Recomeçar escrita por mybdns


Capítulo 19
Capítulo 19




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Três semanas depois, numa sexta feira, Melanie estava de folga. Havia arrumado a casa e colocado o jantar no fogo. Ajudou Hazel tomar banho e depois as duas recolheram os brinquedos espalhados pelo quarto da menina.

- Você precisa ser mais organizada, sabia? Não pode deixar seus brinquedos espalhados deste jeito. – disse Melanie.

- Desculpa mamãe.

- Tá.

- Mamãe, me conta uma história? – ela disse se sentando na cama.

- Mais já? E na hora de dormir?

- O papai conta outra.

- Tudo bem. Qual você quer? – Mel perguntou, indo até a pequena estante de livros infantis que ficava no quarto da filha.

- Esse aqui. – ela disse pegando o livro de contos de Andersen. – eu quero a do soldadinho.

- Sente-se na cama.

- Senta do um lado, mamãe. – Melanie se sentou ao lado da filha e começou a contar a história.

- Numa loja de brinquedos havia uma caixa de papelão com vinte e cinco soldadinhos de chumbo, todos iguaizinhos, pois haviam sido feitos com o mesmo molde. Apenas um deles era perneta: como fora o último a ser fundido, faltou chumbo para completar a outra perna. Mas o soldadinho perneta logo aprendeu a ficar em pé sobre a única perna e não fazia feio ao lado dos irmãos.

Esses soldadinhos de chumbo eram muito bonitos e elegantes, cada qual com seu fuzil ao ombro, a túnica escarlate, calça azul e uma bela pluma no chapéu. Além disso, tinham feições de soldados corajosos e cumpridores do dever...

- Onde estão as mulheres da minha vida? – disse Don, subindo as escadas.

- Papai! – Hazel saiu correndo do quarto e pulou no colo do pai.

- Oi minha princesa. Onde está a mamãe?

- Ali no meu quarto. Ela estava me contando uma história.

- Ah, é?

- Oi querido. – ela disse lhe dando um beijo.

- Oi amor. Como passou o dia?

- Bem. E você?

- Ah, as mesmas coisas de sempre. O Mac voltou.

- Sério? Eu pensei que ele não iria mais voltar.

- Ele sentiu falta da equipe dele.

- Que bom. Vai lavar as mãos que o jantar já está pronto.

- E está com um cheiro ótimo.

- Eu sei. – ela sorriu e ele pôs Hazel no chão. Foi até o banheiro e lavou as mãos.

Eles desceram e se sentaram à mesa do jantar. Melanie colocou a comida de Hazel e depois a sua.

- Você quer cenoura, meu bem? – ela perguntou.

- Quero. – a filha respondeu. Melanie colocou um pouco de cenoura no prato e eles comeram em silêncio, até Hazel quebrar este silêncio. – mamãe? Posso te fazer uma pergunta?

- Claro amor, o que é?

- Porque a tia Savanah e a tia Abigail são casadas se elas são duas mulheres?

Don arqueou as sobrancelhas e começou a rir.

- Do que você está rindo? Você vai me ajudar a responder isso.

- Você é a mãe. É sua obrigação responder estas perguntas.

- Eu não a fiz sozinha!

- Ela está esperando uma resposta.

- Olha aqui meu amor. – Melanie se levantou e abaixou ao lado da filha. – você é muito pequena pra entender este tipo de assunto, mas a mamãe vai te dizer uma coisa: não há nada mais importante nessa vida do que o amor entendeu? A tia Savanah e a tia Abigail se amam, e isso é importante. E você tem que respeitar, tudo bem?

- Tudo. Elas se amam igual ao tio Tyler e o tio Cedric?

- Isso. Igual a eles.

- E igual a você e o papai?

- Isso. Você pega as coisas rápido.

- Eu vou entender isso quando eu for grande?

- Vai. Ai eu prometo que te explico tudo direitinho, okay?

- Quando eu for grande igual a você?

- Ah, princesa, quando você for do tamanho da sua mãe você vai ser confundida com uma criança. – disse Don, rindo.

- Não teve graça.

- Teve sim.

- Não ligue para as besteiras que o seu pai fala, tudo bem?

- Tudo.

