A Mecânica Dos Anjos escrita por Misty


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Em alguma noite nós acordaremos pro carnaval da vida
A beleza do passeio adiante, um inacreditável êxtase
É difícil acender uma vela, mais fácil amaldiçoar a escuridão
Este momento, o amanhecer da humanidade
O último passeio do dia

*Nightwish



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Tinha acordado algumas horas atrás, e percebi como céu estava bonito essa noite, na verdade sempre gostei de admirar o céu, eu sempre quis seguir no ramo da astronomia, investigar cada mistério do universo, saber e nomear cada estrela, mas isso parece bem distante agora. No vidro límpido da janela, minha imagem parecia algo abatido e um tanto assustado.

Bem, tão assustado quando você pode quando se é quase possuída por algo não identificado. 

- Vejo que está se sentindo bem melhor -me virei lentamente para trás, onde Ian estava encostado na porta fechado atrás de si, trazia consigo um sorriso torto enquanto caminhava em minha direção, ele parecia bem melhor -Santo exorcismo de Lovalece, e agradeça por ter ficado desacordada apenas um dia, alguns jamais voltam.

Eu apenas tentei manter a calma, mas não consegui.

- Como! Como isso é possível! -disse erguendo minhas mãos para o auto -Eu conseguia creditar em toda aquela baboseira que me contaram, e agora eu fui possuída....

-Quase...

- Que seja, mas estava lá e foi assustador -eu me sentia suja, como se aquela... coisa estivesse grudada em minha pele -De qualquer forma eu acho que lhe devo desculpas, sabe por quase ter feito você ser morto.

- Você teve metade do sangue envenenado, foi quase possuída e ainda por cima levou um super remédio a base do exorcismo de Lovalece, com certeza estamos quites.

Senti minhas sobrancelhas se elevarem.

- Ouvir tudo isso é muito louco, acho que você entende.

- Sim, infelizmente já passei por isso -então por um momento todo seu maldito orgulho e auto-estima se encobriu por um pequena onde de constrangimento, suas bochechas ficaram rosadas de uma maneira adorável -Bem, eu ia lhe entregar algo, mas como vejo que já está melhor não é necessário.

Curiosa, eu sou uma maldita curiosa, e senti meu sorriso se abrir, algo realmente bom e verdadeiro.

- Ora não seja um bastardo, me mostre!

Ele hesitou, com um sorriso nas lábios, então mordiscou os lábios enquanto puxava algo de dentro do seu casaco e eu senti meus olhos se alargarem, enquanto minha boca se abria sozinha. Era uma rosa, uma linda rosa azul, suas pétalas pálidas na luz fraca da lua, era quase transparente com pequenos pontinhos vermelhos.

- Essa é a coisa mais bela que já vi -disse a verdade, enquanto ele abria minhas mãos e a colocava ali, delicada, frágil e bela. Ergui meus olhos para Ian, que me encarava com curiosidade, com os olhos mais brilhantes que qualquer estrela no universo -Obrigada, eu adorei.

Ele por um momento pareceu também frágil, como se por um momento a luz atrás de seus olhos negros como a noite quisessem se mostrar, então apenas jogou os cabelos para trás e bufou, na sua melhor forma “Não ligo”.

-  Acho bom ter gostado mesmo, é uma edição limitada de Madame Lovalece, e devo dizer que ela não ficara feliz ao ver que uma está faltando.

Eu nada disse, porque na verdade não achava as palavras certas para descrever esse pequeno gesto, que de fato conseguiu me trazer de volta ao chão. Relaxei por um momento, esquecendo meu pesadelo, querendo enterrá-lo para sempre, Ian...Ian seria incapaz de fazer tal coisa.

Ao menos era nisso que eu me apoiava.

...................................................

Em silêncio caminhamos até o pátio, onde tio Charles estava com uma maleta de couro na mão e Fiona usava um pesado casaco a sua volta, eles pareciam um casal muito louco. Susan cantarolava baixo, enquanto trançava seus cabelos, apenas observando seu reflexo na janela e Madame Lovalece estava histérica.

