O Quarto Rosa escrita por Lótus


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

A cidade



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/417917/chapter/9

Minha mãe ficou inerte diante da cena presenciada, mas assim que voltou a si, veio em minha direção pegando–me em seu colo, em um esforço inútil de aplacar minha dor, e em um relance lançou-me imediatamente dentro de uma enorme bacia com capacidade para cinquenta litros de leite, essa bacia estava preenchida pela metade com leite.

Após o banho de leite dos pés a cabeça minha mãe me depositou em minha cama e me abanava incessantemente, ao menor movimento de repouso de suas mãos eu voltava a choramingar de dor. O transporte na época era precário, porque raramente os fazendeiros iam para a cidade, iam só quando precisam, muito raramente. Meu padastro foi a cavalo em busca de socorro, e o próximo carro que sairia com destino a cidade localizada perto do fim do mundo seria para os próximos três dias seguintes. Passei os três mais longos dias da minha vida sentindo as dores, elas não me deixavam nem quando eu cochilavam, ela não poderia ser aplacada com algum poderoso anestésico e analgésico que dispomos hoje em hospitais, porque não tínhamos nada, exatamente nada.

No entanto quando veio a carona, era um carro típico de fazenda com carroceria, porém, sem espaço para nós na cabine, fomos eu e minha mãe na carroceria, expostas ao sol e as intermináveis poeiras e buracos da estrada.

Talvez eu tenha sete vidas, como os gatos, já tinha me livrado da possível infecção ao tomar banho no leite não esterilizado e toda a infecção que poderia ser adquirida com a poeira já não me ameaçava mais, meu pequeno e frágil corpo resistia bravamente. Mas o que é a dor? Ate que ponto podemos resisti-la sem interferência com medicamentos? – Minha mãe lutou bravamente esses três dias que antecederam a viagem, não dormiu, mal se alimentou, foi forte, guerreira, foi obrigada a engolir a própria dor para ajudar-me a socorrer a minha.

Chegando à cidade só recordo-me que fui alojada em um grande hospital, em um quarto completamente sozinha, para diminuir o risco de infecção, mas depois disso soube que os primeiros médicos consultados sobre o caso, aconselharam minha mãe a voltar para casa e aguardar o meu óbito que era óbvio demais pela situação, pois eles não tinham mais nada a fazer mesmo que quisesse não contavam com recursos na cidade para queimados.

Mas por sorte do destino, ou benção maior, prefiro acreditar nesse ultimo, um jovem médico que estava cumprindo residência médica se condoeu da situação e teve compaixão de mim e de minha mãe que só chorava, e por eu ter a mesma idade de sua filha, decidiu cuidar de mim, mesmo que eu não resistisse aos tratamentos pelo menos ele teria lutado e não desistido de salvar mais uma vida.

Nisso fui hospitalizada. O tempo de internação resumiu-se em três meses. Foram três meses que continuei a passar por tratamentos muito doloridos, na maioria das vezes urinava e defecava na cama pelo excesso de dor. A inflamação nos membros inferiores impedia o efeito eficiente dos anestésicos, levando-me a sentir meus membros serem serrados para separar os dedos uns dos outros porque esses tinham praticamente formado uma massa quase única.

Nesse procedimento geralmente eu era amarrada, e precisavam de duas ou mais enfermeiras para me imobilizar para passar a serra, realizar os curativos e retirar as gazes que quase sempre vinham encharcadas de sangue. Na maior parte do tempo eu vivia adormecida em virtude dos fortes efeitos dos remédios, acordava sempre que passava pelos tratamentos dolorosos já citados. Mas de tudo ainda poderia se tirar algo positivo, eu tinha um quarto grande, iluminado, e com luz elétrica, todo azul, só para mim, não era rosa, minha cor preferida, era azul, mas naquele momento era só meu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Dedico esse capitulo com todo o carinho para a SkyGez que favoritou minha história.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Quarto Rosa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.