O Quarto Rosa escrita por Lótus


Capítulo 18
18


Notas iniciais do capítulo

O retorno



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Um ano e meio sem ver minha mãe e minha avó. Nossos encontros foram calorosos. Nas férias de meio de ano fui visitar minha avó ficaria com ela por duas semanas. Retornei radiante, feliz, louca para estar com ela mais uma vez.

A nova casa de minha avó tinha o mesmo ambiente doce e familiar de antes, com gostinho de quero ficar por aqui. Na primeira semana tratei de explorar ao máximo todo o ambiente. Vovó morava em um bairro provinciano afastado do centro da cidade localizada perto do fim do mundo.

Moravam agora com minha avó minha irmã e um primo Carlos, um ano mais novo que eu. Minha avó ainda tinha a mesma energia, paciência e bom humor. Assim que cheguei ela quis saber exatamente de tudo o que tinha acontecido comigo nesse tempo. Contei tudo até do garoto da escola que eu achava muito bonito o Fernando.

Mas nessa altura do campeonato, Fernando era total passado. Desse modo, foi questão de três dias para eu sentir que não tinha saído de perto de minha avó nem um único dia. Tinha algo diferente na casa de minha avó, ela estava agora repleta de crianças e animais, tinham dois cachorros leãozinho e Shake. O primeiro era pinscher de maior porte e Shake era um beagle, ambos eram brancos com manchas amarelas, eram lindos, amigos, companheiros.

Leãozinho era velho, andava sempre devagar, enxergava mal e vivia dormindo devido a sua idade avançada, tinha 12 anos. Shake era bem mais novo tinha 3 ou 4 anos, e era muito forte. Meu avó comprou também um cavalo, Pacote, era todo branco, também era velho, meu avô cuidava dele como se cuidasse de um recém-nascido, tinha muito carinho por ele.

O ambiente era perfeito, o bairro era um pouco afastado, as ruas não eram asfaltadas, mas tinha algo de genuíno, havia uma certa magia no ar, todos viviam felizes. Senti-me parte desse ambiente. Voltei a brincar como criança, alias ainda era uma criança de 10 anos, agora éramos um trio, Brígida, Carlos e Eu.

Divertíamos todos dos dias, de inúmeras formas, montávamos no Pacote escondido de nosso avó. Passeávamos com os cachorros, brincávamos no rio, detalhe, havia um rio próximo ao bairro. Tentávamos até pescar, Carlos conseguia pescar sempre algum peixe.

Desse modo, minhas duas semanas de férias passaram como se fosse dois dias e chegou o momento de partir a abandonar aquele paraíso rural, voltar para a cidade grande, onde não havia nada daquilo, somente muitos prédios, e casas que viviam trancadas e quase nunca se via seus moradores.

Esses pensamentos foram interrompidos quando ouvi o barulho do carro da minha tia estacionar na frente da casa de minha avó, senti imediatamente um golpe, como se uma espada entrasse em meu peito, senti dor, aquela velha dor em meu peito.

Eu não sabia como reagir nessa situação, não tinha falado nada ainda com minha avó de que não gostaria de voltar e que meus tios até mencionaram adotar-me, eu só tive tempo de brincar e só brinquei...agora já era tarde. Minha tia chegou e após cumprimentar todos disse-me:

__Pronta Bianquinha? Para irmos embora?

Eu não disse nada. Lágrimas começaram a rolar incessantemente.

Ela continuou:

__O que aconteceu Bianca?

__ Nada.

__ Pare de chorar menina e vá pegar suas coisas a viagem será longa!

Eu tinha que arrumar uma forma de não ir. Mas como? Aí meu Deus socorra-me. Ela aproximou-se de mim tomando o meu braço e puxando-me levemente:

__ Vamos?

Com um fio de coragem eu disse:

__Tiaaa... eu não vou...

Ela assustada e nervosa, retrucou:

__ Como assim? Não vai?

Comecei a chorar e gritar ao mesmo tempo:

__Euuu não vooou.

Ela veio com a intenção de arrastar-me para o carro.

__ Ahhh você vai sim.

Nesse momento minha avó tomou a frente e eu escondi atrás de sua saia e ela disse com toda a autoridade de mãe:

__ Ä força ela não vai não. Daqui da minha casa na marra você não a leva.

Nesse momento senti como se o próprio Deus me protegesse.

Minha tia muito nervosa saiu descontrolada. Respirei aliviada por isso. Abracei minha avó agradecendo-a de toda a minha alma, disse com a voz embargada de emoção e chorosa:

__Vóóóó... muitoo... obrigadaaaa...

__ De nada , filha. – respondeu ainda ofegante.

Quando os ânimos estavam quase calmos, vejo novamente o carro da minha tia estacionar e dessa vez ela não estava só com a família dela, trouxera minha mãe. Pensei, agora ferrou com tudo. De onde estava, não me movi nem um centímetro, continuei impassível.

Minha mãe mal me cumprimentou:

__Que história é essa Bianca? Vamos, pegue suas coisas e vá com sua tia.

__ Mas mããee, eu não quero irr...

__ Você não tem querer, ainda não sabe o que é melhor para você, sua avó já está cuidando de dois netos.

___Mãeee, eu prometo ajuáa-la no que for preciso...

Voltei a chorar, minha avó manteve a mesma atitude de antes, minha mãe percebendo isso, não disse mais nada, e minha tia voltou para minha avó dizendo indignada e sem pensar:

___ Então foi você né mãe?! Que fez a cabeça da Bianca?! Por isso ela não quer mais voltar. Muito bem, então fique com ela, vocês são tão pobres que dá pena, vocês não tem nada, se merecem mesmo! Você mãe deveria ficar do meu lado e não do lado dessa menina cheia de vontade, ela vai arruinar com a vida dela.

Minha tia saiu batendo a porta e levando minha mãe consigo. Minha avó permanceu cabisbaixa após ouvir todo o desaforo, não disse mais nada, nisso chegou dona Nilce amiga de minha avó, nos abraçou e consolou, pois ela soube de toda a história:

__Não fiquem assim! Vocês agiram certo porque agiram com o coração.

Aquela doce senhora me entendia e ainda apoiava minha avó, depois desse evento, minha respiração voltou ao normal juntamente com o meu coração. Agora moraria com minha avó novamente e não poderia jamais decepcioná-la.


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