O Quarto Rosa escrita por Lótus


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

As cinzas



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O dia amanheceu e nos trouxe um domingo calmo, porém irradiante, pois os raios solares não se mostravam tão dispostos a aumentar sua incidência. Levantei tomei meu café da manhã e logo minha mãe disse-me:

__Bianca, ontem enquanto olhávamos a fogueira separei umas raízes de mandioca e gostaria que você fosse buscá-las para mim filha, e nada de ir até o poço ver o que restou da fogueira viu?

Obedeci prontamente, porque nada me animava mais do que estar em movimento, e quando tinha uma razão específica para isso, sentia-me muito importante. Nisso fui caminhando e cantarolando pelo caminho que me levaria até onde estavam as mandiocas. Relembro-me que sempre fui uma criança que tinha uma curiosidade nata, queria por que queria saber sobre a existência e funcionamento das coisas.

Aproximei-me do local, avistei as raízes de mandioca depositadas no chão, apanhei-as e ia retornando quando fui acometida por uma brilhante ideia – o que teria restado da fogueira de ontem? – se eu for ver, ninguém vai mesmo saber. – Nisso depositei as raízes de mandioca no chão e fui em direção ao poço proibido, fui feliz, por estar sendo tão ousada em desobedecer minha mãe.

Cheguei perto do poço, esse em silêncio total, não havia mais o crepitar da madeira, estava quieto, frio, silencioso, aproximei-me mais e deparei-me com uma visão sublime, havia em toda a superfície do poço uma cobertura fina de cinzas, era algo maravilhoso de se ver, eu logo fui tomada por minha imaginação e pensei o quanto seria bom pular dentro desse poço e jogar toda a cinza para cima, brincando como se fosse flocos de nuvens ou algodão, eu iria me divertir muito.

Com esses pensamentos, descontraída perdi a noção de espaço, estava perto demais do poço, desequilibrei-me e cai dentro do poço, assim, dentro do poço pisei em brasas viva, debaixo da cinza que havia me atraído, só tinha brasa, não teve nada de mágico ou encantador como eu pensara antes, logo pude sentir meus chinelos aquecerem e fui tomada de uma sensação tão grande de calor, que crescia nos meus pés e subia em direção as minhas pernas e cintura, que todo o sonho de brincar com cinza cedeu espaço para uma dor insuportável, eu não conseguia me livrar daquele calor crescente que latejava na minha pele e depois na minha carne.

Fui sendo queimada aos poucos, não havia mais cinzas, somente brasa que me queimava independentemente do meu pedido de ajuda e de socorro, gritei tanto, um grito de dor, que minha voz sumiu dando agora espaço para as lágrimas, pedi ajuda, agora somente com o pensamento não havia mais voz. Mediante isso lembrei-me que quando algo ruim acontecesse minha mãe dizia que era para rezar e pedir para Deus e a Mãe de Jesus.

Nisso pedi talvez eles pudessem me ouvir e mandar um anjo, ou viessem logo me buscar, porque de tanta dor eu quase já não sentia mais dor. Olhei para o meu pé esquerdo, era o que eu usava mais para sustentar meu corpo e pude ver meus dedos se embolarem juntando e formando uma massa única e vermelha, inflamada pelo fogo.

Pela dor eu já não conseguia pensar em mais nada e depois de arranhar milhares de vezes a parede circular do poço que antes pareceu-me tão inofensivo e agora atacava-me com tanta fúria, minhas unhas estavam imundas e meus dedos quase sangrando em virtude do esforço realizado para sair do poço. Observei-me definhar aos poucos, minha esperança de sair viva dali dava cada vez mais espaço ao desanimo, minha mãe não me ouviria, olhei ao redor e entreguei-me sem mais poder resistir à dor e as brasas que agora já me queimavam próximo à cintura.

Adormeci.

Não sei por quanto tempo, mas acordei com uma sensação maravilhosa, como se tivesse descansado uma eternidade e dormido em uma cama de rainha, acordei muito bem, disposta, mas tinha somente algo me incomodando, os raios solares estavam doloridos demais, não estavam aguentando tomar sol. Quando dei por mim, estava deitada no solo próximo ao poço há mais ou menos três metros de distância, aos poucos fui recobrando a memória e quando olhei vi meus pés e pernas queimados procurei levantar mas não tinha força suficiente.

Estava deitada no chão e da mesma forma comecei a rastejar por entre as folhas, pedaços de pau, areia, fui vencendo a distância, quando conseguir respirar melhor, depois do que pareceu-me uma eternidade arrastando-me qual verme no chão, avistei nossa casa, nunca me pareceu tão distante, continuei determinada, se fosse ainda morrer, morreria dentro de casa, não queria que minha mãe ficasse preocupada comigo.

Quando faltavam mais ou menos uns sete metros, reuni toda a força que poderia conter, levantei-me e fui cambaleando até a porta da cozinha. Adentrando essa vi minha mãe descontraída mexendo uma panela que estava no fogão.

Cheguei e falei: __Mãaee! – Ela olhou-me e quando me viu naquele estado incomum, queimada, desfigurada, soltou um grito abafado, eu a olhei e desfaleci ali mesmo, após com o meu pé direito ter removido a pele queimada e rejuntada do pé esquerdo.


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Notas finais do capítulo

Agradeço de todo o meu coraçao a Skull e Lis Bloom por ter favoritado minha história, um grande abraço.♥



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