- Termine sua comida agora. – ela terminou a comida e depois foi para a sala com Don. Mel lavou a louça e se juntou à eles. Don passava de canal e Hazel estava sentada ao seu lado.

- Quer assistir desenho, amor?

- Não. Quero assistir o jogo.

- Ah, você quer assistir o jogo? – ele se surpreendeu.

- É.

- Tudo bem. – Don colocou no jogo de Hóquei. Dez minutos depois, a criança estava dormindo.

- Você está vendo isso? Ela está me saindo melhor que a encomenda. – Don disse a colocando na cama.

- Ela não é uma criança comum. Ela é especial demais.

Os dois foram para o quarto e se deitaram.

- Essa menina é muito esperta, Don.

- Ela nos coloca em situações embaraçosas. Alguns dias atrás eu estava mexendo no closet, ai caiu uma foto sua grávida. Ele pegou a foto, olhou por alguns instantes, ela apontou pra sua barriga e me perguntou se ela estava ali dentro. Ai eu respondi que sim. Depois, ela me perguntou como ela foi parar dentro de você.

- E o que você respondeu? Você não disse nada sobre cegonha e essas coisas, não é?

- Não. E respondi que eu e você nos amávamos e que do nosso amor havia nascido ela.

- Você se saiu bem, detetive. – ela o beijou e apagou a luz do abajur. – boa noite.

- Boa noite, amor.

No dia seguinte, Marie, filha de Savanah e Abigail faria três anos e elas iriam fazer uma festa para os amigos mais íntimos.

- Hazel! Por favor, pare de correr pela casa! Você acabou de tomar banho! Vai se sujar! – disse Mel.

- Desculpa, mamãe. – ela se sentou no sofá.

- Está pronto, Don?

- Estou sim.

- Então vamos. – os três saíram e caminharam até o carro. Em trinta minutos, chegaram até a residência das amigas.

- Finalmente vocês chegaram! Pensei que não viriam. – disse Savanah, abrindo a porta.

- Não iríamos perder o aniversário da nossa afilhada. A propósito onde ela está?

- Ali com os meus sobrinhos. Entrem por favor. E você? Como está? – perguntou Savanah pegando Hazel do colo de Flack.

- Bem tia Savanah.

- Que bom. Você quer ir brincar com as outras crianças?

- Quero.

- Então vai. – Savanah a colocou no chão e ela se juntou às outras crianças.

- Oi gente. – disse Mel aos amigos que estavam sentados na cozinha.

- Oi Mel.

- E ai? – disse Don.

- E ai, detetive? Como vai. – respondeu Tyler.

- Bem.

- Sentem- se e peguem um salgado. – disse Abigail.

Eles conversaram, deram risada. Fazia tempo que não se juntavam para fazer isso.

- Olha só! Como eles crescem rápido. – disse Cedric. – ontem mesmo Marie e Hazel eram dois bebês!

- Para o Don, a Hazel vai ser sempre um bebê. – disse Mel.

- Claro! Ela é a minha princesinha. Sempre será.

- Quero ver quando ela tiver outro para chamá-la de princesa. – disse Tyler.

- Eu prefiro não pensar nisso.

- Vai ter que se acostumar. Ela vai ser uma adolescente linda. Aqueles olhos azuis vão deixar os caras do time de futebol loucos. – disse Abigail.

- Melhor pararem com isso, ele vai ter um ataque antes do tempo. – disse Mel, rindo.

O aniversário terminou e eles voltaram para casa. O fim de semana acabou e a segunda feira começou. Melanie e Don forma buscar a filha na escola. Don estacionou o carro. Melanie desceu e foi pegá-la.

- Mamãe!

- Oi meu amor, tudo bem? – disse abraçando a filha.

- Tudo. – Sra. Flack, nós podemos conversar por um segundo? – perguntou a Srtª Hunter, professora de Hazel.

- Claro. Querida, vai lá com o papai. Ele está ali. – disse apontando para Don, que estava encostado no carro. Hazel foi até ele. – o que foi, Sra. Hunter? Algum problema com a Hazel? Ela aprontou alguma coisa?

- Oh, não, pelo amor de Deus. Hazel é uma garotinha adorável. Muito disciplinada e amorosa.

- Então? O que foi?

