor esmagadora.

- Tirem! -gritei erguendo minha cabeça em mais um dos espasmos -Tirem de mim!

Fiona me largou com um grito e pulou para trás, se benzendo enquanto caia desmaiada, eu gritei tanto de dor quanto por desespero.

- Não é veneno! -disse Ian por fim se aproximando e apertando meus braços -Ela está sendo possuída.

Isso poderia fazer algo como terror nascer em mim, mas eu apenas permaneci em silêncio, enquanto meu âmago parecia queimar e ficar frio. Eu estava começando a perder os sentidos, mas alguma coisa me trazia para cima, Ian de frente a meu rosto, falando algo que eu não entendia, mas ele me pedia para agüentar, eu o faria, só porque devia minha vida a ele.

- Saiam da frente! -disse uma voz alta, me fazendo perder um pouco o sentindo de tudo a minha volta. Madame Lovalece apareceu em meu campo de visão, seu rosto contraído, com uma carranca nas sobrancelhas perfeitas e uma grande seringa com algo azul flutuando do lado de dentro, ela sorriu se aproximando -Hora de um exorcismo básico amigos.

Ian entrou na frente, com uma expressão que se eu não estivesse preocupada demais tentando não entregar meu corpo alguma criatura das trevas, poderia ter ficado com medo. Charles ainda segurando meus braços, olhou em desespero para Lovalece.

- Está louca, isso irá matá-la!

- É necessário -disse por fim, eles gritaram e eu também, enquanto seu rosto assombroso apareceu acima de mim, mergulhando a seringa diretamente em meu coração, apenas suspirei por fim.

Dessa vez a escuridão foi ascendente e indolor, mais ainda sim fria, como o abraço da morte tem de ser.


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Notas finais do capítulo

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