- Aqui está, Nora, diga a essa...homem mecânico que você irá ficar! Temos que conversar sobre muitas coisas.

- Lovelace não encha a cabeça da garota, ela precisa descansar, ela foi possuída mulher! -gritou Charles por fim, fazendo Susan e Ian se intrometer.

- Quase! -disseram juntos, fazendo Charles apenas rolar os olhos.

- Certo...quase -então se virou para mim, com os olhos dóceis -Como se sente jovem?

Mas Lovalece não me deixou responder.

- De qualquer forma temos assuntos proféticos a serem tratados -argumentou Lovelace não perdendo a pose, então olhou em minha direção com curiosidade -Essa é uma das minhas rosas? Ian...Ian...

- Relaxe Madame -cortou ele por fim, caminhando em direção a Susan e querendo esquecer que estava no meio de um bando de malucos com profecias além-inferno para serem compridas.

Lovalece rugiu.

- Garoto insolente! -então voltou atenção para mim -Nora, o resto do grupo chegara amanhã, ai teremos como conversar adequadamente.

Eu apenas neguei, caminhando em direção a tio Charles, enquanto Fiona sorria e me abraçava.

- Desculpe Lovalece, quero ir para casa -então lhe fiz uma careta -Também não ficaria com uma pessoa que enfia uma seringa em meu coração sabendo que posso não voltar.

Ela pareceu que queria argumentar, mas apenas fechou os olhos, não perdendo a pose enquanto nos mandava para fora.

- Tudo bem então, vá!  E lembre-se que se está viva é por minha causa. Mas amanhã se as sete horas em ponto não estiver aqui, eu mando Curt ir buscá-la.

Fiz uma careta, enquanto na janela Susan e Ian riram. Apenas olhei para tio Charles.

- Curt?

Ele assentiu, colocando sua cartola com o braço mecânico.

- Sim, digamos que o irmão de Robby só que mais sádico.

Engulo em seco, aquela criatura tinha irmão?

- Tudo bem Madame, sete horas sem falta.

Ela apenas sorriu e caminhou em silêncio para as escadas, Charles parecendo aliviado caminhou até as portas, murmurando algo como:

“ Se Robby não destruiu nossa casa....então...temos ainda uma casa”

- Como se sente querida? -perguntou Fiona jogando um xale sobre meu fino vestido rasgado e sujo. Sorri para ela.

- Muito bem na verdade.

- Bem, então vamos, nada melhor que volta para casa -então me deu uma piscadela -Farei uma torta de maça com canela somente para você.

Senti minha boca aguar e isso foi o suficiente para ela rir e caminhar em direção a Charles, que reclamou que também estava com fome, mas Fiona apenas deu de ombros, dizendo que com certeza havia comida a ser esquentada.

Eu ri, os dois na verdade eram uma peça.

- Então amanhã você conhecerá nossos irmãos?-Susan disse com alegria, enquanto se aproximava -Como se sente, pelo visto vejo que melhor.

- Sim, estou bem.

Ian fungou, enquanto se sentava em um banco estofado com veludo.

- Não os chame de irmão, eles são...amigos.

Susan rolou os olhos.

- Você é tão pouco sentimental que me causa alergia.

Ele apenas sorriu, mais pareceu forçado.

- É, tanto faz, esse é só algum dos meus charmes -então se levantou, me dando um demorado olhar, que senti minhas bochechas em brasa -Até mais Nora, apenas tente não ser morta novamente.

Lhe fiz uma careta, mas consegui sorrir.

- Essa é minha nova meta na vida.

Então os deixei para trás, segurando minha rosa azul como um troféu por não ter sido devorada pelas trevas. Eu estava com saudade daquele bloco sinistro onde Charles morava.

Acredite eu não, sentia falta até mesmo da coisa mecânica assustadora que era Robby, a aranha.


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Notas finais do capítulo

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