- Eu estou um pouco preocupada com a Hazel, Sra. Flack. Hoje eu pedi para que as crianças desenhassem o que elas achavam que era o amor. A Hazel desenhou isto. – ela disse entregando-lhe a folha. Melanie analisou o desenho.

- Não vejo nada de errado.

- Olhe bem. Eu perguntei a ela o que significava e ela me respondeu claramente. O primeiro desenho é você e o seu marido. O segundo ela disse que era a tia Savanah e a tia Abigail e o terceiro, ela disse que era o tio Tyler e o Tio Cedric. Em cima de todos os desenhos tem um coração.

- Eu não sei onde você quer chegar com esse falatório todo.

- Eu não quero ser indelicada, Sra. Flack, mas eu acho que a convivência da sua filha com este tipo de gente é uma má influência para ela.

- Como? Eu não acredito no que eu estou ouvindo. É isso que você ensina para os seus alunos, Sra. Hunter? A serem intolerantes?

- Eu ensino os valores da bíblia e da Igreja para eles. O que os homossexuais fazem está completamente errado, Deus não vai perdoá-los.

- Eu acho que vou vomitar. Eu não posso acreditar! Eu não quero que a minha filha se torne uma adulta cretina como você! Eu vou tirá-la desta merda de escola agora.

- Senhora Flack, não é preciso!

- Você me diz que eu tenho que afastar a minha filha da madrinha dela porque ela é lésbica? Você é patética. – disse Melanie indo até a sala do diretor.

- Ele não pode te atender. Está ocupado.

- Ele vai me atender. Eu vou cancelar a matrícula da Hazel agora. – ela entrou na sala do diretor sem bater.

- Mais o que é isso? Eu vou chamar a polícia.

- Eu sou a polícia. Eu quero cancelar a matrícula da minha filha.

- Marque uma hora.

- Eu quero cancelar a matrícula dela agora. Minha filha não vai colocar nunca mais os pés dela dentro deste lugar.

- Senhora se acalme, por favor. Porque quer tirar sua filha daqui?

- Eu não quero que ela se torne uma pessoa intolerante.

- Nós só seguimos as leis de Deus.

- Eu não quero saber. Dá pra cancelar essa merda de matrícula logo?

- Tudo bem. Assine aqui. – ele disse e Melanie assinou.

- Pronto. Adeus. E me dá esse desenho aqui. – disse arrancando a folha da mão da professora.

Ela saiu da escola bufando de raiva. Don ainda estava do lado de fora do carro. Hazel tomava um suco.

- Vamos embora. – ela disse entrando no carro.

- O que foi? O que aconteceu lá dentro?

- Ela não estuda mais lá.

- Por quê?

- Porque eles são um bando de ignorantes, intolerantes e homofóbicos.

- O que aconteceu?

- Sua filha desenhou isto. – disse entregando-lhe o desenho.

- É o meu desenho, papai.

- Ficou lindo, gatinha.

- Eu e você, Abigail e Savanah, Tyler e Cedric. Para ela isso é amor.

- Todas as formas de amor.

- A vadia da professora me disse que a convivência com eles era um mal exemplo para a Hazel! Você acredita?

- Que filha da mãe!

- Eu não aguentei. Eu não quero que a nossa filha seja educada desta maneira, Don.

- Você tem toda razão. Vamos encontrar outra escola.

- Mamãe, você tá brava comigo?

- Não Hazel, claro que não.

- Você me tirou da escolinha?

- Tirei. Mais você vai para uma melhor, ouviu bem?

- Tá. Mamãe, a Srtª Hunter disse que o único amor que Deus reconhece é de menino e menina. Eu disse que era mentira, porque a tia Savanah e a tia Abigail são duas meninas e se amam do mesmo jeito e que Deus não iria ficar bravo com elas. Ela disse que elas duas vão para o inferno. Isso não é verdade, não é mamãe? Deus ama todo mundo. É isso que o vovô diz. E é isso que você e o papai dizem.

- Deus ama a todos, meu bem. Sem preconceito. Ele aceita todo mundo.

- Eu sinto orgulho dela. – disse Don olhando para a esposa com um sorriso nos lábios.

- Ela ainda vai nos surpreender muito, Don.


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