O Quarto Rosa escrita por Lótus


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Neguinha



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Ao aproximar-me da cozinha ainda pude ouvir as palavras finais de minha mãe: __ A Bianca, não poderá saber disso, porque sempre que matamos porco, ela chora e nunca nos entende. – Apesar de o assunto ser sobre porco, vi que o mar não estava para peixe. Cheguei e disse em alto e bom tom, como toda menina atrevida e segura de si mesma diz:

__ O que eu não posso saber? – Minha mãe disfarçando disse:

__ Nada.

Fui almoçar e passei o dia todo pensando no que poderia ser tão grave que minha mãe fazia questão de esconder. Pensei, pensei, pensei, minha cabeça pareceu aquecer de tanto pensar, até que, quando estava quase desistindo apareceu uma luz no fim do túnel : N-E-G-U-I-N-H-A. Meu Deus! Meu Deus!!!

Neguinha, ela esta gorda demais, cresceu demais, comeu demais para o meu gosto, corri para minha mãe:

__ Mãe vocês nunca vão matar a Neguinha, não é mãe? – Ela respondeu sem graça:

__Claro que não de onde tirou essa ideia? –

__Por favor, mãe, ela não, eu faço o que a senhora quiser, me vende ela, assim quando eu crescer,  pagarei tudo para a senhora, tudo o que ela comeu, e assim vou cuidar dela ate ela ficar bem velhinha.

__Que isso Bianca, pare com essa besteira.

__Mãe, por favor, a senhora promete não deixar ninguém machucá-la?

__ Está bem. Vamos parar com essa conversa por hoje, estou muito cansada.

Nisso percebi que Neguinha, minha porquinha de estimação corria sérios perigos, mas eu pedi com toda minha alma para minha mãe ajudar-me a protegê-la e minha mãe me passou segurança. A partir desse dia passei a dar mais atenção para a minha porquinha que de pequena não tinha mais nada, mas ainda tinha os mesmos olhos negros quando me olhavam.

Duas semanas após esse episodio em uma manhã ensolarada minha mãe levantou bem disposta dizendo-me que me levaria para passear, iria para a fazenda vizinha passar o dia todo, para poder brincar com uma menina da minha idade chamada Lucimar.

 Fui, mas meio desconfiada, porque isso nunca tinha ocorrido antes, mas fui assim mesmo. Chegando à fazenda do vizinho mais próximo, o dono era o irmão do meu padastro, pude realmente ver que era uma bela fazenda, com muito mais utensílios, adornos e móveis do que na nossa fazenda, a fazenda deles ofereciam conforto, ao contrario de nossa fazenda um tanto rústica demais.

Lá fui bem tratada, bem servida, me empurravam comida o tempo todo, no começo achei legal, mas depois foi perdendo a graça. Nesse dia me colocaram até para dormir de dia, o que eu mais detestava na minha infância era dormir durante o dia, mas como tinha sido alimentada em excesso, baixei minhas resistências e acabei dormindo, a dona da casa e mãe de Lucimar nos colocou para dormir uma do lado da outra.

Após certo tempo, não sei aqui precisar quanto tempo foi, acordei com um molhado debaixo das nádegas, assustei, havia urinado na cama, e o pior cama alheia, mas antes eu nunca tinha feito isso. Aproveitei que Lucimar dormia pesadamente, parece que ela era acostumada a dormir nesse período, troquei de lugar com ela. E voltei a tentar dormir, e acabei adormecendo novamente, quando acordei minha saia estava toda seca e a de Lucimar molhada, nesse momento a mãe de Lucimar adentrou o quarto e disse:

__Acordem mocinhas, vamos lanchar. _ e dirigindo-se para mais perto da cama verificou que Lucimar estava toda molhada, e disse:

__Que vergonha heim Lucimar, olhe a Bianca não faz mais isso, a mãe dela disse que ela não urina na cama. - Lucimar ainda tentou se defender:

__ Mãe mas não fui eu... – Ao ouvir isso de Lucimar não tive coragem de assumir a minha culpa, por não saber qual seria a reação da mãe dela comigo, ainda assim ouvi a mãe de Lucimar retrucar:

__Pare menina, a Bianca eu sei que não foi, porque a saia dela esta sequinha. - Nesse momento eu já queria ir embora, estava cansada, fora de casa, olhando para o céu, esse parecia muito triste, não sabia dizer realmente o que estava acontecendo mas sentia uma tristeza invadir meu coração sem pedir licença.

Retornei para casa e vi que todos se empenhavam em terminar uma atividade que tinha consumido o dia todo deles, estavam fazendo linguiça suína. Cheguei meio desconfiada, e perguntei para minha mãe qual porco tinha sido abatido. Ela prontamente me respondeu, mas sem olhar em meus olhos:

__Foi um porco capão. – Depois corri rumo ao chiqueiro onde Neguinha habitava, e estava vazio, completamente vazio. Corri em direção a minha mãe:

__Mãaaaeeee, cadê a Neguinha?

__Não sei menina.

__Mãe ela sumiu.

__Deve estar por aí.

Comecei imediatamente a chorar, chorar copiosamente e sem descanso, minha mãe irritada com minha atitude veio e me revelou: __Me desculpe, eu não pude fazer nada, a Neguinha foi abatida. – Eu não poderia acreditar no que ouvira? Como se atreveram? E todas as promessas que fiz de compra-la? Por que não me ouviram? Não valeram nada? Não se conta os meus sentimentos?

Meu Deus, mataram minha Neguinha e eu não pude fazer nada, Exatamente nada. Dessa vez a tristeza invadiu minha alma, fiquei por três intensos dias sem falar, sem quase comer (minha mãe me obrigava)e mais uma vez sem acreditar nos adultos.


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Notas finais do capítulo

# rsrs sem comentários#



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